terça-feira, 9 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7251: Estórias cabralianas (64): O Avô, o Neto e os Heróis (Jorge Cabral)

1. Mensagem que recebemos do Instituto de Criminologia onde trabalha um tal Jorge Cabral que invoca o seu direito à blogoterapia por, noutra encarnação, ter sido alferes de 1ª linha no teatro de operações da Guiné durante a chamada guerra do Ultramar, no século passado


Queridos Amigos:

Agradeço aos Editores mas também a Todos que me brindaram com Votos de Parabéns, por aqui e através das várias redes sociais, do correio electrónico, e do telemóvel.
Muito Obrigado!

Já agora e a propósito de Avós, Netos e Heróis, aí vai "estória".
Abraço todos os Membros da Tabanca.

Jorge Cabral

2. Estórias cabralianas: O Avô, o Neto e os Heróis
por Jorge Cabral (*)


Mais um dia. Lá vou eu entalado entre os anafados peitos de uma dama e a gravata de um cavalheiro, que hoje fez greve ao chuveiro. O Metro segue cheio, mas há sempre lugar para mais um. Na Estação do Saldanha, é invadido por uma excursão de meninos, com a Mestra à frente (bem jeitosa, por sinal). São barulhentos os putos… e eis que um, apontando para mim, grita:
– Aquele ali, é da raça do meu Avô, é um Senhor Herói!.


Raça do Avô? Herói? Sinto centenas de olhares. Encolho-me. Quase desapareço. Disfarço. Peço desculpa à Dama, que diz que não faz mal (benefício de Herói… talvez). Apresso-me a sair. Só no Marquês, começo a pensar. Já sei, o puto é neto do Silva, meu cozinheiro em Missirá. Foi há dois anos, que o encontrei no seu estabelecimento. O Silva vende frangos.


Homem de poucas letras mas de muito coração, levou-me a casa dele e conheci o neto. Estivemos a ver fotografias daqueles tempos e o miúdo queria saber tudo. A certa altura, perguntou-me:
– O meu Avô foi Herói?
– Claro que sim! Todos os que aí estão, foram e ainda são Heróis!  – respondi.


Fiz mal? Enganei o Puto?  Penso que não. Todos os Avós são Heróis. Assim os Netos os considerem…


Jorge Cabral


__________


Nota de L.G.:


Último poste desta série > 14 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6851: Estórias cabralianas (63): As Sereias do Rio Geba... ou a violência doméstica subaquática (Jorge Cabral)...
 
(...) Foi na Guiné que aprendi a contar estórias às Crianças. Comecei lá e nunca mais parei. Ainda ontem conheci uma Menina. Disse-me que tem um gato e eu falei-lhe das minhas duas moscas, uma de cama, coitada, cheia de febre… Em Missirá, na Escola, comecei com a Branca de Neve e os 7 Anões, mas logo desisti. (...)

16 comentários:

Luís Graça disse...

Não te enganaste, meu caro Jorge, não te enganaste. Para os nossos netos, ao menos, somos todos heróis... Ou haveremos de ser (tu e eu, que ainda não temos netos).

Anónimo disse...

Caro Jorge (Xárá)

Tenho 3 netos, mas que ainda não sabem da vida do avô, em terras da Guiné. Penso deixar esse relato para os meus filhos, se for vontade deles...
Ler os teus comentários é , para mim um prazer, por o que me identifico com eles.
Essa do Metro no Saldanha, terá que ser melhor explicada...
Um abraço, do

Jorge Rosales

Luís Graça disse...

"Homem de poucas letras mas de muito coração"... Mas, ó Jorge, só podes ser tu!... Nunca te vi escrever mais do que 20 linhas por estória, nunca vi um escritor tão frugal como tu... E para mais, incapaz de ser "ordinário": por exemplo, podias dizer da mestra dos meninos que era "boa com' ó milho", como dirão os putos quando forem mais espigadotes e peludos... Mas, não, foste "claro, conciso e preciso", ao caracterizares a senhora nestes termos, respeitadores: "bem jeitosa, por sinal")...

Quanto ao tamanho do coração, a gente sabe que "calças" 38... É o teu número talismã: não foram 38 "corpinhos" (sutiães) que levaste para as tuas bajudas de Fá Mandinga, Bissaque, Missirá... quando vieste de férias ?

PS - O prefácio está "alinhavado"... Venha o plano da obra, o índice, o recheio...

José Marcelino Martins disse...

Os "putos" são desconcertantes...
...e as tuas histórias fantásticas!

E é a verdade!
Para os Netos, os Avós são HERÓIS!

Eu não conheci os meus avós.
Um deles, o materno, esteva na Grande Guerra e, para mim, foi/é um herói.

Hélder Valério disse...

Caro Jorge Cabral

As tuas histórias já há muito que não se deixavam aparecer.

Mas não perderam o seu encanto, a fina observação, com o seu quê de mordaz, deixando no ar qualquer coisa com que pensar (quem quiser).

Esse neto é bem perpicaz. Oxalá não se perca!

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Amigo Jorge,
Hoje, o comentário a esta história não é meu, mas da minha Inês Manuel, a minha filha mais nova (15 anos).
"Esta história é muito bonita, uma linda história de vida, gostei muito".
Eu também gostei.
Um abraço
Filomena

Anónimo disse...

Caro Jorge Cabral!

Os putos são tramados.

O meu neto, antes de dormir quer fazer uma "Barraquinha" com o avô.

Tudo bem, só que a dita "Barraquinha" é o Lençol levantado, ele armado em reporter e o avô a levantar a barraca no deserto, no Amazonas ou nas matas da Guiné, para ele filmar as anacondas, bolboletas, araras,
babuinos, etc. etc.

Há momentos que parece-me estar como ele.

Só que por vezes o gajo salta furioso da cama e diz:

"Filma tu que já estás a dormir.

Um abraço,

Mário Fitas

MANUELMAIA disse...

CARO JORGE CABRAL,

ESSA TUA MANEIRA DE CONTAR AS COISAS SIMPLES E DEIXAR-NOS A MATUTAR NELAS É,DE FACTO,DE PREDESTINADO.
ABRAÇO
MANUELMAIA

Anónimo disse...

Senhor Cabral,
Eu sou um menino que ainda não viajo de metro, mas ouvi a sua história, contada pelo meu primo Jaime, que já vai fazer oito anos, sabe ler e fazer contas. Eu sou ainda pequeno, de dois anos, mas gosto de trepar cadeiras, andar de cavalinho na cabeceira da cama, de jogar à bola ou correr, tanto no passeio, que a rua é prós carros, como no grande relvado do parque. E também faço travessias perigosas entre as torres de um castelo, lá no parque.
Depois de ouvir o Jaime, perguntei o que é um herói, e o meu primo explicou-me muito bem, que é alguém que mata muitos homens e ganha as guerras.
À tarde, quando estive com o meu avô que foi à guerra, perguntei-lhe se ele foi herói, e ele disse-me que não.
Fiquei muito contente e fomos correr um atrás do outro.
Barbosa

Anónimo disse...

Professor Jorge Cabral, muito boa-noite!

Venho só dizer-lhe, que fez muito bem ter afirmado ao puto a heroicidade do avô e de todos os outros avós, que lá estiveram, e de alguns que não sendo avós virão a sê-lo, ou talvez não, mas isso é outra história.

O que eu sei, é que o puto nunca mais esquecerá, que o avô foi um herói...e que conheceu outro herói do tempo do avô.

há lá coisa melhor que contar histórias a uma criança?

Cumprimentos da Felismina

Anónimo disse...

Boa noite Jorge
Que bonita história! Li a tua história em voz alta para a minha mulher que se tinha acabado de sentar e não esteve para se levantar quando lhe pedi que viesse até ao cumputador. Na parte final quase me engasguei... comovido.Meia dúzia de linhas e uma história de vida tão sentida.Eram tão bom que todos os avós fossem heróis para os seus netos!Esta foi a minha mulher que disse.Um grande abraço de Alcobaça, JERO.
PS-Deste-me força para mandar para o nosso blogue uma história da minha neta Mariana que tem quase 4 anos.

Anónimo disse...

Será que todos só contam histórias verdadeiras aos netos? Näo será muito pobre? Um grande abraco.

Anónimo disse...

Caro Jorge Cabral

Só venho agradecer o belo momento que me fizeste viver, ao ler este teu texto. Muito obrigado.

Um abraço de um avô

Manuel Joaquim disse...

O anónimo anterior sou eu,
Manuel Joaquim

Sotnaspa disse...

Jorge

Obrigado, em primeiro como já disse, estou sempre à espera de ler novas estórias tuas, em segundo esta sobre netos....para mim é ainda melhor porque são os seres que mais adoro, e em terceiro, estou farto, (no bom sentido), de "vender-lhes" as minhas estórias da Guiné e ainda não estou convencido se tenho sucesso.

Um grande abraço.

ASantos
SPM 2558

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Jorge

Palavras para quê?

É um contador de histórias Português!!!

Um grande abraço