quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7051: Tabanca Grande (246): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)

1. Mensagem de Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 25 de Setembro de 2010:

Camarada Luís Graça,
Por influência de um e-mail recebido esta semana do camarada Manuel Resende, na sequência do meu depoimento publicado na revista "Domingo" do jornal Correio da Manhã do passado fim de semana na rubrica "A Minha Guerra" (tal como eu esteve em Jolmete, embora em ocasiões diferentes, ele na CCAÇ 2585 eu na CCAÇ 3306), venho por este meio apresentar a minha possível adesão ao blogue Tabanca Grande.

Para o efeito, junto as duas fotos "exigidas" e a totalidade do meu depoimento enviado ao já referido jornal que, por manifesta falta de espaço, apenas publicou uma pequena parte da história sobre o que foi a minha passagem pelo teatro de guerra da Guiné. Espero que isto preencha o necessário para a referida adesão. Temos de chegar aos 500!

Julgo que estou a ser o primeiro elemento do BCAÇ 3833 que esteve na Guiné entre 1970/72, respectivamente no Pelundo com a CCS e a CCAÇ 3307, em Có com a CCAÇ 3308, e em Jolmete com a CCAÇ 3306, a colaborar nesse blogue. Se estiver enganado, algum camarada que me corrija.

Nesta perspectiva, tomo ainda a liberdade de vos enviar o relatório de duas da operações levadas a efeito pela CCAÇ 3306 e nas quais participei. Pessoalmente julgo ser um documento interessante que, de alguma forma, pode acrescentar algo sobre o que foi a nossa passagem pela Guiné.

Se acharem que o contributo é válido, tenho ainda muitas fotos (para além das que estou agora a enviar) que poderei disponibilizar/partilhar, bem como o resumo dos "Factos e Feitos do BCAÇ 3833". Este é igualmente um documento interessante. Contém todo o historial das Companhias.

Fico a aguardar o vosso feedback.

Um Abraço
Augusto D. Silva Santos




2. Apresentação

Nome: Augusto Silva Santos
Comissão: Guiné 1971/73
Força: BCaç 3833/CCaç 3306 e Depósito Geral de Adidos/Brá
Actualidade: Vive em Almada, 60 anos, empresário reformado, casado, com duas filhas e uma neta.
Título: Encontro de irmãos nas matas da Guiné


Assentei praça no RI7/Leiria em Janeiro de 1971. Após avaliação das minhas habilitações, fui transferido para EPC/Santarém onde concluí a recruta. Sou entretanto colocado no CISMI/Tavira, onde me foi dada a especialidade de Atirador de Infantaria. Por ter obtido a máxima classificação na disciplina de tiro (Atirador Especial de G3), sou colocado no CTC/Cacém como Cabo Miliciano, para dar recrutas. Algum tempo depois rumo ao CMEFED/Mafra para ficar na EPI como instrutor, curso que entretanto não concluí por ter sido mobilizado para a Guiné.

Já como Fur Mil parto para o CTIG/Bissau a 28 de Dezembro de 1971, em rendição individual, com destino à CCav 2749 colocada em Piche para, segundo viria a ser informado no QG, substituir um Furriel falecido na sequência de uma emboscada, quando se preparava para vir de férias à Metrópole. Nunca viria a confirmar este facto, pois entretanto sou requisitado para o BCaç 3833, mais propriamente para a CCaç 3306/Jolmete, tendo assim ficado mais perto do meu irmão Arménio D. Silva Santos, também mobilizado um ano antes para este teatro de guerra, colocado na CCaç 3307/Pelundo, sede do Batalhão (o pesadelo dos meus pais era agora a dobrar). Neste caso, fui substituir um Furriel casado com uma cabo-verdiana que havia desertado para o Senegal. Consta que mais tarde foi capturado e morto pela PIDE/DGS junto à fronteira. Foi precisamente perto do aquartelamento de Jolmete que em 20 de Abril de 1970, teve lugar o assassinato dos 3 Majores e do Alferes que estariam a negociar com o PAIGC o fim das hostilidades no Chão Manjaco. Após o regresso do Batalhão à Metrópole por ter terminado a comissão, sou colocado no Depósito de Adidos em Brá, onde permaneci mais um ano. O meu regresso teve lugar a 22 de Dezembro de 1973, com 24 meses de comissão.

Apreciando anteriores narrações de ex-camaradas que passaram verdadeiros horrores de guerra, não posso considerar que a minha passagem pela Guiné tenha sido das piores. Passei por bons e maus momentos, e nela fiz amigos cuja a amizade perdura até aos dias de hoje, como é o caso do Rodrigo Borges, meu companheiro da caça há muitos anos.

Jolmete, Junho de 1972 > com vários elementos da CCAÇ3306

Das situações que mais me marcaram na Guiné e que até hoje guardo memória, passo a citar:

• No dia 4 de Março de 1972, numa operação na região de Badã/Ponta Nhaga, comandada pelo próprio Comandante de Companhia, ao tomarmos de assalto um acampamento do IN que, supostamente estaria com muito armamento com destino à zona do Churo/Caboiana, no acto de acção de busca e recolha e, quando já estávamos a preparar toda a segurança para posterior retirada, somos confrontados com forte reacção do PAIGC do outro lado da bolanha, que nos fustigou com fogo de armas automáticas Kalashnikov, lança granadas foguete RPG7 e morteiro. Deste confronto resultaram 10 feridos para as NT, nomeadamente o Capitão, 2 Alferes, 3 Furriéis, 2 Soldados e 2 Milícias (alguns deles com gravidade), que mais tarde viriam a ser evacuados para a Metrópole. Felizmente saí ileso desta situação. Valeu-nos a pronta intervenção do apoio aéreo, quer na evacuação dos feridos (altura em que sofremos nova flagelação), quer no que respeita a conter a acção do IN no regresso ao aquartelamento, para que as repercussões não tivessem sido maiores.

• Em Abril de 1972, no dia em que o Benfica disputava com o Ajax as meias-finais da Taça dos Campeões Europeus (empatámos em Lisboa mas quem passou foi o Ajax que ganhou 1-0 ao Benfica na Holanda e depois venceu o Inter na final), sofremos um ataque ao aquartelamento por parte do PAIGC. Nesse dia estava fora com um grupo de combate a fazer segurança, quando fomos surpreendidos pelo fogo intenso. A nossa resposta com fogo de morteiro e o apoio da artilharia de Bula foi pronta e eficaz, pelo que a acção do IN não durou muito tempo, mas impressionou o facto de termos ficado durante alguns minutos entre dois fogos. Felizmente não houve consequências para as NT, contudo para a população resultaram 20 feridos ligeiros e estragos no reordenamento.

• Já perto do final da comissão da CCaç 3306, somos chamados a fazer o levantamento de um campo de minas montado há já alguns anos pelas NT numa bolanha perto de Ponta Vicente. Pelo croqui que dispúnhamos, essas minas deveriam estar em determinado local. Por acção das águas estas devem ter sido deslocadas e igualmente deterioradas, pelo que praticamente já não estariam operacionais. Sorte a nossa, pois alguns de nós sem nos apercebermos, ainda chegámos a passar bem perto ou mesmo por cima delas (como foi o meu caso), felizmente sem consequências.

• O isolamento em que nos encontrávamos relativamente às outras Companhias do Batalhão, era algo que de uma maneira geral afectava o nosso moral. Havia muitas dificuldades nos reabastecimentos. Recordo que o nosso aquartelamento distava cerca de 16Kms do Pelundo (única estrada de acesso a Jolmete), e que na época das chuvas esse percurso poderia demorar um dia inteiro. Muitas vezes as nossas refeições eram perfeitamente improvisadas. Nalgumas ocasiões contámos apenas com as rações de combate. Não foi por acaso que nos meus primeiros 6 meses de comissão emagreci 10kg.

• Quando fui colocado no Depósito Geral de Adidos em Brá, para além do serviço na Secção de Justiça como escrivão, tinha também periodicamente a missão de fazer Sargento de Dia à Casa de Reclusão Militar. Lembro-me que no primeiro dia em que isso aconteceu, no Render da Guarda tinham desaparecido 12 reclusos, que entretanto voltaram. No segundo dia desapareceram mais 5, que mais tarde também voltariam a aparecer. Esta era uma situação comum com outros camaradas. Nunca cheguei a saber ao certo por onde os presos fugiam, só sei que eles saíam para ir ao Pilão a Bissau (às “meninas”), e que mais tarde voltavam sempre. A partir desse dia combinei com um dos presos mais antigo (um Fuzileiro com a alcunha de “Grelhas”) para fazer uma “escala de saída”, com a condição de todos estarem presentes ao Render da Guarda. Nunca mais me faltou nenhum recluso.


Pelundo, Julho de 1972

• Quando vim pela segunda vez de férias à Metrópole em Abril de 1973, foi meu companheiro de viagem um Fur Mil de seu nome António Piçarra (um alentejano de Moura) que, por coincidência, também regressaria à Guiné no mesmo avião e a meu lado. Travámos assim conhecimento e, na escala que fizemos no aeroporto do Sal/Cabo Verde, lembro-me perfeitamente de termos trocado várias impressões sempre com o sentido de que a guerra para nós acabasse depressa e com um possível regresso juntos. Tal não viria infelizmente a acontecer pois, passado algum tempo, mais precisamente em meados de Julho, recebi a triste notícia de que o Piçarra morrera na sequência de uma violenta emboscada em 4 de Julho de 1973 na estrada de Cutiá/Mansabá e que teria sido morto com arma branca. Foi muito traumatizante para mim (ainda continua a ser). Anos mais tarde vim a confirmar a sua morte por o seu nome constar no Memorial aos Mortos em Combate na Guerra Colonial. Mais recentemente este triste acontecimento foi-me relatado/confirmado pelo seu ex-camarada e amigo Fur Mil Pauleta que pertenceu ao BCaç 4612/Mansoa.

• Quando já me faltavam escassos 3 meses para acabar a comissão, por ter discordado de uma ordem mal dada por um oficial (o que viria a ser confirmado) e chegado a via de factos, fui castigado com 5 dias de detenção. Foi-me na altura dito pelo então Comandante do Depósito Geral de Adidos, que eu tinha razão mas que a democracia ainda não tinha chegado à tropa (sic), e que a ordem de um superior, mesmo mal dada, era para ser sempre cumprida. Como consequência, fui ainda castigado com o ter de fazer a guarda de honra ao General Spínola, na sua última deslocação a este aquartelamento, o que para mim na altura até foi mesmo uma honra.

• Lembro-me que nos finais de 1973 era já grande a tensão entre as NT. O facto de o PAIGC já possuir os mísseis terra-ar Strela que passaram a ser o terror da FAP (começámos a não ter um efectivo apoio aéreo nas diversas missões) estava a ser determinante. Também me recordo de Bissau começar então a ser cercada de arame farpado e da colocação de minas nalgumas zonas da sua periferia, e de nos ter sido comunicada a possibilidade de podermos vir a sofrer em qualquer altura um ataque aéreo, por constar que o IN já possuía os famosos MIGs. O fim estava próximo.

Setembro 2010
Augusto Santos


3. Comentário de CV:

Caro camarada Augusto Silva Santos
Bem-vindo à nossa caserna virtual, onde se entra, e se sai, de livre vontade.
Instala-te e arranja um lugar, são todos igualmente bons, para começares a contar as tuas experiências enquanto ex-combatente da Guiné. As tuas fotos serão também bem-vindas, porque muitas delas representam momentos únicos que todos e cada um de nós viveu.

No local (estrada Cutia/Mansabá) onde morreu o teu amigo e nosso camarada Piçarra, perdeu a minha Companhia (CART 2732) dois bravos militares madeirenses. Estávamos a pouco mais de 1 mês de completar os 21, tempo oficial de duração da comissão.

Vou publicar as tuas fotos, mas os Relatórios da Acções serão publicados mais tarde. Tempo é coisa que não nos falta, ainda estamos aqui para as curvas.

Posto isto, dou-te os parabéns pelo trabalho de apresentação bastante desenvolvido que nos enviaste, o qual te acarreta uma certa responsabilidade para futuro.

Recebe o tradicional abraço de boas-vindas da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7018: Tabanca Grande (244): Germano José Pereira Penha, ex-Fur Mil da CCAÇ 5, Canjadude, 1970/72

11 comentários:

Jose Marcelino Martins disse...

Caro Augusto Santos

Bem vindo a este "antro de mafiosos".

Entra e senta-te a volta do poilão, há sempre lugar para mais um.

Fico satisfeito com a tua entrada neste circulo de camaradas e amigos. Conta as tuas históris, ainda não li o que escreveste, pois essas leitura são sempre depois do jantar. De manhã apenas "deito uma vista de olhos" sobre os textos.

Agora vou explicar o "antro de mafiosos".

O Manuel Resende de quem sou amigo há já vários anos, por mail, solicitou-me ajuda para te localizar.

Reencaminhei o mail para a Maria Inês Almeida (CM) e eis que apareces. O sistema funcionou. Ainda bem. Não se torna necessário recorrer ao plano B, que iria envolver muito mais gente.

Na realidade és a única referência existente no blogue, numa pesquisa rápida que fiz, relativa ao BCAÇ 3833.

Como te disse ao principio e, como na canção, traz outro amigo tambémUm abraço.

Anónimo disse...

Caro Augusto Santos,
Vejo que andaste por Có, tal como eu. Eu estive lá em 68/69 e podes ver as minhas fotos e relatos no blogue.
Em que periodo é que estiveste em Có? Se tiveres fotos desses locais, manda-me algumas. Quanto aos relatos fico à espera que os descrevas para o blogue. Se precisares de alguma informação pergunta.
Um abraço,
Raul Albino
C. Caç. 2402
B. Caç. 2851
e-mail: ralbino@sapo.pt

Carvalho disse...

Meu caro Silva Santos,
Aqui quem se "deita" neste curto comentário é o Furriel Seringas Carvalho, que te "aturou" lá em Jolmete !...
Vejo que estás com um ar de "bom sucesso" e que a vida te deu o que merecias. Por mim e aqui por Coimbra, aguardo lá para o final do ano a minha aposentação (da Câmara, para depois ter tempo, para também neste espaço, debitar as minhas memórias.
E se por ventura, neste espaço, mais alguém me queira dar sinal de vida... o meu contacto de mail é amramoscarv@gmail.com.
UM GRANDE ABRAÇO PARA TI, PARA OS "FIDALGOS DO JOL" E PARA ESTA MARAVILHOSA CAMBADA QUE AQUI SE REUNE.

Augusto disse...

De: Augusto Silva Santos
Para: José Marcelino Martins
Caro Amigo,
Muito obrigado pela tua colaboração. O sistema funcionou de facto. Neste entretanto já estabeleci alguns contactos por e-mail com o Manuel Resende. Estamos a combinar um possível encontro para troca de impressões e recordar os tempos que passámos por Jolmete. Parece que esta minha entrada na Tabanca já despertou em alguns ex-camaradas do BCAÇ 3833 desejos de também colaborarem. Espero bem que sim. Era uma lacuna. Um grande abraço e obrigado pelas tuas palavras.

Anónimo disse...

Caro Augusto Santos

Como visitante, uns tempos antes de tu chegares, a esses lugares de Có, Pelundo e Jolmete, também quero dar-te as Boas vindas, a este lugar onde se "acoitam" saudosos daquelas terras quentes, húmidas e alagadiças da Guiné.

De facto, para quem não passou por
Jolmete, posso garantir que era um lugar não recomendável e muitíssimo isolado, com os acessos (itinerário Pelundo-Changalana-Jolmete) tão fáceis de serem "cortados". Só estranhava,
depois de lá ter ido por via terrestre, que o IN da Coboiana e do Churo não fizesse mais estragos a quem aí permanecia.

Um abraço

Jorge Picado

Augusto disse...

De: Augusto Silva Santos
Para: Raúl Albino
Caro Amigo,
De facto também estive em Có, mas no meu caso apenas e só de passagem. A minha unidade era o BCAÇ 3833, que tinha Companhias colocadas respectivamente no Pelundo (sede do Batalhão), em Có, e em Jolmete. A minha CCAÇ 3306 estava colocada precisamente em Jolmete, pelo que de Có pouco ou nada tenho para dizer ou mostrar. Ao que dizem (mas disto não tenho a certeza), actualmente Có já não existe. Foi tudo desmantelado.
Um grande abraço.

Augusto disse...

De: Augusto Silva Santos
Para : Carvalho "Seringas"
Meu GRANDE AMIGO,
Não calculas como me sinto depois de ter obtido o teu contacto. Acredita . . . arrepiei-me e até me vieram as lágrimas aos olhos. Foi muito bom teres aparecido. Depois das minhas "aventuras" por terras da Guiné, felizmente que a vida me correu bem e com sucesso, tal como dizes. Espero sinceramente que para ti também. Eu reformei-me no princípio do ano e deu-me para "isto". Espero que me sigas o exemplo. Bem precisamos que contes o teu lado da história. Esporadicamente tenho contactado com alguns "Fidalgos do Jol", nomeadamente com o Borges "Bigodes" (era o impedido do Capitão), com o próprio Capitão Fidalgo (está a ficar velhote), e outros elementos que eram do 4º Grupo. Temos recordado bons e maus momentos. Aos convívios anuais da CCAÇ 3306 pouco tenho ido pois são quase todos para Trás-os-Montes. Um abraço do tamanho do mundo para ti amigão. O meu contacto de e-mail é o seguinte: augusto.d.s.santos@gmail.com

Augusto disse...

De: Augusto Silva Santos
Para: Jorge Picado
Meu caro amigo,
Muito obrigado pelas tuas palavras de boas vindas. Sabe sempre bem. De facto é muito bom recordar, mesmo que nem tudo por vezes tenha um lado mais colorido. Concordo plenamente contigo. Jolmete era de facto, como se costuma dizer, "no cú de Judas". Todos nós nos surpreendíamos de, por vezes, o IN propositadamente nos evitar (felizmente). Só o facto de a zona ser um local de passagem / ligação com outras zonas, pode explicar tal situação. Queriam passar despercebidos e não serem surpreendidos. O isolamento a que estávamos obrigados era realmente muito difícil. Chegados ali, não havia mais saída. Só para o rio Cacheu.
Um grande abraço.

Manuel Carvalho disse...

Caro Camarada Augusto Silva Santos

Sou o Manuel Carvalho Ex. Furriel Mil.
pertenci a C. Caç. 2366 B Caç 2845
68/70 estive em Jolmete de junho/68 a
agosto/69. Naturalmente que nao fazes
ideia do Jolmete que nos encontramos
construimos tudo novo, quando estava tudo a ficar arranjadinho os nossos
amigos do churo e da caboiana rezolveram deitar tudo abaixo mas levaram uma liçao que nunca mais la
voltaram, penso que no tempo da 2585
tambem nao.
Gostei muito de saber noticias de alguem que pisou as mesmas bolanhas
que eu, ja vi que moras em Almada e
eu moro em Gondomar pertenço a tabanca de matosinhos e tenho um
irmao o Antonio Carvalho que e membro da tabanca grande.

Um grande abraço
Manuel Carvalho
C Caç 2366

Augusto disse...

De: Augusto Silva Santos
Para: Manuel Carvalho

Amigo e Camarada,
Antes de mais, o meu obrigado pelas tuas palavras. Fico sempre muito sensibilizado quando alguém fala sobre Jolmete. Por certo não será diferente com outros camaradas que passaram por outros sítios da Guiné, mas pessoalmente a passagem pelo Jol marcou-me muito. Se em 72, ano em que estive em Jolmete, a situação era o que era, bem posso imaginar o que não terá sido no vosso tempo. Sinceramente não sei se os nossos "amigos" do PAIGC chegaram ou não alguma vez a incomodar os camaradas da CCAÇ 2585, mas sei que em relação à CCAÇ 3306, fizeram uma tentativa não concretizada em Agosto de 71 (foram interceptados), mas em Abril de 72 conseguiram concretizar uma flagelação ao aquartelamento, felizmente sem grandes consequências. Foi só uma retaliação, pois um mês antes tínhamos nós feito uma operação em Badã, com destruição de um acampamento deles. Porque não contas também tu algo sobre a tua passagem por Jolmete? Por certo terás algo para contar. Fico a aguardar . . . Um Grande Abraço

manuel quelhas disse...

Caro Camarada,
Li com atenção os teus comentários sobre o tua estada na Guiné, e o que me chamou mais a atenção foi teres falado na morte do furriel Piçarra, na estrada Cutia / Mansabá a 04/07/1973. Recordo-me perfeitamente dessa emboscada:
Um pelotão de Milícias comandados por Brancos veio fazer proteção à coluna que vinha de Mansabá, por ironia do destino a nossa coluna atrasou-se e o pessoal de cutia que deveria ter emboscado no carreiro da morte, resolveu vir ao nosso encontro. por ironia do destino o PAIGC tinha mais uma emboscada montada, pois já em 21 de Maio de 1973 o tinha feito com exito, provocando 4 mortos à minha companhia e um número indeterminado de feridos graves. Já não me recordo quantos morreram na emboscada de 04/ julho onde morreu o Piçarra, mas recordo-me que houve um que morreu com arma branca o que não posso contar aqui para não ferir susceptibilidades, no entanto não tenhoa a certeza se foi o Furriel Piçarra ou um condutor. não sei se tens dados de quantos morreram nessa emboscada, mas se tiveres diz-me alguma coisa para que eu possa acrescentar no meu historial sobre as emboscadas na estrada de cutia / mansabá.
Já agira quero dizer-te que estive em Mqansabá 26 meses. Um grande abraço e muita saúde
Email. manuelsilvaquelha@gmail.com