quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7024: Recortes de imprensa (29): A guerra do António Branco, CCAÇ 16, Bachile, 1972/74 (Correio da Manhã, 24 de Agosto de 2008)



1. Ainda há dias, a 16 do corrente, em comentário ao poste P6994 (**), o José Martins escreveu o seguinte:

"Sob o título A Minha Guerra, tem o Correio da Manhã editado, todos os Domingos, um texto baseado nos escritos enviados por combatentes.


"Esta, que considero a 2ª série, aparece mais cuidada, mas, como o espaço é pouco, é bastante reduzida, deixando de fora algumas passagens que o(s) autor(es) consideravam mais significativas.


"Sugiro, pois, aos editores que, em simultâneo com os resumos apresentados (e disponíveis na página do CM) sejam também publicados os textos que serviram de base ao trabalho da Maria Inês Almeida, e que os autores queiram disponibilizar.


"Nestes textos, poder-se-á observar diversas formas de encarar os mesmos acontecimentos e, no caso de unidades de recrutamento local (p.e. CCAÇ 5 - 6 participações) a sequência dos factos que foram ocorrendo" (...)


2. Comentário de L.G.:

Seguindo a sugestão do Zé Martins, lancei ao pessoal da Tabanca Grande, através do nosso correio interno, um desafio para que nos façam chegar os textos eventualmente entregues ao CM, para a série A Minha Guerra...(Naturalmente, os já publicados). E a seguir dizia que "nem sempre os jornalistas respeitam a letra e o espírito dos nossos depoimentos, entrevistas, etc. (Falo por experiência própria)"...

E acrescentava: "Por outro lado, nem toda a gente lê o CM... O nosso blogue, por sua vez, pode chegar às 3 mil visualizações por dia (...). E o vosso nome fica na lista dos marcadores/descritores, logo mais facilmente pesquisável na Net" (...).

3. A primeira resposta que nos chegou foi a do nosso camarada António Branco, com data de 16 do corrente:

Amigos e camaradas: Aproveitando a sugestão de hoje, aqui estou de imediato disponível, a  partilhar com a Tabanca Grande o meu depoimento publicado no CM em 24-08-2008, na 1ª série de A minha Guerra.

Pessoalmente considero que o seu conteúdo é algo pobre, face ao que descrevi na entrevista, mas também compreendo que a visão jornalística, naturalmente,  não é coincidente com a nossa.

Devo referir igualmente que toda a descrição foi baseada apenas na minha memória visual, já que não possuía nenhum suporte escrito e por esse motivo, admito perfeitamente,  e apesar de ter tentado ser coerente, é passível de conter algumas pequenas imprecisões.

Um forte abraço

António Branco



Estes alguns dos recortes que ele nos mandou, e que reproduzimos aqui, com a devida vénia ao Correio da Manhã:



















guisse chegar ao morteiro e começar a resposta ao ataque com algumas granadas.  (...)  





_________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6994: Recortes de imprensa (28): A fraternidade na guerra, segundo Mário Fitas (Correio da Manhã, 6 de Junho de 2010)


13 comentários:

Anónimo disse...

Caro António Branco,
Nunca será demais relatar estas experiências dramáticas às novas gerações, para que tudo façam para rejeitar a guerra.
Há uma coisa que gostaria tentasses confirmar. Vi no blogue "Coisas do MR" que a morte do furriel resultou de "acidente".
Seria muito importante deixar esta situação a limpo. Talvez algum dos camaradas do BART 6522/72 possa dar alguma informação adicional.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Parece que a última morte em combate na Guiné ocorreu em Maio de 74. V. comentário ao P 2192.
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Complementando o comentário do Carlos Cordeiro, de facto no blog do M. Ribeiro, a sua morte vem caracterizada como acidente. Sob o título “Mortos na Guerra do Ultramar” Concelho da Idanha-a-Nova ultramar.terraweb.biz) http://ultramar.terraweb.biz/03Mortos%20na%20Guerra%20do%20Ultramar/LetraI/MEC_115n.pdf
Já vem caracterizada como acidente de fogo. Com toda a consideração que tenho pelo MR, que tenho, penso que acf será possivelmente a hipótese mais certa. De qualquer maneira, acf, pode levar-nos a várias possibilidades pelo que, o último parágrafo do C. Cordeiro continua ser válida.
Um abraço,
António Brandão

Anónimo disse...

Camarigos
Antigamente o Correio da Manhã disponibilizava mais páginas para as "Crónicas da Guerra Colonial", agora é uma página de escrita e outra de fotografias, se calhar se fosse a falar das unhas pintadas do Cristiano Ronaldo ou das pernas da Angelina Jolie, já havia disponibilidade de espaço na revista. Estou à espera que o sr. Manuel Catarino (CM) regresse de férias para falar com ele por causa deste assunto. Antigamente víamos no sumário em que página estava publicada a "Minha Guerra" agora nem sabemos a pagina ,pois não consta do sumário. Somos ex-combatentes e está tudo dito...
Abraço Camarigo
Luís Borrega

Anónimo disse...

Na Liga dos Combatentes aparece como "acidente".
Abraço,
Carlos Cordeiro

Abranco disse...

Caro Carlos Cordeiro
Efectivamente o que vem descrito por mim e publicado no Correio da Manhã, sobre a morte do Diogo Conceição Salgueiro, teve origem numa informação que me chegou mas que de momento não posso precisar.
Naturalmente e pela data em que ocorreu, é mais provável que tenha sido resultante dee acidente.
Quando regressei do Bachile em Março de 1974, recordo-me que o Diogo ainda ficou na CCAÇ 16 onde tinha sido colocado para ao que recorde aguardar o fim da sua comissão.
Conheci o Diogo nos bancos da escola primária, reencontrei-o na Guiné e guardo com muita saudade a sua camaradagem e o seu estilo extrovertido.
Cheguei a ter algum contacto com familiares dele que trabalhavam no Laboratório Militar mas depois acabei por perder.
Agradeço pois a qualquer camarada que possua mais informações, o favor de colocar comentário.
Um Abraço
António Branco
ex 1º cabo Reabº Matº
C CAÇ 16
1972/1974

Anónimo disse...

António Branco

Transcrevo de memória a seguinte afirmação constante do texto explicativo do conteúdo do C.M.:
"... a visão jornalistica não é, naturalmente, coincidente com a nossa."
NÃO! Absolutamente não! A visão dos factos é só uma: é a de quem prestou depoimento escrito ou falado e nos PRECISOS TERMOS em que o fez. O que acontece é que os senhores jornalistas (a sua maioria) só escreve (depois) aquilo que bem lhe parece, cortando, desinserindo, comentando, deturpando, tudo no sentido de encontrar não a sua VISÃO dos factos mas o SENSACIONALISMO, aquilo que acha que vai fazer vender jornais ou audição (aumentando as receitas da publicidade).
Por isso achei muito útil o aviso publicado aqui no blogue e que nos foi remetido por mail.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Caros amigos,

Posso ter sido mal interpretado no modo como apresentei o meu comentário. O facto dramático é que morreu aquele jovem, deixando de rastos a família e amigos. Não interessa se morreu de acidente, afogamento, acidente com arma de fogo ou em combate. Morreu LÁ, quando se preparava para regressar à "vida normal", para a qual teria, certamente, traçado projectos para uma vida longa e feliz.
Só levantei a questão por me parecer haver um certo anacronismo no poste. Mas devo dizer que a frieza com que apresentei o comentário agora me incomoda.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Caro amigo Branco

Esta tua crónica demonstra bem a forma como a Guerra evoluiu na zona de Bachile/Teixeira Pinto, entre 1972/73/74.
Pelo que se sabe, o poderio militar do PAIGC passou a estar muito acima do que dispunhamos.
O que até ao fim de 1972 parecia ser uma zona "calma", com o perigo à espreita, visto o aquartelamento de Bachile se situar a pouca distancia da residencia do IN(Caboiana), passou a ser, nos fins de 1972 princípio de 1973, mais um ponto nevrálgico da guerra.
Após o meu regresso, em Março de 1973, tive conhecimento da morte de muitos camaradas da CCAÇ 16, bem como de elementos da população civil, na sequência de ataques do PAIGC. Seria pertinente, para ajudar a escrever a História desta Guerra, que os ex-combatentes que testemunharam, de alguma forma, estes episódios os divulgassem. Por acaso, encontrei na internet o testemunho de um meu conterrâneo, de Faro, autor e editor do Blogue "Gotas d' Água", que se refere, precisamente, a um episódio de Guerra na zona de Bachile, que vem confirmar, em parte, a justeza desta tua crónica.
Dada a falta de espaço, irei transcrever a seguir o relato que encontrei no Blogue "Gotas d'Água".

Um grande abraço

Bernardino Parreira
CCAÇ 16
Bachile 1972/1973

Anónimo disse...

(Continuação)
Excertos do relato de um ex-combatente publicado no Blogue
"Gotas d'Água":

"O Bachile ..."
"Zona muito perigosa, situada a meio caminho entre Teixeira Pinto e Cacheu, no Bachile estava sedeada uma Companhia de guerreiros operacionais Guineenses que operava os "Obuses".
Nesta Companhia estavam também alguns guerreiros graduados naturais da metrópole.

Mesmo encostada ao Bachile ficava a misteriosa "Caboiana", mata onde se sabia existir um quartel-general dos "Turras", nome assustador pelo qual designávamos os guerreiros inimigos, pelo seu lado, eles vingavam-se chamando-nos "Tugas" mas que afinal viemos a saber apenas queria dizer "brancos".
...
Felizmente enquanto permanecemos no Bachile não houve qualquer confronto com os guerreiros inimigos, embora por vezes pressentíssemos a sua presença espiando os nossos movimentos.

Finalmente para nosso alivio, chegou o dia de abandonarmos o Bachile. Deixaríamos um grupo em "Churobrique" e outro em "Chulame" indo o resto da Companhia, incluindo o guerreiro do sul, instalar-se em "Bassarel", zona teoricamente um pouco mais calma.
...
Nesta breve referência ao Bachile, cabe aqui o relato de um grave incidente de guerra, ocorrido poucos meses após a nossa saída, no qual foram intervenientes o nosso Grupo de Churobrique, um Grupo do Bachile, um Grupo de Combate da 2ª. Companhia e os Fiats da Força Aérea, para além dos guerrilheiros inimigos.
Pelo meio cerca de cinquenta civis que não tendo directamente a ver com a guerra, só porque naquele momento estavam a trabalhar para as nossas tropas, foram dura e barbaramente castigados.

Uma manhã, o Grupo de Combate do Bachile fazia como habitualmente, a escolta a uma berliet com cerca de cinquenta trabalhadores civis que havia uma semana efectuavam trabalhos de "campinagem", isto é, cortavam o mato que envolvia a estrada para o Cacheu. Atrás, com o objectivo de durante o decorrer dos trabalhos diários, fazer a segurança dos mesmos trabalhadores, seguia um hunimog, com o Grupo de Combate de Churobrique.
Precisamente ao chegar ao local, onde iriam reiniciar os trabalhos, a pouco mais de quinhentos metros do Bachile, foram surpreendidos pelos guerrilheiros inimigos que emboscados na mata, dispararam e lançaram uma grande quantidade de granadas.

De todas as mortes a lamentar, houve uma em particular que a todos causou ainda maior consternação e desespero.

O furriel que chefiava a escolta, tinha recebido a notícia, há tanto tempo esperada, do fim da sua "comissão" de mais de vinte e oito meses de guerra. Naquela manhã que seria a última no Bachile ofereceu-se (sem ter de o fazer) para chefiar a escolta, segundo as suas palavras, para fazer a despedida.

E fez, de forma dramática e definitiva!

Na emboscada foi atingido em pleno abdómen por uma granada RPG que o destruiu, tendo morte imediata. Nem um único guerreiro daquela escolta sobreviveu nesta emboscada, assim como, todos os trabalhadores civis.

Os guerreiros de Churobrique, um pouco mais atrás, com vários feridos quase não conseguiram reagir a este inesperado ataque. No entanto, de imediato recebem apoio da 2ª. Companhia que estava sedeada no Cacheu e dos Fiats da Força Aérea, o que fez com que os guerrilheiros inimigos retirassem rapidamente. Para trás não deixaram uma única baixa." (Continua)

Anónimo disse...

Continuação)

Excertos do relato de um ex-combatente publicado no Blogue "Gotas d'Água", sobre o Bachile:

"...
...Na perseguição, o Grupo de combate da 2ª. Companhia avança pela mata sem qualquer meio de comunicação que pudesse indicar correctamente a sua posição aos Fiats da nossa Força Aérea e quase acaba sendo atingido, pelo fogo amigo. Felizmente os pilotos não efectuaram quaisquer disparos, evitando assim agravar aquela situação que teve momentos de invulgar tensão, raiva e desespero!

Na retirada, os "turras" desapareceram utilizando uma técnica de dispersão em pequenos grupos, sendo difícil saber exactamente para onde se dirigiam, uma vez que se ouviam disparos de zonas completamente diferentes e até opostas.

Ao fim de algum tempo, tudo termina num enorme silêncio de dor e de morte!

Na manhã seguinte quando o guerreiro do sul, integrando a coluna de Teixeira Pinto para Bissau, se preparava para iniciar a viagem, foi-lhe pedido que transportasse na sua Berliet, alguns daqueles mortos, de entre os quais, o nosso infortunado furriel.

E assim se fez mais uma história de guerra, diferente e ao mesmo tempo tão igual a tantas outras que muitos camaradas guerreiros viveram.
Nós estamos cá para as contar mas infelizmente outros não tiveram tanta sorte."


O meu BEM HAJA ao camarada que escreveu e publicou este texto na internet, que, a dezenas de anos de distancia, nos veio ajudar a perceber por que consta na listagem dos mortos na Guerra do Ultramar, na Guiné, o nome de 10 militares da CCAÇ 16, que perderam a vida em 22/04/1974.

Bernardino Parreira
Ex-Fur.Mil

Anónimo disse...

Resta-me mencionar o nome dos 10 camaradas que perderam a vida no fatídico dia 22/04/1974, na sequência de um ataque do PAIGC, 3 dias antes da revolução do 25 de Abril que conduziria ao cessar fogo entre as duas partes envolvidas nesta guerra.

ARNALDO DO NASCIMENTO CARNEIRO CARVALHO - Fur. Mil.

POLICARPO AUGUSTO GOMES - Sold At.

SAMPER MENDES - Sold At.

VICENTE RODRIGUES - Sold. At.

LUÍS DA COSTA - Sold At.

AMBRÓSIO CAPAMBU INJAI - Sold At.

CARLOS GOMES - Sold At.

ALBINO GOMES DA COSTA - Fur. Mil.

PAULO CAIESTA TUI MENDES - Sold. At.

NULASSO ALBINO GOMES - Sold . At.



B. Parreira

Unknown disse...

Numa visita que fiz ao castelo de Bragança reparei que numa placa afixada na torre do castelo com os nomes de ex-combatentes do distrito de Bragança falecidos na Guiné, consta precisamente o nome do Fur. Mil. Arnaldo N. C. Carvalho, que conheci no R. I. 13 de Vila Real.
Encontrei-me com ele de passagem em Bissau quando aguardava a minha viagem para férias, tendo estado algumas horas com ele numa esplanada conversando e bebendo um gin tónico, justamente na semana anterior à do seu desaparecimento. Soube posteriormente da sua morte em combate, mas não conhecia as circunstâncias, tão desafortunadas.
Passaram já muitos anos, mas estas memórias continuam a acompanhar-nos com maior intensidade.
Presto aqui a minha homenagem ao Arnaldo Carvalho.

Antóno G. Costa
Ex-Fur.Mil.