segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Guiné 63/74 – P6979: Actividade da CART 730 do BART 733 (1): Parte 1 (João Parreira)


1. O nosso Camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissourã e Brá, 1964/66, enviou-nos uma mensagem, com a primeira parte da história da sua Companhia de Artilharia:


Camaradas,

A exemplo de camaradas de outras Companhias, inicio a seguir um breve historial do BArt 733, e em particular da CArt 730.

Batalhão de Artilharia 733 - I Parte

Unidade Mobilizadora do Batalhão: RAL 1

A concentração das Sub-Unidades do Comando do Batalhão teve lugar no Regimento de Artilharia Ligeira no. 1, a partir de 29 de Junho de 1964.

EM PERIGOS E GUERRAS ESFORÇADOS

Porta de armas RAL 1- Foto de L. F. Camolas

A instrução de especialidades teve lugar de 29 de Junho a 15 de Agosto de 1964, e a instrução de aperfeiçoamento operacional foi efectuada na Serra da Carregueira de 31 de Agosto a 15 de Setembro.

Antes da partida foram-nos concedidos 10 dias de licença registada nos termos do no. 22 do D.Lei 42.937.

No dia 6 Out64 os militares da CArt 730 apresentaram-se no R.A.L.1, tendo depois sido transportados em viaturas para o BC 5, em Campolide onde pernoitaram de 7 para 8 de Outubro, dia do embarque.

A CArt 731 foi transportada para o BC 7 onde pernoitou.

Unidade Mobilizadora

Em viaturas auto todas as Sub-Unidades do Batalhão se deslocaram para o Cais da Rocha de Conde de Óbidos onde se reuniram em 8 de Outubro de 1964.

Sem se efectuar qualquer desfile realizaram-se as cerimónias de despedida que foi presidida por Sexa o General Buceta Martins, Governador Militar de Lisboa, em representação de Sexa o Ministro do Exército.

Cais da Rocha de Conde de Óbidos

Cais da Rocha de Conde de Óbidos

Niassa – Armador CNN – construido 1955 e abatido em 1979.
Lotação para 644 passageiros e 132 tripulantes.

No dia 8 de Outubro de 1964 o n/m Niassa começou a embarcar o pessoal do Batalhão de Artilharia 733, no Cais da Rocha de Conde de Óbidos das 07H00 às 11H00 tendo zarpado às 12H30 para terras africanas como reforço à guarnição normal da Província da da Guiné.

Chegada a Bissau dia 13 de Outubro, desembarque dia 14.

Guiné: 13 Outubro 1964 a 14 Agosto 1966

Composição da Companhia de Artilharia 730

Devido ao enorme número de praças, indico apenas o nome dos oficiais e Sargentos bem assim como a composição da 1ª. secção, do 1º. Pelotão, ao qual pertenci.

1964 - Companhia de Artilharia 730 (BART 733)


Guião e Emblema da CART 730

Batalhão Artilhara 733 - Cmdt: Ten. Cor. Art. José da Glória Alves (substituido em 27/4/66 pelo Ten. Cor. Orlando Rodrigues da Costa).

Oficial de Operações: Cap. Art. Aníbal Celestino G. da Rocha

Oficial Reabastecimento: Cap. Art. José Lopes Rijo

Comdt Companhia 732 - Cap. Art. Guy Stélio Pereira de Magalhães

Comdt. Companhia 731 - Ten. Art. Mário Rodrigues de Oliveira Azevedo

Comdt. Comp. 730 (S.P.M. 2578) - Cap. Art. Amaro Rodrigues Garcia

Médico: Ten. Mil. Jaime Heitor Afonso

Capelão: Alf. Mil. Felisberto Moreira Maia

Enc. Secretaria: 1º. Sarg. Maurício Martins Clemente

Cmdt. S. Morteiros: 2º. Sarg. António Eusébio Francisco

Cmdt. S. LGF: 2º Sarg. José João Gregório Morais

Enfermeiro: Fur. Mil. João Manuel Zaupa da Silva

Man. Auto: Fur. Mil. Ilídio Barros dos Reis

Transmissões: Fur. Mil. Higino José Gama Passos

Vaguemestre: Fur. Mil. Nelson Correia Borges

Cmdt. 1º. Pel. Atir.: Alf. Mil. José Francisco Ferreira (OpEsp./Ranger - Mafra: Março/Maio e Penude: 3º. C2 – 04Mai a 07Jun64 )

Cmdt. 1ª Secção: Fur. Mil. João Severo Parreira (OpEsp/Ranger - idem), substituido pelo Fur. Mil. Fernando Pereira Gomes

Cmdt. 2ª. Secção: Fur .Mil. Amadeu Júlio Neves Cruz (minas e armadilhas)

Cmdt. 3ª. Secção: Fur. Mil. João Norberto Lopes Bragança

Comdt. 2º.Pelot. Atir.: Alf. Mil. Orlando Diniz S.Valdez

Cmdt. 1ª. Secção: Fur. Mil. José Joaquim Nunes da Venda

Cmdt. 2ª. Secção: Fur. Mil. José Adalberto Vasques Almeida

Cmdt. 3ª. Secção: Fur.Mil. Manuel Júlio Vira

Cmdt. 3º. Pelot. Atir.: Alf.Mil. João José Andrade Crespo

Cmdt. 1ª. Secção: Fur. Mil. Joaquim José de Almeida Prates, subsituido pelo Fur. Mil. Manuel de Almeida e Silva

Cmdt. 2ª. Secção: Fur. Mil. Manuel Alcides Pereira Pinho

Cmdt. 3ª. Secção: Fur. Mil. Cristiano da Silva Tavares

Cmdt. Pelot. Acomp.: Alf. Mil. Adalberto dos Santos Seco

Cmdt. S. Met. P. Acomp.: Fur. Mil. António Joaquim Morais Caldas

Composição 1ª. Secção do 1º. Pelotão:

Fur. Mil. João Severo Parreira (OpEsp/Ranger) -(Comandos-10Fev65)

273/64 - 1º Cabo – Francisco Dias
274 – Sold. José Maria de Oliveira
292 - Sold. António Paixão Ramalho “Monte Trigo” (Comandos - 14Jul65)
293 - Sold. João Maria Leitão (Comandos - “ “ “ )
294 - Sold. Francisco José C. Pires “Cobras”
295 - Sold. Armindo Jerónimo Barrelas
296 - Sold. Cândido Perna Tavares “República” ( Comandos – 14Jul65)
298 - Sold. Jacinto Manuel Guerreiro
317 - Sold. Custódio António Dias

Oficiais e Sargentos da Companhia Artilharia 730: (no n/m Niassa)
Esq/dir em pé: Alferes Adalberto Seco, Capitão Amaro Garcia, Alferes
Francisco Ferreira; Baixo: Alferes Orlando Valdez e João Crespo


Furriéis da 730 > Esq/dir > Zaupa, Parreira, Cruz, Almeida, Tavares e Vira


Furriéis do BArt. 733

Durante a viagem foram efectuados pelos Cmdts. Compª., de Pelotão e por Oficiais médicos vários assuntos:

  • Cuidados dedicar material guerra e fardamento;
  • Disciplina e segredo em relação às operações;
  • SIM – responsabilidade cada militar – normas acção;
  • Camaradagem, ajuda mutua e cooperação decorrer operações;
  • Cuidados com o tiro, consumo de munições e seu controlo rigoroso;
  • Vias hierarquicas; Gastos de dinheiro, possibilidade economias;
  • Higiene pessoal e colectiva; Profilaxia tropical indispensavel;
  • Conduta com as populações e soldados nativos;
  • Exibição de filmes e realizou-se um torneio de ténis de mesa e um torneio de tiro ao alvo.


O navio tinha bom aspecto e até achei confortável, já que não conhecia melhor poi as únicas viagens que tinha feito até então tinham sido nos cacilheiros.

Da viagem lembro-me apenas que numa certa madrugada acordei sobressaltado pois o meu corpo flutuou durante alguns segundos em virtude do mar estar picado e com grandes vagas.

Como a situação se prolongou por muito tempo já não consegui adormecer, e como a cama ficava junto a uma escotilha fiquei a olhar para as ondas.

A viagem do Niassa para a Guiné terminou hoje, dia 13 de Outubro de 1964, às 11h00, altura em que fundeou junto a Bissau, mas não atracou.

O desembarque iniciou-se às 12H00 do dia seguinte, e pelas 15H00 a CCS a CArt 731 e a CArt 732 tinham desembarcado, com excepção da CArt730 (SPM 2578) que não teve autorização para desembarcar nesse dia.

No entanto, e a pedido de vários oficiais foi dada autorização para irmos passar o dia a Bissau, mas com instruções para regressarmos ao navio à hora do jantar.

15Out64 – Às 13H00 todo o pessoal da CArt 730 transitou do n/m Niassa para uma embarcação “BOR”, que nos levou para a Ilha de Bolama.

Durante a travessia, a embarcação encalhou num banco de areia e ficou parada durante várias horas aguardando que a maré subisse.

Chegámos a Bolama às 19H00 e ficámos instalados no aquartelamento C.I.M. (Centro de Instrução Militar).

Nessa primeira noite ficámos logo com a ideia do tempo que iríamos suportar pois choveu torrencialmente.

O Comando do Batalhão - a CCS - as Cart 731 e 732, que tinham desembarcado no dia anterior efectuaram pelas 16H00 um desfile pela Avenida da República, perante as individualidads civis e militares e o Povo da Província, findo o qual ocuparam as seguintes instalações:

  • QG/CTIG (Bissau) - O Comando do Bt. - Ten. Cor. Art. José da Glória Alves
  • Granja do Pessube (Bissau)
  • A CCS - Cap. QSGE Francisco António Remondes até 28Dez64; depois foi para Brá, tendo o C.I.Comandos ficado sobre a sua dependência; em 21Jun65 transferiu-se de Brá para Farim;
  • O Pelotão de Sapadores reforçou as companhias operacionais 730, 731 e 732 com uma Secção.
  • O Pelotão de Sapadores era comandado pelo Alf. Mil. Luis Alexandre de Carvalho.
  • Na CArt 730 ficou o Fur. Leonel de Paiva Ribeiro, Cmdt. da 3a. Secção de Sapadores
  • Armazéns da Bolola (Bissau): O Comando, a CArt 731: - Ten. Art. Mário Rodrigues de Oliveira Azevedo
  • A CArt 732: - Cap. Art. Guy Stélio Pereira de Magalhães ficaram instalados nos...
  • No r/c. do QG (Bissau)
  • Io Comando, a Sec. Op., Inf., Reab. Pess., a C. Admin. e Secret. e em 29 Dez 64 mudaram-se também para Brá.
  • A todo o pessoal do Batalhão foram feitas microradiografias.

Missão do BArt 733 na zona de Farim:

CCS – Garante a defesa do aquartelamento e do Comando; colabora no plano de defesa da Vila de Farim;

A CArt 732 que está estacionada na zona de quadricula de Colina do Norte, garante a segurança dos itinerários:

Colina do Norte-Farim = até limite do Sector.

A CArt 731 executa operações na area de Farim e garante a segurança dos itinerários: Jumbembem; Dungal; Guidage; Binta = até limite do Sector.

A CArt 730: Do Cap. Art. Amaro Rodrigues Garcia, no CIM (Centro de Instrução Militar) em Bolama de 15 de Outubro a 11 Nov 64.

Aqui foi feita a instrução de adaptação às condições de clima e do terreno.

Neste período recebemos todo o material e em 6 dias alternados tivemos instrução de manejo da G-3, que ainda não havia sido dada e executámos sessões de tiro para nos adaptarmos às armas.

Oficiais e Sargentos sairam pela primeira vez em 23 de Outubro para executarem um reconhecimento à Ilha das Cobras.

No dia seguinte a Companhia em missão de patrulhas de reconhecimento teve contacto com o capim, a densidade do arvoredo e o tarrafo.

Apesar de todas as recomendações um soldado deixou disparar a sua arma, felizmente sem consequências.

Em 3 de Novembro a Companhia realizou a sua primeira missão junto do campo de aviação em virtude de se terem ouvido tiros suspeitos.

Por ser interessante envio a história do:

"Monumento” - Legenda original que o Duce, Benito Mussolini, mandou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama".

Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália".

Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil.

Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr.

Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz.

Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim.

Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama.

Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat.

É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado.

Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.

Saiu de Bolama em 11Nov64 e foi ocupar o “bivaque” de Bironque rendendo a CArt 731, com a finalidade de manter aberto o itinerário Mansabá-Farim.

23Nov64 - A Companhia regressou de Bironque e instalou-se em Bissau (Brá).

Em 8 de Dezembro saiu de Brá e foi instalar-se em Bissorã, onde ficou até 03Jun65, tendo depois sido substituida pela CArt 566.

Bissorã > Cmdt. Compª., Alferes Operacionais, Ten. Mil. Médico Heitor Afonso e Alf. Mil capelão Moreira Maia.

Uma das finalidades era a de reforçar as Companhias no Sector (BArt 645, com intervenções nos sub-sectores das CArt 643 e CArt 566) e permitir com mais facilidade o escoamento da mancarra da zona, para Bissau.

Tendo recebido verbalmente uma missão por dois meses o período arrastou-se quase a seis.

Por esse motivo surgiram vários problemas em consequência da determinação de todos nós de transportar por necessidade o mínimo de bagagem de Bolama como, fardamento, calçado e outros artigos.

Tendo saído de Bissorã a CArt 730 instalou-se no Aquartelamento dos Adidos em Brá Bissau de 06Jun a 11Jun65 tendo no dia seguinte ido estacionar na quadrícula de JUMBEMBEM, com a finalidade de render a CCav 488.

Garante a segurança dos itinerários: Jumbembem: Cuntima; Farim; Canjambari-Morocunda-Fajonquito = até limite do Sector.

A 730 mantém destacado em Canjambari/Morocunda 1 GComb, de rendição periódica.

(continua)

Abraço amigo,

João Parreira

Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 /BART 733 e do Grupo “Fantasmas”

_________
Nota de MR:

Este é o primeiro poste desta série.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Parreira:
Gostei do que li. É com estes exemplos que a nossa memória colectiva perdurará para além de nós.
Parabéns ao Bart733 e à Cart730 por terem tido o Parreira.

Um abraço,
António Brandão

Torcato Mendonca disse...

Caro João Parreira

Há aqui uma curiosidade. O 1º Sargento Maurício Clemente um ano depois estava mobilizado para a minha"" Cart 2339. Com ele foram os 2º Sargentos Jaime de Moura Gomes e o Nascimento Silva. Embarcamos em Janeiro de 68.
Era assim a vida de muitos profissionais. O Moura Gomes tinha, salvo erro 44 anos e acabou, passado uns tempos por vir para Bissau.
Um abraço do
Torcato

Rogerio Cardoso disse...

Caro João Parreira
Por curiosidade a ultima foto tem dois elementos da minha Cart.643-Aguias Negras.
O primeiro da direita é o Alf.Lourenço, hoje Coronel na reforma, sendo o segundo o já falecido Alf.Alberto Paulo, enormes operacionais, sendo o Lourenço Cruz de Guerra.
Rogerio Cardoso
Fur.Mil.Cart.643-Aguias Negras