quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6920: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (21): Não posso levar a mal... por me/nos tratarem tão carinhosamente (Rosa Serra)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > "Os anjos que vêm do céu"... Helievacuação de feridos da CCAÇ 12 na sequência da Op Boga Destemida, Fevereiro de 1970.

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados.



Algures na Guiné > s/d > Rosa Serra (à esquerda) e Zulmira (à direita) entre camaradas pára-quedistas do BCP 12 numa operação onde ambas participaram o dia inteiro. No dia anterior também a enfermeira Manuela e a Enfermeira Rosa Exposto tinham acompanhado  os mesmos militares. "Que eu saiba fomos o único caso, de enfermeiras andarem mesmo em terra, durante todo o dia" (Rosa Serra). 

Foto: © Rosa Serra (2010).Todos os direitos reservados


1. Mensagem de hoje da Rosa Serra:

Assunto: Opinião
Olá,  Luis,

Espero que as férias tenham corrido bem e tenham sido reparadoras voltando cheio de energia para aturar esta malta, incluindo eu.

Como li um reparo sobre a forma como se referiam às enfermeiras pára-quedistas,  resolvi dar a minha opinião, se achares conveniente publica,  se não delita..., que não me importo nada.

Um abraço e até breve
Rosa

2.  Aos bloguistas em geral do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:

Apesar de não espreitar com frequência o blogue, desta vez acertei em cheio, ou melhor fui ver poucos dias depois de ser publicado uma polémica sobre as "queridas enfermeiras". Confesso que até achei uma certa graça e dei comigo a sorrir porque ambas as partes revelam cada uma a seu jeito, respeito e consideração pelas ex-enfermeiras pára-quedistas o que me agrada muito, pois sou uma delas - Rosa Serra.

Sou do tempo em que os páras fechavam atabalhoadamente uma ou outra revista da Plaboy, sempre que eu entrava inesperadamente no clube de oficiais na sala de leitura no antigo R.C.P., trazida por alguém que tivesse passado pelos Açores e a adquirido nos americanos. Ou então eu ouvir em surdina Cuidado vem aí a Rosa, se a conversa entabulada por alguém fosse menos apropriada aos ouvidos de uma senhora da época.

As unidades pára-quedistas sempre foram consideradas como escolas de valores, ainda hoje a mística - boinas verdes - está muito presente e com este espírito em geral associa-se o respeito quase levado ao extremo nas atitudes e no trato com as enfermeiras,  suas camaradas. Qualquer graçola não podia ser dita grosseiramente, palavrões nem pensar, piropos proibidos, nada de beijinhos ao cumprimentar, era outro mundo, outra época.

Por tudo isto compreendo perfeitamente o Senhor "Anónimo". Eu estive muito tempo no R.C.P. , além do B.C.P.21, e até na Guiné convivi mais com os pára-quedistas do que propriamente com os pilotos e mecânicos que apenas voava com eles em serviço. Até nos momentos livres eu pessoalmente relacionava-me mais com os páras e com as suas famílias, quando presentes, do que com os restantes militares.

Ainda hoje sou amiga de muitos pára-quedistas e sei lá porquê, não conservei grandes amizades com elementos da F.A.  e como é lógico trabalhei directamente com pilotos e mecânicos que igualmente me respeitaram e sempre foram delicados e muito, comigo, por isso estão no mesmo patamar de consideração e respeito, assim espero que me perdoem porque nem eu sei porquê, não conservei essas relações, afinal vividas tão proximamente.

Em relação ao título "Queridas Enfermeiras" não tem nada de desrespeito, de inadequado e não me sinto nada desconfortável por se referirem a nós desta forma, acho mesmo uma Ternurice, só revelam que numa altura das suas vidas em que o fragilidade emocional era acentuada, lhe tocámos em sentimentos de segurança, gratidão e apreço e hoje esse registo veio ao patamar da consciência e exteriorizam de uma forma carinhosa a lembrança da aquelas jovens, meio masculinizadas,  de botas da tropa calçadas e de camuflado, que nos últimos anos optaram por fazerem evacuações mais de t –shirts brancas, e que desciam apenas com um objectivo: socorrer aqueles que mais precisavam do nosso saber e do nosso apoio.

Acredito que os que sabiam da nossa existência, partissem com mais confiança para as operações de maior risco e manter essa gratidão a esta distância do tempo, é enternecedor, daí alguns nos considerar os "anjos que desciam do Céu"

Neste aspecto, chamarem-nos anjos parece-me um pouquinho de exagero, mas se é esse o seu sentir, também não me choca nada, é apenas uma metáfora que também pessoalmente a uso em relação às crianças, e até algumas pessoas adultas, embora poucas, que habitam este nosso mundo, mas estão distanciadas da vulgaridade, do egoísmo, da maldade e são dotadas de uma generosidade imensa que as tornam seres raros.

Por isso,  camaradas,  continuem assim, preocupados em nos tratarem bem e respeitosamente, seja com expressões mais formais ou mais carinhosamente, (como as nossas queridas enfermeiras), eu pessoalmente não levo nada a mal.


____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste 26 de Agosto de 2010  > Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961

4 comentários:

Anónimo disse...

Querido anjo, estimada Rosa.

Talvez vós não sabeis o alento que nos dava, ver uma mulher de camuflado, enrolar mortos em panos de tenda ou segurar com mil cuidados o saquinho do soro.

Todas as que passaram por Cufar no tempo da C.CAÇ. 763 recordam ainda concerteza como eram recebidas.

O meu profundo agradecimento,

Mário Fitas

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Este comentário/apreciação ao artigo saído referindo "as nossas queridas enfermeiras", por parte da camarada Rosa Serra, vale como um todo.
Está lá tudo o que bastaria dizer para enquadrar o tema em todas as suas vertentes: o respeito, o carinho, a imaginação, a esperança.
Quanto aos 'anjos vindos do céu', para além de ser uma metáfora, o branco das t'shirt ajudou um bocado, sempre era uma alternativa ao verde....

Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caros Camarigos
O Helder V. Sousa já disse tudo com a sensibilidade que lhe é habitual. Mais palavras para quê...

Alfa Bravo
Luís Borrega

Pardete Ferreira disse...

Para mim, a Rosa Serra será sempre a Rosa Grande, aqui ao lado da nossa amiga, já dolorosamente falecida; Zulmira.
E tinha que ser Rosa Grande porque me apareceu a conheci ao lado de uma destas duas minúsculas, a Manuela e a Aura... tenho a impressão que foi esta, lá na Base, não muito longe do Posto de Socorros.
Alfa Bravo, Rosa Grande