terça-feira, 13 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, junto ao obus 10,5 com  a mascote da companhia, um menino do mato, Augusto Martins Caboiana, que todos os camaradas da CCAÇ 16 adoptaram e ajudaram a crescer...



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco  e o João Pereira no espaldão do Mort 81.




Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, na "tradicional foto na árvore de grande porte" [, poilão].





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1973 > O Augusto, feliz e sorridente, foi o motivo principal  do cartão de boas festas do Natal de 1973.





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1972 > Cartão de boas festas





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > 22 de Julho de 1973 > Um convite criado pela "comissão de festas"...

Fotos: ©António Branco (2010). Direitos reservados

1. Mensagem do António Branco, um dos membros mais recentes da nossa Tabanca Grande (*)


Data: 11 de Julho de 2010 22:19

Assunto: Memórias do Bachile


Camaradas

Hoje resolvi partilhar um pouco,  ainda que de forma superficial, a minha experiência vivida durante cerca de dois anos no Chão Manjaco, Bachile e CCAÇ 16.

Não pretendo evidenciar os momentos mais belicistas desta minha experiência, porque isso deixo para os mais entendidos na matéria, quero sim antes de mais realçar quanto para mim foi gratificante experienciar os contactos sociais mais diferenciados.

Na totalidade na companhia éramos apenas,  se a memória não me falha, cerca de trinta metropolitanos das mais diversas origens, das mais variadas classes sociais e com níveis de cultura diferentes.

Mas estas diferenças não eram minimamente visíveis no dia-a-dia, porque entre todos sempre existiu uma enorme cumplicidade tal como se de uma família se tratasse.

O facto de a maioria dos camaradas terem ido para o Bachile em rendição individual, a meu ver proporcionou uma maior e mais forte aproximação, camaradagem e solidariedade entre todos.

Recordo com muita frequência que um problema,  de qualquer um de nós, era um problema de todos e só descansávamos quando se possível o problema conseguia ser sanado.

Quando havia motivos para festejar, festejávamos todos, reforçando assim esse espírito familiar que se vivia.

Todos os dias e nas mais diversas situações, aprendíamos algo uns com os outros, todos os dias se cimentava a cumplicidade de um grupo de homens que,  apesar da sua juventude, tinham bem presentes valores cada vez mais difíceis de encontrar.

Com os militares africanos sempre tive um extraordinário relacionamento, encontrei muito boa gente e compreendi muitas vezes as suas frustrações.

O Augusto Martins Caboiana, um menino que todos ajudámos a cria, e do qual gostava de saber o seu paradeiro,  foi estou em crer um ponto marcante para todos que passaram pelo Bachile.

Em anexo algumas fotos do Augusto que camaradas de outras companhias, enfermeiras pára-quedistas e camaradas da Força Aérea concerteza recordarão.

Não refiro outros nomes para não ferir susceptibilidades, pois a memória e o tempo decorrido já não permite que os recorde a todos, até porque enquanto desempenhei funções no bar de sargentos foram muitos os camaradas de outras companhias com quem convivi quando da sua passagem pelo Bachile com destino a operações na zona da Caboiana.

Falta-me referir o privilégio que foi contactar com muita da população civil que nas mais diversas situações foi sempre de uma extrema cordialidade, humildade e sem dúvida merecedora de uma vida melhor.

Aprecio imenso todas as iniciativas de origem particular de apoio à população da Guiné e estou sempre muito atento a tudo o que com esta terra se relacione.

Tenho esperança de vir ainda a encontrar mais camaradas que estiveram no Bachile para que com a experiência de cada um contar a história daquele que foi um simples bocado de terra rodeado de mato por todo o lado e que hoje pouco ou nada sabemos como é.

Voltarei à tabanca com mais relatos de experiências guardadas na memória e com mais fotos que espero ajudem a reencontrar outros camaradas.

Um abraço para todos

António Branco

Exz-1º Cabo Reabastecimento Material
CCAÇ 16  -Bachile  (1972/74)


_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74


(...) Sou natural de Lisboa onde nasci em 24-06-1950 e onde ainda resido. Estou presentemente reformado após ter passado por um período de três anos desempregado e sem poder exercer a minha actividade na área do sector automóvel que iniciei com quatorze anos.


Na sequência da situação de desempregado, ocupei o tempo disponível melhorando o meu nível de escolaridade completando o ensino secundário e consequentemente entrei no mundo das novas tecnologias.


Foi assim que acedi ao blogue que faz já parte dos meus favoritos e que visito diariamente pois sou fã incondicional de tudo o que diz respeito à Guiné e muito particularmente ao Bachile e à CCAÇ 16.


E foi através desta enorme família residente na tabanca que decorridos 38 anos consegui encontrar lá longe na China o ex-Capitão José Martins, o ex-1.º Cabo Operador Cripto Miranda, o ex-Furriel Bernardino Parreira, o ex-Furriel José Romão e mais recentemente o ex-1.º Cabo Mecânico Auto João Pereira. (...).

Vd. também poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

7 comentários:

Antº Rosinha disse...

Antonio Branco,

O destino de muitas crianças da idade de Augusto Martins Caboiana, que a tropa tuga batizou, mas que não era o nome que a familia lhe atribui quando nasceu, como todos sabemos,

O destino deles era melhor ou pior se tivesse parentes que fossem membros do PAIGC, ou não.

Caso afirmativo, estava isento de ir para a «fórma» (bicha) do arroz, dos chinelos chineses, do sal, etc., caso não tivesse parentes ddo partido, tinha que passar pelo racionamento dos Armazens do Povo, segundo as regras socialistas levadas à letra.

É que essas crianças guineenses tiveram muitas aprendizagens religiosas: Cristã, muçulmana e marxista.

Nos primeiros anos da independência, os jovens desfavorecidos, grupo em que provavelmente o Augusto se inseria, diziam que se distinguia quem tinha parentes no PAIGC, do resto, pelos pés ( sapato ou chinelo)e pelo cinto(barriga mais ou menos cheia).

Ainda havia mais uma distinção, segundo esses jovens, que era a distribuição de bolsas para universitários:

Uns (maus?) iam para os paises de Leste e Cuba, e outros (bons?) para Portugal, EUA, Brasil, França...

O pior para os Augusto´s era se fosse conotado com familiares de comandos ou tropa do exercito português.

Aí, a segregação era visível à distância.

Mesmo assim estes, cheios de fome, (fome de 3 dias) ainda tinham que abrir a boca de espanto e orgulho de ver os Volvo e Jipes, desfilarem em profusão por entre os buracos das ruas de Bissau.

E as tribos suecas, tugas, russas, ONU,etc., acharem tudo muito bem, e felizes, porque estava(mos)a ajudar um povo que "precisava tanto de nós".

Enfim, com na Europa há nós e outros, na África uns teem droga outros vuvuzelas (ouro).

Cumprimentos

Anónimo disse...

O Branco poderá, numa outra crónica, contar-nos algo mais sobre a história deste puto... Cheira-me que é um puto "apanhado no mato", daí o apelido Caboiana...(região de controlo do PAIGC, segundo creio, já que não conheci a região).

Aproveito para dar os parabéns ao nosso camarada Branco por ter vindo até e sobretudo por ter aproveitado a sua situação de desemprego para se valorizar e ganhar novas competências... Ficamos à espera da continuação da sua série...

Um abraço.

Luís Graça

Anónimo disse...

Caro António Branco
Em pouco se pode dizer muito...
Gostei do carinho que resulta das tuas palavras em relação às gentes da Guiné... Acredito que nesse chão manjaco que referes os homens grandes de hoje, que foram meninos de ontem, guardem boas recordações de militares como tu.
Um grande abraço de Alcobaça e volta depressa ao nosso blog.
JERO

Anónimo disse...

Caro amigo Branco

Venho felicitar-te pelo teu post sobre o Bachile. Passei agora por aqui e vi as tuas primeiras memórias.
Gostei do que li, e acho que tens boa memória e talento para a escrita. Concordo com tudo o que escreveste. O convívio entre todos os militares desta Companhia era excelente. Ainda hoje sinto saudades dos amigos manjacos que lá deixei, militares e civis. Foi com grande emoção e saudade que vi as fotografias do nosso amiguinho Augusto Caboiana. Podemos dizer que aquele menino era tratado como um filho, por todos nós, embora uns tivessem mais disponibilidade do que outros. Mas, daquilo que conheço, tu foste, sem dúvida, aquele que lhe dedicou mais tempo, dadas as funções que desempenhavas. Julgo que as primeiras letras lhe foram ensinadas por ti, e posso garantir que fazias um excelente papel de pai, de amigo e de educador.
Ainda gostava de ver o Augusto, ou de saber notícias suas.
Aquele menino que, segundo ouviamos dizer, tinha sido "apanhado na mata da Caboiana", em circunstâncias que desconheço, foi sempre muito bem tratado, e era uma criança muito feliz. O Augusto corria alegremente atrás de nós, quando estávamos no Quartel , e conhecia a quase todos pelo nome, era muito extrovertido e brincalhão.
Amigo Branco, fico a aguardar mais memórias tuas.
Eu cá vou desafiando as minhas lembranças.

Um abraço para todos os camaradas e amigos

B. Parreira

Jacinto Rêgo disse...

Boa tarde,
Colega,

Fiz parte da CCAÇ 16 de Março 1970a Maio de 72. Gostaria muito que entrasses em contacto comigo para pudermos reviver memórias e cruzar contactos de colegas. certamente estivemos juntos no Bachile. email: jota.p.rego@mail.com.

Fernando Alves disse...

Boa tarde companheiros.
Olá Jacinto.
Fomos os primeiros a chegar ao Bachile.
De Bolama, Jan. de 70, ao Bachile passado um mês até Março de 72.
A historia do Augusto Caboiana, passou-se connosco.
Ele não era Augusto Martins Caboiana, era simplesmente Augusto, (sou FERNANDO AUGUSTO ) E cABOIANA por ter sido recolhido creio que por um fuzileiro, numa operação na dita mata.

O Martins, já apareceu depois, porque caiu lá de pára-quedas esse cap. do QEO, já nós estavamos com 18 meses de Guiné, sem férias.
Depois contar-te-ei o resto da história.
Jacinto, até Junho, em Águeda.
Um abraço para todos vós.
Fernando Alves (Ex. Fur Mil. )

Anónimo disse...

Fernando Alves:
Creio muito haver para contar sobre a nossa odisseia na Guiné.
Li o livro do Luís Graça, salvo algumas ( poucas ) imprecisões, mas sem importância de conteúdo, que me fez recordar momentos de grandes incertezas, mas também com ocasiões de muito e bom companheirismo,dado sermos escudos de proteção sentimental entre todos.
Valorizo todos os que connosco serviram...
Também um abraço amigo, mas muito amigo para o Capitão Guimarães e Capitão Duarte, sem distinções de amizade entre todos nós.
Até breve,
Fernando Alves
Bragança