terça-feira, 13 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6728: Controvérsias (94): Puros e Espúrios (Mário Gualter Rodrigues Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 8 de Julho de 2010:

Camaradas,
Hoje abordo uma matéria sensível que é a velha polémica entre Oficiais do QP, que não queriam ser confundidos com os Oficiais do QC (Milicianos), tendo mesmo sido publicado um decreto-lei que deu origem aos:

PUROS E ESPÚRIOS

Em 1973, foi criado o célebre Decreto-Lei 353/73, que permitia ao Oficiais do Quadro Complementar (Milicianos), aceder ao posto de Capitães desde que frequentassem a AM durante um ano e um estágio de seis meses numa Companhia Operacional.

Este decreto-lei nunca foi aceite pelos Oficiais do QP, com incidência particular na Guiné de onde partiu uma forte contestação ao mesmo liderada, na altura, pelo Capitão Vasco Lourenço e apoiada por um grande número do Oficiais do QP, que chegaram a elaborar um documento que foi dirigido a várias entidades militares superiores de então, conforme se comprova pelos documentos anexos.

A contestação teve percussões nos meios Oficiais do Exército vindo a criar duas fracções antagónicas que vieram a ser conhecidas como PUROS e ESPÚRIOS. Nem sempre esta questão foi pacífica tendo mesmo azedado entre os relacionamentos entre os Oficiais do QP e do QC conforme se pode ver no documento ms14-1.

Por força desta contestação e apresentação duma delegação junto do Sr. General Spínola, na altura Vice-Chefe do Estado Maior do Exército, nasceu o Decreto-lei 409/73, que pouco alterava o anterior mas serviu para demonstrar a força dos Oficiais do QP, perante os do QC. [Spínola só em Nov73 (salvo erro no dia 17) foi nomeado pelo PM como vice-CEMGFA, cargo no qual veio a ser empossado apenas em Jan74 (salvo erro no dia 14)]... (estes "salvo erro", devem-se apenas à circunstância de não estar ao momento no meu "posto de sentinela"; acaso interesse à apreciação do desenvolvimento deste 'case study', poderei informar com todo a precisão quem foram os responsáveis pela elaboração dos dec.353 e 409/73, quem e quando os aprovou a nível castrense e a nível político, etc.).

Quem hoje acusa de egoísmo e pequenez quem conhece e esgrima estes factos aquando da abordagem deste tema, já naquela altura lutava por uma divisão de classes que devia estar unida e não desperdiçada (no meu entender) torcida luta de interesses.

Mas já alguém havia profetizado este acontecimento!

As Forças Armadas irão debater-se em primeiro lugar com clivações internas entre oficiais de carreira e oficiais milicianos, gerando-se aqui e ali fenómenos de defesa corporativa habilmente organizados por chefes militares com projectos políticos próprios, ou alheios… Palavras de MEDEIROS FERREIRA." celebérrimo desertor, 'de facto' e 'de jure'; (foram proferidas quando e onde?)

Como vêem as lutas e desentendimento entre Militares de Carreira e Milicianos já é antiga e não de agora



















NOTA: Com os meus agradecimentos pessoais ao Camarada Abreu dos Santos, pela colaboração que me prestou nas questões de pormenor do texto.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
__________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6687: Controvérsias (93): Nunca entendi a querela QP-Milicianos... O fim do serviço militar obrigatório foi um desastre nacional (Morais da Silva, Cor Art Ref)

4 comentários:

Anónimo disse...

Ele há cada uma...
Muito a propósito.
Vai um abraço forte do Torcato

Anónimo disse...

Curioso: não vejo lá o nome do cor. Morais da Silva, que parece que é a quem se destina o poste, pois foi ele que falou em "egoísmo e pequenez". Aliás, não podia assinar porque em 73 não estava na Guiné. Ficamos, assim, sem saber se assinou algum documento. Pode muito bem acontecer que não tenha assinado, o que viria conferir ainda maior legitimidade às suas tomadas de posição.
Uma coisa é certa: não se pode dizer que "quem acusa de egoísmo e pequenez quem conhece e esgrima estes factos [...] já na altura lutava por uma divisão de classes que devia estar unida...". É que, de facto, os documentos em presença não têm a assinatura do cor. Morais da Silva.
Cumprimentos,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Correcção - os Oficiais Milicianos que desejassem frequentar a AM poderiam ingressar por requerimento segundo duas vias de acesso
1 para oficiais condecorados;
2 para oficiais capitães.

Na gíria, no caso 1 o curso tinha a designação de Curso Especial e
no caso 2 a designação era de Curso para Capitães. Ambos davam acesso às Armas do Exército e à Força Aérea e ambos eram constituídos pelos dois anos finais dos cursos gerias da AM, devendo os finalistas frequentar um Tirocínio de padrão comum nas Escolas Práticas ou numa Base Aérea, (excluía-se portanto o
1ºano em que as disciplinas eram genéricas ou de introdução ao estudo e à prática militar; os cursos para milicianos eram pois constituídos por aquilo que se designava por Curso da Arma e era frequentado igualmente pelos alunos oriundos do 1º ano -cadetes- e pelos alunos ingressados directamente no 2º -oficiais alunos-).


SNogueira

José Marcelino Martins disse...

Mais uma achega, ou melhor, duas:

1 - Já se havia passado o mesmo aquando do final da I Grande Guerra em que havia, não só excesso de Oficiais (Milicianos) mas também de praças. "Todos" queriam ficar na tropa para garantir a sua subsistência. Note-se, também, que muitas praças só tinham a farda militar. como roupa de "uso civil". A forma de obviar a redução do contingente, foi aplicar RDM na sua dureza máxima, punindo e "desterrando" para África todo e qualquer militar que infringisse, mesmo que "levemente" o regulamento.

2 - Os sargentos (Furriéis Milicianos) também podiam ser abrangidos, talvez noutros termos, por estas normas. Eu fui convidado pessoalmente pelo Comandante do Batalhão que estava em Nova Lamego, para ingressar na Academia Militar, e para o que já tinha uma carta passada para o respectivo Comandante /Director da AM.

Estávamos em Maio de 1970.

José Martins