sexta-feira, 25 de junho de 2010

Guine 63/74 - P6643: Memória dos lugares (86): Bachile, chão manjacho (José Romão, ex-Fur Mil, CCAÇ 16, 1971/73 / António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, 1972/74)

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) > O José Romão junto ao obus 10,5



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) > À caserna do José Romão



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) >Arrecadação de material de guerra



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) >A parada


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 (1971/73) >  Aspecto geral das instalações do aquartelamento


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 > Aspecto geral do aquartelamento

  


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachilé > CCAÇ 16 >  O José Romão (à direita) e o Bernardino Parreira.  Em fundo, lê-se: "Para uma Pátria una e indivisível, a Companhia Manjaca [,CCAÇ 16,] está defendendo o seu chão da cobiça de estranhos, ainda que tenha de derrmar o seu sangue2

Fotos: Jose Romão (2010). Direitos reservados  zecaromao@hotmail.com


1. Mensagem do José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863,  Teixeira Pinto, e CCAÇ 16,  Bachile, 1971/73), que  reside actualmente em Vila Real de Santo António (*)

Data - 23 de Junho de 2010

Assunto - Bachile

Uma boa noite para o amigo e Camarada Magalhães Ribeiro

Tenho estado a ver no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, notícias relacionadas com as zonas onde estive, entre 1971 e 1973 (Teixeira Pinto e Bachile).

Hoje estive a ler uma notícia, escrita pelo camarada António Graça Abreu, relacionada com o Bachile (**) e com a qual eu não estou totalmente de acordo.

Na primeira parte, tirando as casas pintadas de branco, porque não estavam pintadas, o resto está bem.

Na segunda parte é que nada bate certo. Ele diz e passo a transcrever:

António Graça de Abreu (AGA): “O aquartelamento é deplorável. Logo atrás do arame farpado há dezenas e dezenas de bidões cheios de areia rodeando umas tantas tabancas”

Romão (R): Ora isto não é verdade, porque só o aquartelamento é que estava rodeado de duas filas de bidões com areia, porque era a única protecção que tínhamos contra qual ataque inimigo e não tínhamos nenhumas tabancas a rodear o quartel.

AGA: "Depois há telhados em cimento armado cobrindo os tegúrios semi-afundados na terra,  habitados pelos nossos soldados, uns setenta a oitenta. É a protecção possível contra flagelações e bombardeamentos".

R: Os telhados não eram de cimento armado, mas sim de chapas de zinco aparafusadas a umas asnas de ferro e nem sequer estavam semi-afundadas, conforme posso provar nas fotos que envio. Todos os militares dormiam em casernas e não em abrigos porque também não haviam. Cada caserna estava dividida em três partes independentes: Uma para o Alferes, outra para os furriéis e outra para os soldados.

AGA: "E dão uma certa segurança aos homens brancos expatriados na terra dos negros comandados pelo alferes Rocha".

R: Os únicos homens brancos eram os oficiais e os sargentos, porque os soldados eram todos nativos. O alferes Rocha era unicamente comandante do meu pelotão. Quando eu cheguei ao Bachile,  o comandante era o capitão José Martins que depois foi rendido pelo capitão Abílio Dias Afonso.

Já são duas da manhã e por hoje nada mais tenho para escrever.

Um grande abraço para todos os camaradas.

Romão


2. Resposta do António Graça de Abreu, a pedido dos editores: Meu caro Zeca Romão:


Recebi via Magalhães Ribeiro e Luís Graça um comentário a um texto meu, no meu Diário da Guiné que junto em anexo.

Com todo o respeito, pela tua opinião, esclareço:

(i) Fui três ou quatro vezes ao Bachile,  ainda em 1972. Conheces melhor o lugar do que eu.

(ii) Escrevi este texto no início de Julho de 1972. É possível que tenha erros. Eu era periquito, tinha apenas oito dias de Guiné.

(iii) Mas, recordo-me que o aquartelamento estava em construção, em 1972. As fotografias que mandas são de Junho de 1972?  Não serão posteriores?

(iv) A companhia era africana, eu sei. Mas onde viviam as famílias dos militares africanos? O reordenamento, acabado de fazer,  estava vazio. Havia mais tabancas. Quase posso jurar que vi abrigos em cimento armado, como havia alguns em Teixeira Pinto. Quando vos atacavam o aquartelamento, onde é que vocês se abrigavam?

(v) Eu não disse que o Alf Rocha comandava a companhia. Só em caso de ausência do capitão isso eventualmente aconteceu.

(vi) Encontrei o capitão Martins em Macau, em Maio de 2009. Vive lá há dezasseis anos.

Leu o meu Diário da Guiné e gostou do que escrevi sobre o Bachile. (***)

Um abraço, e se quiseres o meu Diário da Guiné, diz, mando-to pelo correio. São 17 euros.

António Graça de Abreu

  ____________

Notas de L.G.:

(*)  Mensagem do José Romão, com data de 18 do corrente:

Amigo e camarada Magalhães Ribeiro: Obrigado por teres colocado a mensagem no Blogue. Por esse motivo, recebi vários contactos, entre eles uma chamada telefónica do Cap Martins, que actualmente reside na China e que esteve comigo na CCaç 16 no Bachile. Foi ele que me deu o contacto telefónico do meu camarada Bernardino Parreira.


Quanto ao convite para aderir ao Batalhão Tabanca Grande, aí vão os meus elementos e as duas fotografias.


José Quintino Travassos Romão
Residente em Vila Real de Santo António
Ex-Furrriel Miliciano
Guiné (Setembro de 1971 / Outubro de 1973).


BCaç 3863, CCaç 3461, em Teixeira Pinto,  e CCaç 16 no Bachile.


Fomos tirar o IAO a Bolama e depois o Batalhão foi para Teixeira Pinto, onde estive pouco tempo, porque fui para a CCaç 16 (Companhia Africana) até ao final da comissão. (...)


Travassos Romão

(**) 23 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6632: Memória dos lugares (79): Bissau, cidadezinha colonial (Parte IV) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)

(***) Vd. postes de:

8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4483: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (11): Macau: A. Graça Abreu com José Martins, ex-Cap CCAÇ 16 (Bachile, 1971)

6 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Romão

Não pude deixar de me emocionar ao ver as fotos da terra vermelha que pisámos, e das casernas que partilhámos, há cerca de 38 anos.
Pelo que li, a tua memória está intacta e, desafiando as minhas lembranças, confirmo tudo o que dizes.
A população nativa, mais próxima, habitava em Churobrique.
Acrescento, ainda, que no aquartelamento existiam várias casas desabitadas, que, segundo constava na altura, se destinavam à população "apanhada no mato",... "mas que essas pessoas preferiram ir para Churobrique" e, daí, essas casas, no quartel, nunca terem sido habitadas, enquanto nós lá estivemos.
A maioria dos soldados, nativos, da C. Caç 16, eram oriundos de Teixeira Pinto; Pelundo e arredores. Habitualmente eram feitas escoltas que acompanhavam esses soldados às suas residencias. Entre muitos amigos que fiz, na C. Caç 16, lembro-me, particularmente, do soldado do meu Pelotão, que residia no Pelundo, o Victor Injai, que eu acompanhei muitas vezes, do Jair Injai, do Malan Correia, e muitos outros.
É um facto, confirmado, que não dispunhamos de abrigos no Quartel.

Um grande abraço

B. Parreira
Ex-Fur. Mil

MANUELMAIA disse...

CARO JOSÉ ROMÃO,

UM ABRAÇO DE BOAS VINDAS.
CÁ FICAREMOS À ESPERA DOS TEUS ESCRITOS.
MANUELMAIA

Anónimo disse...

Caro José Romão

Em primeiro lugar quero saudar-te e dar as Boas vindas a este nosso lugar de memórias e afectos, que é este Blogue ou melhor a nossa Tabanca Grande.

Seguidamente dizer-te que espero agora que nos transmitas as tuas vivências no Chão Manjaco, que também foi um dos "Chãos" que pisei na Guiné.
Quando chegaste a Teixeira Pinto estava eu quase no final da comissão e num lugar bem mais confortável, pois era nessa época no CAOP 1, adjunto do Major de Inf e ACAP (APSICO).

"24OUT71, domingo, 20H30M chegada de 1CCaç (BCaç 3863) que foi para o BACHILE->Cap Branco".

Eis o que consta das minhas parcas anotações na pequena agenda de bolso de 1970, mas que serviu igualmente para 1971 e Jan72.

Aquele nome do Capitão, não sei como me surgiu, visto que só há bem pouco tempo tive oportunidade de falar telefónicamente com o Cap Martins que está em Macau e China.
De onde me veio este nome?

Passei a noite de consoada, 24 para 25DEZ71 no Bachile. Não sei se te lembrarás de mim. Eu era Cap Mil que tinha ido em rendição individual, tendo andado por MANSOA, MANSABÁ e acabado precisamente no CAOP em Teixeira Pinto.
As tuas fotos são para mim uma surpresa. Não tinha a ideia tão negativa do aquartelamento, que visitei, embora de passgem, por mais de uma vez, antes de tu chegares, quanto a descrita pelo camarada Graça de Abreu, que não conheci lá, pois entretanto o meu "calvário", já tinha terminado. Mas isso talvez por ele naquela época ser um "pira" e eu ter visto e até habitado "bu...rakos" bem piores.
Mas a verdade é que as minhas recordações também não se enquadram nessas tuas fotografias.
Eram já assim no final de 1971 as instalações?

O Bernardino Parreira recorda que a POP "recuperada" preferia viver em CHUROBRIQUE, que eu também visitava no decurso das minhas funções. Não seria de admirar esta preferência. Era a primeira tabanca depois da Ponte Alferes Nunes (célebre nome este, que o camarada Carlos Silva ontem no Encontro me libertou dum enorme peso de consciência ao afirmar-me que a celebérrima Ponte Alferes Nunes em Cimento não funcional, por estar colocada em seco, fora do Rio Costa, ainda lá está para não julgarem que tinha endoidecido quando afirmei isto num dos primeiros escritos para o Blogue. Só falta a foto, mas parece que ainda aparecerá). Mas quanto a CHUROBRIQUE, logo junto à estrada depois da Ponte, fazendo conjunto com a tabanca de PECHILAL, esta, umas centenas de metros para leste depois de atravessar uma bolanha.
Seriam por ventura populações do mesmo "ramo", quiçá ligadas por laços de parentesco com as tais "recuperadas".

Mas agora espero que ambos nos contem mais coisas e esclareçam as dúvidas que apresentei.

Abraços
Jorge Picado
Ex-Cap Mil (excepcionalmente para o caso destes camaradas ainda não me conhecerem)

Anónimo disse...

Atenção.
Quando me refiro à descrição do Graça de Abreu, refiro "pira", uma vez que ele fez essa descrição com poucos dias de Guiné e por isso só com o tempo que depois passou e teve oportunidade de ver "outras instalações paradisíacas" podia avaliar melhor o que era a realidade daqueles tempos.

Jorge Picado

Abranco disse...

Confirmo que a C CAÇ 16,naquela época tinha as condições que as fotos do Romão demonstram.
Efectivamente por razões de segurança e dada a localização estratégica do aquartelamento, existia em todo o perímetro do quartel duas camadas de arame farpado alguns bidões cheios de terra funcionando como espaldões junto dos morteiros, obuses e metralhadoras ligeiras.
Confirmo que os telhados eram de chapas de zinco e tanto quanto se ouvia dizer as casernas pintadas de branco era uma imposição do então General António Spnínola.
Ainda passados todos estes anos ainda me emociono ao ver as fotos do lugar que partilhamos.
Irei continuar atento a tudo o que se relacione com a nossa companhia e com aquela terra que apesar de extremamente pobre, mas que nos deixou marcas.
Um abraço
António Branco
ex-1º cabo Reabtº Matº
Bachile 1972-1974

Zeca Romão disse...

Boa tarde camaradas.
Estive a ler com muita atenção o que o camarada Jorge Picado - Ex-Capitão Miliciano escreveu e verifiquei que ele fala na Ponte Alferes Nunes, onde estive de serviço com alguns militares do Bachile.
Gostava de entrar em contato com ele pois tenho algumas fotos da referida Ponte e que gostava de lhe mandar.
Podia colocar as referidas fotos aqui no Blogger, mas já não sei com se faz.
Um grande abraço para todos.