sexta-feira, 21 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)

1. Mais uma história do nosso camarada António Paiva, (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241 de Bissau, 1968/70):

Histórias de um Condutor do HM 241 - 12

Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias


Como todos sabem, a PM (Polícia Militar), primava pela sua apresentação e pelo rigor, no cumprimento do seu dever.
Verdade seja dita, pelo que me tocou, nunca me fizeram qualquer mal, correu sempre tudo às mil maravilhas, na Guiné, talvez por se tratar da Unidade que era, Hospital, do qual poderiam necessitar durante o tempo que lá estavam, tinham-nos sempre em atenção.

Alguns camaradas da PM quando ia haver uma operação de controle de excesso de velocidade, de uma forma ou de outra, nos informavam do dia, local e hora, chegavam mesmo a avisar-nos de que o Oficial que estava na operação não era “gajo” para perdoar. Por vezes até boleia nos davam quando, à noite, perdíamos o ultimo transporte.
Posso mesmo dizer, quase com a certeza, que durante a minha comissão só duas vezes de chatearam.

A primeira foi aquela a que faço referencia no P3615, a segunda no dia 31 de Dezembro de 1969, que pouco me chateou, pois não era eu que ia a conduzir, era o Whisky, era fim de ano, mas quem levou com 10 dias de detenção fui eu.

Mas vamos ao que me leva a esta história:

Como devem saber, dentro do Hospital, a boina não fazia parte do nosso complemento militar, a qual não devia mesmo ser usada no seu interior e mais, sem que fosse uma postura de desmazelo, podíamos andar de chinelos e camisa fora dos calções, consoante as circunstâncias, para melhor liberdade de movimentos, o nosso serviço era assim, não tínhamos tendência para aprumos militaristas.

O 2.º Comandante ainda tentou que no Hospital, os militares andassem devidamente fardados, talvez para lhe baterem a pala quando lá entrava, mas não conseguiu.
O General Spínola, sempre aceitou a forma como estávamos e como éramos.

Dou esta pequena explicação, pelo seguinte:

Certo dia, com sinais emergência, chega ao Hospital um jeep da PM, não era para menos, no banco do pendura vinha um Senhor Oficial devidamente fardado e de boina bem posta, fazendo honras à sua farda e à Unidade que representava, mesmo que o sangue lhe escorresse pela face.

Saiu do jeep e entrou pelo Hospital adentro sem tirar a boina. Logo à entrada do corredor foi chamado à atenção, por um médico, que naquela Unidade não se entrava com boina na cabeça.

Resposta pronta, mais ou menos nestes termos:

- Sou militar, sou oficial (Alferes) e estou devidamente fardado.

No corredor se ouve uma voz, vinda da boca do Alf Mil Med Diamantino Lopes:

- Eu trato dele.

Podem crer que o tratou bem, não descompondo o rigor militar de S. Exª.
Nem entrou no Posto Socorros, foi directo para Pequena Cirurgia.

O Alferes, depois de sentado, ia para tirar a boina, o que foi impedido pelo médico.

- Deixe-a estar, aqui quem manda sou eu.

Recurso necessário:

Uma tesoura, para cortar a boina e pôr metade para cada lado.

Depois do espaço aberto, foi executado na perfeição o tratamento adequado.

Só não sei se foi a quente ou a frio, se levou agrafes ou ponto cruz, a verdade é que saiu de lá tratado e a boina unida com fita adesiva.

Já me esquecia, O Sr. Alferes tinha partido a cabeça ao bater com ela na porta de um armário que se encontrava aberta.

Um abraço
António Paiva
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (11): Quando a missão não deixa ver

4 comentários:

Gabriel Tavares disse...

O médico teve muita sorte. Se dá com um "marado" talvez ficasse a lembrar do oficial para o resto da vida.Vivi uma cena parecida no Hospital Militar de LUANDA

Anónimo disse...

Caro António Paiva
Parabens pela "estória" que está muito bem contada. Julgo que o nosso Alferes com a cabeça partida devia ser, pelo seu comportamento, "periquito". Se tivesse andado pelo mato já lhe teria passado a pose...A minha experiência de Hospitais foi só no HMP e tenho que confessar que os "PMs", na qualidade de doentes, tinham direito a injecções com agulhas estortadas para o efeito...Enfim...sacanices ca juventude!
Um abraço,
JERO

Anónimo disse...

Abraço António Paiva
Jorge Félix

Pardete Ferreira disse...

Obrigado camarigo: esta história é mais que verdadeira - o médico era o Dr. Diamantino Lopes, com a alcunha coimbrã de "O Tocha", grande praxista. Pequenino, bem penteado, gosão sem ares disso, com 33 de pé, foi mobilizado com 15º Comp. de Comandos, se bem me lembro e, ao olharem para ele, todos aqueles matulões começaram a mandar piropos: "Isto é que é o médico?". Sem pestanejar, lá foi a resposta pronta: " Eu sou a amostra clínica, o médico vem aí atrás!". Foi ele, igualmente, quem recebeu o Capitão Peralta no HM241, pois tinha-se atrasado nas consultas e era o único elemento da Cirurgia que estava presente. Era de Penela e ao regressar foi para o Hospital de Leiria.
Alfa Bravo.
José Pardete Ferreira