domingo, 9 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6356: Historiografia da presença portuguesa em África (36): O PAIGC, os nossos arquivos e a Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961/74 (Nuno Rubim)

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1. O nosso Camarada Nuno Rubim, Cor Art Ref, enviou ao Luís Graça a seguinte mensagem, com data de 15 de Janeiro último


Acerca do poste P5639 (I)

Caro amigo Luís: Primeiro para te dizer que, finalmente ao fim de vários anos, vejo "uma luzinha ao fundo do túnel", no que concerne a possibilidade de alguns trabalhos meus virem efectivamente a ser publicados por uma editora.

Em resposta/aditamento à mensagem P5639, publicada em 13 de Janeiro, julgo ser melhor dividir o texto em duas partes, a serem publicadas separadamente, em função dos critérios editoriais, já que me parece que a maioria dos nossos Camaradas preferem, naturalmente, as "saborosas estórias" sobre o que foi o dia a dia dos que passaram parte das suas vidas naquela terra da Guiné e que nunca mais esquecerão até ao final dos seus dias.

Para além dos teus amáveis considerandos a meu respeito, talvez "inflacionados" pela amizade que nos une, julgo de interesse, para começar e porque isso se prende com a minha presente actividade, esclarecer as razões que me levaram a esse empenhamento que tão bem expuseste (mas são 114 GB, 973 pastas e 13211 ficheiros.

E estou ainda agora a começar a "trabalhar" o ano de 1972...

Em 1980 saiu a portaria que transcrevo em “attach”. Por ela se pode ver a preocupação que, desde cedo, se impôs a quem de direito. O resultado pode hoje ser avaliado pela publicação dos vários volumes da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, 1961-1974, cujos títulos (alguns ainda no prelo), também junto.

Notarão os camaradas duas questões:

1- Não se propôs a CECA analisar de forma aprofundada e crítica as questões decorrentes da actividade operacional, embora o volume 6º pareça indiciar (ainda não tive oportunidade de consultar qualquer dos 3 tomos, nem tenho conhecimento se algum já foi editado) alguma orientação nesse sentido.

2- Nada há que preveja que seja analisada a actividade do PAIGC em qualquer vertente que se possa considerar, pelo menos a curto prazo, até porque:

O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!).

Os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde estão a ser objecto de digitalização integrados no Arquivo Amílcar Cabral, uma iniciativa de grande mérito.

Ora quando comecei a analisar em detalhe a produção da 2ª Rep, mais tarde RepInfo do Com Chefe Guiné dei-me conta do extraordinário manancial aí existente que, no meu entender, poderia vir a constituir uma base de trabalho ímpar para o estudo das actividades do PAIGC.

Porque podem ter a certeza camaradas, o nosso sistema de informações militar foi de uma grande eficiência. As notícias, que depois de "recortadas" originavam informações de enorme importância provinham de várias fontes: documentos capturados ou abandonados em bases, as declarações de prisioneiros, de apresentados e o que chamo as "populações flutuantes", os gilas (que muita vezes eram "agentes duplos"), as informações da PIDE/DGS e da sua vasta rede de informadores pagos, dentro e fora da Guiné e finalmente (e não menos importante) os resultados da pesquisa das unidades de quadrícula, cujo papel me parece não ter ainda sido devidamente reconhecido.

E falo com conhecimento directo do assunto...

Então o que é que se pode inferir? Possivelmente e isso terá certamente acontecido várias vezes, os serviços que tinham por obrigação de "expurgar" esses documentos e consequentemente fornecer orientações para a exploração dessas informações, nem sempre o terão feito da forma mais eficiente, e também os recipientes últimos, os que tinham a suprema autoridade para tomar as decisões não analisaram devidamente os dados que lhes eram fornecidos, várias vezes pesados custos...

Mas camaradas, estudo há muitos anos a história militar universal possuindo nesta altura qualquer coisa como 2.500 volumes, estudos, folhetos, etc., desde as primeiras guerras que deixaram referências escritas (César) até à Guerra do Vietname posso-vos assegurar que isso foi uma constante e muitas vezes com efeitos altamente desastrosos para alguns dos beligerantes...

(a continuar)

Um abraço,
Nuno Rubim






Portaria n.º 43/80, de 16 de Fevereiro

Considerando que as operações militares em África, durante o período de 1961-1974, constituem matéria que não foi ainda objecto de estudo profundo;
…………………………………………………………………………………………

Manda o Conselho da Revolução, pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, o seguinte:

1 - É criada, no Estado-Maior do Exército, a Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).

A referida Comissão…. tem por finalidade a reunião, compilação e salvaguarda de elementos sobre toda a documentação e de todos os objectos com potencial interesse para o estudo da intervenção do Exército nas campanhas de África (1961-1974)...

Para tal compete-lhe, nomeadamente:

a) Localizar, inventariar e promover o levantamento de todos os documentos e objectos actualmente em poder de entidades oficias (militares ou civis) com potencial interesse para o estudo da intervenção do Exército nas campanhas de África (1961-1974) …
…………………………………………………………………………………………

d) Elaborar uma resenha histórico-militar da intervenção do Exército nas campanhas de África (1961-1974), tendo em vista, sobretudo, o possibilitar no futuro uma rigorosa análise histórica;
…………………………………………………………………………………………

3 - A Comissão é constituída por:

Presidente: um general do Exército, no activo ou na reserva;

Vogais: cinco a sete oficiais do Exército, no activo ou na reserva, nomeados sob proposta do presidente;

Gabinete de Apoio: destinado a apoiar o presidente e os vogais, será chefiado por um destes e incluirá, além do pessoal auxiliar indispensável, num mínimo, três adjuntos, oficiais do Exército do QP ou do QC;

Secretaria: com as funções normais num órgão desta natureza, será chefiada por um oficial do SGE;

Arquivo e biblioteca: tendo por missão a guarda temporária de toda a documentação e publicações em poder da Comissão enquanto necessárias ao estudo em curso, terá por chefe um oficial do Exército na reserva.

4 - Quando o volume do serviço ou a natureza dos trabalhos em curso no âmbito da Comissão o exijam, e mediante proposta devidamente justificada do presidente, poderá a mesma Comissão vir a ser reforçada, a título eventual, com outros elementos, nomeadamente oficiais do Exército ou de qualquer dos outros ramos das forças armadas ou mesmo civis de reconhecida competência...
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Nota de M.R.:

Mensagem anterior acerca desta matéria em:

13 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5639: Dossiê Guileje / Gadamael (22): Construção dos abrigos, minas AP tipo Claymore, viaturas blindadas BRDM 2, as NT, o PAIGC, o nosso blogue... (Nuno Rubim)

Vd. último poste desta série em:


17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5485: Historiografia da presença portuguesa (33): Roteiro (Parte I) (Santos Oliveira / Luís Graça)

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