terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6261: Controvérsias (70): Os peões das Nicas (Mário G. R. Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 22 de Abril de 2010:

Camaradas,

Houveram factos no seio das Forças Armadas, no período da Guerra do Ultramar, que por mais polémicos que sejam, ou susceptíveis de ferir sensibilidades, devem ser discutidos e analisados por todos nós, para melhor se compreender como “funcionou” a guerra a que todos nós estivemos sujeitos.

"OS PEÕES DAS NICAS"
Ao ler as considerações do Sr. Coronel Carlos Morais da Silva, sobre os Capitães Milicianos que participaram na guerra do Ultramar, não podia ficar indiferente ao que o mesmo expõe e ao estudo profundo que fez sobre o melindroso tema.

Segundo as conclusões a que chegou, escreve o Sr. Coronel Carlos Morais da Silva, citando a tese do Sr. Dr. Manuel Rebocho (1.º Sargento-Mor Pára-quedista), na Universidade de Évora, o seguinte:

"(…) Também se provou que a partir 1966, os Capitães de carreira se foram afastando do comando das Companhias retirando-se para locais longe da guerra e para actividades ditas da retaguarda.

(…) Os Oficiais dos anos 60 fugiam da guerra.

(…) A Academia Militar falhou na selecção e na formação psicológica das futuras elites militares.

(…) O Exército cometeu mais um erro ao colocar nas funções de Estado Maior, oficiais sem capacidade de adaptação e sem experiência, quer da tropa, quer da guerra, pois nunca lá tinham estado ou pretendiam vir a estar.

(…) Deu-se a "fuga" de oficiais combatentes para os serviços de apoio.”

Cada um dos autores tira conclusões antagónicas.
O Dr. Manuel Rebocho recorreu a uma série de gráficos percentuais, para demonstrar a sua razão da realidade.

No entanto ao confrontar a sua exposição contestatária à tese, verifica-se nos seus gráficos demonstrativos algumas lacunas a meu ver contraditórias.

Se não vejamos:

Nos gráficos percentuais que apresenta nos últimos anos da Guerra, referentes a 1972 a 1974, é notório um acréscimo elevado de Capitães Milicianos no Comando das Companhias Operacionais, sem explicar um motivo plausível para o facto.

O estudo, ao englobar capitães desde 1958, e só por via disso, provavelmente, consegue apresentar um número superior de capitães no comando de companhias em combate.
Porém, naquela data não havia combates, nem no Estado Português da Índia se pode referir isso, porque ali, as tropas não combateram.
O que é importante, é acentuar que com a evolução da guerra, os comandos das companhias de combate passaram a ser atribuidos, cada vez mais, conforme as estastisticas da Tese, como do Estudo, a capitães milicianos.
A meu ver o problema não se resume a uma mera estatística de números, porque fica por explicar como a partir de 1972 os Comandos Operacionais das Companhias passaram a ser maioritariamente exercidos por Milicianos, e o mais grave índice, a meu ver, é evidente nos anos em que a guerra, nomeadamente na Guiné, teve um maior incremento.

Ao confrontar os gráficos do Sr. Coronel Carlos Morais da Silva, com outros estudos e considerações de camaradas, que como nós que combateram noutros locais do Ultramar, encontrei no Blogue: mitoseritos.blogs.pot.sapo.pt (Setembro de 1969), um gráfico idêntico ou parecido e com considerações e conclusões diferentes.
Também ao ler o livro "OS PEÕES DAS NICAS" de Rui Neves da Silva, conclui, convicta e inabalavelmente, quanto fomos os “peões das nicas” nas contendas africanas acima referidas.


Capa do livro de Rui Neves da Silva
Mais recentemente ao ler um artigo de Orlando Pereira, no jornal “Cinco Quinas - Vida Arraiana”, sobre os oficiais do 25 Abril, tirei algumas ilações do “tabu”, que ainda hoje persiste sobre o tema.

Para todos os camaradas que colaboraram comigo na redacção final deste texto, aqui ficam registados os meus humildes e sinceros agradecimentos.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
_____________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6071: Controvérsias (69): Hélder Valério e os comentários a Beja Santos (José Brás)

13 comentários:

Unknown disse...

Caro Mário
Os que lá estivemos sabemos que assim foi.

Anónimo disse...

Caro Mário Pinto,
As transcrições que faz não são do Senhor Coronel Morais e Silva, mas retirou-as de uma tese de doutoramento para as contestar radicalmente. O Senhor Coronel apresenta os dados quantitativos para concluir:
- que os oficiais do QP não fugiram à guerra;
- que cumpriram o dever assumido no Juramento de Bandeira;
- que cuidaram da Pátria e não da fazenda.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Caro Mário,

Lê o prefácio de "Pami na Dondo a Guerrilheira, e entenderás muitas coisas.

Um Abraço,

Mário Fitas

Antonio Graça de Abreu disse...

Este poste, cheio de erros, a virar tudo ao contrário, não honra o nosso blogue.
É preciso cuidado com o que publicamos.
Isto não é o blogue do vale tudo.

Disse.
António Graça de Abreu

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caros camaradas

Quando escrevi este texto já sabia que o mesmo seria de grande polémica e controvérsia

As transcrições a que me refiro, defacto foram retiradas duma tese de doutaramento na Universidade de Évora,contestadas pelo Sr. Coronel e por ser o único local onde vi essa descrição, assim a citei.

Mas isso não invalida a meu ver a minha contestação, porque alguem o escreveu em tese de licenciatura e o gráfico que se junta é bem explícito no período de 1972/73/74, a percentagem de capitães milicianos era de 80%,( Quando a Guerra mais endureceu).

Se juntarmos os restantes componentes que compunham uma Companhia operacional que eram da mobilização geral obrigatória, pergunto novamente onde andavam os militares de carreira?

É óbvio que não posso incluir todos os Sr. Capitães do QP, neste enquadramento porque felizmente houve quem soube honrar a sua instituição.


Um abraço


Mário Pinto

JD disse...

Camaradas,
O assunto parece que é tabu. O que importa, é saber se aquele gráfico comparativo, sobre a percentagem de capitães milicianos a comandar companhias é verdadeiro ou falso.
A C.Caç.2679 teve dois capitães. O primeiro, saíu no primeiro dia, um patrulhamentoao nível de companhia.
Três meses depois já estava em Lisboa, vítima de doença desconhecida. O segundo, foi uma nódoa, nunca saíu para o mato, excepto em coluna, mas poucas. Eram do QP.
Quando a Companhia chegou a Piche, os comandantes do Bart.2857 já tinham sido substituídos, e em Canquelifá foi um alferes miliciano a comandar por vários meses. Havia no Bart. 3 capitães e pelo menos um era miliciano.
A evolução foi no sentido indicado pela estastística. No entanto, posso afirmar, no que respeita à C.Caç.2679, que os dois capitães exerceram muito pouca influência, melhor, o segundo exerceu péssima influência.
Há que ressalvar que entre os oficiais do QP houve quem honrasse a farda até ao fim.
Abraços fraternos
JD

JD disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Peço desculpa, mas não me parece haver aqui qualquer polémica. O que se pretendeu foi alertar para um erro gravíssimo, ao atribuir-se ao Senhor Coronel posições totalmente opostas ao que ele defendeu várias vezes e por escrito. Foi só isto. Aliás, o quadro que se apresenta é explicado pelo Senhor Coronel. Basta lembrar, por exemplo, os dados que apresenta sobre o número de aprovados no curso da Academia Militar. Em 1963 saíram 112; em 1967, 27; em 68, 19 e em 69, 23. E o autor lembra também que em 1971 e 1972 não houve novos capitães do QP para substituirem os que embarcaram em 69, 70 e 71, tendo início a intensificação do recurso aos capitães milicianos.
E já agora gostava também de lembrar que nem todos os capitães milicianos comandaram companhias ou estiveram em zonas de operações.
Repito: não quis entrar em polémicas. Que sei eu disto??? O que pretendi foi chamar a atenção para um erro muito grave do poste.
Saudações,
Carlos Cordeiro

Luís Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro Luis Graça

Nunca foi minha intenção ofender seja quem for, posso ter tido erros de interpretação ou talvez um julgamento precipitado, e vou até mais longe, possivelmente não sube espor o assunto como ele devia ser apresentado.
Pelo facto tenho de pedir desculpas aos seus autores.

Mas ainda não consigo perceber onde se encontravam os Capitães de Carreira nos ultimos anos da guerra, no periodo de maior dureza.

Tenho e sempre tive esta convicção que quem por obrigação de carreira devia estar na primeira linha, legou essa obrigação em quem por forças das sircunstâncias foi obrigado a fazê-lo.

Fiquei sempre com esta ideia, desde que as operações executadas no meu sector, era sempre o comandante mais novo e Miliciano a Comandar.


Um abraço


Mário Pinto

Luís Graça disse...

2ª via do comentário, sem erros ortográficos...


Mário Pinto:

No nosso blogue não há tabus... A questão (falsa ou não) da "milicianização da guerra colonial" (e em especial da guerra na Guiné) que foi defendida em 2005 na tese de doutoramento do Manuel Rebocho, na Universidade de Évora, pode e deve ser discutida aqui, por nós, serenamente, com dados e argumentos na mão...

Mas, atenção, não podemos fazer batota... Temos saber do que falamos, ir às fontes, comprar (ou consultar os livros, na FNAC, nas livrarias, nas bibliotecas...), saber ler, interpretar e analisar, ser transparentes e críticos, citar as fontes...

A transcrição de dados estatísticos ou outros, provenientes de terceiros, deve vir sempre acompanhada da indicação da respectiva fonte (bibliográfica, neste caso)... É da mais elementar honestidade intelectual...

Não podemos "apanhar" o que aparece por aí no "caixote do lixo" da Net e transcrever, acriticamente, no blogue...

Vou ter que te pedir que reformules o teu poste... E ficava bem pedires publicamente desculpa aos autores visados (António Carlos Morais da Silva e Manuel Rebocho).

Sei que a tua intenção era boa mas o resultado foi mauzinho... Têm razão o Carlos Cordeiro e o António Graça de Abreu. Mas estamos aqui, todos os dias, a aprender uns com os outros... Com humildade, com espírito aberto, com camaradagem, com franqueza... E justamente porque temos conhecimento do "terreno", somos mais sensíveis a certos atropelos...

Podemos discutir esta questão dos capitães do QP, com elevação, com rigor, com honestidade intelectual, sem rasteiras nem truques baixos, e muito menos sem utilizarmos o blogue como arma de arremesso contra ninguém... Nenhum de nós tem contas a ajustar com ninguém: e se tem, aqui não é sítio certo... E depois a "guerra" acabou há 36 anos, amigos e camaradas...

Conto com a tua colabaração e compreensão. Luís Graça.

PS - Mandei hoje, pelo correio internio, o estudo "Capitães do QP na Guerra de África", do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, em formato pdf.

O Cor Morais da Silva é especialista em investigação operacional, professor universitário, etc., além de ter conhecido o TO da Guiné (se não minto: falei com ele ao telefone há uns meses).

JD disse...

Camaradas,
A aqbordagem desta matéria é pertinente, e foi abortada por ter sido mal exposta.
Mas a interpretação que me parece relevante, é a de sabermos por onde andavam os capitães do QP, já que o quadro não emagrecera.
Apresentar-se como justificação para o crescente comando de companhias operacionais por capitães milicianos, na proporção do nº. de novos capitães do QP, é uma manipulação, porque havia capitães no activo, que não faziam a guerra. E disso, penso eu de que, a condução da guerra perdeu em experiência e operacionalidade.
Já agora, no que respeita à Guiné, seria interessante conhecermos a evolução do nº. de capitâes mobilizados, para os serviços e companhiasoperacionais; no que respeita à Metrópole, também seria interessante conhcermos o nº. de capitâes a e evolução do quadro durante os anos da guerra.
Outra conclusãoa extrair, é que Portugal tornou-se um país de coronéis, no activo e na reforma (com tudo o que isso implica), porque não houve uma conveniente gestão dos quadros naquele período em apreço.
Aguardo, a propósito do assunto, a publicação de uma carta que suscite o intereese e novas contribuições.
Abraços
JD
JD

admor disse...

Não seria mais fácil fazermos assim:
Cart. 2412 teve 3 comandantes.
O primeiro cap. mil art. era um dos homens menos indicados para comandar tropa, tivesse o posto que tivesse. Aqueles que o acharam competente para comandar uma companhia foram uns céguinhos parra não dizer outra coisa que incendeie outra vez o blog, que na minha óptica últimamente anda a padecer de demasiados fogos. Passados 3 ou 4 meses o brigadeiro Spínola foi a Guidage buscá-lo retirando-le o comando duma forma teatral que não apreciei nada e que me levou a deixar de ter a consideração que tinha pelo COM. Chefe.
O segundo comandante da cart.2412 foi u oficial do Q.P. com todas as condições e desempenho dum autêntico comandante de Companhia, que termnou a sua comissão e teve de nos abandonar com quase um ano de Guiné.
O terceiro comandante era também um Cap. do Q.P. mas que nada tinha a ver com o seu antecessor, também era a sua 1ª. comissão, mas preferiu aprender sózinho ou mal acompanhado, do que com quem devia.
Foi precisamente isso que eu lhe disse quando me despedi dele em Bissau, para não ir fazer noutra Companhia o que tinha feito na nossa.
Como vêm camaradas parece que a virtude ainda continua a estar no meio.
De 3 safou-se um o mais experiente o mais capitão.
Ao fim e ao cabo as
contas, se nós quisermos, nem são dificeis de fazer.
Um grande abraço, para todos.
Adriano Moreira - Cart. 2412 "SEMPRE DIFERENTES"
do