quinta-feira, 29 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6275: Blogpoesia (71): Giselda, o anjo que vinha do céu (Joaquim Mexia Alves)

Monte Real > Palace Hotel > 27 de Janeiro de 2010 < 1º encontro-convívio da Tabanca do Centro, de que é regulo o comandante J. Mexia Alves (aqui ao centro, ladeado, à sua esquerda, pela Giselda e à sua direita, pelo Miguel).

Foto: Tabanca do Centro / Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 (2010) (com a devida vénia)


1. Texto do Joaquim Mexia Alves (*):

Não conheci a Giselda na Guiné,
mas conheço-a de agora,
e basta-me olhá-la nos olhos,
ouvi-la a contar a Guiné,
para perceber que o que aqui escrevo como ficção,
deve estar muito, muito perto da realidade.

Ao Miguel um abraço, pois então,
porque hoje está de parabéns também.

À Giselda, com a licença dos meus outros camarigos,
o abraço mais camarigo de todos,
repleto de parabéns por este dia.

É uma honra e um privilégio conhecer-te
e conhecer o Miguel.

J. Mexia Alves

Giselda, o anjo que vinha do céu
por Joaquim  Mexia  Alves

No meio da mata,
o pessoal por entre as copas das árvores,
olha atentamente para o Céu
à espera de que o mesmo Céu lhe dê
a salvação,
a cura,
a companhia,
o acolhimento,
a palavra amiga,
o sorriso que torne luminoso o dia
que se encontra cinzento e tão doloroso.


Ouve-se um barulho,
um ruído vindo lá das alturas,
e uma figura desce do Céu
ao encontro dos homens ansiosos e mudos de espanto.
Trocam-se informações:
"É uma ave,
é um avião,
é um cometa,
é uma estrela,
é o super-homem???"


Qual quê, é a Super-Giselda,
que desce dos Céus para tratar
e confortar
os que sofrem e já desesperam!


E, ela não perde tempo!
Põe e dispõe,
dá ordens,
organiza,
limpa,
trata,
cura,
à base do medicamento, do sorriso, da simpatia.


"Vá, pá, não tenhas medo, isto não é nada!
Nuns minutos e já estás em Bissau!
Eu trato de ti, eu não saio do pé de ti!
Vá anda, dá-me a mão!
Podes apertar, não tenhas medo!"


Palavras e gestos repetidos até à exaustão,
mas sempre repletos de uma primeira vez,
 porque cada homem é um homem,
e cada momento é um momento novo.


Podem repetir-se muitas vezes,
mas em cada momento há um novo sofrimento,
e se ela já está calejada de tanta coisa vista e feita,
não deixa de viver cada um destes momentos,
como um momento único e individual.


Já a voar pelo ar,
 a caminho da Bissau almejada,
vai interiormente sofrendo,
(este não se safa),
e alegrando-se,
 (desta vez chegámos a tempo).


Não larga a mão daquele que conhece agora,
pois neste momento de dor,
ela é a mãe que está longe,
a mulher que chora em casa,
a namorada que espera ansiosa,
a filha que aguarda o regresso do pai.


Mais uma missão cumprida,
mas todas lhe parecem compridas,
porque onde há sofrimento
parece que o tempo se alonga...
e nunca mais passa!!!

Joaquim Mexia Alves

 [Revisão / fixação de texto / título: L.G.] (**)

____________

Notas de L.G.:

(*) Comentário ao poste de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6273: Parabéns a você (110): Giselda, um(a) (e)strela que brilha no firmamento da nossa Tabanca Grande (Luís Graça)

(**) Último poste desta série > 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6208: Blogpoesia (70): Poemas de José Orlando Bretão escritos na Guiné (Cristóvão de Aguiar)

4 comentários:

Jorge Narciso disse...

Caro Poeta

Homem "marcado" por fases reflectivas, como há uns dias aqui confessavas.

Não sei se este teu poema é de hoje, de ontem ou de amanhã, porque o que é de facto é dum realismo intemporal.

Tinha acabado de o ler em comentário teu no Post de Parabens à Giselda que aliás apanhei de boleia no meu próprio.

Ora elevado à posição correspondente ao seu enorme peso especifico, não resisto a "debitar" algo mais:

Permite-me que dele respigue:

"... Já a voar pelo ar,
a caminho da Bissau almejada,
vai interiormente sofrendo,
(este não se safa),
e alegrando-se,
(desta vez chegámos a tempo)...

Falta só acrescentar, reforçando o citado realismo, o que acontecia entre nós (Enfermeira / Piloto /Mecanico) nos cerca de 5 minutos de voo seguintes, entre o Hospital Militar e Bissalanca:

No primeiro caso:
Comentários secos, surdos, senão mesmo silencio completo e absoluto.

No segundo caso:
"Palreio" e sorrisos de satisfação tão abertos, quanto o que permitia o dramatismo dos longos "momentos" anteriores.

A Giselda, em nome de todas as outras "Giseldas" merece inteiramente esta tua soberba homenagem que...
em mim fez reavivar "arrepios" antigos.

Jorge Narciso

Torcato Mendonca disse...

Palavras sentidas...o Luís Graça baralha, ajeita-as e sai poema...poema a muito dizer... e meu Camarigo agora pergunto eu, que te está acontecendo?

Sinto algo a mudar, algo a sair ou só algo...algo antes contido...?! algo reflectido.

E raios... volto a concordar...

Abração TM

Anónimo disse...

Camarigo Joaquim,
Palavras admiráveis.
Palavras singulares.
Obrigado Mexia Alves.

Vasco A.R.da Gama

Anónimo disse...

Amigo Mexia Alves
No dia em que comemoro o meu aniversário, que melhor prenda poderia querer que esta homenagem que, na minha pessoa, tu fazes a todas as enfermeiras pàra-quedistas?
Um beijinho de agradecimento. Giselda