quarta-feira, 14 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6156: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (28): Teixeira Pinto - O Bolo

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 7 de Abril de 2010:

Amigo Carlos Vinhal
Ida a Páscoa que espero tenhas passado bem e rodeado pelos teus, cá te mando mais um capítulo de “Viagem…” num tom um pouco leve e adocicado que, dada a gravidade dos momentos passados à altura, espero não ofenda ninguém, muito menos os camaradas de Armas feridos, intervenientes nas acções a que esta narrativa alude.

São eles: o Armindo, o Taia (Enfº), o Casal, o Agostinho Silva, o Monteiro, o Lobo, o Cunha, o Sampaio (falecido há meses) e o Alcino.

A todos eles o meu obrigado.

Um abraço
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (28)

Teixeira Pinto - O bolo


Passadas mais ou menos as trinta e seis horas em que me obriguei “a recuperar das “visões do Puto”, de novo fomos convidados a comer uma nova fatia do dito bolo tendo ido fazê-lo para a “estância desportiva” do Balanguerêz (P. Teixeira, Pijame), onde inesperadamente apareceu uma catrefa de “não–convidados–surpresa” que escondidos no meio da vegetação e sem contarmos, nos começaram a agredir atirando-nos “coisas”, desestabilizando o “pic-nic” e obrigando-nos a correr com eles à porrada mas a custo, o que fez “cair bastante mal o bolo” a quatro convivas nossos, que tiveram necessidade de ser assistidos e evacuados.

Meia dúzia de dias volvidos, voltamos à mesma “estância” na esperança de que desta vez conseguíssemos, em convívio e sossego, comer nova fatia. Pois sim…! Estávamos a acabar de inspeccionar uns “bungalows” que se nos depararam no meio do arvoredo da “quinta”, quando a convivência foi estragada novamente por um “monte de arruaceiros” que não nos deixando comer a fatia em paz e sossego, nos começaram a insultar e a agredir - a meu ver “sem razão”, já que aquele espaço à altura nos pertencia - tendo esta agressão causado ferimentos mais ou menos graves a mais cinco amigos que tiveram que ser evacuados com urgência.

Ficamos mesmo “quilhados” com o abuso e falta de decoro! Para além de os termos corrido, arremessando-lhes com quase tudo o que tínhamos à mão, apanhamos–lhes uma pouca “ferramenta e instruções de trabalho“ que esqueceram quando deram “corda aos pés”. De seguida fomos deitando fogo a pr´aí uma dezena de “bungalows” que fomos encontrando e que tinham sido eles a construir à revelia de autorização!

Os “sacanas” eram vingativos, não davam a cara e por mais uma vez no intervalo de uma queima nos esperaram escondidos e tentaram adulterar ainda mais o resto da fatia, que já nos tinha estragado corpos e almas! Felizmente isso não voltou a acontecer.

Aquele “bolo” estava a ficar muito azedo. Era a terceira vez seguida que na mesma zona as fatias ficavam estragadas e o grupo de convivas estava a ficar reduzido. Uns dias de “dieta” e algum descanso foram necessários para recuperação. Passados que foram, voltamos para as mesmas zonas para comer outra “fatia” e ver se havia novos ou outros “bungalows” clandestinos! Desta vez não detectamos construções nem apareceram “penetras” para estragar o convívio e a “fatia” não caiu mal a ninguém, felizmente! Só a noite foi longa de insónia e preocupação (creio que foi essa noite), como espero vir a contar um dia na terceira e na primeira pessoa!

Desta feita como de outras, tive oportunidade de apreciar um tanto melhor as matas daquela zona que ao que recordo e comparativamente com as de Bula, me pareceram não terem na sua maioria uma tão densa intensidade arbustiva que nos dificultasse sobremaneira as progressões em corta-mato, como por segurança e norma fazíamos. Havia mais intervalos espraiados, povoados com arvoredo frutícola assente em tapetes verdejantes de mais ou menos altura e que em tempos de paz seriam convidativos a uma boa sorna à sombra de um cajueiro, abastecida pelos seus frutos refrescantes, que eu muito gostava, ao mesmo tempo que se poderia apreciar as mais ou menos elegantes e harmónicas movimentações e cantares animais disfrutando do seu “habitat”.

Todo aquele tom verde, que se devia a estarmos na época das chuvas, era(é) a cor da Esperança que no fundo nos envolvia e que ainda hoje não deve ser perdida por aquele Povo amigo que continua a sofrer.

O final de Julho chegou e com ele a nossa ida inesperada para o AGRBIS para participar na defesa de uma Bissau em alerta. Circulava à altura a “boca“ de que o Amílcar queria “sentar-se” na cadeira do General Spínola!

Foram uma espécie de “férias” inesperadas, que me proporcionaram conhecer um pouco de Bissau e “descansar” alguma coisa os olhos, no feminino em tons de branco!!

Um abraço a todos
Luís Faria
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6153: Parabéns a você (105): Luís Faria, minhoto, portista, ex-Fur Mil Inf, MA, CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72)

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6091: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (27): Teixeira Pinto - o dia-a-dia

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luís Faria.

Consegues de forma irónica, contar uma estória em que a vossa teimosia em acabar o “bolo” que quase se ia estragando, acabou por dar frutos, já que os “indesejados” “convidados” desistiram de vos importunar, e vocês ainda por cima destroem-lhes os “bungalows”.

Gostei

Um abraço

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Caro Luís,

Finalmente compreendi o que andastes a fazer no verão de 1971.

Estivestes a dar cabo dos pequenos proprietários para construires o teu sumptuoso hotel junto ao entroncamento de Capó.

Para além disso conseguistes ficar com os trilhos de turismo rural e as quintas de fruta.

Não tivestes que pagar qualquer indemenização. Pelos vistos também não te pediram nenhuma.

Golpe de mestre meu caro burguês!

Ah, e logo a seguir umas merecidas férias retemperadoras em Bissau.

Oh santa terra, a quanto nos obrigastes...

José Câmara

MANUELMAIA disse...

CARO LUIS,


ESSA GENTE,OS "PENETRAS", TINHAM ESSE MAU HÁBITO/FALTA DE EDUCAÇÃO, DE APARECER SEM CONVITE MERECENDO POR ISSO UNS AÇOITES E UMAS PRENDAS DE AÇO.

SEI QUE LHES OFERECESTE ESSAS PRENDAS E QUE POR ISSO NÃO FORAM A SECO...

UM GRANDE ABRAÇO

MANUELMAIA

Anónimo disse...

Caro Luís Faria

Não sei qual o motivo, mas a verdade é que só agora, ao procurar um postado mais atrasado que tinha lido, dei de caras com esta tua obra que não tinha lido.

Grande descrição de tempos tão "bucólicos", sim senhor.

Não demores muito pelo resto.

Abraço amigo

Jorge Picado