quinta-feira, 8 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6131: Estórias avulsas (30): A participação do 2º Pel 2ª CCAÇ/BCAÇ 4512, na Coluna a Guidage (Fernando C. G. Araújo)

1. O nosso Camarada Fernando Costa Gomes de Araújo* (ex-Fur Mil da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74), enviou-nos a sua 3ª mensagem, com data de 6 de Abril de 2010:
10-05-1973 > Guidage > Início da coluna a Guidage, imeditamente antes da operação “Ametista Real”, apontada no meu diário e onde escrevi então: "Dormi na vala". 3 dias seguidos.
Camaradas,

Tal como havia dito nas mensagens P6098 e P6107, passo a narrar-vos, os acontecimentos da coluna a Guidage, onde participou o meu pelotão, imediatamente antes da execução operação Ametista Real, segundo a minha visão pessoal dos factos.

As datas e horas foram rebuscadas na minha agenda/diário, onde fui tomando pequenas anotações e que agora, como é evidente, me foram preciosas para a ultimação da presente narração.

Na próxima mensagem enviarei a minha descrição de uma terrível emboscada em Lamel (entre Jumbembem e Farim).



Coluna a Guidage (imeditamente antes da operação “Ametista Real”)
Intervenção do 2º Pel da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4512

09-05-1973 - 15h00 -, Saíram de Jumbembem dois grupos de combate (com seis picadores na frente equipados com varas) e iniciaram a picagem para detectarem possíveis minas colocadas na picada até Lamel, com destino a Farim - sede do Batalhão de Caçadores 4512.
Fizeram o percurso sem incidentes.
Saímos depois nós, o 2º pelotão da 2ª Companhia do BCAÇ 4512.
O nosso destino final era Guidage, um destacamento situado no norte da Guiné, situado na fronteira com o Senegal.
Pernoitamos em Nema, junto a Farim, onde se encontrava a 1ª Companhia do nosso batalhão.
10-05-1973 - de manhã -, Partimos numa coluna até Binta, que era o local de encontro das tropas envolvidas na operação:
5 Grupos de combate do Batalhão de Caçadores 4512;
1 Bi-grupo da 38ª Companhia de Comandos;
1 Secção do Pelotão de Morteiros 4274.
Foram distribuídas rações de combate e munições, e definiram-se os pontos nevrálgicos da operação em curso.
Retomamos a marcha, agora apeada com destino a Guidage, cujo destacamento estava a ser flagelado, dia e noite, estando iminente a sua tomada de assalto pelos guerrilheiros do PAIGC e que necessitava, com urgência, de ser reabastecido com géneros frescos e munições, já que no dia anterior uma coluna de reabastecimento foi emboscada, tendo resultado 4 mortos, 18 feridos e 4 viaturas danificadas.
Pelo romper da manhã, os Fiat’s da nossa FA, foram bombardear as Berliet’s que foram danificadas no dia anterior e que estavam carregadas de granadas de Obus e de outras munições.
O sol escaldava e a sede apertava.
O reabastecimento de água era feito por uma viatura Berliet, que integrava a coluna. A meio do percurso na zona de Genicó, um elemento da 38ª de Comandos accionou uma mina anti-pessoal e fica sem um pé.
Após uma ou duas, sobre este incidente, ouviu-se nova explosão.
Desta vez foi atingido um homem do meu pelotão - o Geraldes -, que ficou despedaçado ao accionar uma mina anti-pessoal, e, esta por sua vez, ter accionado uma mina anti-carro que estava encostada à primeira.
Recolheram-se os restos mortais do infeliz soldado e continuamos a avançar no cumprimento do plano estabelecido.
Pela picada fora, rompendo a densa mata, ouviam-se os ruídos das viaturas (Berliet’s e Unimog’s) e apenas se via a nossa tropa apeada (flanqueando à direita e à esquerda).
Na frente da coluna, a abrir caminho, segui-a um bi-grupo da 38ª Companhia de Comandos.
Ao passar pela bolanha do Cufeu temíamos o pior, já que o PAIGC tinha uma base próxima.
A pouca distância da nossa coluna, a certa altura, ouviram-se disparos de armas, rajadas de metralhadoras e rebentamentos.
Eram dois grupos da CCaç 3 e da CCaç 19, que saíram de Guidage ao nosso encontro, efectuando a picagem e tinham sido, por sua vez, emboscados sofrendo 5 mortos e 9 feridos, todos da CCAÇ 19.
Passamos ao lado dos corpos de 5 africanos mortos, despidos e virados para baixo, deviam estar armadilhados com certeza.
As forças intervenientes encontraram-se finalmente e reagruparam-se, seguindo em conjunto até ao aquartelamento de Guidage.
Chegamos lá pelas 18h00, e instalamo-nos.
Fui até à enfermaria para ver se precisavam de auxílio, e vi que estava cheia de feridos.
As máquinas a petróleo funcionavam sem parar, para a esterilização de seringas, agulhas e outros utensílios médicos.
Ouviam-se gemidos de dor aqui e ali. O que eu vi à minha frente… é indescritível...
Caiu a noite e pouco tempo depois, fomos flagelados com granadas de morteiro 82 mm.
O quartel estava cheio de tropa.
Uma das granadas caiu dentro de uma das valas e feriu gravemente um sargento dos fuzileiros.
Uma dessas valas foi a minha instalação, o meu quarto, durante estes 3 dias.
11-05-1973 - 09h00 -, procedemos à cerimónia fúnebre, com uma salva de tiros, em honra do militar do meu pelotão que morreu vítima das minas.
Abriu-se uma cova junto ao arame farpado, lançou-se cal e colocaram-se os seus restos mortais embrulhados num lençol.
Continuamos no destacamento de Guidage e o “filme” repetia-se, éramos flagelados com granadas de morteiro 82 mm a qualquer hora.
Depois flagelavam Bigene.

Extracto do livro “Guiné”, com as colunas a Guidage e onde se relata a operação “Ametista Real”, executada no terreno em 18 e 19 de Maio de 1973
12-05-1973 - 11h00 -, fiquei perplexo, quando um militar bateu com um joelho numa porta e, em resultado dom estrondo, todos os que estavam no refeitório se precipitaram para as valas, tal era o desgaste psicológico que os transtornava.
Qualquer barulho, parecia-lhes mais um ataque de morteiros e refugiavam-se nas valas desordenadamente.
Contaram-me que a cerimónia do hastear da bandeira nacional no quartel deixara de se fazer, porque o corneteiro tinha morrido num dos ataques que de vez em quando o IN desferia a partir de um morro do lado oposto ao da pista de aviação.
Metade dessa pista era território Português e a outra era do Senegal.
Tinham um obus 10,5 cm que estava danificado pelos consecutivos ataques e, segundo informações que recolhi, tinha aí morrido um furriel.
13-05-1973 - por volta das 10h00 -, começamos a abandonar o destacamento de Guidage.
A partir de Binta consegui boleia numa viatura “Berliet”, onde ia o nosso Comandante.
À minha frente ia outra viatura do mesmo tipo, com corpos de militares mortos e alguns feridos ainda com soro.
Cenários de um pesadelo arrepiante de cujo desenrolar... JAMAIS ESQUECEREI!

Jumbembem > 1973
Jumbembem > 1973 > JUL13 > Picada de Sare Tenem
Jumbembem > 1973 > JUL13 > Picada de Sare Tenem
Jumbembem > 1973


Um abraço,
Fernando Araújo
Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512


Fotos: © Fernando Araújo (2009). Direitos reservados.
_____________


Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6125: Estórias avulsas (81): Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa (António Paiva)

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro camarada Fernando Araújo.

É um prazer dialogar com um camarada que pertenceu meu Batal., e renovo os votos que te fiz em comentário no teu post de apresentação, mas fruto de natural confusão, esta operação que narras tem que ser corrigida porque senão ninguém se entende em relação a Guidaje.

A operação “Ametista Real” é decidida a 16 de Maio 73 em Bissau e efectuada a 18 e 19 de Maio / 73 pelo Batal. Ccmds. Africanos, mais os Pára-quedistas da CCP. 121., portanto a coluna que narras nada tem a ver com a dita operação, já que é efectuada a 10, segunda por ordem de partida (na primeira ia o meu 1º GrComb.), dia 8.

A coluna em que participas é a primeira a chegar a Guidaje, no dia 10 de Maio /73 com a seguinte composição.

-1 GrComb. da 1ª Ccaç,/ Batl. 4512- (2º GrComb.) de Nema
-1 GrComb. da 2º Ccaç. /Batal.4512 – Jumbembem (o teu GrComb.)
-2 GrComb. da 14ª Ccaç. de Farim
-1 GrComb. da Ccaç. Afri. Eventual de Cuntima
-2 GrComb da 38ª Ccoms.
-1 Secção do Pel. Mort. 4274

Não são 5 GrComb. da 4512 mas apenas dois.

O regresso desta coluna é a dia 13 Maio.

O teu (nosso) camarada que foi vitimado por uma mina foi o Manuel Maia Rodrigues Geraldes, e que infelizmente só á bem pouco tempo vieram as suas ossadas para a sua terra natal.

Esta é a realidade, não querendo de forma nenhuma tirar o mérito ao teu relato.

Um grande abraço

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Amigo Araújo,

No dia 10/5/73 os 2 gr comb da CCaç 3 não teve baixas mortais e os 2 gr comb da CCaç 19 sofreu apenas 5 mortos que deixou no terreno...

Concordo com o comentário do Marinho.

Um abraço
José Pechorro

Anónimo disse...

Amigo e Camarada Manuel Marinho,
Muito obrigado pelas informações prestadas.
Já falei com o Magalhães Ribeiro, para ele, logo que puder, proceder às necessárias correções em conformidade com as tuas dicas.
Até hoje sempre tinha pensado que a a nossa coluna estava integrada na operação Ametista Real.
Agora tenho a certeza absoluta que não.
Basta olhar às datas para facilmente se constactar que realmente eu estava errado.
Reiterando as minhas desculpas a ti a todos aqueles que até agora
tinham lido o que eu erradamente havia escrito.
Para todos vós e em especial ao pessoal do BCAÇ 4512, um grande abraço Amigo do Fernando Araújo

Anónimo disse...

Amigo e Camarada José Pechorro,
Muito obrigado pela informação prestada.
Já falei com o Magalhães Ribeiro, para ele, logo que puder, proceder à correção do número de mortos, no dia 10MAI1973.
Os 5 que eu vi mortos, tinha a certeza absoluta.
Posteriormente, por informações erradas e leitura de alguns documentos, fui levado acrer que tinham morrido 8 militares.
Reiterando os meus agradecimentos envio um grande abraço Amigo do Fernando Araújo

Anónimo disse...

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