segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5673: Blogpoesia (63): Poemas de Macau e Hong Kong - Parte I (António Graça de Abreu)



Macau, na foz de um rio de pérolas.
A cidade cicia segredos,
envolta em bruma.


Macau,
exultação e júbilo.
Festas na alma.


Macau,
as portas da baía
abertas para o coração dos dias.




Macau, a sorte,
nove luas,
uma nuvem.


Macau,
falsas montanhas de jade,
bruma e vazio.





Em chinês 'da lou xie xiang', ou seja, Viela Torta do Grande Edifício.




Camilo Pessanha.
Ópio, magia
no marfim dos poemas.


Os poetas maiores,
Camões, Bocage, Pessanha,
todos encalhados em Macau,
cidade do Nome de Deus na China.




Macau, mil casinos,
dez mil silêncios,
lótus da China.


Macau,
o canto dos séculos,
as seduções do mundo.




Macau,
o fascínio do ouro,
o espelho do mundo.

Fotos e poemas: © António Graça de Abreu (2009). Direitos reservados



O António Graça de Abreu (n. 1947, no Porto),   membro da nossa Tabanca Grande, ex-Alf Mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), especialista em cultura chinesa, tradutor (premiado) de clássicos da poesia chinesa, é autor de mais de um dúzia de livros, incluindo 'Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura' (Lisboa: Guerra e Paz, 2007).

É casado com a médica Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro.  Vive no concelho de Cascais  (*).

 


No passado dia 20 de Dezembro, comemoraram-se dez anos da transferência de soberania portuguesa de Macau para a República Popular da China. É uma história de 4 séculos, desconhecida ou mal conhecida por muitos dos nossos amigos e camaradas da Guiné. Macau, o primeiro entreposto comercial dos europeus na grande China, e também a sua última colónia...

"Só em 1887 é que a China reconheceu oficialmente a soberania e a ocupação perpétua portuguesa sobre Macau, através do 'Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português'. (...)

"No dia 3 de Dezembro de 1966 ocorreu em Macau um célebre motim popular levantado por chineses pró-comunistas descontentes e fortemente influenciados pela Revolução Cultural de Mao Tse-tung. Este acontecimento é vulgarmente chamado de Motim 1-2-3. Neste dia de protestos, houve 11 mortos e cerca de 200 feridos e foi necessário a mobilização de soldados para controlar a situação. O motim gerou uma grande tensão e terror em Macau, ficando só o assunto resolvido no dia 29 de Janeiro de 1967, com um pedido humilhante de desculpas feito pelo Governo de Macau para a comunidade chinesa local. Este motim fez também com que Portugal renunciasse a sua ocupação perpétua sobre Macau  e reconhecesse o poder e o controlo de facto dos chineses sobre Macau, marcando o princípio do fim do período colonial desta cidade. (...)

"Em 1987, após intensas negociações entre Portugal e a República Popular da China, os dois países concordaram que Macau iria passar de novo à soberania chinesa no dia 20 de Dezembro de 1999. Actualmente, Macau está a experimentar um grande e acelerado crescimento económico, baseado no acentuado desenvolvimento do sector do jogo e do turismo, as duas actividades económicas vitais desta região administrativa especial chinesa" (Fonte: Wikipédia > Macau).
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5465: Blogpoesia (60): Memórias da Escola Prática de Infantaria, Mafra e Macau (António Graça de Abreu)

 (...) No dia 27 de Junho de 2009, acabadinho de chegar de Macau e já então a fazer a mala para nova viagem, agora até Xangai, Pequim e arredores, fui um dos quase dois mil convidados presentes num encontro e opíparo almoço no convento de Mafra oferecido pelos antigos governadores de Macau a todos quantos haviam trabalhado e vivido na velha cidade sino-portuguesa na foz do rio das Pérolas.



Por acaso, nunca vivi em Macau, sempre em Pequim e Xangai, mas tenho trabalhado, e muito, para e por Macau. Daí o convite. Comemoravam-se os dez anos da entrega à China do último pequeníssimo - mas rendoso - bastião do Império. (...)

6 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

Um grande abraço, camarigo António Graça de Abreu!

Anónimo disse...

Pois é camarada!
A poesia continua apenas afilhada dos gostos deste povo.
não é de crítica ao povo, o meu desbafo, mas de lamento, porque julgo que a poesia é imprescindível a um entendimento mais construido do mundo e das esperanças de cada um de nós para o futuro
Há que teimar, não é?
Obrigado pela sabedoria e pela teimosia
Um abraço
José Brás

Hélder Valério disse...

Caro amigo A. Graça de Abreu

Embora não tenha qualquer jeito para a poesia, reconheço nela o veículo previlegiado através do qual melhor se exprimem os sentimentos.
De facto, achei curiosa a tua referência à passagem por Macau de figuras incontornáveis na cultura e Históra Portuguesa, como o Camões, o Bocage, o Pessanha e outros. Nunca me tinha ocorrido essa coincidência...
Portanto, dizendo, como dizes, que nunca lá estiveste, ou foste, 'apenas' Pequim ou Xangai, atrevo-me a perguntar-te: e então, estás à espera de quê para lá ir?
Um abraço
Hélder S.

Antonio Graça de Abreu disse...

Em 1982 estive em Macau durante mês e meio.
Ido de Pequim e Xangai comecei a ir a Macau em 1979, depois 80, 81,82, 83,1991,92,95 (duas vezes), 98, 99 (três vezes), 2001, 2002,2004 e 2009.
Eu digo que não vivi em Macau porque nestas estadias nunca permaneci lá durante mais de quinze dias.
De qualquer modo, caro Hélder, acredita que a terra não me é estranha.
Os poemas e as fotografias deste post são minhas, em Junho de 2009.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Hélder Valério disse...

António, aquela minha invectiva era no sentido de te desafiar a acompanhar os percursos desses nossos vultos, designadamente da poesia, para que, assim, pudesses também 'beber' daquilo que certamente os inspirou e fosses ainda mais além no desenvolvimento da tua 'veia poética'.
Não tinha entendido que já lá estivesses estado mas compreendo a forma como concebes o 'estar'.
Sendo assim, com todas essas 'visitas' a Macau já foste 'tocado' pela magia, pelo que, agora, há que aprofundar o caminho...
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Nervos de Oiro

Meus nervos, guizos de oiro a tilintar,

Cantam-me na alma a estranha sinfonia

Da volúpia,da mágoa e da alegria,

Que me faz rir e que me faz chorar!



Em meu corpo fermente sem cessar,

Agito os guizos de oiro da folia!

A Quimera, a Loucura, a Fantasia,

Num rubro turbilhão sinto-As passar!


O coração, numa imperial oferta,

Ergo-o ao alto! E, sobre a minha mão,

É uma rosa de púrpura, entreaberta!



E em mim, dentro de mim, vibram dispersos

Meus nervos de oiro, esplêndidos, que são

Toda a Arte suprema dos meus versos!



Para um poeta, só a poesia de Florbela!

Gosto da tua poesia camarada António.

Quem não tem veia, vai à sua Planície.

Continua, mas publica!

Mário Fitas