sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5650: Notas de leitura (54): Guiné 1968 e 1973 Soldados uma vez, sempre soldados!, de Nuno Mira Vaz (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Janeiro de 2010:

Queridos amigos,
Junto mais uma recensão, o livro do coronel Mira Vaz é um contributo importante para conhecer a intervenção dos pára-quedistas na Guiné.
Pedi ao meu amigo Jorge da Cunha Fernandes, que participou na Operação Ciclone II que nos fizesse uma descrição. Respondeu-me que ainda não é tempo. Há que aguardar serenamente, em certos casos de depoimentos do mais elevado interesse, que cheguemos ao limiar da perda das faculdades...

Um abraço do
Mário


O BCP 12 e a Guiné

Beja Santos

Tem já havido referências avulsas aqui no blogue a este livro do coronel Nuno Mira Vaz, designadamente por causa dos acontecimentos de Guidaje, em Maio de 1973. O livro está inserido na série Batalhas de Portugal, está comercialmente disponível e foi editado pela Tribuna da História em 2003.

O autor, coronel de Cavalaria na reserva, fez toda a sua vida militar nas tropas pára-quedistas, exerceu funções no Instituto de Defesa Nacional e ensinou Sociologia Militar na Academia Militar. A sua obra “Guiné, 1968 e 1973” é constituída por um acervo de notas em torno de importantes intervenções do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12, designadamente a Operação Ciclone II, em Fevereiro de 1968, um heliassalto na região de Cafal-Cafine, com resultados notáveis, e o apoio dado pela referida Unidade militar para romper o cerco de Guidaje, em 1973, pela sua participação na Operação Amestista Real. Vejamos sumariamente o que escreve o coronel Mira Vaz. Reportando-se em 1968, refere-se à implantação do PAIGC na região do Cantanhez, escrevendo concretamente que “Por falta de meios adequados ou por falta de visão estratégica, o certo é que durante três anos os militares portugueses não desenvolveram uma actividade consistente naquela região, dando preferência a tentativas superficiais que, em vez de desarticularem o dispositivo inimigo, serviram antes para moralizar a guerrilha... No início de 1968, pouca gente podia suspeitar de que o Comando-Chefe das Forças Armadas na Guiné decidira recuperar a iniciativa na região e de que se iria travar, num dos últimos dias de Fevereiro, o mais violento dos combates que os militares do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12 tinham até então sustentado contra os guerrilheiros do PAIGC”.

Previamente, o autor introduz a evolução da situação militar da Guiné, os motivos que levaram à criação do BCP 12 e dá-nos um quadro da situação em Fevereiro de 1968 na mata de Cafal, e quais os resultados obtidos depois da Operação Vendaval, executada por pára-quedistas em 10 e 11 de Janeiro desse ano. Em 15 de Fevereiro, ocorreu a Operação Ciclone I em que o elemento capturado deu informações preciosas sobre o quartel do PAIGC, em Cafal. O heliassalto a Cafal-Cafine é um compreensível motivo de orgulho para o BCP 12, pela quantidade de baixas e militares do PAIGC capturados e pelas enormes quantidades de material aprendido. O relato da Operação é um registo vibrante, cheio de vivacidade com depoimentos de intervenientes directos e indirectos. Segundo este relato, Sana Naiana, comandante do aniquilado bigrupo de Cafal-Cafine portou-se heroicamente na resistência à ofensiva pára-quedista.

Em 1973, as coisas passaram-se de maneira muitíssimo diferente. Após a morte de Amílcar Cabral, o PAIGC reagiu em dois pontos distintos da Guiné, atacando quase simultaneamente Guidaje e Guileje. Spínola tinha publicamente associado a morte de Amílcar Cabral a problemas internos do PAIGC, a direcção deste Partido quis provar através de uma demonstração de força a elevada motivação das tropas. Em Março, começaram as dificuldades dos meios aéreos que obrigaram a restrições ao voo nos céus da Guiné e em Abril/Maio iniciou-se uma tentativa de cerco a Guidaje, movimentando centenas de guerrilheiros, forças de artilharia e procedendo a um reabastecimento ininterrupto a partir de bases senegalesas situadas nas áreas de Zinguichor, Cumbamori, Yeran e Kolda. Como escreve o autor “Dos depoimentos recolhidos junto dos antigos comandantes portugueses e do PAIGC, ressaltam divergentes quanto ao objectivo das forças de guerrilha (apenas desgaste, segundo o PAIGC; tentativa de ocupação do aquartelamento, para os responsáveis portugueses), número de baixas sofridas e localização da sua base de apoio na região. O Tenente-Coronel Correia de Campos não tem dúvidas que o PAIGC queria mesmo conquistar o quartel. Manuel dos Santos, então Comissário Político da Frente Norte, destaca a importância da operação de Guidaje, explicando que o PAIGC nunca antes realizara outra com tantos efectivos.” Para o PAIGC, a operação demorou mês e meio, o objectivo era o isolamento terrestre de Guidaje com 650 elementos apoiados pelo fogo de obuses de 105 mm, foguetões de 122 mm, morteiros de 120 mm e de 82 m, canhões sem recuo, lança-granadas foguetes e mísseis terra-ar Strella. Não vale a pena esmiuçar o que ali se passou, diferentes protagonistas já fizeram os seus depoimentos exararam os seus pontos de vista no blogue. O autor descreve os principais acontecimentos que envolveram as colunas de Guidaje, descreve o comportamento exemplar do Tenente-Coronel Correia de Campos e o depoimento do Coronel de Cavalaria Ayala Botto é elucidativo do quadro da tragédia que ali se viveu e do acto temerário do General Spínola e do Coronel Moura Pinto que se deslocaram de helicóptero a Guidaje, em condições de alto risco.

A 16 de Maio, o Major Almeida Bruno recebe instruções para atacar a base de Cumbamori, o objectivo era desarticular o dispositivo inimigo e aliviar a pressão sobre Guidaje, os participantes directos virão a ser os Comandos Africanos. A Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121 sob o comando do Capitão Almeida Martins juntou-se às forças assaltantes, obtendo uma das maiores capturas e destruições de material inimigo em toda a guerra de África: a Operação Ametista Real saldou-se em 10 mortos, 22 feridos e 3 desaparecidos dos Comandos Africanos e 67 mortos do PAIGC. A maior parte do material capturado foi destruído pelo Grupo de Operações Especiais comandando pelo Alferes Marcelino da Mata. O Capitão Salgueiro da Maia relata como se rompeu o cerco de Guidaje, é uma descrição impressionante, vem publicada no seu livro “Capitão de Abril, histórias da guerra do Ultramar e do 25 de Abril”, Editorial Notícias.

Este livro passa a pertencer ao blogue
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Nota de CV:

Vd. últimpo poste da série de 11 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5631: Notas de leitura (53): Katafaraum é uma nação, de José Martins Garcia (Beja Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

O ATAQUE A BISSAU
Vou contar a história real dum ataque a Bissau feito em l971,Um dia eu e o meu amigo Julião Pais dos Santos (o Django) pensámos em atacar Bissau, dito e feito. Mas faltava a estratégia.Depois de alguns dias a pensar na estratégia finalmente chegou a luz ao fundo do túnel.
Material utilizado:
1 saco de viagem pequeno
1 casaco do camuflado
4 granadas de mão
Como podem verificar material nada "fácil" de arranjar na altura. Metemos o material no saco de viagem e partimos em direcção a Bissau,melhor dizendo à tabanca da namorada do Django. Eu vesti o casaco do camuflado com as granadas no bolso, chamámos um táxi.O Django senta-se à frente eu atrás,demos uma volta por Bissau,mas não muito grande porque a guita era curta.A certa altura mandámos o taxista seguir a toda a velocidade possível pela avenida que vai de perto do porto de Bissau que passa pelo Q.G.virados ao Palácio do Governador. Na passagem, pela janela de trás eu ía deixando caír as granadas que naturalmente explodiam. A partir daqui cada um imagina o efeito que isto teve, ao outro dia a notícia importante era de que Bissau tinha sido atacado,um ataque feito por duas aves que se fossem apanhadas teriam e pescoço degulado.Não era só a partir bares que nos divertíamos, meu comandante, Srº Mira Vaz. Espero que esta mensagem seja lida por si e quero fazer-lhe uma pergunta. Nós passámos o Natal de l970 e o ano novo de 70 para 71 no Olossato.Aí vai a pergunta.Quem era o comandante do quartel, do exército? Não era o hoje Major Tomé? Veja se se lembra e diga alguma coisa. SE por acaso algum bravo do Olossato ler esta mensagem que responda à minha pergunta.

Hossinfui