terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5637: Dossiê Guileje / Gadamael (21): Uma especial e pública saudação cordial ao Coronel Coutinho e Lima, a quem pessoalmente ficarei grato até ao final dos meus dias (Luís Paiva, ex-Fur Mil, 15º Pel Art, Guileje, Gadamael e Bula, 1972/74)






Fotos do Luís Guerreiro, ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410  - Os Dráculas (Gadamael, Ganturé e Guileje, 1968/70) e mais tarde do Pel Caç Nat 65 (Bajocunda e Buruntuma,  1970). Desde 1971  reside em Montreal, no Canadá.

Finalmente publicámos algumas das suas magníficas fotos de Gadamael, Ganturé e Guileje que andaram por aí perdidas (*). Legendas das fotos (de cima para baixo):  Foto 16- Guileje, granadas do obus 14; Foto 15- Coluna 19 Março de1969, obus 14 existente em Guileje;  Foto 12- Cruzamento de Guileje, coluna de Gadamael , transporte obus 11.4, em 19 de Março de1969; Foto 14- Coluna, de Gadamael para Guileje, subida depois do cruzamento,  19 Março de 1969; Foto 17- Guileje, junto ao obus 14, eu e Furriel Mourato (já falecido).

Fotos e legendas: © Luís Guerreiro (2009). Direitos reservados.


1. Comentário, com data de hoje, do Luís Paiva ao poste de 11 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5627: Dossiê Guileje / Gadamael (20): Esclarecimentos sobre a retirada, em 22 de Maio de 1973: Parte II (Coutinho e Lima)


Há dois anos redigi, numa longa exposição, a versão dos acontecimentos em Guileje e Gadamael nos quais fui protagonista em 1973 (**). Conjuntamente com o alferes Luís Pinto dos Santos, que infelizmente já se não encontra entre nós, e com mais dois Furriéis (Queirós e Santos), integrei o Pelotão de Artilharia, com o posto de furriel, tendo sido colocado em Guileje em meados de 1972, aquartelamento do qual retirámos para Gadamael, cerca de 1 ano depois.

De Gadamael fui transferido para Bula já em 1974 e foi neste último aquartelamento que terminei a minha comissão em 3 de Abril desse ano.

Há uma parte das intervenções publicadas no blogue sobre o assunto por pessoas que não viveram directamente os acontecimentos, sendo que algumas reproduzem afirmações lamentáveis. Quanto aos protagonistas dos acontecimentos, constata-se que há divergência de opiniões. Todavia não me parece de todo saudável para ninguém - nem se afigura que daí decorra qualquer vantagem seja para quem for - que as opiniões reflictam um exacerbado pendor hostil e até fundamentalista.

Os acontecimentos são velhos de 37 anos (como já alguém aqui lembrou e muito bem), muitos dos protagonistas já não estão entre nós e muitos outros (hoje, pais e avós) estarão envelhecidos, provavelmente precocemente por um conflito que os desgastou e pela vida (também ela factor natural de dramas e tragédias pelos quais, todos nós, vamos paulatinamente passando).

Seria talvez salutar que se utilizassem os elos de camaradagem que se criaram num tempo difícil das nossas vidas para que as relações de sã camaradagem se sobrepusessem a tudo o mais. Muitos dos que estiveram em Guileje, Gadamael, Guidaje e outros locais complexos (sob o ponto de vista militar) da Guiné e das outras ex-colónias viveram situações extremamente dificeis e perderam amigos e companheiros nessas campanhas que são credores de todo o respeito e merecerão certamente que se ponha uma pedra sobre polémicas que só servem para nos dividir. Eu próprio recordo o Faustino, furriel, e alguns dos homens do nosso Pelotão de Artilharia (um cabo e alguns soldados), falecidos em Gadamael.

Por uma questão de consciência, devo porém terminar esta minha intervenção, que vai mais longa do que inicialmente desejaria, com uma especial e pública saudação cordial ao Sr. Coronel Coutinho e Lima, autor do livro "A Retirada de Guileje" (obra que neste momento estou a ler) que consegui rever ao fim de 37 anos e a quem pessoalmente ficarei grato até ao final dos meus dias.

Aproveito a oportunidade para apresentar cordiais saudações a todos os intervenientes no blogue.

Luís Paiva
Ex-Furriel do 15º Pelart

_____________

Notas de L.G.,

(*) Vd. poste de 26 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5541: Memória dos lugares (61): Mais notícias da Cart 2410 (2) (Luís Guerreiro)

(**) Vd. postes de:

30 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5182: Tabanca Grande (183): Luís Paiva, ex-Fur Mil, Pel Art 15, Guileje e Gadamael (1972/73)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)

4 comentários:

Anónimo disse...

CAMARADA LUIS PAIVA :

ADORAVA QUE ME CONTACTASSES, PARA FALARMOS DOS "VELHOS TEMPOS" E DO FAUSTINO O NOSSO GRANDE AMIGO QUE NAQUELES TEMPOS CONTURBADOS TINHA UM GIRA DISCOS E DISCOS DO CAT STEVENS TAIS COMO "TEA FOR DE TILLERMAN".

JOSE CARVALHO
EX FUR MIL OP ESP
(O QUE INDIRECTAMENTE INCENDIOU A MESSE DE SARGENTOS E QUE CHEGOU A DISPARAR O 11,4)

Orlando Silva disse...

Caros amigos,
Contràriamente ao que o amigo Luis Guerreiro afirma, o Quartel de Guileje antes e durante a comissão da c.caç. 3325 (1971) "Cobras de Guileje" a que pertenci, possuia três armas "Óbus 11,4".
O Aquartelamento mais próximo que tinha Óbus 14 era Aldeia Formosa, e por isso (por não terem o mesmo alcance), muitas vezes nos pediu apoio para "bater" o Corredor da Morte/Guileje.
Orlando Silva - Ex-Alferes "Cobra"

Orlando Silva disse...

Ao falar de Guileje e do Ultramar Português, vou passar a contar algumas passagens, que suponho farão para uns recordar e para outros sorrir:
Quando da nossa chegada a Guileje (Fevereito de 1971) para rendição da C.Caç. 2617 que se iria deslocar para Quinhamel, vindos de Gadamael-Porto, e depois dos outros dois Grupos de Combate terem sido recebidos no dia anterior a "foguetão", foi a nossa vez (os outros dois Grupos).
Como não havia camas para todos, calhou-me a fava e tive que pernoitar no Gabinete do Médico (Dr. Acácio Bacelar) que se encontrava, suponho, de férias. Naquela noite, estava eu confortàvelmente em cuecas, quando "elas" começaram a cair.
Como eu só me encontrava em segurança dentro de uma Caserna-Abrigo (à prova de 120 perfurante), resolvi de imediato calçar os mini chinelos, agarrar na cartucheira e na minha companheira G-3. Como o meu Grupo (2º) estava na Caserna-Abrigo mais próxima (à entrada do Aquartelamento do lado de Gadamael), sei que atravessei a voar a distância entre o Gabinete Médico e o Abrigo. Não me lembro se puz os pés no chão ou não. Sei que me senti bem quando entrei naquele Abrigo, e que não me tinha sujado em lado nenhum. Homem feliz!
Mais tarde, no Bar de Oficiais, os sacanas do Capitão Parracho, e dos Alferes Cristina, Cunha, Rodrigues, Almeida e até o valentão do Acácio, fartaram-se de rir com a minha estafeta. Também eu me ri, mas só naqueles depois. Nunca fui herói, por isso naquele momento de perigo foi o que consegui fazer, e felizmente não me saí mal. Felizmente também, não acertaram dentro do Quartel, e como o Cristina (Alferes de Artilharia) começou logo a retaliar com os Óbuses 11,4, a valentia do IN acabou.
Por hoje é tudo. Um abraço.
Orlando-Ex-Alferes Cobra
Aveiro

Orlando Silva disse...

Para falarmos de Guileje, convinha primeiro dar a conhecer a sua Zona de Acção:
O Sub.Sector de Guileje tinha a área aproximada de 185 km2 tendo por limite, a Este a República da Guiné, a Weste a AICC da região de Salancaur, a Norte o Sector de Aldeia Formosa ea AICC do Corredor de Guileje e a C.Caç. 2796.
A Z.A. tinha sensìvelmente a configuração de um rectângulo com a extensão máxima no sentido E-W.
Dos itinerários do Sector, o único que era utilizável para viaturas era a Picada que saía de Guileje para Gadamael.
O único centro populacional que se encontrava na n/Z.A.era Guileje, que tinha cerca de 300 habitantes, que viviam dentro dos limites do Aquartelamento.
Na n/ ZA. havia vários rios que no nosso início de comissão estavam secos com excepção de pequenos cursos de água, como o Rio de Áfia e o Rio Mejo que, apesar de tudo, atravessávamos fàcilmente, e um braço do Rio Cacondo que tinha bastante água mas que se atravessava também embora com muita dificuldade.
Toda a ZA. da C.Caç.3325 tinha uma mata relativamente aberta, excepto a parte compreendida entre a Estrada Guileje-Mejo e o limite Norte em que a mata era bastante fechada.
Era uma zona rica em caça, especialmente porco do mato, gazelas, galinha do mato, cabras do mato, aparecendo com certa frequência elefantes no limite com a República da Guiné.
Os produtos agrícolas eram especialmente a mancarra, batata doce e o arroz, que não chegava no entanto para satisfazer as necessidades da população.

Para ser possível efectuar este relatório, foi preciso percorrermos toda a ZA. Muito trabalho!. Nunca esperámos que o IN viesse ao nosso encontro, antes procurámos qualquer trilho que aparecesse, e por isso muitas vezes lhes aparecemos por trás onde nunca contavam que a tropa portuguesa ousasse sequer entrar. Arriscámos? É verdade, mas só devido a essa nossa insistência foi possível evitar que o IN nos incomodasse muito.
Mais tarde, já na época das chuvas, tentaram finalmente inverter a situação, enviando para a n/ZA. Sapadores Cubanos, que montaram vários campos de minas. Mas, os azares que daí surgiram só nos vieram dar mais força: como retaliação, fomos também montar campos de minas nos seus itinerários, incluindo no Corredor de Guileje/da Morte, donde resultaram muitos danos para o IN.

Hoje fico por aqui, meus amigos.
Um abraço.
Orlando Silva-Ex-Alferes Cobra
Aveiro