domingo, 3 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5583: Memória dos lugares (62): Trocando roncos com o PAIGC em Aldeia Formosa, em Agosto de 1974... (Fernando Costa)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCS/BCAÇ 4513 (1973/74) > Agosto de 1974 > No dia da entrega do aquartelamento ao PAIGC... O Fernando Costa (*), entre dois guerrilheiros, posando para a fotografia com uma metralhadora ligeira que me parece ser uma  PSSH, mais conhecida por "costureirinha"... (LG).

Fotos: © Fernando Costa (2009). Direitos reservados.


Guiné > Região deTombali > Aldeia Formosa > CCS/BCAÇ 4513 (1973/74) > Agosto de 1974 > Uma peça de fardamento do PAIGC, de cor castanha, com botões metálicos, dourados, trocada por um camuflado entre um guerrilheiro e o Fernando Costa.

"No dia em que foi feita a substituição das NT pelas do PAIGC no quartel de Aldeia Formosa, pedi a um guerrilheiro que fizesse a troca de uma farda dele por um camuflado meu.

"Assim, guardei até hoje para servir de ronco,  ou seja,  recordação dos tempos em que as tropas portuguesas lutaram contra aqueles que nos substituíram no terreno.

"Há muita gente que diz que foi "entregar o ouro ao bandido", eu não partilho dessa opinião, mas acho que muita coisa poderia ter sido feita com mais dignidade para com aqueles que lá deixaram parte de si, para não falar dos que não chegaram a regressar.

"Não guardo rancores, guardo sim boas ou más recordações. Fernando Costa, ex-Furriel Mil, CCS/BCAÇ 4513, 1973/74"
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

10 comentários:

MANUEL MAIA disse...

CARO FERNANDO COSTA,

A REGIÃO ONDE ESTIVESTE FOI DAQUELAS ONDE MAIS SE FIZERAM SENTIR OS HORRORES DA GUERRA.

NADA TENHO CONTRA OS RONCOS QUE ATESTAM A TUA PASSAGEM PELA GUERRA,TENHO,ISSO SIM,EM LINHA DE CONTA, SITUAÇÕES ALGO ESTRANHAS COMO A DE UM CAMARADA QUE AQUI HÁ UNS TEMPOS SURGIU COM A BANDEIRA DO PAIGC,E PERGUNTO-ME AGORA QUE ESTRAGOS TERÁ FEITO A ARMA QUE EMPUNHASTE PARA A FOTOGRAFIA,A NÍVEL DAS NOSSAS TROPAS POR ALI LOCALIZADAS...

SERÁ QUE AQUELA ARMA ROUBOU A VIDA A ALGUM DOS NOSSOS?

NÃO PRETENDO SER,NEM TENHO APETÊNCIA PARA CENSOR( ATÉ PORQUE HÁ EDITORES E CO-EDITORES, E SE O NÃO FIZERAM, ENTENDERAM POR BEM DAR LUGAR À LIBERDADE)
QUE,A MEU VER,DEVE SER GARANTIDA NESTE BLOG, NO ENTANTO HÁ SITUAÇÕES PASSÍVEIS DE MELINDRE,E ESTA,TAL COMO A DA BANDEIRA,PODEM SER CATALOGADAS DESSE MODO.

TENHO A CERTEZA QUE QUANDO TE DEIXASTE FOTOGRAFAR FOI SOB A EUFORIA DE SABERES A GUERRA TERMINADA,E TU A UM PASSO DO REGRESSO...
QUANDO A COLOCASTE NÃO TIVESTE,OBJECTIVAMENTE,INTENÇÃO DE FERIR FOSSE QUEM FOSSE.
SÃO MOMENTOS...

UM ABRAÇO

MANUEL MAIA

manuel maia disse...

CARO FERNANDO COSTA,

Anónimo disse...

O Luís Graça já aqui pediu mais intervenções de camaradas que tivessem passado por esta situação da entrega dos aquartelamentos das NT ao antes IN. Acredito que, em muitos casos, possam ter-se verificado situações difíceis. Tudo terá dependido da preparação que os graduados, a começar pelos comandantes das unidades, fizeram junto dos diversos escalões das unidades. Terá havido esta preparação e impostas normas de conduta? No meio da confusão, acredito que cada Unidade se desenrascou o melhor que pôde, de acordo com as circunstâncias (a que também não terá sido alheio o próprio carácter dos comandos das unidades do IN com quem teriam de se entender).
Acredito também que para muitos camaradas a situação terá sido traumatizante - ou perto disso - quer por convicções políticas e ideológicas, quer por uma certa frustração ao terem de acolher como "amigos" aqueles que lhes tinham feito a vida num inferno, matando camaradas, etc. A contrapor a tudo isto, havia a alegria do fim da guerra e a ideia de um regresso rápido a casa.
Estou convencido de que para muitos se podia aplicar o que alguém disse sobre a chegada das tropas napoleónicas, aquando da 1.ª invasão francesa: "foram os franceses recebidos de braços abertos mas com os corações fechados".
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Tabanca Grande Luís Graça disse...

De facto, a guerra de ouro do nosso blogue é não emitir "juízos de valor" sobre o comportamento operacional, militar e humano, dos nossos camaradas... Um camarada não é (não pode ser) juiz do seu camarada, ali ao lado...

A pior coisa que poderia acontecer num blogue como este, seria o medo de ser "julgado pelos pares"... Isso coartaria toda a espontaneidade, liberdade, sinceridade, vontade de partilha de histórias, memórias, emoções, afectos... (incluindo os pecados, os pecadilhos, os pequenos e grandes segredos, que todos guardamos...e que um dia vamos querer partilhar om alguém...).

Julgar não é sinónimo de comentar... Julgar é dizer: estiveste mal, não devias ter feito isso, devias ter feito aquilo... É avaliar o bem e o mal...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Queria dizer "a regra de ouro do nosso blogue"... Fugiu-me a mão para a "guerra"...

António Matos disse...

Numa revisitação a textos passados que não tinha tido ainda oportunidade para ler, achei este do Fernando Costa e dei-me ao cuidado de entrar nos comentários.
Pensei em dirigir ao Manuel Maia um mail privado pelo desacordo com a sua apreciação mas decidi-me pela publicação em prol da liberdade de opinião.
Sei que te posso confrontar, Manel, sem que isso descambe para a polémica ( mais uma ! ) tão pouco para um qualquer diálogo tolhido pela oposição de ideias.
Por tudo isso, permite-me que considere um tanto despropositada a argumentação que apela à dúvida do que aquela arma terá feito à vida de um possível camarada nosso e, como tal, a crítica ao seu uso na fotografia .
Sinceramente não valorizo minimamente esse facto porque para o fazer, teria que abominar os abraços que as nossas tropas trocaram com os guerrilheiros aquando da passagem do testemunho ...
A fotografia é, a meu ver, a mais elementar prova de um mero e inofensivo "ronco" trazido para "a metrópole" quiçá para ombrear com a catana que depositámos na nossa sala de troféus...
Caro Manuel Maia, cá volto eu a aliciar a tertúlia para fazermos uma nova agulhagem neste 2010 que se pretende conciliador, dinâmico, pro-activo, positivo e deixa que te eleja como o poeta que conseguirá cantar as nossas ganas para alcançarmos aqueles desideratos !
Como diz o outro :
Yes, we can !
Como direi eu :
Yes, YOU can !
Um abraço,
António Matos

Anónimo disse...

Não é PPSH; é uma Degtyarev RPD
(que se pronuncia 'degtiarôv')


SNogueira

Anónimo disse...

('Degtiarôv' é a pronúncia do nome russo, visto que se escreve com ë (iô) porém, o trema é modernamente apagado na grafia impressa.
Lá Guiné, toda a gente dizia 'Degtiarév' e bem e toda a gente passava a usá-la em vez da merda-da-HK e bem assim que lhe deitava a mão mas numa perspectiva de presúria, não de reconhecimento da 'qualidade inimiga'.)

SNogueira

Luís Dias disse...

Caro Fernando Costa

O SNogueira tem razao a arma é um met. lig. Dectyarev RDP, que só fazia fogo automático e era uma belissima arma. No entanto discordo do que ele diz que a HK-21 era uma m....! De facto, com fita de elos desintegráveis era uma máquina, mas com a fita normal encravava muito.Além de que, em termos de balistica a munição 7,62 mm Nato era mais equilibrada no fogo automático do que o 7,62mm M43soviético, usado na RDP.
Um abraço
Luís Dias

Anónimo disse...

Caro Luís Dias,
a sua opinião terá fundamento mas parece-me que a questão balística só se colocaria em termos do 'poder da arma', em precisão, em distâncias longas ou com ventos fortes; ou,então, em tiros de caça com armas de repetição, que não era o caso das metralhadoras ligeiras Degtyarev e HK21, no quadro da nossa acção na Guiné.
O projéctil 7.62x54, da HK, tem mais massa (149gr) o que, visto do uso que dele faziamos, se torna imperceptível relativamente ao 7.62x39 123gr) da RPD; é um preciosismo balístico que não nos afectava. O que nos afectava e fazia a diferença entre as duas armas era o peso da HK, cerca de 8kg vs. os cerca de 7kg com empunhamento mais equilibrado da RPD na qual, apenas como factor de conforto adicional, a reacção ao disparo, o "recuo", parecia mais linear. O tambor-carregador da RPD garantia, por sua vez, melhor preservação das condições de transporte e uso das fitas de munições, obviando maus funcionamentos. Além disto, a RPD também parecia! mais leve, embora lhe faltasse o factor de 'confiança induzida' que o ruído da HK proporcionava.

SNogueira