sábado, 2 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)


Guiné > BCP 12 > CCP 121 (1972/74) >  O crachá da unidade (à esquerda). Foto: © Victor Tavares (2006). Direitos reservados.


Guiné > BCP 12 > CCP 122 (1972/74) > O crachá da unidade (à direita) Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Nuno Mira Vaz,  Cor Pára Ref (Guiné, BCP 12, 1967 e 1973) (*), com data de 29 de Dezembro último:

Assunto - Comentário sobre posts do blogue

Meu caro Luís Graça

Cá estou de novo a abusar do seu tempo.  Mas é por uma justa causa, pois trata-se de um comentário, em word, no qual tento esclarecer um conjunto de acontecimentos relatados no blogue.

Bem sei que,  não sendo membro, não tenho o direito de o incomodar. Por isso, se achar que o comentário não tem interesse ou carece de oportunidade, eu não fico ofendido.

Abraço mais uma vez com simpatia um antigo camarada de armas.
Nuno Mira Vaz


2. A propósito dos incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros  e do 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida (**)

(i) Incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros

Considero bastante conforme à verdade (com excepção da data, que foi o dia 3 de Junho de 1967 e não Janeiro de 1968, conforme a História oficial do BCP 12, da autoria do Tenente-Coronel Luís Martinho Grão) a versão apresentada pelo 1.º Sargento Carmo Vicente, inclusive no que respeita às responsabilidades dos graduados pára-quedistas, que pouco fizeram para evitar o infeliz desenlace duma jornada que devia ser lembrada apenas como desportiva.

Nos primeiros meses de 1967, a rivalidade desportiva entre pára-quedistas e fuzileiros foi-se transformando numa animosidade doentia. Estou certo de que muita gente se apercebeu do fenómeno, mas ninguém foi capaz de apreender o potencial de violência armazenado no processo. Por mim o digo: em momento algum imaginei que alguém pudesse conceber a sucessão de embustes que conduziram os páras à emboscada mortal.

Assisti a alguns dos jogos onde marinheiros e aviadores se enfrentavam e fui mais um dos que puderam observar o Jaime Duarte de Almeida, conhecido por Oitenta, e o Mário Cerqueira, por alcunha o Pedra Dura, a orquestrarem as actuações da claque da Força Aérea. E que fizemos nós, oficiais e sargentos com responsabilidades na conduta dos homens? Admoestámo-los com pouca convicção.

Era um sinal dos tempos: entre os operacionais, havia a convicção generalizada de que quem ia ao mato arriscar a vida tinha direito a descarregar na cidade as tensões acumuladas no combate – um sintoma, talvez o mais nítido de todos e sem subterfúgios, de imaturidade colectiva. Se os responsáveis tinham menos de trinta anos, e tendo em consideração que os dois lados se comportavam exactamente da mesma maneira, a rivalidade só por milagre poderia ter terminado de forma pacífica. Mas o que aconteceu ultrapassou em muito a imaginação mais delirante.

Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.

Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 (***) se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados.

Na manhã seguinte, as pessoas – militares e civis, homens e mulheres -, demoravam a acreditar que pudesse ter ocorrido semelhante acontecimento. O relato de pancadarias épicas entre grupos de militares das tropas especiais, e sobretudo entre estes e as patrulhas da Polícia Militar que os queriam meter na ordem, em bares, discotecas e outros locais de diversão nocturna de certos bairros de Luanda, Lourenço Marques ou Beira, era tema frequente de conversa nos clubes e nas messes.

O que variava, curiosamente, eram as cumplicidades afectivas: em Luanda os páras aliavam-se ao fuzos contra os comandos, em Bissau eram os fuzos e os comandos que lutavam contra os páras. Algumas cenas, como a da Pastelaria Versailles de Luanda, ficaram tristemente celebrizadas por causa das mortes envolvidas. Mas nenhuma, até aí, fora perpetrada com os níveis de irresponsabilidade e premeditação registados em Bissau.

No rescaldo dos acontecimentos, os militares do BCP 12 viviam um ambiente de amargura, raiva e impotência. Uma única coisa veio mitigar o nosso desconsolo: o enterro dos dois soldados mortos foi acompanhado por uma multidão imensa, seguramente a maior manifestação cívica a que assisti em Bissau, apenas superada pela visita do Presidente Américo Tomás. Tive então a convicção, que mantenho hoje, de que os civis quiseram dar um testemunho claro da sua consideração pelas Tropas Pára-quedistas.

(ii) O 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida, o Oitenta

Quando foi nomeado para o BCP 12, o Jaime, como prefiro tratá-lo, já tinha cumprido uma comissão em Angola como soldado. Foi destinado ao 1.º Pelotão da CCP 121, sob meu comando. A alcunha, segundo me lembro, não se devia a nenhuma proeza mitológica, como a sugerida por Jorge Félix no post 5552, mas sim a um incidente ocorrido no próprio dia em que se alistou nas tropas pára-quedistas. Mandado a subir para a balança pelo Sargento que anotava os índices físicos dos candidatos, replicou: - “Não vale a pena, meu sargento. São oitenta quilos certos”.

É verdade que alguns dos apontadores de MG-42 conseguiam “desenhar” com o impacto das balas na barreira da carreira de tiro figuras surpreendentes, mas com as duas mãos em simultâneo, nunca vi nem me contaram. Aproveito para esclarecer que tanto o Jaime como o Hoss, referenciados no post 1512 do Tino Neves com enfermeiros, pertenceram à CCP 121, onde eram apontadores de metralhadora.

O Jaime era oriundo da região de Mafra, e desde muito novo que fazia trabalhos pesados. Foram estes, e a generosidade da natureza, que lhe deram um corpo dotado de uma força impressionante e com uma resistência à dor inultrapassável. Recordo-me de o ver pegar com os dentes numa barrica de azeitonas vazia, de a erguer no ar e de executar com ela alguns passos de dança.

Como todos os seres humanos, não se lhe pode tirar uma fotografia a preto e branco, nem rotulá-lo de bom ou de mau. Era aquilo para que a vida o encaminhou desde muito novo, uma vida na qual se reagia a soco e a pontapé contra a adversidade e as provocações. Isto no Pilão ou nos bares na cidade, porque no Quartel o seu Comandante de Pelotão - o Tenente António Ramos, outro veterano de Angola, que mais tarde, como Capitão, foi oficial às ordens de Spínola – mantinha-o de rédea curta.

Em combate era indiscutivelmente corajoso. As Cruzes de Guerra que lhe penduraram no peito foram mais do que merecidas. Mas disso havia muito nas tropas pára-quedistas. E o Jaime nunca foi um dos melhores soldados da CCP 121. Eu explico:

A partir de certa altura, começámos a capturar quantidades consideráveis de armamento ao PAIGC. Não só as que pertenciam aos combatentes abatidos, mas também as armazenadas em esconderijos que íamos descobrindo no decurso das operações. Não me recordo da data em que isso começou, mas sensivelmente em meados de 1967 foi publicada legislação que atribuía prémios pecuniários por captura de armas e munições. O diploma estipulava que o dinheiro fosse entregue ao responsável directo pela captura mas, por acordo dos comandantes de Companhia com o Comandante de Batalhão, Tenente-Coronel Costa Campos, ficou estabelecido que uma parte seria entregue ao Comando do Batalhão e a outra às Companhias e utilizada em obras ou aquisições de interesse geral.

Com parte desse dinheiro, a CCP 121 instituiu um prémio, destinado exclusivamente a praças, que consistia numa viagem de ida e volta à Metrópole para gozo de férias. Os premiados, que eram indigitados pelos camaradas em votação secreta, recebiam além disso uma pequena importância em dinheiro para gastos pessoais.

A indigitação era aguardada sempre com natural expectativa pelos graduados, que receavam uma nomeação menos criteriosa ou ajustada, beneficiando um valentão de caserna ou algum detentor de prestígio adquirido de forma duvidosa. Mas as praças provaram ter um entendimento correcto dos valores em jogo, escolhendo, com grande maturidade e sentido de justiça, apenas entre os melhores. E o Jaime não foi um deles.

Voltei a encontrá-lo na minha segunda comissão da Guiné, de novo no comando da CCP 121, mas o Jaime pertencia então à CCP 122.

Quando saiu da tropa, foi para Marselha, onde se ligou a gente com negócios pouco recomendáveis. Como diz o Jorge Félix, acabou chinado. Como seria de esperar. Só não sei se em Lisboa, se em Marselha.

Recordá-lo-ei, sempre, como um combatente excepcional.

Nuno Mira Vaz

[Revisão / fixação de texto / bold a amarelo: L.G.]
 
________________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. postes de:
 
 15 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5471: O Nosso Livro de Visitas (75): O blogue, uma obra que não pode morrer (Nuno Mira Vaz, CCP121/BCP 12, 1972/74)
 
10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1581: O elogio dos pára-quedistas das 121ª e 122ª CCP (Nuno Mira Vaz / Vitor Junqueira)
 
(...) Meu caro Vitor Junqueira:

 Quem lhe escreve é o comandante da CCP 121 na altura em que estivémos juntos no COP 6. Eu estive com dois pelotões no Olossato e o Tenente Castro esteve com outros dois em Mansabá. Li hoje a sua crónica num blogue que acompanho com muito interesse e sentida emoção, e no qual só não colaboro por falta de vocação pessoal para me expor (1).

Quero agradecer-lhe do fundo do coração as suas palavras. Não só expressa uma admiração sincera pelas tropas pára-quedistas, como ainda por cima soube detectar algumas das virtudes não propriamente militares de que muito nos honramos. Bem haja. (...) Nuno Vaz Mira (...)

 (**) Vd. postes de:
 
28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5552: FAP (42): Dois senhores da guerra: O Cabo 80 e o Cap Pára Terra Marques (Jorge Félix)

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)
 
13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)
 
11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)
 
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
 
(***)  Poderiam pertencer a uma ou mais destas subunidades de fuzileiros: 

Companhia de Fuzileiros nº 3 (1967/69), Companhia de Fuzileiros nº 7 (1965/67), Companhia de Fuzileiros nº 9 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 3 (1965/71), Destacamento de Fuzileiros Especiais 4 (1965/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 6 (1966/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 7 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 19 (1967/69), Destacamento de Fuzileiros Especiais 12 (1967/69) (Fonte: página do nosso camarada Jorge Santos)

12 comentários:

paulo santiago disse...

Coronel Mira Vaz
Após ler o seu post, liguei ao meu
amigo e conterrâneo Hoss (Sílvio
Abrantes)visto ter a convicção que
ele tinha a especialidade de enfermeiro.Confirmou-me ter essa especialidade,apesar de nas saídas para operações levar a MG 42,sendo
outro camarada a levar a bolsa de enfermagem.Falou-me numa emboscada no Pelundo(?)em que morreram 6 Páras,e após o combate ter exercido
em vários camaradas as funções de
enfermagem, o que acontecia,segundo
ele,sempre que havia combate com
feridos.

Abraço

P.Santiago
AlfMil PELCAÇNAT 53

Anónimo disse...

O comportamento das tropas da Marinha no episódio agora esclarecido, transcendeu tudo que antes tinha acontecido e que não voltou a acontecer; construí uma opinião muito reservada acerca desse acontecimento, sem questionar o parecer do Cor Mira Vaz (a quem aproveito já para cumprimentar aqui, simbolicamente, uma vez que não nos vemos há já algum tempo).
Também em 1967, organizei em Luanda um torneio de futebol -o Torneio PáraComFuzo- entre equipas do BCP21, do Dest Fuzileiros nossos vizinhos e do CIComandos. No fim houve desentendimento com o oficial Comando, quanto a uma classificação ex-aequo e daí alguma agitação mas não só nada levou a extremos, como não se perdeu o sentido de decência nem mesmo de alguma cumplicidade que havia entre os militares das três Unidades - uns porque eram vizinhos do nosso quartel de Luanda e os outros porque eram confrades na actução (e nos resultados obtidos) em áreas de operações no Leste.
Também, de um modo geral, corroboro a opinião acerca dos 'grandes combatentes' - eram frequentemente homens discretos, não necessariamente de porte atlético ou 'vistoso'. Também por aqui se vê que o aspecto serve para tirar fotografias ou para dar que falar, tal como nas merdas-da-moda (passe a rudeza da minha linguagem).
No que toca a espírito de disciplina e de missão, destemor, serenidade, rusticidade e determinação o porte ou aparente poder físico não eram determinantes.

SNogueira

Anónimo disse...

Nuno Mira Vaz,
Até ao post P5552 o 80 era conhecido simplesmente por Oitenta. Escreveram-se muitas histórias e ninguém lhe "sabia" o nome, Jaime. Quando conheci o oitenta, 68/69, contava-se a história do seu nome vir do facto que narrei. Os meus conhecimentos sobre a dificuldade de desenhar figuras na carreira de tiro eram e são nulas, pelo que aceitei como verdadeiro o "mito" que me contaram, não é da minha lavra. Álias, chamo a atenção para as histórias do "oitenta"parecerem todas um exagero. A minha versão parece que caíu nesse erro, mas teve a virtude de trazer á Tertúlia o Nuno Mira Vaz.
Um abraço
Jorge Félix

Luís Graça disse...

Paulo, bons augúrios para 2010... Uma sugestão: por que não trazes o Hoss até nós, tal como fizeste com o Victor Tavares ? Tu tens esse condão especial de saber levera a água ao moínho...

O Victor, 1º Cabo da CCP 121 / BCP 12, foi o primeiro pára a "abrir o livro", no nosso blogue...

Publicámos, dele, um conjunto notável de depoimentos sobre a actividade operacional e humana da CCP 121, nomeadamente a actuação em Guidaje e depois em Gadamael em Maio/Junho de 1973. Também era um homem da MG 42. Ficámos amigos. Dá-lhe os meus melhores cumprimentos quando o vires.

Um Alfa Bravo. Luís

Anónimo disse...

Caro amigo Luís Graça, em primeiro vou-me apresentar:Ex-soldado Pára-quedista,cumpri serviço no BCP12, Chamo-me Sílvio Fagundes Abrantes, mais conhecido pelo HOSS.Vou falar do que sei sobre o meu amigo Jaime Manuel Duarte de Almeida 1ºCabo Paraq.RD 85, mais conhecido pelo 80. Sobre a sua vida de civíl antes da tropa pouco ou nada sei. Sei que teve uma infância muito dura e a certa altura foi para Lisboa onde se alistou na vida da noite.Quando algumas vezes lhe perguntei o que tinha feito antes da tropa a resposta era sempre a mesma, ou se calava, ou não quero falar disso. Era um bom jogador de cartas e exímio na vermelhinha.Não tinha escrúpolos em sacar a massa ao maior amigo,daí o pessoal não simpatizar muito com ele, como diz o Srº. Corn.Mira Vaz, meu comandante de companhia na altura.Grande guerreiro, dotado de muita força a MG 42 para ele era um brinquedo. Tinha-mos dois inimigos comuns, os pretos e os ranhosos da PM, se se bambuleavam por Bissau como se fossem donos e senhores do território, ainda hoje não posso com esses ranhosos.O Jaime pertencia à CCP 122, veio para a 121 temporàriamente pela mão do então Capitão Terras Marques que veio da 122 para a 121 e o 80 veio com ele.A seguir ao Cap. Terras Marques hoje Coronel na ref.veio o Srº Mira Vaz.A última vez que vi o meu amigo 80 foi em Águeda, encontrei-o por casualidade à beira da estrada nacional 1.Passámos ao resto da tarde juntos Disse.me que estava à espera de ir para França, até hoje nunca mais o vi nem soube nada dele de concreto, o que sei é o mesmo que os meus amigos sabem. O 80 não era nenhum arruaceiro e era digno das tropas Pára-quedistas.Não como diz aí um senhor. Ele era um lutador, lutava pela Pátria e sabia o significado da palavra Pátria ao contrário desse senhor que lhe chama arruaceiro que não deve saber o significado da palavra Pátria e além disso é nojento tratar de arruaceiro um militar da estirpe do 80 sabendo quer ele não está cá para se defender ou esse senhor era da PM a quem o 80 fez a vida negra e agora tenta vingar-se isso é jogo sujo.Se ele cá estivesse de certo que não dizia uma baboseira dessas.Mias não digo, Vou esclarecer um mal entendido. Eu era soldado enfermeiro, nunca fui promovido a cabo porque num dia fui duas vezes à missa e tramei-me.Eu era apontador de MG e um colega meu trazia a bolsa de enfermagem.Prometo voltar, Hossguarlats

Anónimo disse...

Caros amigos, cá estou de novo.Eu não vim antes porque tenho o equipamento no 1º andar e nestas operações não é muito aconselhável subir e descer escadas.
Quero agradecer em primeiro lugar a todos quantos me desejaram que a operação me corresse bem.
O nosso amigo Luís Graça pede-me uma foto do tempo de tropa e outra actual. Não me é possível enviar hoje porque pedi ao meu filho para trazer o scaner neste fim de semana e ele esqueceu-se, mas logo que seja possível enviarei.
Vou responder às perguntas do amigo Luís graça: Quanto ao ataque a Bissau feito por mim e pelo Santos ( o Django), Foi pura diversão. Naquela altura não pensávamos em riscos, apanhados do clima, não tinhamos tempo para pensar em coisas insignificantes que na verdade se podiam tornar graves.
Os Comandos.
Nós dizia-mos que os Comandos eram vaidosos, que tinham a mania de que eram melhores do que os outros, daí haver uma certa tensão entre nós e eles a que se juntavam os Fuzileiros. Que me lembre nunca houve pancada entre nós e os Comandos, embora não nos arranhássemos muito bem.É de salientar que era muito raro haver pancada entre estas três forças operacionais, no fundo respeitávamos-
-nos, agora quanto aos ranhosos da PM era um desastre.
Nós,(as três forças operacionais) dávamos a vida no mato, não vou entrar em pormenores porque conhecemos bem a realidade. O que faziam esses ranhosos quando nos apanhavam em Bissau com um botão desabotoada,por vazes a fralda de fora, as calças mal arranjadas nas botas,etc,etc,etc., o que é que faziam? Participação. Então nós mostrava-mos a razão da força, éramos implacáveis com eles, como eles eram connosco.
Quando fui para o Hospital Militar (ANEXO) em Campolide tirar o curso de enfermeiro já lá haviam agulhas especiais para dar injecções aos ranhosos, que se mantiveram decerto até ao fim dos tempos. Essas agulhas eram dobradas na ponta.Ao entrar era com força para não dobrar, mas ao saír... é que as coisas se complicavam.Imaginem uma agulha aí com uns bons 3 m/m de dobra na ponta a saír devagarinho.
Em frente ao quartel da Polícia nativa, no Pilão havia um bar. Estava eu e outro Pára, de cujo nome não me lembro e noutra mesa uns ranhosos. Pusemos as antenas no ar e resolvemos dar-lhes uma trepa, só que havia uma desvantagem numérica, eles eram muito mais que nós, mas eis que aparecem uns bravos dos Comandos, um deles era o (CEM), nem sequer se pensou mais um segundo num ápice aquilo virou-
-se de pernas para o ar. Alguém chamou os ranhosos e vieram quatro carros cheios de tralha, mas foi tarde demais, de nós nem rasto, o corpo deles cheio de pancada, isso sim.
Para nós dar-mos uma trepa nos ranhosos
era o melhor que nos podia acontecer.
O amigo Luís graça diz que faltam alguns dados na minha biografia. Então aí vai. Nascido a 23 de Janeiro de 1948, na freguesia de Aguada de Cima, concelho de Águeda. Na verdade sou da terra do Paulo Santiago Ex-Alferes Miliciano,colegas de escola.O Vitor Tavares é doutra freguesia, o concelho é o mesmo. Pertenci á C.C.P. 121,comandada primeiro pelo então Capt.Terras Marques e depois pelo Srº Mira Vaz. Era enfermeiro,mas um colega trazia a bolsa e eu uma MG 42, nada mau dadas as circunstâncias.
O meu amigo Tino era do Exército,mas era muito amigo do meu amigo Rodrigues, só amigos, ainda bem. Daí eu ficar amigo do Tino.
Por agora é tudo, um abraço para todos do
Hoss

Rui Ferrão disse...

Queria fazer um pequeno reparo aquilo que foi dito em relação aos confrontos entre Páras-Fusos. Os Fusos não emboscaram os Páras como aqui é referido no texto sr. coronel Mira Vaz e noutros que já li. O que aconteceu foi que , o oficial de dia ao quartel Fuso nesse mesmo dia ,já sobre a madrugada mandou sair a ronda para verificar se as coisas já estavam mais calmas. A dita ronda ao passar junto aos edíficios em obras teriam ouvido uma voz gritar (estes lerpam já todos) e vai daí um dos elementos da ronda dirige a arma para aquela zona e dispara para o escuro, não se apercebendo de qualquer vulto, só depois se aperceberam do lamentável acidente. A outra morte teria sido horas antes à porta do Estádio também em circunstâncias identicas; há um Fuso ao descer do gipe da ronda cai e deixa cair a arma, entretanto está ali por perto um Pára e pega na arma, o cabo da ronda naquela confusão (só quem lá estava é que consegue avaliar) vê o individuo com a arma nas mãos, não sei o que lhe passou pela cabeça e atirou segundo informações, para o chão, só que o tiro ressaltou e foi atingir o Pára. Eu estava lá no início do confronto, mas depois encontrei um filho da minha terra, olhamos um para o outro e interrogámo-nos, o que é que nós estamos aqui a fazer?, saímos para fora. Foi assim que os acontecimentos me foram relatados por companheiros Fusos, visto naquela altura estar já na companhia do filho da terra a beber uma cerveja com mais alguns Páras. Estou de acordo que houve negligencia dos superiores dos dois lados, julgo que teriam evitado a morte destes dois jovens,camaradas de armas. Também não estou a ver os Fusos a montar uma emboscada daquela maneira tão cruel com já foi escrito nalguns locais do blogue. Como disse essa parte não falo por aquilo que me contaram, logo após os acontecimentos. Foi lamentável e vergonhoso para as nossas tropas. Um abraço. Sou Rui Ferrão

Rui Ferrão disse...

Ainda os confrontos entre Pára-Fusos.Alguém comentou algures no blogue que, havia uma grande rivalidade entre Pára-Fusos não é verdade. Enquanto eu estive na Guiné (67-69)para além dos acontecimentos que todos conhecemos,sanados que eles foram, voltou tudo á normalidade, embora tivesse havido um período em que não havia qualquer convívio entre eles, mas depois tudo voltou ao normal como já tinha citado. Quem passou pela Guiné e teve a oportunidade de privar com a malta da Marinha estou convicto de que deles tem uma boa impressão. Senão vejamos: Quem nunca foi a bordo de uma lancha, ou de um navio, ou do quartel Fuso comer um ou dois jantaritos desenrascado por um filho da terra Fuso?. Eu próprio despensei a minha cama por diversas vezes a camaradas Páras. Caldeiradas de cabritos "comprados" aos nativos pelos Fusos e caldeirados e comidos (no quartel Fuso) entre Pára-Fusos, isto tudo depois dos confrontos, será isto será rivalidade?. O pessoal da Marinha nunca teve rivalidades com ninguém, inclusivé, aconteceu por vezes safar militares do exército com problemas com a PM. Um abraço, cordialmente sou Rui Ferrão. Voltarei ao assunto.

Rui Ferrão disse...

Voltando ainda ao incidente Páras-Fusos, quereria dizer ainda o seguinte: O acontecimento criou grande consternação no seio Fuso, nas horas que se sucederam todos se interrogavam, como é que foi possível acontecer uma tragédia desta dimensão?.Todos nós lamentamos. Avançamos: um certo dia andando com alguns colegas Fusos a passear em Bissau na zona do Pilão já depois da meia noite,(era perigoso andar naquela zona aquela hora da noite) encontramos um grupo de Páras já com uns copos a mais, onde vinha um com um golpe profundo na cabeça e a sangrar bastante, não sei o que se tinha passado, sei apenas que estava a precisar de ajuda, pedimos aos militares da PM que o levassem ao Hospital, responderam que o gipe não era nenhuma ambulância, entretanto passa a ronda dos Fusos, apercebendo-se da situação pegaram no ferido e nos restantes camaradas e levaram-nos a Bissalanca, visto que aquela hora já não tinham transporte para lá e ainda eram cerca de 12 Km. Como estão a ver meus amigos não havia rivalidade entre estas duas Forças. Sobre a quantidade de companhias e destacamentos a prestar serviço na Guiné, citadas pelo camarada Jorge Santos também não esta correcta a quantidade nem os seus números. Havia apenas duas companhias e quatro destacamentos.

Um abraço Rui Ferrão

Unknown disse...

Não sei se este comentário chegará a alguém, já que não percebo se este blog é atualizado regularmente. Só para dizer que sou sobrinha do 1º Cabo Ismael Santos que morreu nesta estúpida rixa ( 1 mês antes de eu nascer) e que este fds estivemos(uma vez mais) na sua campa a prestar a homenagem que merece. Paulina Santos

Anónimo disse...

Boa tarde. Sou um antigo camarada da Guiné, CCP 122, 2 pelotão Tigres, Vítor Sacramento. Estive com o Jaime (80) em 1968/69 e gostaria de saber o que é feito dele. Pelo que li, fiquei com a impressão que já terá falecido. Podes confirmar sff?

Anónimo disse...

Saudações Paraquedistas e Castrenses para todos

Resumindo, que consequências para os autores das mortes?