quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5530: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Sector de Buba-Aldeia Formosa - 2º Semestre 1970 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 31ª estória, em 22 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Acabo de concluir a resenha sobre as actividades do 2.º Semestre de 1970, no Sector de Buba-Aldeia Formosa, recorrendo a dados e factos que ainda retenho na minha memória, algumas notas escritas na altura e com a preciosa colaboração de vários Camaradas nossos, que viveram, nesse período, no mencionado Sector:

SECTOR DE BUBA-ALDEIA FORMOSA
2.º Semestre de 1970
JULHO de 1970

As actividades das NT, continuavam na tentativa de interceptar o IN no corredor de Missirá, tendo, para isso, empenhado todas as forças do Sector: CART 2519, CART 2521, CCAÇ 2615 e CCAÇ 2614.

O PAIGC, viu-se na necessidade de abrir novos trilhos, na sua acção de infiltração, para Norte e, por isso, derivou para Oeste de Missirá, na tentativa de fugir ao esquema de contra-penetração montado pelas NT.

Numa das acções de patrulhamento da CART 2521, a Norte de Uane, foi encontrada pela primeira vez propaganda (panfletos) da F.L.I.N.G. (Frente de Libertação Independente Nacional da Guiné), apelando às populações à não colaboração com as NT.

A CCAÇ 2615 continuava a patrulhar e a emboscar à distância de Aldeia Formosa em Jai Juli/Chicambiló, tendo encontrado e levantado minas em Jael. Foram encontrados nesta ZA, novos trilhos utilizados pelo inimigo, nas suas deslocações para o interior.

No dia 30-07-1970, pelas 18h00 horas, forças da CART 2519 quando patrulhavam um trilho novo do IN, no sentido S-N de Iero Saldé-Uane, estabeleceram contacto com um Grupo IN armado, estimado em 20 elementos, no ponto XITOLE 4 B8/55.

Do confronto, resultou que o PAIGC sofreu dois mortos confirmados e vários feridos não contabilizados, tendo sido capturadas uma pistola "CESKA" e uma granada de mão defensiva. O IN debandou para Sul e as NT não sofreram qualquer baixa.

Neste período não foram registados ataques aos aquartelamentos do Sector.

AGOSTO de 1970

Registam-se algumas alterações no terreno devido à época das chuvas. O IN intensificou as suas acções de emboscadas, flagelações e colocação de minas, na estrada Buba-Aldeia Formosa, começando a criar dificuldades às nossas colunas de abastecimento.

Foram referenciados vários elementos do inimigo, na ZA da CCAÇ 2615, perto de Contabane em direcção a Bongofé, tendo as NT reforçado as suas acções nessa área.

A CART 2521 e CCAÇ 2614, continuaram empenhadas no reforço de contra-penetração sobre as forças do IN, para o interior, emboscando e patrulhando permanentemente a Norte de Uane, sobre o corredor de Missirá.Nesta acção foi verificado o rebentamento pelo IN de uma mina A/P, colocada pelas NT, sobre um novo trilho no ponto Xitole 4,D9/88.

Foi avistado um Grupo de 5 elementos do IN armados, a Norte de Uane, pelas forças da CART 2521, quando patrulhavam a sua ZA. O IN ao avistar a nossa força abriu fogo e fugiu para Sul perseguido pelas NT.

O IN continuou bastante activo flagelando os aquartelamentos de Mampatá, Nhala, Aldeia Formosa e Buba.

No dia 17AGO1970 atacou Mampatá, com uma força estimada em cerca de 100 elementos, durante 20 minutos, empregando armas ligeiras e pesadas, chegando perto do arame farpado e tentando mesmo penetrar na Tabanca. A forte reacção das NT no terreno, impediu os seus intentos, tendo contribuído para isso o dispositivo de defesa da Tabanca, implantado pela CART 2519.

Como consequência deste ataque, as NT sofreram 9 feridos (três deles graves) e entre a população verificaram-se 5 feridos (todos ligeiramente).

O inimigo fugiu para Sul após o ataque, sendo perseguido pelas NT vindo a ser interceptado perto do Rio Bunissã, por um Grupo de Combate da CART 2519, que tinha colocada em contra-penetração, causando várias baixas ao IN (5 mortos confirmados) e alguns feridos não contabilizados.

Nesta acção foram capturados ao IN, um RPG 2, 4 granadas e vários carregadores de munições.

SETEMBRO de 1970

Depois da actividade que o PAIGC desenvolveu no mês anterior, notou-se um afrouxamento da sua actividade no Sector. Apesar disso, continuaram os esforços das NT nas suas ZA, para cumprirem o estipulado no Plano Operacional "Galgos Ligeiros", do BCAÇ 2892, em especial nas missões de contra-penetração.

O Grupo Especial de Bazucas que no mês anterior atacou os nossos destacamentos, e foi procurado persistentemente pelas NT implantadas no terreno, não voltou a revelar-se, nem se veio a registar mais vestígios da sua presença, o que permitiu concluir que, o mesmo, já havia abandonado a Zona.

Foi accionada a "Operação Viragem", com todas as Companhias instaladas no Sector a ficarem sob o comando do BCAÇ 2892, a receberem ordens para lançarem nas suas ZAs, panfletos destinados à acção psicológica sobre o IN, no corredor de Missirá, entre Uane e Sara Dibane.

A oeste de Aldeia Formosa, as NT continuam a emboscar e a patrulhar junto á fronteira, não encontrando rasto do IN, vendo e falando apenas com os Gilas e tentando, através deles, obter algumas informações.

Na Zona de BUBA a calma era evidente, apesar dos constantes patrulhamentos da NT sobre a sua ZA, não tendo encontrado rastos do inimigo.

Neste período procedeu-se á vacinação da população do Sector, contra a doença da cólera, integrado no programa "A SAÚDE PARA O POVO DA GUINÉ".

OUTUBRO de 1970

A época das chuvas estava a terminar e, apesar das bolanhas que a estrada Buba-Aldeia Formosa atravessava ainda apresentarem um difícil acesso, recomeçaram as Colunas de reabastecimento das NT, estacionadas no Sector, terminando assim o período de isolamento a que sempre ficavam sujeitas, nesta altura do ano.

O inimigo começou a fazer sentir as suas infiltrações no Sector, sendo detectada a sua presença ao longo do corredor de Missirá e a Oeste de Aldeia Formosa, junto a Chicambioló e perto do rio Balana, onde foram ouvidos rebentamentos dos seus morteiros a bater a nossa Zona.

A 12 e 13 deste mês, realizou-se a Operação "Novo Rumo", já descrita no blogue, no poste P4798, tendo as NT instaladas no Sector, realizado reconhecimentos a Sul e a Norte do corredor de Missirá.

Em 15OUT1970, a CCAÇ 2614, estacionada em Nhala, teve um contacto directo com um Grupo armado do IN, a Norte de Uane, tendo o PAIGC sofrido diversos feridos (não confirmados) e retirado em direcção ao Corubal, perseguido pelas NT.

Neste período não se registaram ataques aos aquartelamentos do Sector, resumindo-se as acções armadas a áreas fora do arame farpado.

Em Outubro, conforme o plano de acção delineado pelo Comando de Aldeia Formosa, foi reiniciado o auxilio às populações; assistência sanitária, económica e educativa.

NOVEMBRO de 1970

O PAIGC intensificou a sua acção no Sector, implantando minas e emboscando as NT, nos habituais itinerários de patrulhamento e na estrada Buba - Aldeia Formosa, quando das colunas de abastecimento, o que levou as nossas tropas aquarteladas no Sector a redobrar as suas actividades defensivas e ofensivas.

O Comando do BCAÇ 2892, face ao crescimento da hostilidade inimiga alterou o Plano Operacional “Galgos Ligeiros”, instalando a CART 2521 na Chamarra, com a seguinte missão:
  • 1) Assegurar em permanência a defesa do aquartelamento.
  • 2) Assegurar o controlo da Zona de Ganiã e de Jael com:
  • a) Patrulhamentos diurnos;
  • b) Emboscadas diurnas e nocturnas;
  • c) Implantar minas e armadilhas nos vários trilhos utilizados pelo IN;
  • d) Assegurar com um Grupo de Combate diário, permanente em Aldeia Formosa a segurança da mesma.
A CCAÇ 2615, reforçou com um Grupo de Combate o aquartelamento de Nhala e, conjuntamente com a CCAÇ. 2614, efectuou as seguintes missões:

  • 1) Assegurar a defesa do aquartelamento.2) Assegurar o controlo da sua ZA a Norte de UANE, através de:
  • a) Patrulhamentos diurnos;
  • b) Emboscadas diurnas e nocturnas;
  • c) Implantar minas e armadilhas nos vários trilhos utilizados do IN.
  • 2) Assegurar a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa, entre Nhala e Uane.

A CART 2519, continuou garantir a Sul de Uane a contra-penetração, derivando para Sari Dibane e Iero Saldé, tentando deter o IN proveniente de Quinara e Injassane, com destino a Unal através do corredor de Missirá.

A CCAÇ 2616 continuou em Buba assegurando a defesa do aquartelamento e a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa, entre Buba e Nhala, através de.
  • 1) Patrulhamentos diários da sua ZA.
  • 2) Execução de emboscadas, dia e noite, na sua ZA.3) Implantação de minas em novos trilhos do IN.

A segurança do Rio Grande de Buba e das suas margens, ficaram a cargo do destacamento de Fuzileiros estacionados em Buba.

Em 09NOV1970, as NT, nomeadamente a CCAÇ 2614 (a Norte), e a CART 2519 (a Sul), numa acção conjunta no corredor de Missirá, interceptaram um Grupo numeroso do PAIGC, que depois de accionarem uma mina A/P em Xitole 4,09-87 e perante a abertura de fogo das NT fugiram para Sul.

Perseguidos pelas forças das nossas referidas Companhias, sofrerem várias baixas confirmadas pelos inúmeros rastos de sangue espalhados no terreno e pelo diverso material que abandonaram no solo.

Neste período não foram efectuados ataques nem flagelações aos nossos aquartelamentos de Sector.

Registe-se também neste mês a construção do Heliporto, no aquartelamento de Mampatá.

DEZEMBRO de 1970

Notou-se alguma movimentação do inimigo na Zona Oeste de Aldeia Formosa, tendo o mesmo flagelado à distância a Tabanca de Paté Embaló, levando as nossas tropas a reforçar este posto avançado de Aldeia Formosa, com um Grupo de Combate da CART 2521.

A 09DEZ1970, foram referenciados rebentamentos de explosivos e tiros de ajustamento de armas pesadas na Zona do rio Contaioba, onde as NT em patrulhamento encontraram vestígios dos mesmos, bem como sinais de concentração de Grupos armados do PAIGC.

O Comando do BCAÇ 2892, face ao crescente aumento de efectivos do IN, nesta área, planeou a "Operação Remoinho", que teve por missão fazer uma batida de reconhecimento na área compreendida entre Sare Ali e Sare Amadi.

Para o efeito foi constituída uma força com:
  • 2 GR. COMB. da CART 2521 - Aldeia Formosa
  • 1 GR. COMB. da CCAÇ 2701 - Saltinho
  • 1 Secção do Pel. Milicias
  • 1 Secção do Pel. Caç. Nat. 69 - Paté Embaló
A operação teve o seu início a partir do aquartelamento do Saltinho, fazendo progressão apeada em direcção a Sare Ali, onde emboscou e, de seguida, fez uma batida à Zona, onde não foi encontrado rasto do IN.

Foram dadas ordens às NT para seguirem para Sare Amadi, onde foram encontrados vastos rastos de presença inimiga, com abertura de novos trilhos em direcção a Iero Aine.

Todos estes trilhos de infiltração do PAIGC, foram armadilhados e minados. Não se tendo avistado qualquer presença física do IN, na área da Operação, a mesma foi dada como extinta e as NT regressaram aos respectivos aquartelamentos.

Em 24DEZ1970, o PAIGC, pelas 22h00, atacou com grande intensidade a Tabanca de Paté Embaló, com Morteiros de 82 mm, RPG7 e armas ligeiras, durante 15 minutos, tendo chegado perto do aldeamento. A pronta resposta das NT fez o inimigo retirar, perseguido pelo fogo dos obuses de 14 cm de Aldeia Formosa e, pelo envolvimento das NF, que, nesta acção, tiveram 2 feridos no Pel. Caç. Nat. 69.

A Sul e a Leste do Sector, actuavam as Companhias CART 2519, CCAÇ 2614 e CCAÇ 2615, que se dividiam por Nhala, Buba e Aldeia Formosa.

Estas Forças tinham como missão a contra-penetração do corredor de Missirá, e, entre si, desdobravam-se em esforço para patrulhar e emboscar a Sul e a Norte de Uane, como também tinham a seu cargo a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa.

O PAIGC tentou a todo custo fugir às emboscadas montadas pelas NT, que eram permanentes no corredor, abrindo novos trilhos entre Colibuia e Ieroiel, mas ia cair sistematicamente nas nossas armadilhas implantadas no terreno, o que lhes causava baixas consideráveis.

Em 23DEZ1970, um Grupo inimigo estimado em 40 elementos atacou Mampatá, pelas 14h45, utilizando morteiros de 82mm a partir de Xitole 4H7-41. Foram referenciadas 6 posições de morteiro 82 mm, com 30 rebentamentos todos caídos fora do nosso perímetro do aquartelamento. As NT responderam com um envolvimento em perseguição do IN, que fugiu desorganizado em direcção ao Sul, vindo a cair nas nossas armadilhas implementadas no terreno.

Na ZA de Buba, continuava tudo calmo não havendo sinais do IN, apesar das movimentações das NT no terreno.

Neste período como era habitual o COMCHEFE, visitou os aquartelamentos do Sector desejando Boas Festas às NT.

Legendas das fotografias:

1 - O nosso 1º Grupo de Combate
2 - O F. Costa - Escriturário de Mampatá
3 - Operação Novo Rumo (F. Costa)
4 - Atolamento na picada
5 - Evacuação de um ferido em Halouette III
6 - Espoletas de minas à vista na picada
7 - Deslocação do pessoal do 1.º Grupo de Combate
8 - Aspecto da tabanca de Mampatá

NOTA FINAL: Assim terminou o ano de 1970, no Sector de Buba – Aldeia Formosa, ficando cada vez mais perto o nosso regresso à Metrópole.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. poste sobre o 1º Semestre em:

Vd. último poste da série do Autor em:

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5476: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Ataque `a Chamarra nas vésperas de Natal (Mário G R Pinto)

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