sábado, 21 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5309: Blogpoesia (58): Para os amigos e camaradas da Guiné que esta noite tiveram insónias (Luís Graça)

Lisboa > Largo da Madalena >  Pormenor da calçada à antiga portuguesa, à entrada da Igreja da Madalena..."Ontem não foi sexta-feira 13, mas bem podia ter sido" (jornal de caserna)

Foto e texto: Luís Graça (2009). Direitos reservados


[Instruções: Para ler com o melhor sorriso da Gioconda. Para todos os amigos e camaradas da Guiné que, sendo-o, são meus amigos e camaradas. Esta adenda impunha-se, por causa das minas e armadilhas da (in)comunicação humana ]

Juram, os amigos,
que a amizade não se esgota
nas questões de lana caprina.
Nem se dilui na espuma dos dias.
Testa-se e reforça-se na provação.
Dizem outros que eles, os amigos,
devem ser para as ocasiões.
Todas as ocasiões?
As pequenas e as grandes ?
As boas e as más ?
Sobretudo as más ?
A estação seca e a estação das chuvas ?
A paz e a guerra ?
Ou tudo isso é letra morta ?
Que os amigos conhecem-se
na adversidade,
diz o provérbio.
E os camaradas, na guerra,
diz o Marques.
E os colegas nas tainadas,
dizia  o António, meu instrutor
de minas, fornilhos e outras armadilhas da vida.
Quem em caça, política, guerra e amores se meter,
não sairá quando quiser.
Sairá ou não ?
Os amigos, os verdadeiros e os falsos,
conhecem-se nas ocasiões.
Que a adversidade é o teste da amizade.
A prosperidade traz amigos,
a adversidade os afasta,
diz o chinoca da minha rua,
que não tem amigos,
a não ser o dicionário de português-cantonês,
do outro António, o Abreu,
que o poderia ter escrito.
Que no céu se fazem amigos;
e,  no inferno, inimigos,
canta o poeta, cego,
tocador de cora,
deambulando de tabanca em tabanca,
no que resta do regulado de Joladu.
Que a amizade é um edifício
que leva uma vida a construir,
e que num minuto pode ruir,
garante o Esquilo Sorridente.
No aperto do perigo, conhece-se o amigo.
Essa  é a verdade, Abílio,
e a verdade é um osso duro de roer,
até para o cão que rói o osso,
na opinião do Pires, que na Guiné teve um cão.
Que os amigos fazem-se,
praticando a amizade:
tal como os caminhos que
se não se usarem,
ganham espinhos, ervas, silvas,
moitas, carrascos,
pedras soltas, calhaus, pedregulhos,
tornam-se abatizes, obstáculos, cabeços, colinas, montanhas.
Ou na versão de um velho homem grande,
africano, de Contuboel,
algures na velha Guiné agora Bissau:
A amizade é uma picada
que desaparece na areia, na bolanha ou no mato,
se não a usares todos dias,
Não aceito que digas:
- Amigo não empata amigo,
citando o Paulo, a caminho de Santiago.
Por que o amigo é isso, Vasco,
tens toda a razão,
que o amigo é para se usar,
se guardar
e se resguardar.
(Obrigado, Cordeiro, pela precisão!).
Para se resguardar das pontadas de ar,
dos tiros tensos do canhão sem recuo
e das emboscadas.
Não é para se usar, expor e deitar fora,
na berma do caminho.
A amizade não é um objecto descartável,
manda o filósofo Juvenal dizer no seu último mail.
(Ou foi o Sócrates, o grego,  antes da cicuta ?).

A conselho amigo, não feches o postigo,
além de que
amigo diligente é melhor que parente.
Sobretudo se te dói o dente.
E já que  tens  físico amigo, manda-o a casa do teu inimigo.
Dinis, que foi rei, mandou lavrar cantiga de escárnio e mal dizer:
quem seu inimigo poupa, às mãos lhe morre.

Mas atenção,
amigo disfarçado, inimigo dobrado,
escreve o ranger, o Eduardo.
E o que fazer ao amigo que não presta
e à faca que não corta ?
Que se percam, pouco importa,
decreta o Hélder,
pela telegrafia sem fios.
Também se diz que os amigos novos
metem os velhos no canto ou a um canto.
Se não se diz, pensa-se.
Será assim, mana Giselda,
que os amigos também cansam
como a sarna na pele,
como a pele e as suas sete camadas ?
Os amigos têm prazo de validade ?,
pergunto ao Briote.
Uma questão que nada tem de metafísica:
Ovo de uma hora,
pão de um dia,
vinho de um ano,
mulher de vinte,
amigo de trinta
e deitarás boa conta.
Amigo, vinho e azeite... o mais antigo.
O vinho e o amigo, quer-se do mais antigo,
recomendam o Jorge, que é engenheiro,
mais o Picado, que foi agrónomo.
E o que farei dos meus novos amigos, Virgínio ?
Faz como o vinho, Zé Manel,
se forem bons,
mete-os a envelhecer em cascos de carvalho.
E por que é que os amigos dos meus amigos meus amigos são ?
É como os filhos do meu filho, serão dele ou não…
Que ao menos, Jorge, cresçam Narcisos no teu jardim.

Que sei eu, meus amigos e camaradas da Guiné ?
Só sei do desalento
e da morte na alma
e da terrível secura na garganta
e das lágrimas que não podíamos chorar
quando trazíamos, do mato, os camaradas  mortos,
às costas...
Só damos valor às coisas, Reis,
o Humberto, o Ilídio (e quem mais ?),
quando elas nos faltam,
e aos amigos
quando fazemos o luto pela sua perda.

São tantos os estereótipos, meus amigos e camaradas,
sobre os amigos e a amizade.
Não falo, Nino, dos teus inimigos
que esses são os mais previsíveis,
estão sempre do outro lado da ponte,
que à volta eles cá te esperam.
Amigo verdadeiro, esse vale mais do que dinheiro,
meu pobre Amadu Dajaló,
bom crente, bom muçulmano,
bravo combatente,
leal aos teus amigos tugas,
tu a quem já te acusaram de mercenário.
Mas vale a morte que tal sorte,
quando os amigos que tens não os tens.
Como os velhos elefantes, voltas para o teu chão,
para morrer entre os teus
e seres enterrado debaixo do teu poilão.
O próximo teste, Henriques,
é quando ganhares o Euromilhões.
Ou quando ficares esticado no caixão,
ao comprido:
será que lá terás  todos os gatos pingados da companhia ?
Antes boa que má companhia,
nem que seja a do gás e electricidade.
Amigos, amigos, negócios à parte,
dizia o nosso primeiro,
que quem vai à guerra dá e leva.
Quem te avisa, teu amigo é,
li uma vez no bilhetinho anónimo
do tempo da delação e do inquisidor-mor.
Quem seu amigo quiser conservar,
com ele não há-de negociar.
E será que se pode blogar ?
Longe da cidade,
tanto melhor.

Mas... quem tem amigos, não morre na cadeia,
nem no exílio, dourado,
seja feio ou belo,
e mesmo que se chame José, o viking.
Um rico avarento não tem amigo nem parente.
As boas contas fazem os bons amigos.
Ao bom amigo, com o teu pão e o teu vinho.
Ao rico mil amigos se deparam,
ao pobre até seus irmãos o desamparam.
Os camaradas dizem:
Lourenço, connosco ninguém fica para trás...
Aquele que me tira do perigo, é meu amigo.
Bocado comido não faz amigo,
porque não é partilha, Belarmino.
Defeitos do meu amigo ?
Lamento, meu caro Jorge, mas não maldigo
o teu alterego Cabral.
Em tempo de figos, não há amigos.
Chacun que se governe, Carlos,
em caso de peste (de que Deus nos livre!).
Ou de ataque de abelhas.
Ou de pânico.
Ou de fobia.

Muitos conhecidos, poucos amigos:
não é nenhuma heresia,
é palavra do Senhor,
e o Senhor esteja contigo,
meu camarigo Joaquim  Mexia,
e com todos nós, filhos da humanidade,
de Abel e Caím.
Guarda-te do alvoroço do povo, Martins,
 e de travar com o doido.

Mas se calhar não há maior amigo do que o Julho
com o seu trigo que dá pão.
Olha, mulher, se não tens marido,
pouca sorte a tua,
não tens amigo e acabas na rua.
Amigo mesmo é aquele que sabe o pior
a teu respeito
e mesmo assim... continua a gostar de ti,
mesmo que tenhas perdido a tua caderneta de vôo,
meu inFélix piloto de Allouettes...

Quando uma pessoa perde dinheiro, perde muito;
quando perde um amigo, perde mais;
quando perde a coragem e a fé, perde tudo.
Difícil, meus amigos e camaradas da Guiné,
é ganhar um amigo numa hora;
fácil é ofendê-lo
e perdê-lo num minuto.
José dixit, da sua janela do Fundão que dá para a Gardunha,
a Serra da Estrela e a cova da Beira.

Hoje é o amanhã
que tanto nos preocupava ontem, Mário,
li isto no teu diário,
nas páginas dos feriados  e dos Dias de Todos os Santos...
Mas não menos sábia do que a do meu amigo Cherno
é a sabedoria do mongol:
O vitorioso tem muitos amigos, fracos,
mas o vencido tem bons amigos, valentes.
E até o otomano aprendeu à sua custa:
Quando o machado entrou na floresta,
as árvores disseram:
- O cabo é dos nossos,
mas a lâmina de aço... não a estamos a reconhecer.
Resta-nos a doce memória do passado,
As toponímias da nossa peregrinação trágico-marítima,
do Pijiguiti ao Xime,
de Bolma a Buba.
O que foi duro de sofrer,
lá longe da Pátria,
é agora doce de recordar,
no lar, no doce lar.
Olha o Cufeu, Amílcar,
olha o Cufar, Fitas!
Planta hoje a semente da amizade,
mesmo que não sejas lavrador,
para colheres amanhã a flor da gratidão.
Ser amigo é ser generoso,
é dar antes de te pedirem,
é um gesto gratuito.
Quiçá o mais puramente gratuito dos teus gestos.
Ou será interesseira, a amizade ?
Para mim, não é  como dar aos pobres...
Aí emprestas a Deus,
tu que és Paulo e Lage, tu que és pedra,
e Deus paga-te em vida ou na morte,
com os dividendos do poder,
da glória,
da fama,
da riqueza
ou da eternidade.
Se estás tão cansado, meu amigo,
Junqueira, Condeço, Tavares,
que não possas dar-me um sorriso,
eu deixo-te o meu,
a ti que és Victor,
E In Hoc Signo Vinces.
Volta o teu rosto na direção do sol, Miguel,
que és o mais strelado de todos nós,
para que as sombras fiquem para trás.
Não, nunca digas:
- Chega-te para lá,
que me tapas o meu sol.
Por que o sol quando nasce devia ser para todos.
As lágrimas dos bons caem no chão,
para poderem vir a engrossar os rios da revolta
e da indignação.
Inútil tentares juntar as tuas mãos,
João, José, Joaquim,
se elas não estiverem vazias,
diz o meu guru do Tibete,
agrilhoado.
Os amigos escolho-os eu,
os parentes são os que Deus me deu.
Quando estás certo,
ninguém se lembra;
quando estás errado,
ninguém esquece.

À laia de conclusão,
meu amigo e camarada,
de A a Z:
Antes de começares o trabalho de mudar o mundo,
dá  três voltas dentro de tua casa...
E sobretudo não esqueças a lição
sobre a parábola da Sabedoria e da Asneira:
Para os erros alheios
temos os olhos do lince;
para os nossos próprios,
os olhos da toupeira.

Luís Graça

18 comentários:

Anónimo disse...

Camarada Luis a tua noite de insónia foi muito produtiva fiquei encantado com este teu Hino á Amizade.OOBRIGADÂO.
Um Abraço do tamanho do teu Geba,
que também foi meu em algumas navegações até Porto-Golo,Enxalé ou Ponta do Inglés.
José Nunes
BENG 447

Anónimo disse...

O teu poema é de insónia, quem as não teve já, meu amigo.
Que bela insónia se ela permitir depois um saudável e tranquilo descanso.
Não é na adversidade, no perigo e nos momentos de sobressalto que melhor sabemos apreciar o seu contrário?
Não é na guerra, com armas ou com palavras que mais valor damos ao amor, ao sossego, à paz e à amizade?
Depois do confronto não estamos de bem com os nossos antigos opositores, inimigos?
Que as insónias que nos perturbam possam sempre resolver-se com poemas, para que a pomba voe e leve a insónia para longe por mais uns tempos.
Esta é a vida de quem vive e convive. Ou não será?
Um abraço
BS

Juvenal Amado disse...

Luis
Só de ler fiquei sem folgo.
Quando não dormes fazes coisas destas?
Eu chateio-me e conto carneiros.
Bendita insónia a tua pelo prazer que nos deste com este poema, bem terra à terra.

Um abraço
Juvenal Amado

Anónimo disse...

Amigo Luís Graça:

Parabéns pelo excelente e longo poema que é um hino á AMIZADE, com que nos brindas a todos no blogue.

Se á conceitos na vida ás quais eu sou sensível, é a Amizade (com A grande pois claro), no seu sentido mais pleno.

É difícil para mim, decifrar o que está para além do poema, mas parece-me ser também um desabafo para com alguns amigos.

Excelente poema para quem teve insónias
Conta comigo Amigo.
Manuel Marinho

Jorge Narciso disse...

Amigo "novo" Luis

Também tu vogaste na noite

Só que a tua poesia não corresponde à foto que editaste, labirintica esta; clara, frontal e explioita aquela.
Benditas madrugadas de sexta (sejam 13, 25 ou 32) que permitem tais divagações

Abraço

JN

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Este trecho ressuma sabedoria!...Podia muito bem figurar no Livro da Sabedoria. Tudo quanto a musa te ditou está certo e bonito de se ler.
Parabéns Luís
Um abraço

Anónimo disse...

Amigo,
faltou lembrar que os amigos também podem vir do Céu aos "trambolhões".

... não adormeças. Cultiva essas insónias , pensamentos maiores, que os amigos agradecem.
...quem se lembrou do inimigo ?
Jorge Félix

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Antonio Graça de Abreu disse...

Obrigado Luís.
Tu sabes das coisas grandes da vida.
Um forte abraço,
António Graça de Abreu

Zé Teixeira disse...

Djarama anáni Luís.
Tanges as palavras como o pianista tange as teclas do piano.
Umas vezes, a maioria, com tanta suavidade, que faz elevar o espírito aos píncaros da paz interior, outras vezes, com "violência" que faz estremecer o corpo e a mente.
A amizade foi o tema escolhido para nos deliciares. Nota-se no entanto que activaste, talvez sem querer a úlcera de dor e raiva, pelo sangue derramado de forma tão inglória e ingrata, que teima em andar dentro de nós. Injectaste-a da esperança de que apesar de tudo a paz é possível, quando a amizade e a fraternidade forem as armas dos "senhores da terra". Quando eles quiserem servir-se das armas das palavras para promover o exercício do amor e deixarem de fabricar as armas da guerra, adaptando-as à produção de pão para matar a fome dos que vivem com menos de um dólar por dia.
Obrigado Luís, por partilhares connosco o que te vai nas profundezas da alma.
Agora é a minha vez de perguntar, quando aparece o teu livro de palavras que o vento não levará, porque conseguem gravar-se no coração dos homens. Pelo menos, no coração dos homens que foram forçados a viver uma aventura na guerra que não queriam fazer, porque guerra é prenuncio de morte e o homem foi criado para viver.
Zé Teixeira

Anónimo disse...

Amigo!

Que tenhas muitas noites

de Insónia e Lucidez,à frente

deste nosso Blogue,que só terá

sentido,enquanto lugar de Respeito

e Amizade.

Abração Jorge Cabral

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro Luís

Belo e profundo poema! Abençoada insónia!

Permite-me que comente dizendo que para mim a amizade não se define, vive-se.
Como amor que é, a amizade enfrenta as mesmas lutas, as mesmas alegrias, as mesmas exaltações, mas também mesmas dificuldades, as mesmas zangas, mas quando é verdadeira, tal como o amor, acaba sempre por vencer.

Jesus Cristo diz-nos que os mandamentos se podem resumir a dois: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Curioso como parece ser muito mais fácil cumprir o primeiro, do que o segundo.

O “problema” é que Ele mesmo nos diz «que não podemos amar a Deus que não vemos, se não amarmos o próximo que vemos.»

Por isso mesmo, a amizade envolve uma entrega e essa entrega consubstancia-se também em ouvir e ser confrontado por vezes com aquilo que não nos agrada por parte do amigo, perdoar e perceber, mas também responder e esperar do amigo o mesmo procedimento.

Sei que me percebes.

Abraço camarigo para ti e para todos

António Matos disse...

Eu já apresentei as minhas despedidas mas reconheço a necessidade de varrer uns grãos de areia que por ventura tenham ficado à soleira da porta para que os meus amigos possam, sem embargo, entrar na minha morada ( virtual que seja ) sem o perigo de tropeçarem em algum escolho esquecido no calor da refrega .

Não me bafejaram, dizem, o engenho e a arte para que, por escrito, cativasse as simpatias de quem tenha tido a paciência de me ler.
Se não cativei as simpatias, muito menos o consenso, digo eu.

Felizmente !, até porque sou um acérrimo opositor dos consensos .

“Nas democracias actuais, cada vez mais cidadãos livres se sentem aprisionados, presos por um tipo de doutrina envolvente que, insensivelmente paralisa todos os espíritos rebeldes, inibindo-os, perturbando-os, paralisando-os e acabando por suprimi-los.” ( Ignácio Ramonet dixit a propósito do pensamento único ).

Quando tal não acontece, regurgitam os orgulhos feridos e sublevam.-se os poderes instituídos numa relação inversamente proporcional a uma cultura democrática não vivida.

Daí à guerra, é uma questão de tempo.

Não me foge a veia para a vertente poética, quiçá mais apelativa, mas não virá daí mal ao mundo pois defendo que a cada macaco o seu galho !
O meu ( galho ) não é, definitivamente, o literário ainda que o aprecie sobremaneira .

Desengane-se, pois, quem julgar incomodar-me ao lançar sarcasticamente às feras amestradas essa minha incapacidade.
Poder-se-ia ter poupado tempo se mo perguntassem que vo-lo teria confirmado sem qualquer rebuço.

Duma coisa me ilibo na crítica honesta ; num ambiente de tabanca , as palavras brotam sem grande filtragem no crivo linguístico-semântico e atribuir-lhes a nossa “pretensa e mais conveniente” interpretação é um exercício de pouca criatividade intelectual e duma arrogância intolerável.

Contudo, há quem, concordando ou não com o que se escreve, consiga o distanciamento necessário a uma tradução isenta de sensibilidades fingidas e tenha a ética de o dizer abertamente .
A todos esses que me fizeram chegar mensagens de compreensão ( não confundir com passagens de mão pelo pêlo ) retribuo-lhes o grande respeito que uma sã convivência requer.

Luís Graça, avaliando sumariamente as tuas apetências, direi que és um verdadeiro macacão ( sei que percebes a ternura do termo ) pois tens vários galhos onde te empoleiras soberbamente.
Importa-me aqui e agora referir-me ao poeta que há em ti , mesmo em noites de insónia!
Poeta da rima da vida, dos encontros e dos desencontros, das amizades feitas na guerra e na paz e engrandecidas no luto.
Considero muito bem conseguida esta prosa poética com que me (nos)presenteaste.
Fica para mim a interpretação que lhe dei e só não a divulgo porque a obra do artista é para ser contemplada à luz das sensibilidades individuais onde os opostos convivem pacificamente sem necessidade de se agredirem.

Recebe um grande abraço e permite-me fazer do blog a plataforma rotativa que “dispare” em direcção a todos e a cada um dos tabanqueiros e os cumprimente com amizade.

António Matos

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas:

1. O meu mal amanhado (de manhã...) blopoema, saiu com gralhas... E por outro lado, já provocou alguns estragos no moral das tropas... Daí ter-lhe acrescentado esats instruções (que, por óbvias, deviam ser desncessárias):

"Para ler com o melhor sorriso da Gioconda. Para todos os amigos e camaradas da Guiné que, sendo-o, são meus amigos e camaradas. Esta adenda impunha-se, por causa das minas e armadilhas da comunicação humana"...

Luís Graça
luis.graca.prof@gmail.com

Luís Graça disse...

Porque o nosso Vasco (da Gama) se sentiu "mortalmente atingido" pela minha mbrinadeira poética, em mail privado (que ele não quis, e ainda bem, divulgar), eu senti-me na obrigação de esclarecer o seguinte através da nossa "intranet":~

Vasco:

Isto já é tragicomédia!... Agora, deste-me vontade de rir, de orelha a orelha... Porra, não é nada contigo, ou melhor, é contigo e para te dizer que és um dos grandes camaradas e amigos que eu prezo, no nosso blogue... Eu não me queixo de ninguém em particular, e muito menos de ti, que tens sido sempre de um exemplar trato comigo e com os demais!!!...

Onde lês "Vasco", podia estar "Diniz" ou "Sousa" ou "Levezinho"... Vasco, acredita, foi apenas um recurso estilístico do meu arsenal literário: POR FAVOR, NÃO INTERPRETES À LETRA O QUE EU ESCREVI, SOB EVOCAÇÃO DO TEU NOME !!! ...

Para já, há mais três Vascos na nossa Tabanca Grande... Como há muitos Antónios, e Jorges, e Joaquins...

VÊ ANTES UMA HOMENAGEM, UM GESTO DE CUMPLICIDADE, UM SORRISO MAROTO, M DESAFIO, UM REPTO... O meu receio é que os outros VASCOS, JOSÉS, etc. se sintam discriminados... Infelizmente não consegui pôr o "nosso batalhão" todo no meu poema... das insónias...

É um texto que tem uma função de catarse... Reconheço que a passada 6ª feira foi um pouco pesada, um daqueles dias que a gente recordará mais tarde, a sorrir, com um sorriso amarelo, ou a à gargalahada, porque parece mesmo uma das daqueles sextas-feiras 13, onde corre tudo mal, de manhã à noite, e em que o silêncio pode parece o melhor remédio...

Desculpa, meu caro Vasco, e todos os demais camaradas, se vos preguei algum susto...Já não temos idade para pregar sustos uns aos outros...

Se por acaso saíste (ou estavas a pensar sair) pela porta pequena, FAZ-ME O FAVOR DE REENTRAR PELA PORTA GRANDE e com direito à FANFARRA DA TROPA!!!

Que ninguém se sinta atingido pelo meu blogpoema... Pelo contrário, ele é uma homenagem a todos vós, porque os camaradas e amigos do nosso blogue meus camaradas e amigos são!!!

Luís, Ano VI

Anónimo disse...

Em resposta à troca de e-mails entre os camaradas Luís e o Vasco, enviei aos dois o seguinte e-mail:

"Camaradas Luís e Vasco,

A "maçaricada" não tem nada que se meter em assuntos da "velhice" e muito menos que lhe dar conselhos. Perante a "velhice", o "maçarico" mantém-se em respeitinho (que é muito bom). Ainda por cima nem tive o privilégio de ser o velhinho mais velhinho do meu sítio. Estava lá sempre o "eterno" Sarg Ajd Chagas para me lembrar que velhice só há uma, a do Chagas e mais nenhuma.

Mesmo assim...

Li o bonito poema do Luís como um desabafo de quem está triste, mas não zangado. Não entendi como recados a camaradas a inclusão dos seus nomes (ou que supomos - cada um à sua maneira - que se referem aos camaradas tal ou tal). A leitura que fiz da passagem em que se fala em Vasco é a seguinte: "Porque o amigo é isto - 'tens razão', Vasco, - é para se usar, se guardar e se resguardar". Peço-vos que acreditem que foi mesmo assim que li. Nunca me passaria pela cabeça que o nosso comandante-em-chefe pudesse estar a criticar um dos seus mais competentes e dedicados colaboradores. E, como é evidente, não estava.

Um abraço daqui do meio do Atlântico,
Carlos Cordeiro"

Anónimo disse...

Caros camaradas,

Enquanto piriquito ficarei de lado. Enquanto "camarada", caramba, tenho a certeza que essa não é nem pode ser uma palavra vã.
Todos nós temos responsabilidade para que não seja.

Deixem-me sugerir um provérbio chinês já muito antigo: vamos esperar pelo dia de amanhã para ver o que o tempo nos trás.

Um abraço amigo,
José Câmara

Luís Graça disse...

António Costa:

Os teus comentários, a propósito do nosso blogue, são certeiros, oportunos, pertinentes... E eu assino por baixo. (Ficar-me-ia mal ser eu a defender a importância relativa do blogue associada à gestão da memória da guerra colonial na Guiné; fico, pois, feliz por haver alguém, e para mais, com a respeitabilidade e o prestígio que o António Costa já granjeou no nosso blogue, independentemente do seu currículo profissional como militar de carreira, a dar a cara pelo nosso blogue e o que ele representa para todos nós ou para muitos de nós).

Julgo que, tal como eu e outros leitores "menos apressados" (ou "mais avisados"), tu viste o texto do Branquinho - deliciosamente irónico, mas a raiar a "quase provocação" - como uma brincadeira, uma paródia, inspirando-se no estilo do escritor e dramaturgo Sttau Monteiro, autor da conhecida peça de teatro "Felizmente há Luar" (1961).

Recorde-se que, entre 1969 e 1980, Luís de Sttau Monteiro (1926-1993) publicou as «Redacções da Guidinha», primeiro no já extinto "Diário de Lisboa" (suplemento A Mosca), antes do 25 de Abril, e depois em "O Jornal" (também extinto), já em democracia, até por volta de 1980.

Sempre fui fã do humor saudavelmente provocatório das "redacções da Guidinha", sobretudo até ao 25 de Abril de 1974. Independentemente do talento literário do autor, as "redacções da Guidinha" foram uma das formas que os portugueses encontraram para "fintar" a censura à imprensa (ou "exame prévio", como se dizia eufemisticamente no consulado marcelista, lembram-se ?!)).

Julgo que alguns dos nossos leitores "levaram a sério" (isto é, "à letra") o Branquinho, não dando conta do seu registo humorístico, da sua ironia, do seu segundo sentido... Eu gostei e diverti-me.

Já tenho, de resto, ouvido, várias vezes, alguns dos argumentos invocados pelos críticos (não lhe vou chamar "inimigos", que em democracia não há "inimigos") do blogue: que o blogue "já cheira mal", que a malta está "xéxé", que somos um cambada de "masoquistas", que gostamos de mostrar as chagas do corpo e da alma, que andamos a armar em "heróis de opereta", que temos esquecido, ignorado e até maltratado os verdadeiros heróis desta guerra, que somos uns "basófias", que já não há nada de novo sobre a guerra que travámos na Guiné, que somos tendenciosos, que temos um complexo de culpa, que armámos em ricos benfeitores para ajudar os pobrezinhos da Guiné, que tudo o que é demais tem demasia, que não somos capazes de discutir com elevação e tolerância, etc. etc.

Eu acho que o Branquinho quis dizer, muito simplesmente, o contrário: que houve uma guerra e que os que a fizeram, de um lado e do outro (e que tiveram a sorte de sobreviver) têm direito a sentar-se "à volta da fogueira" (ou "debaixo do poilão"), a relembrar os mortos e os vivos, e as pequenas e grandes batalhas que travaram, incluindo as peripécias do seu dia a dia em aquartelamentos, destacamentos e tabancas em autodefesa da ex-Guiné portuguesa (quotidiano esse que tinha muito pouco ou nada de romântico, heróico, grandioso; sem esquecer os nossos camaradas que tinham de andar pelo meio aéreo ou aquático).

Já passei, algumas vezes, por essa experiência (desagradável) de ser "mal interpretado" pelos amigos e cmaradas da Tabanca Grande...

Recordo uma das últimas, com o poste que cito abaixo (e que chegou a provocar até pedidos de demissão da Tabanca Grande, logo retirados depois de alguns telefonemas a esclarecer o "sentido do poema")... De qualquer modo, reconheço que "devemos brincar com o fogo"... Quando eu era pequenino, ameaçavam-me com o castigo: "Mexes com o fogo, logo vais vais fazer chichi na cama"...


21 de Novembro de 2009
Guiné 63/74 - P5309: Blogpoesia (58): Para os amigos e camaradas da Guiné que esta noite tiveram insónias (Luís Graça)