sábado, 14 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5270: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (18): O Jorge Narciso e o Humberto Reis reencontram-se, 40 anos depois...

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > O Fur Mil At Inf Op Esp Humberto Reis, à civil, no aquartelamento de Bambadinca

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > O Fur Mil At Inf Op Esp Humberto Reis, em cima do mais famoso bagabaga de Bambadinca.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento do Rio Undunduma, na estrada Bambadinca-Xime > O Humberto Reis pescando à linha, enquanto os soldados fulas, do 2º GR Comb, se refrescam...

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento do Rio Undundama > O Humberto Reis na ponte do Rio Undunduma.

Fotos: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

1. Comentário do Jorge Narciso, Ex-1º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12 , 1968/69, ao poste P5255 (*):

Caro Luís

Agradeço as palavras que me dirigiste nos comentários ao P 5255, onde aliás acabei de postar um novo comentário. Como podes verificar, ali procuro responder, até onde a memória o permite, às diversas questões colocadas.

Em relação ao [Jorge] Félix vou-lhe proximamente enviar um mail.

Também lá deixei o meu endereço electrónico, nomedamente para que fique disponível para o Humberto Reis (a quem te peço chames a atenção para o facto), com o qual, e fruto duma enormíssima coincidência, parece estar a acontecer um reencontro, de cuja génese não tenho pistas.

Já agora e que falamos de coincidências, por circunstíncias várias, apesar da minha raíz ser mais à volta de Lisboa (Sintra, em mais de 2/3 da minha vida), estou neste momento a viver mais de 50% do meu tempo no Cadaval, onde trabalhei e tenho uma casa há 12 anos, a minha mulher passa lá já praticamente todo o tempo porque já se aposentou.

Para mais proximidade geográfica com as tuas origens: a namorada/companheira do meu filho é da Lourinhã (o irmão é o comandante dos Bombeiros) e estive praticamente com comissão coincidente com o [Manuel do] Rosário (Electricista dos Helis), com que jamais me encontrei e que já constactei, conheces bem.

A Guiné era pequena, mas cá o burgo, como bem sabemos também o é, nalguns aspectos aliás e infelizmente até infimo.

Recebe um abraço

Jorge Narciso


2. Resposta de L.G.:

Meu caro Jorge:

Não eram precisas tantas coincidências, bastava-me o teres feito a Guiné, a guerra da Guiné (de resto num período que coincidiu com a minha comissão de serviço, minha e do Humberto - éramos furriéis, operacionais, de uma companhia de nharros, a CCAÇ 12, e companheiros de quarto - para te convidar a integrar a nossa Tabanca Grande...

As nossas regras do jogo (ou de convívio...) constam da coluna do lado esquerdo do blogue; e a jóia de ingresso são apenas duas fotos (uma antiga e outra actual) + 1 história... A história já está contada e publicada. Manda as fotos (e mais histórias...). Será uma honra acolher mais um camarada da FAP que bateu a zona leste...O Humberto vai ficar radiante... (Foi ele que nos forneceu todos os mapas da Guiné)...

Espero um dia destes encontrar-te na Lourinhã... Tenho uma sobrinha, Cristina, professora, casada em Vilar, Cadaval, com o Rui, trintões e muitos. Um Alfa Bravo. Luís

3. Mensagem do Humberto Reis, ex-Fur Mil At Inf Op ESpeciais, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969/Março de 1971):

Meus AMIGOS: Nem sei por onde começar:

(i) O meu 1º encontro desesperado com o Jorge Félix foi em 29 Julho 69, conforme já contei aqui. Estava o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 em Madina Xaquili (**) com feridos graves resultantes da flagelação da noite anterior e sem meios rádio para pedir ajuda.

Um héli voava à vertical de Madina e começámos a esvoaçar os camuflados na tentativa de chamar a atenção da tripulação, o que conseguimos. Ele aterrou e não podia fazer mais nada, pois levava alguns pára-quedistas a bordo, mas via rádio pediu as evacuações de que tanto estávamos necessitados, bem como de munições, pois o stock durante a noite anterior tinha atingido o limiar da pobreza. Pouco tempo depois apareceram 2 hélis, um para levar os feridos e outro com munições para repor o stock.

(ii) Quanto à história do Narciso, ele atravessa-se na minha vida da Guiné quando eu voei várias vezes com o ex-Fur Mil Pil Rui Branco (que rica seita com o Félix, o Manuel Santana aqui de Sete Rios, o cap Morais da Silva, que substituiu o Canibalão cap Cubas, o grande amigo Ramos com quem troquei o boné azul, o Pinho, etc.).

Aliás, nas poucas vezes fui a Bissau, fiquei normalmente hospedado nos quartos dos pilotos na BA12. O Rui Branco era irmão - penso que ainda é, se forem vivos, pois já lhes perdi o rasto - do Armando Branco, meu colega na empresa Luiz Bandeira, Lda., empresa de ar condicionado, onde comecei a trabalhar como trabalhador-estudante no gabinete de Estudos e Projectos, antes de ir para a tropa.

Estava ainda a fazer o curso no antigo Instituto Industrial de Lisboa, agora denominado Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (anos sessenta). Por sinal, coincidência das coincidências, trabalhava lá o ex-Fur Mil Fausto Brito dos Santos, que tinha feito o serviço militar em Angola e que é tio do Jorge Narciso.

Já não sei precisar, passaram-se 40 anos, se foi quando vim cá de férias e visitei a empresa, ou depois de ter regressado definitivamente do serviço militar, que em conversa com o Fausto, falando de helicópteros, ele me referiu que tinha um sobrinho, de nome Narciso, mecânico de Al III. Até estranhei porque o tio pouco mais velho era que o sobrinho. O Fausto deve ter +/- 66 anos e o Jorge Narciso +/-61. Naquela altura a minha memória era melhor que a de um elefante, ao passo que agora é parecida com a de um cágado.

Ainda acrescento mais um episódio. Eu só conheci o relacionamento familiar do Rui Branco (e já tinha voado com ele e julgo que com o Narciso) em Dezembro de 1969 quando fui ao Hospital Militar em Bissau e encontrei uma noite o Armando Branco em Bissau velho, na companhia do pai e do Rui. Qual não foi o meu espanto encontrar tão longe de Lisboa o Armando, e aí ele explicou-me que o Rui era seu irmão, e que ele e o pai tinham resolvido ir a Bissau passar o Natal com o Rui.

Vejam as voltas que, desculpem a expressão, a PUTA DA VIDA DÁ. Como eu sei do Jorge Narciso e o relacionamento com o Rui Branco.

De facto a história é feita de estórias. Lembro-me de uma lenga-lenga antiga dos meus tempos de estudante em que se dizia que “ a história é uma sucessão sucessiva de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar”. É tal e qual como “a minha vizinha que tinha tinha e dava tudo quanto tinha para tirar a tinha que na cabeça tinha.

Narciso, quando vieres aqui, à província, diz qualquer coisa para se tentar um encontro (Lisboa, Alfragide, aeroporto), mesmo que já não nos reconheçamos, havemos de levar, como a história do outro, A Flama, ou o Século Ilustrado, debaixo do braço como identificador. Podes divulgar ao teu tio o meu contacto de mail e o nº do móvel 918 776 460.

Por hoje é tudo

Aquele ABRAÇO

Humberto Reis

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5255: A tragédia do Saltinho: o Canhão s/r 82 B10, russo, que provocou a morte do 2º Srgt A. Duarte Parente (J. Narciso / P. Santiago)

(...) Comentário de Jorge Nraciso:

Caros Luís, Félix e Humberto

Aqui vão, da forma mais sintética possível, as respostas às várias questões colocadas e uma nota prévia.

Nota - Como a FAP fez o favor de perder (?) a minha caderneta de voo, os factos e datas relativos à minha estadia na Guiné, são os registados na minha memória e dalguns companheiros da época com quem me vou encontrando e falando destas coisas (já lá vão 40 anos).

Mesmo assim - mesmo assim !!!... Consigo por exemplo, recordar-me, sem grandes falhas, de praticamente todo o pessoal com quem convivi na linha da frente dos All III(e foram muitos, pois as rendições na FAP - excepto a dos páras - eram todas individuais) , nomeadamente: Mecânicos, Pilotos e Enfermeiras.

Dalguns voos (nomeadamente os mais "apertados")lembro-me com quem os realizei, da grande maioria dificilmente. Terei voado seguramente com perto, senão mais, de 20 pilotos diferentes.

Mas vamos aos facto:

- Questões do Luis:

Sinceramente (e pelos motivos que atrás refiro) não me recordo quem foi o Piloto da evacuação do Parente, apenas uma vaguíssima ideia, que poderá ter sido o Ramos (Fur).

Relativamente ao meu endereço e para que conste, aqui vai:
narcisoj@mail.telepac.pt .


Do Félix (a quem envio desde já um abraço e posteriormente um mail, recordando nomeadamente uma viagem com a 'famosa Cilinha') (Foto, à esquerda, do Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil, Bissalanca, BA 12, 1968/70) (***):

- digo que faço anos a 26 de Maio (não a 12 de Agosto) e cumpri esse aniversário (20º) exactamente um mês depois da chegada à Guiné (26 Abril de 1969).

Também aí não consigo precisar quem foi o piloto - mas podes perfeitamente ter sido tu. Até breve.

Finalmente a questão do Humberto:

- Como, independentemente da sua existência, não acredito em bruxas, e porque sou efectivamente sobrinho do Fausto que vive em Moscavide (e que esteve em Angola) e porque naturalmente voei mui~tíssimas vezes com o Branco, algum dado me está a escapar em relação ao nosso mútuo conhecimento (talvez por o neurónio onde ele estava registado se ter entretanto reformado - estou a naturalmente a brincar); agradeço-te alguma pista mais precisa que me ajude a recordar-te.

E como este já vai longo
Um abraço comum

Jorge Narciso


(**) Vd. Blogue, I Série, poste de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969) (Luís Graça)


Sobre Madina Xaquili, vd. ainda postes de:

28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)

8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)

21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)

28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)

6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)

26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)

(***) Vd. alguns dos postes de (ou sobre) o Jorge Félix, do ano em curso:

28 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5176: FAP (35): O trágico acidente aéreo de 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa (Carlos Coelho / Jorge Félix / Jorge Narciso)

22 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4991: FAP (34): A heli-evacuação do malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar em 18/2/1970 (Jorge Félix)

3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4635: FAP (31): Uma viagem de heli a Bafatá, em 1969, com o cmdt Diogo Neto e o casal Ivette e Pierre Fargeas (Jorge Félix)

1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)

16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)

Postes anteriores a 2009:

27 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2587: Gandembel: Será que ainda estão vivos os jovens que eu evacuei, em Outubro de 1968 ? (Jorge Félix, ex Alf Mil Piloto Aviador)

28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2627: Vídeos da Guerra (8): Nha Bolanha (Jorge Félix, ex-Alf Mil Piloto Aviador, 1968/70)

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

30 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3380: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (10): Quando a guerra era com os copos... ou o elogio do Tosco, em Lisboa (Jorge Félix)

6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3412: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (11): Ainda o Honório, o Jagudi... ou o puro gozo de voar (Jorge Félix)

1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3546: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (14): Em Junho de 69 havia bajudas a alternar no Tosco, na Conde Redondo (Jorge Félix)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3604: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (15): Eu, o Duarte, o Coelho, o Nico... mais o Jubilé do Honório (Jorge Félix)

16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)

1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)

1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caros amigos e camaradas

Conforme se comprova por estes textos, o nosso Blogue é um local de terapia, de emoções, de 'estórias', de História, e de muitas outras coisas entre as quais estes 'encontros' de quem já se tinha cruzado na Vida e que agora lhe foi possibilitado o reencontro.
É sem dúvida um local de afectos e não devemos perder essa orientação, mesmo quando temos que discordar uns dos outros, quando se for esse o caso.
Um abraço
Hélder S.