quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5254: Memórias de Mansabá (10): Uma história de passarinhos (Carlos Vinhal)

1. Uma história de passarinhos
Por Carlos Vinhal*

Não sendo propriamente um menino da mamã, era um super protegido ou não fosse filho único, tesouro de seus pais. Tinha no entanto permissão de brincar no parque infantil que era a nossa rua. Brincava-se à vontade porque o trânsito automóvel se limitava à passagem esporádica do senhor Artur, conceituado merceeiro da zona, que tinha um belíssimo automóvel preto.

Tudo era motivo de brincadeira, o arco e a gancheta, o pião, os cabazinhos ou sameirinhas (cápsulas dos refrigerantes), a bola, uma casca de fruta ressequida para com ela jogar à casquinha, uma bola feita com meias supostamente velhas surripiadas em casa, etc, etc.

Na minha rua, no meio das brincadeiras e do alarido dos rapazes, passavam em graciosos, rasantes e velozes voos, as andorinhas-dos-beirais. Tinham, como o seu nome indica, os seus ninhos nos beirais das nossas casas que invariavelmente reutilizavam em cada Primavera. Já nos deviam reconhecer dos anos anteriores, embora notassem aqui e ali a falta de algum que já não fazia parte das brincadeiras por ter crescido. Outros que tinham vindo de novo para aquele parque infantil que na rua montávamos diariamente.

Ainda se podiam ver os pardais, pássaros menos graciosos, mais barulhentos e desajeitados que nascem, crescem e morrem em Portugal, mas que não andam em Portugal. E esta?

Havia ainda umas avezinhas muito elegantes, graciosas que se assemelhavam às andorinhas, mas mais claras na sua penugem, as lavandiscas ou chirinas, chirininhas como lhes chamávamos.

Havia ainda os pombos correios que alguns vizinhos reproduziam em cativeiro. Ao fim da tarde eram soltos dos pombais para darem umas voltas pelas redondezas para manterem a sua forma de modo a poderem competir nos fins de semana que se aproximavam.

Em matéria de aves, limita-se a estas o meu conhecimento. Nunca fui de andar aos ninhos por achar um atentado mexer nos ovinhos, uma vez que depois as mães os rejeitavam. Ir assustar as indefesas crias no cantinho do seu ninho também estava fora de causa para mim.

Esqueci-me de referir uma aves enormes que por aqui voavam, e ainda voam felizmente, dada a proximidade do mar, as gaivotas.

Deixo aqui um parênteses para dizer que as andorinhas desapareceram definitivamente desta zona. Nunca mais voltaram. Será que morreram todas e acabou a Primavera sem o sabermos?

Quem, dum meio relativamente urbano, se encontra de repente no meio dos matos de África, fica extasiado com a profusão de bicharada e de aves, particularmente. Todas as cores, tamanhos e sons. Lindo mesmo.

Nos fins de dia, quando havia oportunidade para tal, gostava de me sentar sozinho na esplanada da Messe a apreciar a passarada que ao pôr-do-sol voava por aqueles céus. Quem não se lembra da elegância do voo do jagudi lá muito no alto, aproveitando a força de sustentação do ar quente?

De entre as muitas árvores que havia no interior do quartel de Mansabá, uma se destacava pelo seu porte, com uma copa enorme, muitos metros de perímetro seguramente. Estava no enfiamento da nossa messe e situava-se junto do Posto do Administrador. Era lindo de ver a passarada em enormes bandos que dela emanava ao fim do dia. Com o cair da noite saiam em voos rápidos em direcção ao horizonte. Espectáculo que ainda hoje recordo. Que tipo de passarinhos eram aqueles que, aos milhares, voavam de noite? Não conhecia nenhuma espécie que se dedicasse ao voo nocturno, mas que os havia, havia, porque eu estava a vê-los.

Só muito tarde vim a saber, sem perguntar, que os ditos passarinhos eram, nem mais, nem menos, que bandos de morcegos que iam à sua labuta nocturna, lutar pela sobrevivência.

Os passarinhos, lá como cá, à noite refugiam-se nas árvores, os morcegos desprendem-se delas.

Mansabá, 28NOV71 > Fim da tarde de domingo, na esplanada da messe

Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art.ª MA
CART 2732
Mansabá
1970/72
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4079: O trauma da notícia da mobilização (3): Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5252: Estórias avulsas (57): Funeral na Guiné – Refeição melhorada

19 comentários:

MANUEL MAIA disse...

CARO CARLOS,

AS ANDORINHAS AGORA SÃO MUITO MAIS SABIDAS...

QUANTO AOS MORCEGOS GUINÉUS,CURIOSAMENTE NUNCA VI NENHUM,
PARA ALÉM EVIDENTEMENTE DA SUB-ESPÉCIE VAMPIRÍCA,ESSA SIM EM LARGA PROFUSÃO ESPECIALMENTE EM BISSAU,A NÍVEL DAS VÁRIAS REPS...

TINHAM SOBRE A ASA,A NÍVEL DAS OMOPLATAS,UMAS TIRAS AMARELAS GROSSAS E OUTROS ATÉ UMAS ESTRELINHAS...

FELIZMENTE DEIXEI DE OS VER MAS QUE NOS SUGARAM O SANGUE A TODOS É A ENORME VERDADE.

UM GRANDE ABRAÇO

MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Caríssimo Carlos Vinhal.Eu já esperava,ou melhor,eu já sabia! E como tao bem Manuel Maia acaba de escrever,isto de pássaros,passarinhos,passaroes e outras alimárias-de-asa tem muito que se lhe diga,pois,na verdade,muitos deles voavam muito próximo das "estrelhinhas".E já agora que estamos dentro da ornitologia,e como velhos Soldados d'Antanho que somos,nao serao de esperar alguns comentários quanto ás....."passarinhas" da Guiné?José Belo.

Anónimo disse...

Caro Vinhal
Ao fim de uns dias, num pico descendente de febre -abençoado ben-u-ron- abri o computador. O e-mail olhei estarrecido com tanto escrito...e vim ao Blogue. Devagar, devagarinho li o teu texto e recordei o meu passado não tão citadino, mais de visitar os ninhos ou acariciar a passarada com fisgas e "flauberts". Depois na Guiné eram muitos e lindos. Avisavam turras e portugas...deixemos a guerra, as guerras e ler um escrito assim quebra mesmo "tanta Contenda e eteceteras"
Escreve mais,pouco vagar eu sei, mas afasta a violência...
Abração Torcato

Luís Graça disse...

Carlos, mas que ternura!... Habituado que estamos a ver-te a editar a prosa dos outros, é uma surpresa "apanhar-te em flagrante delito literário"... Ficas obrigado a levar à rua esse outro poeta e prosador que há em ti...

Como agradecimento, deixo-me aqui um mimo, os versos do Afonso Lopes Vieira, que aprendíamos a decorar a recitar na 2ª classe... Poesia ecológica, "avant la lettre"... Lembras-te ?

Os Ninhos

Os passarinhos,
Tão engraçados,
Fazem os ninhos
Com mil cuidados.

São p´ra os filhinhos
Que estão p'ra ter
Que os passarinhos
Os vão fazer.

Nos bicos trazem
Coisas pequenas,
E os ninhos fazem
De musgo e penas.

Depois lá têm
os seus meninos,
Tão pequeninos
Ao pé da mãe.

Nunca se faça
Mal a um ninho,
À linda graça
De um passarinho!

Que nos lembremos
Sempre, também,
Do pai que temos,
Da nossa mãe!

Afonso Lopes Vieira

In: Ministério da Educação Nacional - O Livro da Segunda Classe. 6ª ed. Porto: Editora Educação Nacional, de Adolfo Machado. 1958. p. 10.

alma disse...

Que surpresa, Carlos!

Tens Alma de Poeta!

Quanto aos morcegos,tive

a minha dose.No abrigo

em Missirá,ocupavam o 1ºAndar

e cagavam-me em cima...

Abraço.

Jorge Cabral

Hélder Valério disse...

Caro Carlos Vinhal

De quando em vez lá nos presenteias com uma prosa bem saborosa, um tanto ou quanto bucólica é certo, mas bem refrescante, no sentido de dar bons caminhos às idéias que vão aparecendo por aqui, nesta nossa casa...
Gostei e até me revi em algumas dessas situações quando mais 'atacado' por algum momento de melancolia lá me entretinha a observar os movimentos e volteios dessa passarada toda.
Já agora, e tendo em atenção o que o Luís escreveu, onde é que entra aquela parte de "Ninhos, ninhos, gosto tanto de os ver pelos beirais..." não me recordo do resto, mas era nesse poema do Afonso Lopes Vieira ou era noutro?
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Sr. Carlos Vinhal,
Que lindo texto. Parabéns.
Em relação às andorinhas, não morreram todas, não acabou a Primavera.
Na minha casa da aldeia, continuam a fazer novos ninhos e a usar os que lá ficaram de anos anteriores.
Filomena

Anónimo disse...

Caro carlos:
Lindo. Do que te conheço não esperava outra coisa.
Também, em Bafatá, fui muitas vezes à tabanca do Nema assistir à saida dos morcegos (com uns 50 cm de envergadura), em enormes bandos, para a sua noitada e a primeira coisa que faziam era, em voo rasante, beber água no Geba.
Fernando Gouveia

Anónimo disse...

Caro Amigo e Camarada. Dei-me ao trabalho de procurar na internet os tais morcegos por ti observados. Na zona de África em que a Guiné Bissau está situada existem,pelo menos,sete espécies diferentes destes "bicharôcos". O seu a seu dono! José Belo.

Anónimo disse...

Carlos Vinhal

Que ternurento! Que observador!
Se fosse eu a escrever sobre o tema,falaria de pássaros, passarinhos e passarucos, aves de arribação e cucos...
Posso sugerir outro tema?
Fala-nos dos insectos, por exemplo das variadas cores dos gafanhotos.
Ou outros aspectos da fauna guineense/africana.
Agora vou voltar a ler o texto...mas devagarinho.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Colaço disse...

Caríssimo Carlos Vinhal primeiro agradecer a tua carolice pois só assim é possível manter o blogue com a qualidade que lhe é reconhecida
Dizes:Pardais, pássaros menos graciosos, mais barulhentos, desajeitados que nascem, crescem, vivem e morrem em Portugal, mas que não andam em Portugal?
Havia na Guiné uns muito parecidos no seu porte físico, também não andavam na Guiné.
Só que tinham umas penas muito mais coloridas tanto o macho e até mesmo a fêmea.
Vem isto a propósito que o poilão do quartel do Cachil quase que tinha mais ninhos que folhas, até já enviei para o blogue uma foto onde chamava a atenção da quantidade de ninhos, mas que por qualquer motivo não foi publicada.
Não sei se era devido aos ventos, ou pela azáfama dos pais a darem-lhe de comer apareciam muitos recém nascidos no chão que só o que sabiam era abrir o bico.
Então eu mais o meu colega Joaquim da Lousa adoptamos cada um o seu pardal, no início a comida era gafanhotos, mas assim que se foram tornando adultos habituaram-se ao rancho comiam arroz, feijão e até vaca à jardineira.
Mas o importante destes dois passarinhos , é que não estavam presos eles faziam a normal vivência com os outros pássaros, mas vinham comer e dormir à gaiola que estava sempre aberta.
Um prazer que eles tinham era rasgar papeis, era engraçado a malta a escrever os aerogramas ele a um canto da mesa e mal a malta se descuidava dava uma bicada no aerograma e lá se pirava com bocado de papel no bico. A seguir vinha a participação do colega.
Colaço o teu pardal rasgou-me o aerograma, nunca foram punidos.
Percebiam algumas palavras ou gestos daquele que eles possivelmente consideravam pai,por exemplo eu dizia-lhe Chico e indicava-lhe o ombro e ele automaticamente poisava no meu ombro,não gostava de ser apanhado fugia sempre que possível.
Acompanharam-nos na ida para Bissau, depois em Bafatá o do Joaquim da Lousa acompanhou o dono pai até Cantacunda andava no seu vai e vem, e entrou para dentro do forno que tinha acabado de tirar o pão não resistiu à falta de oxigénio, quando o encontraram ainda abria e fechava o bico,não conseguiu recuperar e morreu.
O meu em Bafatá foi vitima de um gato vagabundo.
Caro amigo C. Vinhal aqui tens uma história verdadeira dos tais pássaros desajeitados.
Um abraço amigo e até à próxima
Colaço.

Anónimo disse...

Amigo Vinhal

Para completar o quadro dos meus verdes anos na aldeia, a que me transportaste com este teu belo texto,só me falta a noite luarenta e uma vara para girar e acertar nos morcegos que se aproximavam pensando que a ponta era um insecto (enganos de radar!!).

Tambem lá em casa havia dezenas de andorinhas nos beirais e na garagem.
Há quantos anos as não vejo!!

Assim como as boeirinhas, aquelas avezinhas simpaticas e "penagem cinza/branca, que andavam sempre a saltitar ,com um rabo comprido que "varria" o chão? Dizia.se até que era pecado mata-las,pois tinham sido elas que apagaram as pegadas de Jesus quando foi para o Egito.

Parabens,um abraço
Luis Faria

Anónimo disse...

Caro Carlos
Que beleza de texto com que nos presenteaste, para fugires à monotonia de editor (tarefa cansativa mas que executas brilhantemente sem te queixares ao "patrão") dos nossos textos.

E quanto à pose da foto?

Até parece que foi estudada para dares a sensação de que estavas de férias num paraíso tropical, bem longe de qualquer situação inesperada de fogo de artifício não programado!

Como sabes, pelo que já te contei, naqueles 52 ou 53 dias em que passei nessa instância de repouso, nunca saboreei um momento desses...
e por isso nem dei pela existência desses morcegos, ainda que recorde a frondosa árvore a que te referes e que julgo seria uma mangueira.

De morcegos só me lembro de um, mas que estava então em Farim...e voou não de noite, mas em pleno dia...para ver se iamos a Fátima a pé. Recordas-te?

De pássaros, passarinho(a)s e passarões, aves de rapina, melros e cucos...tantos havia por lá e até aqueles tecelões de que o camarada Colaço domesticou pelos vistos 2 e eram uma tremenda praga
porque limpavam o limbo das folhas do arroz (planta) e das palmeiras, para fazerem os seus lindos ninhos todos dependurados nos ramos das árvores.

Mas ninguém se confessou de como eles eram saborosos quando passados por uma sertã e regados com umas bazookas...!!!

Abraços a toda a Tabanca
Jorge Picado

Anónimo disse...

Depois de voluntàriamente(!)ter passado horas a percorrer a Internet em busca de apoios especializados quanto á existencia,e sub-espécies zoológicas dos morcegos da Guiné observados por Carlos Vinhal e muitos de nós,tive a percepcao de que muito se estava a falar de passarinhos(no masculino)e nada de passarinhas.Como os Camaradas bem sabem,os blogues sao lidos por muita gente,e, infelizmente nem todos compartilham a nossa saudável maneira de "estar".É em atencao para com possíveis mal-entendidos por parte de algum/alguma,extremista femenista,que acabei por sugerir algumas contribuicoes didáticas(!)quanto ás famosas passarinhas da Guiné.As horas passam,e a minha preocupacao aumenta quanto ao paradeiro"cibernético"do meu companheiro de pelotao,e querido Amigo,Zé Teixeira,a quem alguns,com muito carinho e......ADMIRACAO/INVEJA,apelidavam o Zé das bajudas!Será necessário "tocar a reunir"? José Belo.

Joaquim Mexia Alves disse...

Sim senhor, temos escritor!

Ó meu caro Carlos mas que belíssimo "naco" de prosa!

Aí caladinho, sentado na cadeirinha, a meditar e vá de escrever um texto que ameniza a guerra e as polémicas.

Se bem te lembrares, tenho para aí uma história com morcegos, em que bastante me envergonhei em Bolama.

Pensava eu que eram frutos de uma árvore!!!! Periquito!!! Eu...claro!!!

Pois então e com presente para tão belo momento que nos deste aqui fica o muito célebre cantar alentejano.

Quais, quais, oliveiras, olivais
Pintassilgos, rouxinóis,
Caracóis, bichos móis,
Morcegos, pássaros negros,
Tarambolas, galinholas,
Perdizes e codornizes,
Cartaxos e pardais,
Cucos, milharucos,
Cada vez há mais.

E também eu abro as "asas" para te abraçar muito camarigamente!

Juvenal Amado disse...

Caro Carlos

Quanto comentei à tempos um poste teu onde dizia, que era pena a tua falta de tempo para o efeito, não era adulação está mais que provado.

Eu sei que tu sabes que eu sei do estou a falar, e o que todos sabemos é que, o Carlos Vinhal "sabe-a toda" e a provar cá está uma recordação bem contada, que merece o coro de elogios com que nos deparamos hoje.
Meu caro amigo também vou entrar nesta de passarada embora não sejam pássaros mas sim roedores que devem ter bebido RED BULL e por isso ganharam asas.
A escurecer em Galomaro eram milhares de pequenos morcegos, que de uma vez só saiam em busca da sobrevivência, mas quem se lembraria dos morcegos se não fosse a malta do blogue.

Um abraço

Juvenal Amado

Zé teixeira disse...

Carlos.
Escreves pouco. Sei bem que não tens tempo para escreveres. São tantos os "escritos" que tens de ler e corrigir, mais as fotos que tens de "alindar".O tempo que te resta é pouco, mas quando te dispões ... Saiem coisas lindas.
Havia os passarões que à noite, tal como os morcegos, também saiam, não à procura de comida, mas de passarinhas. Por isso é que os "nossos amigos", apareciam de vez em quando, para os assustar. Pensavam eles e muito bem, digo eu, que alguém estava a comer a sua fruta.
Mas, a propósito de pássaros, havia em Mampatá um poilão mesmo no centro da tabanca. Os seus ramos tinham tantos ninhos de um pequenino pássaros, que fazia vergar os ramos.
Ora, eu tinha conhecido em Buba um camarada de Vila do Conde, totalmente apanhado, que se dedicava a embalsamar pássaros. Procurei saber que produto químico usava. O químico era “formol” produto letal, logo perigoso. Decidi requisitar um frasquinho ao Laboratório Militar e estranhamente fui atendido. Então cacei um pássaro daqueles muito pequeninos que aparecem aos milhões e são muito coloridos. Enfiei-lhe o “formol” e o gajo esticou o pernil, e ficou “em conserva”. Mais uma arte do “fermero”. Encantar passarinhos que não fugiam quando os putos o tentavam assustar.
Durante cerca de quinze dias, logo de manhã lá o punha num ramo de árvore junto à enfermaria em Mampatá e posteriormente na Chamarra, onde fui passar cerca de um mês. Até que apareceu um gato e záz.
O pobre passarito apareceu dois dias depois, em mísero estado de conservação. O gato perdeu o apetite e limitou-se a brincar com o gajo.
Valeu pelo funeral que lhe fiz com toda a pequenada.
Zé Teixeira

Anónimo disse...

Amigo Carlos,
Como é bom aliviar a pressão! Sabes quando eu estava no Destacamento de São João via passar morcegos enormes em direcção à mata de Brandão, que ficava lá para os lados de Nova Sintra. Eram milhares.
Os meus camaradas diziam "lá vai a aviação silenciosa do Amílcar Cabral".
Se era ou não, tenho a certeza que não se importavam muito connosco. Estavam mais interessados em atacarem um tipo de fruto que havia naquela mata.
Um abraço,
José Câmara