domingo, 18 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5125: José Augusto Rocha: da crise estudantil de 1962 à Op Tridente, Ilha do Como, 1964 (José Colaço / Luís Graça)

Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > A Alta de Coimbra, vista do Convento de Santa Clara a Velha...

Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Ubiversidade de Coimbra > A famosa torre sineira e a "cabra"...

Coimbra > 3 de Outubro de 2 > Universidade de Coimbra > A famosa Via Latina...

Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Universidade de Coimbra > Vista (parcial) sobre Coimbra (em primeiro plano, a Sé Velha)

Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Lápide em azulejo evocativa da passagem de Zeca Afonso por uma casa junto à Sé Velha

Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Estátua de D. Dinis, fundador da universidade portuguesa (12 ) definitivamente instalada em Coimbra, em 1537, por decisãod e D. João III... A Universidade de Coimbra tem estado sempre ligada a momentos importantes de contestação social e política... como foi o caso da crise académica de 1962.

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


1 Mensagem enviada, em 16 do corrente, pelo editor L.G. ao José Colaço (ex-Sold de Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, mmembro da nossa Tabanca Grande) (*)

Conheci ontem, pessoalmente, um homem que foi da tua companhia [ a CCAÇ 557], o Alf Mil Rocha... Lembras-te dele ? Esteve na Op Tridente [ Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964,] e depois no Cachil...Vai publicar em breve um resenha de memórias desse tempo...

Falou-me de vários nomes, também teus conhecidos [ ou do teu tempo]: Cavaleiro Ferreira, Barão da Cunha, Saraiva... O Barão da Cunha foi preso por se recusar a combater, [não sei exactamente em que circunstâncias, mas penso que no decurso da Op Tridente,] e ele foi quem lhe deu "apoio jurídico", sugerindo nome de advogados da oposição (Mário Soares, por ex.) para o defender... O Barão da Cunha esteve preso na Trafaria... Conhecias este episódio ?

O Rocha tinha o 5º ano do curso de licenciatura em direito qundo foi expulso de Coimbra [ na sequência de crise estudantil de 1962]... Fez a tropa e foi mobilizado para a Guiné... Encontrei um currículo dele, de onde não consta a passagem pela Guiné...

Disse-me que não é homem de blogues nem pretende "alimentar" o nosso banco de memórias... Foi cordial comigo, foi-me apresentado pela Diana Andringa [ na estreia, no Doclisboa 2009, o filme Dundo, Memória Colonial] (**)...

Vou estar atento a um escrito dele, sobre a Op Tridente, prometido (a título excepcional...) para ser inserido na página Caminhos da Memória [, de cuja redacção fazem parte dois membros do nosso blogue, Diana Andringa e João Tunes]...

Fotos: Luís Graça (2009). Direitos reservados Um abraço. Luís

Anexo - Nota curricular de José Augusto Rocha

(i) Nascido, em Viseu, a 25 de Outubro de 1938;

(ii) Advogado, licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;

(iii) Inscrição na Ordem dos Advogados, em 13 de Agosto de 1968;

(iv) Director da Associação Académica de Coimbra (AAC), em 1962;

(v) Expulso de todas as Escolas Nacionais, por dois anos, na crise académica de 62, por decisão do Senado da Universidade de Coimbra, acusado de ter realizado o 1º Encontro Nacional de Estudantes, sob proibição do Ministro da Educação Nacional [Recorde-se que, em 26 de Março de 1962, O Dia do Estudante é proibido em Lisboa, levando à greve estudantil. A Academia de Coimbra solidariza-se e a luta estudantil mantém-se acesa até Maio. A AAC é encerrada] (***);

(vi) Julgado no Tribunal Criminal de Coimbra, acusado de crime de desobediência ao Ministro da Educação Nacional, por ter realizado o referido Encontro;

(vii) Preso no Forte de Caxias na sequência da crise académica de 62 e daí liberto sem culpa formada;

(viii) Membro da redacção do órgão da Associação Académica de Cimbra, Via Latina, em 61/62;

(ix) Membro da Direcção da Caixa de Previdência [da Ordem dos Advogados, presume-se] no triénio 73/75;

(x) Autor de várias comunicações em Congressos da Ordem de Advogados e intervenção activa nos movimentos associativos e eleitorais da Ordem dos Advogados;

(xi) Participação em numerosos julgamentos no Tribunal Plenário Criminal de Lisboa, onde defendeu vários presos políticos, nomeadamente, Victor Ramalho, Francisco Canais Rocha, João Pulido Valente, António Peres, Diana Andringa, Fernando Rosas, Maria José Morgado, José Mário Costa, Paula Rocha, Isabel Patrocínio Saldanha
Sanches.

(xii) Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados em 2008.

Fonte: Caminhos da Memória > José Augusto Rocha



2. Resposta do José Colaço, ex-Sold de Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65),


Olá, Luís, boa noite: O ex-alferes miliciano Rocha era o meu comandante de pelotão, o 4º ou seja o pelotão de armas pesadas. Ele era também o 2º comandante da companhia.

Guardo dele, durante a nossa estada na guerra da Guiné, bem como de todos os oficiais e sargentos e restantes camaradas, as melhores recordações.

Mas para este ambiente funcionar como uma máquina bem oleada, houve e ainda há um homem que, além de militar com a sua patente de capitão, via no seu subordinado, no homem que estava à sua frente, outro ser humano como ele...

Este Homem dá pelo nome de João da Costa Martins Ares, hoje coronel reformado.

O Rocha possivelmente não te contou esta passagem: no início da nossa comissão é recebida uma mensagem dos serviços da PIDE com o seguinte teor, mais ou menos: po capitão deunciasse o dia a dia do alferes Rocha pois ele era elemento a ser vigiado na sua conduta diária.

As palavras não eram exactamente estas mas o sentido era vigiar o Rocha e informar os serviços da PIDE.

O capitão toma a seguinte resolução: chama o alferes Rocha, tem uma conversa séria de homem para homem, mostra-lhe a mensagem; o Rocha, por sua vez, conta-lhe todo o seu passado politico de oposicionista ao governo de Salazar, mas dá um voto de confiança ao capitão, o qual poderá contar com ele e, mais, que nunca seria atraiçoado.

Deste modo, o capitão conseguiu mais um amigo para levar a bom porto aquela nau durante vinte e três meses.

Quanto ao que dizes no teu mail, praticamente é tudo do meu conhecimento embora não com um grau de muita profundidade.

Sobre este assunto, se tivermos ocasião de falarmos pessoalmente, poderemos abordar o assunto, neste momento o meu estado de saúde não seja o melhor mas penso que não será nada de preocupante.

Um abraço

Colaço
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes relacionadas com o José Colaço e a CCAÇ 557:

1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4765: Convívios (153): Almoço/Convívio: CCAÇ 557, Cahcil, Bissau e Bafatá 1963/65 - (José Colaço)

20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

29 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65))

9 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)

19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)


(**) Vd. poste de 15 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5110: Agenda Cultural (33): Doclisboa 2009: Hoje, 23h, Cinema Londres2: Dundo, memória colonial, de Diana Andringa


(***) Sobre a crise académica de 1962, vd. os seguintes documentos na Net:

A crise académica de 1962 > Artigo de Rui Grilo

Vd. também Maria Manuela Cruzeiro, Rui Bebiano - Anos Inquietos. Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974), Porto, Edições Afrontamento, 305 pp.

ACCORNERO, Guya. Anos Inquietos: Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974). Anál. Social. [online]. 2007, no.184 [citado 18 Outubro 2009], p.919-923. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732007000300011&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0003-2573.


(...) Os relatos de Fernando Martinho e Carlos Baptista são significativos pelo esboço da África que trazem. Nascidos em famílias — embora de meio social diferente — de colonos portugueses, ambos sublinham a maior abertura cultural das colónias, onde o controlo do regime, pelo menos até ao começo da guerra colonial, não chega a ser tão eficaz como na metrópole. Esta abertura e a experiência diária do racismo e da discriminação dos negros foram fundamentais para a formação política, assim como o contacto com militantes dos movimentos de libertação.

Em Coimbra, onde chegou em 1961, Fernando Martinho integrou uma célula do MPLA que tinha como objectivo recrutar jovens angolanos para o movimento de libertação e organizar uma rede de deserção. Empenhado nas actividades da Associação Académica, foi preso pela PIDE durante alguns meses. Como outros dois entrevistados, Pio Abreu e José Cavalheiro, sofreu a experiência da guerra colonial, embora tenha conseguido evitar um envolvimento directo nas acções militares graças a sua profissão de médico.

Médico, no seu caso psiquiatra, é também Pio Abreu, originário de Santarém, onde nasceu, numa família bastante católica e conservadora, em que a política era uma coisa proibida. Chega a Coimbra em 1962, em plena crise académica, e liga-se, como Fátima Saraiva, ao Conge, uma estrutura que será fundamental na crise de 1969. Também nesta entrevista a experiência da guerra na Guiné ocupa um lugar essencial, em que se salienta sobretudo a forte contradição entre a formação política do entrevistado e a participação num conflito que se baseava em fundamentos completamente opostos. Assim como Fernando Martinho e José Cavalheiro, Pio Abreu descreve a sua atitude de «boicote passivo» das acções militares, favorecida, também neste caso, pela sua formação de médico, que sempre tentou desenvolver segundo a sua própria ética contra a do exército. (...)


Vd. tambéma bibliografia no blogue Estudos sobre o Comunismo, fundado por José Pacheco Pereira

CRISE ESTUDANTIL DE 1962

Anselmo Aníbal, "A propósito do 24 de Março de há 20 anos", Diário de Lisboa, 25/3/1982



“Estudantes de 1962 recordam a "crise académica"“, Jornal da Educação, 54, Abril 1982

João Pedro Ferro (Org.) A Primavera que Abalou o Regime. A Crise Académica de 1962, Lisboa, Presença, 1996

Maria Antónia Fiadeiro, "Crise Académica de 62: memória na primeira pessoa", Diário de Lisboa, 24/4/1982

Eurico de Figueiredo, "Movimento Estudantil de 62 provocou a maior crise estrutural do fascismo", Entrevista ao Portuqal Hoje, 24/3/1982

Álvaro Garrido, Movimento estudantil e crise do Estado Novo: Coimbra 1962. Coimbra, Livraria Minerva, 1996

Maria Antónia Palla, "24 de Março de 1962: tão amigos que nós eramos", Expresso, 26/3/82

Daniel Ricardo, "Greve académica de 62 uma grande batalha contra a ditadura", O Jornal, 19/3/1982

Daniel Ricardo, “Contra os bastões lucidez e unidade”, O Jornal, 27/3 a 2/4/1987

[Sobre o movimento estudantil posterior a 1962.]

Rogério Rodrigues, "A geração de 62 sabe dialogar entre si", O Jornal, 26/3/1982

Rogério Rodrigues, "Crise Académica de 62: a memória dos anos 20", O Jornal, 26/3/1982

Rogério Rodrigues,"Crise Académica de 62: os dois anos que abalaram Coimbra", O Jornal, 2/4/1982.

3 comentários:

Anónimo disse...

O Mundo é pequeno..Em 1974
trabalhámos no mesmo escritório.Ainda há dias o encontrei.Não sabia que tinha passado pela Guiné.


Para ele um Grande Abraço.

Jorge Cabral

Luís Graça disse...

Jorge:

Infelizmente, não deves ter resposta do José Augusto Rocha... Ele confessou-me a sua alergia à Internet, em geral, e aos blogues, em particular. É um homem, amável, mas já de outra geração. Blogues não lê, quando muito, tem amigos que lêem por ele... Em todo o caso, dá uma vista de olhos aos "Caminhos da Memória"...

Anónimo disse...

O capitao que se recusou a continuar no como não era o Barão da cunha.Julgo que este vai confirmar