domingo, 4 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (27): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)



1. O nosso canarada e amigo Patrício Ribeiro é membro da nossa Tabanca Grande. Mais conhecido em Bissau como o verdadeiro embaixador... dos tugas, pertence à Associação Ajuda Amiga. É natural de Angola, foi fuzileiro durante a guerra colonial na sua terra e vive já há 25 na Guiné, sua segunda pátria.

2. O Patrício enviou ao Luís Graça uma interessante mensagem, da qual o Luís me solicitou a publicação com o seguinte comentário: Eduardo, O Patrício Ribeiro ("o pai dos portugueses da Guiné") tem uma tese de alto interesse: não foi em Madina do Boé que foi proclamada a independência da Guiné, como nos é historicamente contado, mas sim em Lugajole, a sudeste de Beli.

Lugajole fica na estrada Béli - Vendi Leidi (na fronteira), sob o lado esquerdo, logo abaixo de Béli... Pelo mapa (tenho o de Béli mas ainda não está 'online'), ainda é longe de Madina...

3. A mensagem enviada pelo Patrício Ribeiro é a seguinte:

A minha história… da História.

Ao ler no livro BATALHAS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL – Guerras de África Guiné – 1963 - 1974, da Academia Portuguesa de História, de Fernando Policarpo, volume 21, na página 135, verifiquei que o autor declara… que a Independência da Guiné foi proclamada em cerimónia, na “localidade de Madina do Boé” (sic), em 24 de Setembro de 1973 (foto 1).

Num passeio, que fiz em 2005 naquela região, via Ché Ché (foto 2), na companhia de uma equipa da RTP África e do correspondente do Jornal Expresso, visitamos, acompanhados pelas autoridades locais, o local onde foi declarada a Independência, junto à localidade de Lugajole, conforme Monumento ali erguido em memória à cerimonia (foto 3), que uma queimada tinha destruído.


Fica em cima de uma colina (morro), num local muito alto, de onde se pode avistar para os lados de Beli (foto 4)… quem vem lá, a diversos quilómetros (foto 5). Aqui ficam as minhas duvidas… qual seria afinal o local da proclamação: Lugajole ou Madina?

A distância entre as duas povoações é de muitos quilómetros, assim como de muitas horas de viagem em jipe.


Fonte junto ao Quartel de Madina do Boé (foto1)

Jangada do Ché Ché (foto 2)


Lugajole: Local onde foi declarado a independência da Guiné (ao fundo o Monumento) (foto 3)

Restos do Quartel de Beli (foto 4)

Em baixo, a actual povoação de Lugajole (foto 5)


Um abraço Amigo,
Patrício Ribeiro


Fotos: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados.

___________
Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:


(*) Vd. também postes de:




(**) Vd. idem postes de:





13 comentários:

Antonio Graça de Abreu disse...

Eu só não entendo porque é que o PAIGC andou tantos anos a afirmar que a declação de independência foi em Madina do Boé, e afinal parece ter sido perto de Beli?
O local onde oficialmente nasce um país e uma pátria deve merecer o respeito e o rigor histórico de todos os guineenses, nossos irmãos.
Porquê esta indefinição? Existem ainda homens do PAIGC vivos que poderão confirmar e esclarecer este assunto, que me desculpem, é de tudo menos de lana caprina.
Ou será que a independência foi declarada ainda num outro local?
Um abraço.
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

No ponto 2 -"... Amílcar Cabral..." não foi ele!

Concordante com o que diz o Graça de Abreu.
Será que esse problema, do verdadeiro local, só importa aos colonialistas? Nós Portugueses!
Esse acontecimento ainda pertence á nossa história. Ou não? Claro que sim, Set de 1973.
AB do Torcato

Anónimo disse...

Patrício,

Não será por causa dessas dúvidas que os guineenses, não fazem excurções até esse local mítico, nos 24 de Setembro?

Até que o acesso à jangada de che-che, está bem bonito.

Um abraço

Antº Rosinha

Hélder Valério disse...

Este artigo contém uma informação interessante que é a de que a cerimónia da declaração unilateral de independência teria decorrido em Logajole, próximo de Beli e não em Madina do Boé, como propagandisticamente tem sido referido e, essa informação é suportada pela referência ao "local onde foi declarada a Independência, junto à localidade de Logajole, conforme Monumento ali erguido em memória á cerimonia (foto 3), que uma queimada tinha destruído."
Ou seja, se não houve interpretações erradas, tudo indica que existe um Monumento a assinalar a efeméride, ou pelo menos existiu e estão lá vestígios dele.
Tal situação afigura-se credível pois como já tem sido largamente demonstrado, a concentração de tantos elementos para a cerimónia num local pouco defensável como Madina não seria sensata.
Concordo com o A. Graça de Abreu quando diz que "o local onde oficialmente nasce um País deve merecer o respeito e rigor histórico", daí considerar que, se para efeitos de propaganda, a referência a Madina podia ser importante por ocorrer em "território libertado", agora, decorrido todo este tempo, bem que se podia fazer o "acerto histórico" já que isso em nada influenciaria nem alteraria o decurso dos acontecimentos nem sequer diminuiria a importância do acto nem a presença dos participantes.
Mas, já agora, a bem do rigor histórico, onde, quando e aonde nasceu Portugal?
Na batalha de S. Mamede? Em Cerneja? Em Valdevez? Em Guimarães? No tratado como o rei de Leão? Quando Egas Moniz foi resgatar a palavra a Toledo? Quando se "pagou" as onças de ouro ao Papado?
Um abraço
Hélder S.

Antonio Graça de Abreu disse...

Meu caro Helder
Portugal nasceu do condado Portucalense, com berço em Guimarães, cidade berço, "aqui nasceu Portugal", etc.
E temos muito orgulho nisso. Ou melhor, eu tenho, e partilho este orgulho com mais alguns milhões de portugueses.
Portugal nasceu em 1140, a Guiné Bissau em 1973.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Hélder Valério disse...

Caro amigo António Graça
Eu acho que percebeste.
E também acho que por isso é que deste os teus esclarecimentos que estão no "post" anterior, bem assim como entendeste por bem "vincar" os números.
Sim, eu também me lembro, da escola, que "Portugal nasceu do Condado Portucalense, com berço em Guimarães, cidade berço, 'aqui nasceu Portugal', etc., ou seja, nasceu duma (justa luta de) secessão desse Condado e por extensão do próprio Reino de Leão. O que pretendi salientar é que muitas vezes há um acto formal que baliza um acontecimento mas que esse mesmo acontecimento pode ser legitimado por outros acontecimentos...confuso? Não, por exemplo, 1147 é uma boa data, mas não é verdade que era a "autoridade Papal" que legitimava no seio da cristandade o nascimento dum novo reino cristão? Mas é claro qua não há problema nenhum em Guimarães nem em 1147...
Agora uma outra observação.
Sei, sinto, que não será tua intenção criar nenhum conflito de "portugalidade", de patriotismo, mas quando, depois de referires o nascimento de Portugal, escreves "E temos muito orgulho nisso. Ou melhor, eu tenho, e partilho este orgulho com mais alguns milhões de portugueses.", não achas que isso poderá ter uma leitura de desafio, por contraposição, por exclusão de partes?
Do género, "eu e muitos milhões somos portugueses, alguns haverá que não terão esse orgulho".
Acho que não "havia nexexidade", como dizia o "Diácono Remédios".
Um grande abraço
Hélder S.

Antonio Graça de Abreu disse...

Para encerrar, como sabes há muitos, muitos portugueses que defendem a integração de Portugal em Espanha. A Ibéria, com capital em Madrid já é uma ideia antiga.Teve muita força em finais do século XIX. Hoje ainda há quem defenda (e são muitos, muitos, saramagos e outros...) que a tragédia da não junção com Castela e Espanha remonta à vitória em Aljubarrota em 1385 e à Restauração em 1640.
Eu sou português.
E porque somos portugueses, patriotas ou não,fomos bater com os costados na Guiné Portuguesa. Malhas entretecidas pelo Império portugês...
Os espanhóis tinham a Guiné Espanhola, uma pequenas ilhas simpáticas, no Equador, não longe de S. Tomé, uma espécie de Bijagós em grande.
Eu gosto de ser português, apesar dos desvairos do Império.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Unknown disse...

Na foto 4 vê-se um dos abrigos do Morteiro 81. Como não mostra nenhuma
referência pois o que se vê são árvores que não existiam no meu tempo
ainda deve haver outro abrigo. Béli
ficava a 60 Km de Madina do Boé. Logajole ou Lugajole não sei a quantos Km ficava de Béli pois nunca
saía-mos do arame farpado. Isto também serve para que as pessoas se
capacitem de que nem tudo o que está escrito nos arquivos é verdade e que relatos do pessoal que por lá
passou não são mentiras, só por não
estarem escritas

Luís Graça disse...

Cá está, uma informação, imprecisa, incompleta, a necessitar de correcção, escrita em português, dna Wikipédia:

Madina do Boé é um Setor (sic) que se situa zona Sueste da Guiné-Bissau, a sul de Gabu (antiga Nova Lamego). É uma das regiões mais pobres de toda a Guiné-Bissau.

Factos ocorridos nesta região:

(i) retirada do exército português no início de Fevereiro de 1969 (retirada essa, conhecida por Desastre do Cheche, que provocou a morte de 47 militares portugueses ao atravessar o rio Corubal);

(ii) realização em Julho de 1973 em Fulamor (na zona Oriental de Madina do Boé), do 2º Congresso do PAIGC ou PAIGCV (Partido Africano pela Independência da Guiné e Cabo Verde);

(iii)em 24 de Setembro de 1973 foi Proclamada a Independência Unilateral da Guiné-Bissau pelo PAIGC e Luís Cabral eleito Presidente do Conselho de Estado.

Madina do Boé era uma pequena povoação e quartel do tempo da guerra colonial. Foi abandonado por razões estratégicas em 6 de Fevereiro de 1969. Boé (e não Madina do Boé) é hoje um dos cincos sectores da região de Gabu, que inckui ainda Gabu, Pirada, Piche e Sonaco.

Acho importantes todos estes os pequenos contributos dos amigos e camaradas da Guiné para melhor esclarecer estes pontos, ainda obscuros, da história de Portugal e da Guiné-Bissau, um país - NUNCA ESQUECER! - lusófono, nosso irmão.

Um abraço ao Patrício Ribeiro que ama a Guiné-Bissau como poucos.

Barragem da Aguieira, 5/10/09

Unknown disse...

Caros Amigos, recordo-me de logo a seguir ao Golpe Militar Progressista em Portugal, um grupo a que eu pertencia de gente da Rádio, ter divulgado em várias sessões públicas, filmes sobre e realizados em zonas libertadas da Guiné Bissau. Incluindo a declaração de Independência em Madina do Boe.
Estes filmes, creio serem na época, propriedade (ou estarem ao cuidado) do CIDAC - Centro de Informação e Documentação A. Cabral, liderado pelo Sr Tengarrinha.
Estas curta metragens eram de boa qualidade mas a preto e branco e muitas delas c/ comentários em francês.
Não sei se ainda existe o CIDAC nem o procurei saber.
Um abraço para todos e para cada qual.

Luís Graça disse...

Mensagem de 5/10/09, do Pepito (AD-Bissau)

Assunto - 24 de Setembro de 1973


Luís

O nosso Patrício tem absoluta razão.

Foi em Lugadjol que foi proclamada a independência.

abraço
pepito

adbissau.ad@gmail.com

Anónimo disse...

Ah!
Espantação!
Descobriram, finalmente, a pólvora!!
(leitor geralmente bem informado)

Carlos Silva disse...

Amigos

Apesar de tarde e a más horas, mas como diz o velho ditado" Mais vale tarde do que nunca", isto para desfazer um equívoco, pois o nosso amigo Patrício Ribeiro, meu contemporâneo da guerra. que conheço perfeitamente das lides de Bissau e de convívios na casa do Pepito, não pertence à nossa Associação Ajuda Amiga e nunca pertenceu, assim fivca reposta a verdade.
Um abraço amigo
Carlos Silva