domingo, 20 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4984: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (18): O Coimbra

1. Mais uma mensagem do nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), com um texto das suas memórias:

Camaradas,

Como sempre é do meu baú de memórias que retiro as recordações dos tempos da minha juventude, nomeadamente as vividas em terras da Guiné.

A esta intitulei-a de:

O COIMBRA

Quem no meu tempo esteve no Sector de Mampatá, Buba e Aldeia Formosa, sabia quem era este personagem, não querida das NT, que, quer se queira quer não, era uma pessoa eficaz e eficiente, para o desenrolar das Informações Operacionais.

Refiro-me ao agente Coimbra da DGC (posterior DGS), vulgo P.I.D.E., que se encontrava em Aldeia Formosa (Quebo).

Frequentava com assiduidade a Messe de Sargentos, escutando as conversas e disparates que nós, na nossa juventude e ingenuidade, dizíamos sobre a política e os políticos de então.

Deambulando de mesa em mesa, passando pelo balcão, procurava insistentemente com alguma provocação à mistura, inteirar-se dos resultados, ou saber pistas, daqueles que regressados dos patrulhamentos, colunas e operações, lhe pudessem prestar algum tipo de informação útil (para ele como é óbvio).

Nós, em Mampatá, não estávamos muito expostos a este manhoso “assédio”, mas como tínhamos que nos deslocar diariamente a Aldeia Formosa, onde funcionava a Secretaria, bem como abastecer-nos de água, pão e frescos que eram transportados a partir de Bissau num Dakota, também nos sujeitávamos ao “assalto pesquisador” do homenzinho.

Era inevitável que o nosso “amigo” Coimbra, nos chateasse com várias perguntas, mais ou menos “espertas”, de todo o tipo de matérias.

Numa das minhas idas nessas missões a Aldeia Formosa, parei na Messe de Sargentos gesto obrigatório, habitual e indispensável para confraternizar com o pessoal amigo local, tendo-me deparado com o Coimbra, que logo me foi fazendo perguntas sobre aspectos militares da nossa ZA.

Virei-me para o mesmo e disse-lhe, que os meus relatórios tinham sido entregues ao Comando da Companhia e que se tivesse interesse em saber o seu conteúdo, os pedisse ao meu capitão.

O Homem passou-se e ameaçou-me, tentando levar-me com ele para o seu Posto de Serviço.

Teve azar, pois eu chamei o oficial de dia de Aldeia Formosa e contei-lhe o que estava acontecer.

O mesmo achou por bem chamar o Major Operacional, que na altura era o bem conhecido Pezarat Correia, que interviu dizendo que eu tinha procedido segundo os regulamentos e mais disse, que se ele estivesse interessado em informações, que fosse pedi-las ao Comando.

A partir desse dia fiquei ali com um amigo para o resto da comissão. Cada vez que ia a Aldeia Formosa, tinha que “levar” com o Coimbra.

Um dia já farto da conversa da “treta” dele, à entrada da Messe, num momento em que ele se encontrava a sós comigo, virei-me para o tipo e disse-lhe:

- Eh pá larga-me a braguilha que eu não gosto de homens. Vens sempre com a mesma conversa até parece que és bicha.

Não é que o Coimbra nunca mais me chateou.

Ainda hoje vivo com sérias dúvidas pessoais sobre a sua sexualidade... (???).

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Imagem: Wikipédia (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

4 comentários:

Unknown disse...

Caro Camarada Mário Pinto

No Poste em epígrafe fala em vulgo PIDE. Não era vulgo.Eram as iniciais
da Policia Internacional e de Defesa do Estado. Era muito mais fácil conhece-la pelas Iniciais que pelo nome. Era como a PSP e a GNR.
Quando o Marcelo Caetano foi para o Governo passou a chamar-se DGS e não DGC (Direcção Geral de Segurança)
Para nós que era-mos desse tempo isso quase nem interessa mas para os que nos lêem agora faz muita diferença.
Cordiais Saudações
Armandino Alves

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro camarada
Armandino Alves

Tens razão é DGS e não DGC. Obrigado pela correcção.

Um abraço

Mário Pinto

Juvenal Amado disse...

Caro Mário Pinto
Foi pena não teres aproveitado para o convidares a participar activamente nas operações, em vez de fazer perguntas a quem lá amargava.
Eram muitos valentes na retaguarda esses srs da PIDE.
Um abraço
Juvenal Amado

José Marcelino Martins disse...

Não é esta a melhor via para te contactar, mas não localizai o teu endereço eletrônico.

Se puderes manda para josesmmartins@sapo.pt

Um abraço

José Martins