quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4973: Tabanca Grande (175): Carlos Sousa, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 1801, Ingoré/Bissum-Naga/S. Domingos/Cacheu/Antotinha, 1967/69



1. Carlos Fernando da Conceição Sousa, ex-Alf Mil de Operações Especiais/RANGER (quando veio da Guiné foi promovido a tenente), da CCAÇ 1801 - Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69.

Camaradas,

Apresento-me como novo Camarada nesta “nossa” Tabanca Grande, chamo-me Carlos Fernando da Conceição Sousa, fui Alferes Miliciano de Operações Especiais/RANGER (quando vim da Guiné fui promovido a tenente), na CCAÇ 1801, e estive em: Ingoré, Barro (em operação), Ponta do Inglês (em operação), Bissum-Naga, S. Domingos, Elia (em operação), Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré).



Envio a minha foto actual e outra onde estou com o General Spínola. Foi no dia 31 de Dezembro de 1968, quando eu e os meus soldados estávamos a jogar futebol, um helicóptero pousou ali no meio do campo.



Os jogos, para que as equipas se distinguissem, faziam-se com uns de camisola contra outros em tronco nu.
Como se pode ver na foto eu jogava na equipa dos tronco nu.

O Gen. Spínola caminhava para próximo de onde estavam os nativos, onde foi dar-lhes umas palavras.
Hoje queria que publicassem esta minha primeira mensagem:

16 de Setembro de 2009, acabei de ver na RTP1 um programa onde se mostrou a dramática situação de jovens que nasceram em Portugal e que não são considerados portugueses. Fiquei abismado com o que vi!

Mais abismado fico quando sabemos que aconteceu um 25 de Abril que nós saudamos (eu já tinha 30 anos quando aconteceu), que é o dia da Liberdade!

Combati na Guiné por uma Pátria que então estava definida como multirracial, e as terras de além-mar eram conhecidas e tratadas como províncias ultramarinas. No norte da Guiné, entre S. Domingos e Ingoré, a população desde felupes, a balantas, passando por fulas e mandingas, era maioritária nossa amiga. No destacamento de Antotinha, a 6 km do porto de S. Vicente, no rio Geba, havia cerca de cem balantas armados em auto-defesa que defendiam mais de 3000 pessoas, pois que, como os próprios nativos diziam, tinham que se defender dos bandidos.

Na altura todos lhes dissemos que eles eram portugueses ultramarinos. Alguns deles ficaram extremamente felizes quando obtiveram bilhete de identidade de cidadão português. Não há revolução que possa colocar por terra todas as expectativas que tínhamos alimentado nas populações.

Não venho aqui levantar a validade histórica dos movimentos de libertação, que terão libertado populações do jugo português para os entregar a oligarquias corruptas e prepotentes. É claro que temos a vantagem de conhecer a evolução (ou involução?) que se deu. Hoje sinto que a minha missão era nobre – proteger um povo de falsos libertadores.

Mas o que quero hoje reflectir é sobre os jovens apátridas nascidos em Portugal.

Os pais deles foram de algum modo induzidos na ideia de que eram portugueses. Muitos deles tiveram que procurar refúgio fora da terra onde nasceram e vieram para Portugal, como terra mítica idealizada como justa e civilizada. Nós deveríamos tê-los mantido como portugueses, tal como sempre lhe dissemos que eram. Mas não; deixámo-los esquecidos, assobiando para o ar, sem que houvesse um governante que lhes fizesse justiça e aos filhos daqueles que enganámos.

Reforço a ideia de que a vinda para Portugal era, para muitos, a única saída. Lembremo-nos dos fuzilamentos que os libertadores fizeram com aqueles que tinham colaborado com os portugueses – e os que connosco colaboraram eram muitos milhares.

Façamos barulho para que imediatamente se legalizem os filhos de africanos portugueses até ao 25 de Abril. Acabemos com mais esta vergonha nacional.

Um abraço para todos os Camaradas da Tabanca Grande,

Carlos Sousa
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1801

Foto: © Carlos Sousa (2009). Direitos reservados.
Emblema: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

2. Comentários de MR

Amigo e Camarada Carlos Sousa, bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Muito obrigado por aceitares o convite para integrares esta grande Tertúlia Bloguista, cuja "formatura" é composta por cerca de 350 ex-Combatentes da Guiné, que pouco a pouco, mas decidida e inabalavelmente, aqui vão prestando os seus fabulosos depoimentos, contribuindo para a tão necessária e desejada catarse da guerra que a nossa geração viveu Além-mar, no Ultramar africano.

São histórias/memórias de morte, sangue, dor e sofrimento, umas… e outras… de pequenas e grandes coisas do dia-a-dia, que íamos cortando no velho calendário, contadas, quase todas elas, no presente do indicativo.

Fazêmo-lo consciente e patrioticamente, não por impulsos masoquistas, ou maquiavelistas, mas como testemunhos escritos e fotográficos, para as gerações presentes e vindoiras.

Ficamos à espera que nos contes histórias sobre a comissão e actividade operacional da tua CCAÇ 1801 e de ti na Guiné. Tudo será bem-vindo (textos, documentos e fotos), para ampliar este nosso espólio virtual.

No lado esquerdo da página inicial do blogue, tens tudo o que é importante saber sobre o blogue: O que nós (não) somos e as normas de conduta a seguir pelos tertulianos. São simples e normais regras de boa cidadania, que se resumem ao respeito mútuo inter-bloguista e a aceitação das diferenças de conceitos e opiniões.

Quanto à tua CCAÇ 1801, apenas existe no blogue um pequena referência, com data de 14 de Outubro de 2008, no poste: Guiné 63/74 - P3312: Unidades que passaram por Sedengal (José Martins), da autoria do nosso camarada José Martins, que foi Fur Mil Trms da CCAÇ 5, que muito colabora com o pessoal no blogue através de valiosos trabalhos de pesquisa sobre as diversas unidades que passaram pela Guiné, que só a sua carolice lhe permite concretizar, e que é a seguinte:

«CCaç 1801 [mobilizada no BC 10 – Chaves - embarque em 26 de Outubro de 1967 e regresso em 20 de Agosto de 1969], regressa a Ingoré para reforçar o BCaç 1894, para actuação nas operações realizadas, e depois integrado no dispositiva de manobra do BCaç 1913 [mobilizada no RI 15 – Tomar - embarque em 27 de Setembro de 1967 e regresso em 16 de Maio de 1969], quando em 23 de Abril de 1968 assume a responsabilidade do subsector de Ingoré, destacando um pelotão para Sedengal.»

Todos ficamos à espera da tua melhor colaboração e, entretanto, recebe de toda a tertúlia “atabancada” um abraço de boas-vindas.

Nota: O nosso Camarada Carlos Sousa, é licenciado em Engenharia Mecânica. É professor no I.S.E.P. (instituto Superior de Engenharia do Porto). Reformou-se muito recentemente, como Chefe do Departamento de Formação do C.A.T.I.M. (Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica) da cidade do Porto.

Magalhães Ribeiro
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

8 comentários:

MANUEL MAIA disse...

CARO CARLOS SOUSA,

SÊ BEM VINDO!

APÓS A TUA APRESENTAÇÃO FIQUEI A SABER QUE TAMB+EM ESTIVESTE EM BISSUM-NAGA.
SOMOS POUCOS,AQUI NO BLOG OS QUE CONHECERAM A TERRA.

RELATIVAMENTE AO QUE REFERES ACERCA DOS FILHOS DE AFRICANOS DAS EX-COLÓNIAS OU PROVÍNCIAS,OU COMO QUISEREM,É DE FACTO LAMENTÁVEL O QUE LHES FAZEM ESTES POLÍTICOS SEM VERGONHA.
MAS NÃO ESPANTA SE PARARMOS PARA PENSAR NAQUILO QUE NOS TÊM FEITO A NÓS EX-COMBATENTES...
O MÁRIO ALERTOU PARA UM PROBLEMA INFELIZMENTE CONHECIDO DE MUITOS MAS QUE CONTINUA ADORMECIDO,ARRUMADO POR TODOS NAS GAVETAS MAIS RECÔNDITAS DO CÉREBRO...
SÃO CADA VEZ MAIS OS EX-COMBATENTES QUE ENGROSSAM O NÚMERO DOS SEM ABRIGO A VEGETAREM PELAS RUAS DAS GRANDES CIDADES,À MÍNGUA DE UMA MALGA DE SOPA ,E "AGARRADOS" AO VÍCIO DO ALCOOL OU DA DROGA.
ESTÃO EM CRESCENDO OS CASOS RELATADOS PELA IMPRENSA ,DE EX-COMBATENTES A VIVEREM EM GRUTAS,LONGE DE TUDO E TODOS,NOS MONTES,QUAIS EREMITAS FORÇADOS PELA MISÉRIA,ESCORRAÇADOS POR ESTA SOCIEDADE PÔDRE EM QUE VIVEMOS.
NÓS QUE NA ADVERSIDADE DA GUERRA SEMPRE SOUBEMOS SER SOLIDÁRIOS,ASSISTIMOS IMPOTENTES
UNS E IMPÁVIDOS OUTROS,AO DEGRADAR CONTÍNUO DESSES HERÓIS DO PASSADO,A QUEM O ESTADO NEGOU UM TRATAMENTO MÉDICO,A QUEM OS POLÍTICOS ENTRETIDOS COM COISAS DE LANA CAPRINA,OU COM A NIGHT ALGARVIA,COMO DIZIA UM CAMARADA NOSSO NOS COMENTÁRIOS AO ULTIMO POST DO VASCO DA GAMA,DE FORMA ACINTOSA IGNORAM,REPUDIAM,ENXOVALHAM COM O SEU DESPREZO ASQUEROSO.
COMO DIZ O ANTÓNIO MATOS É TEMPO DE FAZERMOS ALGO,DE AGIRMOS,APROVEITANDO A CAMPANHA ELEITORAL FAZENDO-NOS OUVIR NOS LOCAIS ONDE SE VÃO JUNTAR PARA BEIJAR AS PEIXEIRAS E AS CRIANCINHAS RANHOSAS,ESFREGAR A MÃO(QUE DEPOIS DESINFECTAM...)NA CABEÇA DAS CRIANÇAS,OFERECER-LHES OS MAGALHÃES PEJADOS DE ERROS,PROMETER MILHARES E MILHARES DE EMPREGOS,"ENSABOAR" AFINAL OS ELEITORES PARA DEPOIS DIVIDIREM O BOLO DAS COMISSÕES CHORUDAS DOS EMPREITEIROS,CANALIZADOS PARA OS PARTIDOS E ELES PRÓPRIOS.
TODOS SABEMOS QUE É NESTES MOLDES QUE FUNCIONA A POLÍTICA(BASTARÁ LER ESCRITOS DE ALGUNS EX-POLÍTICOS COMO PAULO MORAIS EX NÚMERO DOIS DA C.M.PORTO,OU OUVIR ATENTAMENTE MEDINA CARREIRA...)

POR ISSO,CARLOS,É TEMPO DE SAIRMOS A TERREIRO PARA DIZER BASTA!

UM GRANDE ABRAÇO DE BOAS VINDAS E PARABÉNS PELO TEU ESCRITO.
MANUEL MAIA

Unknown disse...

Caro Carlos Sousa

Eu tenho lido muito nos Blogs sobre
este problema.
Isto passa-se com Africanos naturais
das Antigas Colònias.
E com Portugueses de Portugal não se
passou o mesmo?
Vou contar a estória:
Os pais da minha sogra eram portugueses de Portugal. O pai era
1º Sargento do Exército Português e
na altura não havia guerra nas Províncias Ultramarinas. Isto em
1920. O pai da minha sogra foi mobilizado para a Guiné para fazer parte da guarnição normal dessa provincia ultramarina e levou a esposa que engravidou e teve a minha sogra em S. José de Bolama.
Entretanto devido ao paludismo os
pais morreram e ela foi enviada para Portugal para um Instituto
Militar que recebia as filhas de
Militares tipo Colégio Militar.
Ora o que eu quero dizer é que ela era filha de Portugueses nascida numa província Portuguesa e nunca foi reconhecida como portuguesa. O
Bilhete de Identidade era diferente
e quando se necessitava de uma certidão de nascimento tinha que através duma conservatória pedir a Bolama essa certidão. Por isso não
esteja tão escandalizado pois o 25 de Abril não chegou a todos os lados e isto só prova que para algumas coisas ainda estamos a ser regidos por legislação com mais de cem anos.
Armandino Alves

Carlos disse...

Manuel Maia,
Acho muito importante aquilo que me dizes, embora todos saibamos que essas situações se passam neste nosso país que nem sempre é bem dirigido.
Como os nossos comentários são totalmente públicos, vou mandar um link para um partido político que concorre para a AR (eu sou mandatário pelo Porto) que tem no seu horizonte levar à AR a questão dos combatentes.
É preciso compreender que muitos dos nossos camaradas não conseguiram dar a volta por cima. Todos nós sentimos várias vezes que temos reacções intempestivas que criam atritos na família e no emprego. Alguns acabaram por se separar das suas mulheres, ou foram despedidos, por vezes com justa causa. Mas todo o nosso comportamento está muito dependente de um stress pós traumático que está muito bem estudado (pelo menos noutros países).
É preciso utilizar todas as plataformas de divulgação e ver o que é prioritário. Por exemplo, o casamento gay é prioritário relativamente à situação dramática de muitos nossos camaradas? Eles que destruíram as suas vidas numa guerra que, como todas as guerras, foi implacável.
Então vou enviar para o PPV (Portugal Pro Vida) os teus oportunos comentários.
Tenho muito para desabafar contigo e com todos.
Carlos Sousa

Carlos disse...

Caro Armandino Alves,
Aquilo que dizes, mais reforça a minha convicção que é necessário agir.
O teu depoimento também vai ser enviado para PORTUGAL PRO VIDA.
Um abraço,
Carlos Sousa

Unknown disse...

Apenas venho saudar o Carlos, de quem não sabia há cerca de 40 anos. Quási desde o tempo em que te vinhas despedir da malta no convívio de S. Roque ao domingo à noite.
Um abraço para ti

António Matos disse...

Ajudarmos a que entrem para o parlamento é um pedido expresso de voto nesse partido !
Se um qualquer BE, CDU, PS, PSD ou CDS se aproveitasse deste blog para a respectiva campanha ver-me-ia obrigado a consultar a comissão de eleições no sentido de saber se isso não configuraria uma inconstitucionalidade.
É o mesmo que utilizarem as bases de dados dos operadores móveis para mandarem sms's propagandísticos !
Proibido !
Sou a favor que tudo se faça na defesa dos interesses dos ex combatentes mas não quero vender o meu voto !
António Matos

Luís Graça disse...

Carlos:

És bem vindo, como camarada da Guiné. Aproveita o blogue para partilhar, connosco, a tua vivência da Guiné. Peço-te, no entanto, que tenhas em linha de conta as nossas regras que convívio: numa 'caserna virtual' tão grande como a nossa, há pluralidade de pontos de vista, mas também preocupação com a isenção (político-partidária). Numa altura sensível como é a de uma campanha eleitoral para a Assembleia da República, não é desejável e aceitável a propaganda a favor deste ou daquele partido. Seria abrir a porta ao Tsunami...

Um Alfa Bravo. Luís Graça, administrador e editor

Anónimo disse...

Camaradas,
O meu muito obrigado ao António Matos pelas suas palavras.

Aqui, neste nosso espaço,pelos Combatentes da Guiné: TUDO; pelos partidos políticos: NADA.

Não é, meu caro Comandante Luís, por estarmos em altura de campanha eleitoral!
Nunca é desejável,nunca é aceitável com ou sem campanha.

Quando o discurso resvalar para aí,o Blog Luís Graça terá de mudar de nome e de atabancados.

Um abraço para todos os Camaradas que combateram na Guiné.

Vasco A.R.da Gama