segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4772: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (6): Sinalização de sítios históricos no Parque Nacional do Cantanhez


Guiné-Bissau > Parque Nacional do Cantanhez > Gandembel > Sinalização de um sítio de interesse para o turismo histórico... Iniciativa da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados


1. Extractos de:

VENHA CONHECER CANTANHEZ A MATA MAIS BONITA DA GUINÉ-BISSAU

Brochura editada pela AD - Acção para o Desenvolvimento:

[Selecção / fixação de texto / bold: L.G.]


O ecoturismo no Parque Nacional de Cantanhez compreende entre outros o turismo ambiental baseado na contemplação de paisagens nas 14 matas, na observação de animais (macacos, chimpanzés, elefantes e búfalos), aves (pelicanos e aves migratórias na foz do rio Cacine), passeios fluviais no rio Cacine e afluentes, itinerários pedestres ou de bicicleta de 1 a 2 horas, visita à ilha dos Pássaros, ilhéu de Melo, Ilha de Nuno Tristão ou ao Parque Natural Marinho de João Vieira e Poilão, bem como a miradouros de bebedouros de animais.
Macaco Fidalgo Passeio fluvial Itinerário pedestre

Também o turismo histórico onde se valoriza o facto de Cantanhez ter sido o berço da nacionalidade guineense e onde ainda estão presentes alguns vestígios luta de libertação nacional, tendo como grupo-alvo os quadros guineenses sentimentalmente ligados à história recente da Guiné-Bissau.

O turismo da saudade tendo como grupo-alvo os antigos militares portugueses que fizeram a guerra naquela zona, em especial em Guiledje, Gandembel, Cacine, Gadamael-Porto, Bedanda, Iemberém, Cafine, Cadique, Caboxanque, etc.

O turismo cultural com formas de percepção e de estar da vida das diferentes etnias locais (nalús, tandas, balantas, fulas, djacancas, sossos), danças e música de cada uma das etnias, história e estórias, lendas, religiões e crenças, modos de vida, formas de vestir, instrumentos de trabalho (agricultura e colecta) e organização social das tabancas e regulados

O 'turismo' científico com a procura do conhecimento da geografia física, do estudo dos diferentes biótipos da região (bolanhas, florestas, palmar, mangal), identificação da exploração da fauna e flora pelo homem (alimentos, construção, medicamentos, energia, canoas) e dinâmicas da fauna (chimpanzés e babuínos) e flora.

Em termos de instalações de acolhimento já existem 3 bungalows em Iemberém, com todas as condições de higiene e conforto, apresentando a sua construção um enquadramento com o habitat tradicional, tendo-se utilizado maioritariamente material local (adobe e palha).

Começaram a ser construídos na tabanca de Faro Sadjuma mais 3 bungalows que estarão concluídos no final de 2008, bem como em Canamina vai ser construído a partir de Novembro um bungalow para os que quiserem estar junto ao mar no rio Cacine.

Para que o ecoturismo tenha uma verdadeira apropriação comunitária, definiram-se as seguintes regras de ouro:

(i) o maior número possível de tabancas devem sentir-se envolvidas no processo, beneficiando, por pouco que seja, das actividades promovidas. Isto evitará a tendência natural para a auto-exclusão e rejeição das que não forem incluídas;

(ii) envolver todos os grupos sociais e etários (horticultoras, pescadores, fruticultores, jovens, mulheres, adultos, etc.), procurando responder ao que verdadeiramente os interessa e são as suas prioridades;

(iii) ter a consciência clara de que “ninguém luta pelas ideias que estão na cabeça dos outros”, mas só naquilo em que acredita. Daí que os promotores do ecoturismo devam sempre fazer o exercício de se colocarem no lugar da comunidade para cada iniciativa que pretendam implementar e nunca impor a sua agenda de prioridades;

(iv) a preservação e boa gestão dos recursos naturais tem de andar de par com a melhoria real (e sempre que possível rápida) das condições de vida e trabalho das comunidades;

(v) não esquecer que o ambiente, cultura, associativismo, agricultura, pesca, desporto, etc. são actividades interdependentes no dia a dia das populações locais e querer resumir tudo a uma delas é o primeiro passo para o insucesso do programa (...)

Os desafios de curto prazo que se apresentam ao ecoturismo são os de:

(i) promover uma imagem da Guiné-Bissau enquanto país de história, cultura e pioneira em certos processos de gestão ambiental, capaz de mobilizar turistas preocupados com valores nobres e progressistas;

(ii) desenvolver uma visão que não seja geograficamente restrita, isto é, que não tome apenas Cantanhez como única área de intervenção. O ecoturismo só será viável se incluir de forma coerente e em conjunto outras zonas: Parque Marinho de João Vieira e Poilão, Ilhas de Melo e Tristão, Dulombi, Saltinho, Parque transfronteiriço de Guiledje-Boé e Xitole (macaréu).

(iii) encontrar para cada tabanca, pelo menos um motivo de oferta turística capaz de fazer deslocar os potenciais ecoturistas mobilizando simultaneamente o interesse da comunidade.

(iv) criar uma cultura de exigência em termos de higiene e remoção / tratamento de lixo;

(v) favorecer a identificação e formação de operadores e trabalhadores turísticos locais, tais como gerentes de unidades de alojamento e restauração, empregados de mesa, de bar e de quartos;

(vi) ir encontrando formas e soluções que sintonizem uma boa gestão dos recursos ambientais com as necessidades pressionantes das comunidades (...)

2. Comentário de L.G.:

O nosso amigo Pepito (Carlos Schwarz, engenheiro agrónomo, co-fundador e director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, sedeada em Bissau, e nosso parceiro privilegiado para acções de cooperação e solidariedade na Guiné-Bissau) está em Portugal, com a família, para passar as habituais férias de verão, na antiga casa dos pais (Clara Schwarz e Artur Augusto Silva), em São Martinho do Porto.

Vou ter o privilégio de estar com ele, a Isabel, os filhos, as netas e a Dona Clara Schwarz, de 94 anos, dentro de alguns dias... Mas já falámos mais de uma hora, procurando saber notícias de um lado e do outro (**) e falando do momento actual da Guiné-Bissau, da esperança que nunca falta a este extraordinário povo, resiliente e resistente, que são os guineenses, do exemplo de civismo que foram as últimas eleições para a Presidência da República, bem como do trabalho da AD, em especial aquele que nos diz mais directamente respeito (Musealização de Guileje e outros antigos aquartelamentos das tropas portuguesas, no Cantanhez, no período da guerra colonial/luta de libertação).

Fiquei feliz por saber que a sua saúde vai bem, e que a malta da equipa da AD que eu conheci por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, em Março de 2008, vai bem e continua a fazer o seu trabalho de não já de formiguinha mas de elefante (!), em prol da preservação e divulgação do património, ambiental, humano, social, cultural e histórico do Parque Nacional do Cantanhez... Bem hajam a todos!...

Citando de cor e correndo por isso o risco de ser injusto por omitir alguém, aqui vai um especial Alfa Bravo (abraço, em linguagem bloguística) para alguns dos muitos amigos que fiz por ocasião do Simpósio Internacionald e Guileje, e que estão de uma maneira ou de outra ligados à AD e aos seus projectos: Abubacar Serra, director do PIC - Programa Integrado de Cubucaré (teve há uns tempos de um problema sério de saúde, do qual espero que tenha recuperado), o Domingos Fonseca (o homem dos sete ofícios e o notável arqueólogo das ruínas de Guileje), o Tomané Camará, engenheiro agrónomo, coordenador de programas da AD, mas também a simpatiquíssima e corajosa Isabel Miranda, a presidente da AD, o Roberto Quessangue, presidente da Assembleia Geral, e o Nelson Dias, outro sócio fundador da AD... Sem esquecer a malta fantástica do Grupo de Teatro "Os Fidalgos" (Amélia da Silva, Jorge Quintino Biaguê...).

Pelo Pepito, fico a saber que os trabalhos do Museu da Memória de Guileje, incluindo a capelinha, vão em bom ritmo, mas que agora é preciso apostar no desenvolvimento nos conteúdos (seria desejável que houvesse um bom Centro de Interpretação do que foi e o que representou, em termos militares e históricos, Guileje, Gadamael, Gandembel, o corredor de Guileje, etc.).

Esperemos que o nosso Ministério da Defesa português colabore, mais uma vez, com esta notável iniciativa. Espero também poder fazer uma visita, com o Pepito, ao magnífico Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, para conhecer e tirar ideias... Ao que parece é um exemplo muito bem conseguido da confluência de múltiplos talentos e recursos (da arquitectura à novas tecnologias da informação, da museologia ao mecenato, do turismo à cultura...). ____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)

(**) Vd. postes anteriores desta série:

21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4391: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (5): O Museu Memória de Guiledje e o video de homenagem dos Homens Grandes (Pepito)

29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4264: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (4): Inauguração em Setembro do Museu Memória de Guiledje

15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa

31 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez

1 comentário:

JD disse...

Camaradas,
Muito admiro o entusiasmo de quem se entrega a uma causa, num dos lugares mais pobres e excluídos do mundo, certamente com tremendas dificuldades de ordem técnica e financeira. Tenho a esperança de visitar a A.D.
Permitam-me o Pepito e os amigos que sugira o seguinte: a instalação de pequenas unidades para alojamento dos ecoturistas, sendo uma ideia louvável, só pode rentabilizar-se se estiverem relativamente perto e permitam um certo "acompanhamento" de grupos que ocupem mais de três moranças.
Tudo pode funcionar, mas o grupo não pode sentir-se disperso. Pode funcionar pela rotatividade, quer de alojamento, quer de actividade, com encontros no jantar, para troca de informação, qualquer actividade lúdica e manutenção do espírito de grupo.
Todavia, numa perspectiva mais ampla, também este ecoturismo, pode enquadrar-se com outras formas de turismo, nomeadamente o balnear, o ecoturismo balnear,sem desvirtuar os princípios da A.D., pelo que a extensão da actividade a regiões como Varela ou Bijagós pode constituir uma mais-valia para estadias mais prolongadas, como para consolidação de contas, na medida em que por vezes é necessária uma oferta suficiente para grupos. E assim poder-se-á contribuir para promover a Guiné-Bissau e as suas gentes, no que às suas embaixadas poderá calhar um papel determinante. Mas compreendo que os avanços têm que se relacionar com a extensão das passadas, e devem ser bem ponderados.
Abraços fraternos
J.Dinis