quarta-feira, 22 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4724: Controvérsias (32): Ainda e sempre os Cabos Milicianos (Jorge Teixeira)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (*), ex-Fur Mil Art da CART 2412, Bigene, Guidage, Barro, 1968/70, com data de 15 de Julho de 2009:

Caro Carlos Vinhal
Camarada

Os meus respeitosos cumprimentos.

Ainda a propósito dos milicianos, neste caso os ditos cabos, deixo um texto à vossa consideração para ser publicado ou não, se acharem que tem interesse.

Fica à vossa atenção.
Um abraço



2. Camaradas

Vamos voltar aos milicianos... e não só. Parece que, como sempre, a coisa está a descambar.

O que iniciamente foi posto em causa, foi o porquê da existência, e sua invenção, de um posto no Exército com a designação de CABOS MILICIANOS e não saber se os bons eram os milicianos, ou os maus os permanentes no quadro, ou vice-versa, até porque a medalha tem duas faces e os bons e os maus estão nos... três lados, ou já se esqueceram que também havia o lado chamado IN?

Por este andar qualquer dia chega-se à conclusão que afinal quem fez a guerra foram os marcianos e a culpa foi dos lunáticos.

Mas voltemos aos cabos milicianos que foi assim que começou a polémica. Não há dúvida nenhuma que fomos roubados, ou alguém tem dúvidas? Senão vejamos:

Os cadetes do COM frequentaram o Curso de Oficiais Milicianos e foram promovídos a Aspirantes a Ofícial Miliciano (classe de Ofíciais)

Os instruendos do CSM frequentaram o Curso de Sargentos Milicianos e foram promovídos a Cabos Milicianos (classe de Praças)

Ah, mas estes são diferentes porque são cabos milicianos. Então, e os outros não eram todos milicianos?

Foi algum inteligente da altura, como alguns que há agora, que teve esta brilhante ideia para poupar uns cobres e cair nas boas graças do Salazar.

Normalmente um cabo miliciano era formado, de base, em 6 meses. Os atiradores eram colocados em unidades de recrutamento e eram, eles, chefiados pelos aspirantes do mesmo curso, que ministravam uma, duas, três ou mais recrutas, conforme eram ou não mobilizados.

Alguns eram colocados a fazer serviços administrativos, como foi o meu caso que fui colocado na "Torre de Controle" do GACA3 (o quartel tem partes do aeroclube local e as casernas são nos hangares) a dar os pareceres para o "Amparo de Pais". Também mandei ou ajudei a mandar alguns para casa mais cedo. Livraram-se da guerra?

Todos faziamos serviços à unidade como se de Sargentos se tratasse, mas éramos cabos para todos os efeitos, e pagos como tal, e aqui é que está o "busílis da questã" (como diz o meu primo d'aldeia).

Já agora, estive de Sargento de Dia à unidade no Natal 67. Foi para me habituar.
As outras especialidades que não atiradores, tinham também o seu tempo de treino devido ao estágio especial.

Mas não se pense que os atiradores ficavam por aqui. Aquando da mobilização tinhamos mais três meses ou de Minas e Armadilhas, ou de Operações Especiais (no duro, não era brincadeira, então quando era no inverno em Lamego, era a habituação ao clima da Guiné).

Alguns conseguiam safar-se das especializações e voltavam às recrutas aos soldados.

Com isto já se passou quase um ano de tropa, e o graveto continua na mesma.

Bom!!! (diz o professor Marcelo) agora, aspirantes e mais uma vez os cabos milicianos estavam prontos para formar a companhia para ir p'ra guerra. Têm 5 meses para isso.

Com a ajuda de altos cargos, diga-se patentes? Especialistas habituados à guerra de guerrilha? NÃO!!! Nem por lá se viam. O aspirante e os cabos que dizem ser milicianos que se desenrasquem, que a isso manda a tropa.

Nem o capitão que também era miliciano, sabia que existiam cabos milicianos, foi preciso o sargento da Companhia chamar-lhe à atenção.
- Oh meu Capitão, olhe que aqueles rapazes com umas divisas esquisitas são cabos, mas chamam-se cabos milicianos.
- No meu tempo não havia nada disso, eram Cabos e Prontos.
- Pois, o meu Capitão já é antigo.
- Antigo não, só sai da tropa há 10 anitos, ainda estou aqui p'rás curvas.
- Pois, mas passe a chamar a esses cabos: Oh nosso Cabo Miliciano... (só para não haver chatices)
- Está bem, mas podia-se poupar nas palavras e na saliva. Complicados!!!

Também não admirava, milicianos? Cabos milicianos? Então e os outros cabos não são? Até parecem milícias, ou pertencemos à milicia?

A Companhia está pronta, passaram-se 16 meses e até aqui o pilim continuava na mesma.

Não é, nosso Cabo Miliciano.

Já se fez o desfile da despedida e há que embarcar, rumo não se sabe a quê.
Antes do desfile e só no dia do desfile fomos promovidos (**), ou por outra trocamos as divisas de cabo miliciano pelas de furriel, e os aspirantes fizeram a mesma coisa para alferes, lógico, sem cerimónias, presidentes ou primeiros-ministros, até porque à época não compareciam nestas manifestações.

Agora sim estava tudo direitinho, apesar de na Caderneta Militar dizer que tinha condições para ser promovido a "Furriel Milº", 10 meses antes, ou seja e sito: "Escola de Recrutas, por equivalência a dois períodos completos de instrução básica", o que quer dizer que inventaram mais um cabo miliciano, e esqueceram-se do furriel.

Agora digam lá se fomos ou não, como se diz: roubados, enganados, vigarizados por um espertinho Salazarento?

Mas a vigarice não fica por aqui, não acabou. Já estou há 6 meses na Guiné.
Na mesma caderneta diz que tinha condições para ser promovido a 2º Sargento Miliciano, (mais um das milicias) e volto a sitar: "Escola de Recrutas, por equivalência a seis meses de serviço consecutivo em Unidade Operacional".

Ora isto também ficou esquecido e nunca se verificou nem mesmo quando passei à peluda passados 15 meses.

Nunca e era tão simples, era só virar as divisas ao contrário. Os carcanhóis é que seriam diferentes, o que era uma chatice, porque iria estragar o orçamento aos gandulos, agora já na era Marcelistas/Salazaristas.

Finalmente passam 21 meses (aí tivemos alguma sorte, outros fizeram 24 ou mais) chega o descanso do guerreiro, e o miliciano que outrora tinha sido cabo, vai deixar de o ser. Agora...feitas as contas deveria ser:

- Instruendo do CSM durante - 6 meses
- Fur Mil - 16 meses
- 2.º Srgt Mil - 15 meses

...mas foram:

- Instruendo - 6 meses, sem cheta
- 1.º Cabo Mil - 10 meses
- Fur Mil - 21 meses

Total de Tropa - 37 meses (16 na Metrópole e 21 na Guiné)... e ainda se queixam, os de agora, coitadinhos, de fazerem 6 meses lá fora como voluntários, heróis a ganhar bem e na maior.

FUI ROUBADO!!!

Isto não era só comigo, passava-se com a generalidade dos ditos cabos milicianos, mais mês, menos mês.

Resta-nos a consolação que, no presente, emendar os erros do passado está fora de questão, ou a gente não estivesse já habituda a isso e muito mais, basta ver a consideração, e principalmente o respeito, que os governos e os políticos têm por nós.

Apesar de tudo, tal como diz o meu amigo,(o outro Jorge Teixeira, o Portojo) bons foram os tempos de amizade e camaradagem que passámos em Espinho no GACA3, como CABOS MILICIANOS, eramos uns Senhores.

Por essa razão ainda agora nos encontramos às segundas Quartas-feiras do mês no café Progresso no Porto para continuar essa amizade e camaradagem. Falta o Canhão... e não só, paciência, só aparece quem quer e quem pode, temos o Bioxene que também é maluco, mas há mais... malucos, claro.

Bando dos Furriéis, assim se chama, a tertúlia/conspiração no café. Designação utilizada muito antes do outro, um tal AB, chamar bando a tudo e a todos. Não tem arame pode aparecer quem quiser. E não se esqueçam da Barreta (tinha que falar nela).

Um abraço a todos os Tertulianos
cumprimento
teix-veterano de guerra
ex-Furriel Mil Art
CART 2412 68/70
Bigene-Guidage-Barro
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)

(**) Na data de embarque fui graduado em Furriel Miliciano e só em 21 de Outubro de 1971, exactamente ao fim de 18 meses de tropa, fui efectivamente promovido.

Vd. último poste da série de 3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4631: Controvérsias (24): Os Milicianos, combatentes de primeira, cidadãos de segunda (Vasco da Gama)

6 comentários:

mario gualter rodrigues pinto disse...

caro camarada
Como tu tambem sofri toda essa saga de ser Cabo Miliciano ere uma coisa assim parecida não era carne nem peixe, era aquilo que dava jeito aos Senhores da Altura.
Era o Militar que fazia um curso igual ao COM. fazia o serviço de Sargento e recebia como praça, nada mau.
A polémica a meu ver tomou contornos de descalabro desde que o Gen Almeida Bruno, nos chamou BANDOS a parir dessa altura é que os comentários se tornaram mais separatistas em relação aos camaradas do QP.

Posto isto

um abraço

Mário Pinto
ex Fur. Mil.

Anónimo disse...

Meu caro Jorge Teixeira,

Há histórias mais macabras, o nosso comarada Augusto Tadeu ali de Folgosinho, teve o problema de bater com uma viatura militar em Coimbra, pois ele combateu a meu lado no mesmo grupo de combate comandando uma secção como cabo Miliciano.
Não digo mais nada!
Já estraguei a noite e já não dá para escrever, pois estou-me a lembrar de muitas outras coisas.

Um abraço,

Mário Fitas

Unknown disse...

Conheço este Teixeira desde não sei quando. Mas em Vendas Novas era preciso ajudá-lo a carregar - melhor descarregar - com a moxila (já nei sei se esta palavra se escreve assim mesmo) a canhota, o cantil sempre cheio, e todos aqueles pesos que nos punham em cima, e fazer o cross de nao sei quantos km em x minutos. Para isso existia um tal de Bioxene, o Fernando pois claro, que era - e ainda é - pau para toda a obra. Bom, mas toda esta conversa tem uma razão. Os futuros cabos milicianos, conhecendo-se ou não desde a infância, criaram uma amizade e um instinto de solidariedade muito grande. Que passou, no nosso caso, para os futuros aspirantes (que curso mais bandalho esse 3º/67) daquela unidade de que tão mal dissemos na altura e agora recordamos com carinho. Quanto aos dinheiros, devo dizer que já estava na reserva - o papel que me deram ou mandaram para casa, já não lembro, estava assim escrito - e recebi uns escudos, rectro-activos, por ter sido promovido a 2º sargento. Acontece que isso não está escrito na minha caderneta, que recebi vinda de algures, meses mais tarde depois do meu regresso. Que me fez um j(g)eitão, pois tive de pagar 600 escudos que fiquei a dever à CCS onde estava adido. Por ordem do CTIG, onde foi apresentada queixa contra mim, assinada pelo 2º cmdt da dita CTIG. E quem a apresentou ? Os Sargentos do Quadro. E por uma coisa bem simples: Os ditos sargentos,da dita CCS, pediram-me por favor, para tomar conta da sua messe. Eu tinha fama de bom administrador e de dar boa comida. Prometeram-me, não esqueçam, os ditos sargentos, que se fosse preciso dar dinheirinho do seu bolso, eu estava à vontade. Por isso, eu apresentava contas todos os dias. Todos sabiam - os ditos sargentos do quadro, da CCS -como rolavam as coisas. Vcs, milicianos, acreditavam neles ? Eu acreditei. Fodi-me. Pois claro.
Tirem as conclusões que quizerem.

Unknown disse...

Um a Tempo: Há dois camaradas que pelo seu metodismo, devem ter um arquivo fabuloso de material. Os nossos editores e o nosso chefão deviam pressioná-los para pôr cá para fora tudo o que eles têm guardado. São eles o Victor Condeço e este Teixeira. Vá lá. Vão em cima deles.
Nem imaginam o que a Tabanca, os Historiadores e essa gente que se dedica a sério a estas coisas ficavam a ganhar.
Um abraço para toda a Tabanca.

Anónimo disse...

de
Teixeira para Teixeira, Mário's
e demais famílias ...e camaradas.

Se por um lado(para ti Teixeira) ainda carregas o fardo pesado que na EPA me obrigaram a carregar ás costas, não sei como, se em Vendas Novas não eras do meu pelotão? O Bioxemas sim,(o tal, o Almeida!), que em Lamego para onde fomos recambiados, tenho a impressão que me desenrascou algumas vezes, tenho a impressão não,tenho quase a certeza, mas adiante, senão o homem nas célebres 4ªs feiras não me larga, por outro lado, estragas-me o estapor do computador com a baba a cair desalmadamente, ao menos mandavas uma babete.

Não estarás a exagerar?
Tenho a ideia que sim, mas pronto (como se dizia na tropa) tu lá saberás.

Um abraço para todos
...especialmente para ti, e para os Mário´s Pinto e Fitas

alto, continuando...
Oh Mário Fitas:
A mim esteve quase a acomtecer-me o mesmo, tive sorte, não com um carro batido, mas por muito menos o que é mais ridículo, ou seja: já mobilizado e depois de passar 3 longos meses de tormentos em Lamego e sabe-se lá mais o quê, vem um PM chatear-me (e chateou?)só porque ía a sair do carro com o blusão aberto. Quem me safou foi o 2ºCmt do RAP2 (onde estava a formar Cª), o célebre Maj Bacelar, que á minha frente pelo telefone, passou uma piçada aos da PM.
- Queres estragar a vida a este homem que está mobilizado para a Guiné? Eu também quando ando de carro vou todo desapertado e não é só o blusão, dizia ele aos berros! Se não fosse ele...

Um abraço a todos
cumprim/jteix

Anónimo disse...

sou eu outra vez, o Teixeira, Jorge Teixeira, quem havia de ser?

Não é Bioxemas, pois claro, já toda a gente sabe que o Fernando Almeida é o "Bioxene", gandamaluco.
Foi o dedinho malandro.
Desculpa lá chamar-te "mais" nomes.

Um abraço
cumprim/jteix