sábado, 4 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4640: Tabanca Grande (158): José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Bula e Tite, 1969/71)

1. Mensagem de José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117, Bula e Tite, 1969/71, nosso novo camarada, com data de 30 de Junho de 2009:

Caro Carlos Vinhal:

A vontade de entrar na Tabanca, já vem de algum tempo atrás, mas agora, e por insistência do António Maria, resolvi avançar.

Entretanto, já elaborei o texto que me parece relatar a minha história na Guiné.

Entretanto te direi que estive em Bula com o Pelotão de Morteiros 2117, Maio, Junho e Julho de 1969, tendo depois sido chamado a Bissau para tirar um curso de obuses, avançando depois para Tite com um Pelotão de guineenses onde passei o resto da comissão.
Ao fim de um ano fui baptisado com os famosos foguetões a que se seguiram mais três ataques.

Abraço do Zé Albino


APRESENTAÇÃO

Nome: José Albino Pereira de Sousa
Nascido em 23.1.1946
Natural do Porto (fui nascer à Maternidade) mas considero-me de Matosinhos.
Casado
Dois filhos e dois netos

Morada: Senhora da Hora
Curso Industrial de Montador Electricista (Matosinhos)
Ex-técnico da Portugal Telecom na Pré-reforma

Ex-Furriel Miliciano de Infantaria


A MINHA HISTÓRIA MILITAR

Assentei praça no RI5 (Caldas da Rainha) a 15 de Janeiro de 1968, onde fiz a recruta, tendo efectuado o juramento de bandeira a 5.4.1968.

Foi-me atribuida a especialidade de Armas Pesadas, (teria eu força para pegar nelas?) e segui para o CISMI (Tavira), onde conclui o curso de Sargentos.

Segui para o RI8 (Braga), onde colaborei em duas formações de recrutas.

Na véspera de Natal de 1968, sou particularmente informado que estou mobilizado para a Guiné.

No início de 1969 sou integrado no Pelotão de Morteiros 2117, que faz o IAO em Chaves, e em finais de Maio, lá vou eu no Niassa, rumo a África em defesa da Pátria (assim nos tinham convencido).

O Pelotão de Morteiros é enviado para Bula, e aí passo os meses de Junho e Julho de 1969, sem qualquer episódio de ataque ao aquartelamento.

Entretanto, sou informado que teria de ir a Bissau tirar um curso no BAC.(Sabia lá eu o que era aquilo).

Chegado ao tal BAC (Bataria de Artilharia de Campanha) é que percebi que éramos três dezenas de graduados (alferes, sargentos e furrieis, oriundos de Pelotões de Morteiros e de Canhões sem Recuo), e estávamos ali para receber formação de Obuses, como que emprestados à Arma de Artilharia, constituir Pelotões de Obuses 10,5; 11,4 e 14, com militares guineenses.

Confesso que com os morteiros em Bula, teria de adaptar os quase esquecidos conhecimentos adquiridos, ao terreno, mas com Obuses, as granadas iam mais longe, pelo que a responsabilidade aumentava, e daí o meu esforço em adquirir o máximo de conhecimentos para tentar safar a pele.

Quero dizer com isto que me esforçei para ter uma boa classificação, o que me permitiu escolher o Quartel de destino.

Lembro-me de o Comandante da BAC ler a lista de quartéis a serem reforçados com Obuses, e no fim eu lhe dizer que só conhecia Bula e mal.

Então eu vou ler de novo - disse ele.

...
TITE??!!!!!
...

Bem, talvez Tite disse eu, pensando, seja o que Deus quiser.

OK! Vai ver que não é tão mau como se diz. Como está do outro lado do rio, aqui em Bissau ouvem-se as saídas e rebentamentos, mas normalmente é a bater a zona.

E lá fui eu numa LDG, com dois Obuses 10.5, cunhetes de granadas, e talvez duas dezenas de guineenses de várias etnias, acompanhados das respectivas famílias.

Chegados ao destacamento do Enxudé, lá estavam os matadores para rebocarem os dois Obuses para o quartel de Tite.

Lá chegado, apresentei-me aos superiores e ao meu colega artilheiro, Fur Mil Figueiredo de Coimbra, responsável pelo 8.8 existente.

Por sorte não sofri alguns dos ataques por não estar presente no quartel.

Bula e Tite foram atacadas, mas eu estava no curso na BAC, outra vez tinha ido a Bissau levantar os vencimentos do pessoal, etc.

Até que chegou a minha vez a 19.5.70, ao fim de um ano de espectativa, e logo com os tais foguetões.

Lembro-me de os dois obuses terem disparado cerca de 140 tiros nessa noite. Foi medonho.

Entretanto o Fur Mil Figueiredo regressou à metrópole e algum tempo depois chegou o Alferes Rocha do Porto, que comigo apanhou um violento ataque a 3.8.70, com morteiros e canhões sem recuo, estava eu a chegar de férias e o Salazar a morrer.

Contrariando as ordens do Major Martins Ferreira (BCAV 2867), (fogo só á ordem), reagimos ao ataque do PAIGC e os valentes artilheiros responderam com cerca de duas dezenas de granadas. Assim acabámos com o ataque.

Porque a iniciativa de reacção ao ataque foi da minha responsabilidade, (o Alferes Rocha também mandou umas ameixas, mas o Major não se apercebeu), fui ameaçado de ser despromovido, ser enviado para Pirada e pagar as cerca de duas dezenas de granadas. Calei-me e não deu em nada.

Depois disto, o Alferes foi não sei para onde e eu fiquei a comandar o pelotão até ao final da comissão, tendo vindo mais um Obus 10,5 com um novo camarada de Artilharia, Fur Mil Costa, dos Arcos de Valdevez, com a função de evitar que a partir de Bissássema, o PAIGC alcançasse Bissau, o que tentaram fazer no meu tempo, e mais tarde, penso que com êxito.

Lembrei-me agora que uma vez mandaram-me fazer cálculos de tiro para o mar (?) e apontar as peças quando recebesse as ordens. Era a operação Mar Verde.... em Conakri.

Refiro ainda outro ataque a Tite, já no final da comissão, com as granadas a cair fora do arame farpado.

Foram cerca de 17 meses em Tite, colaborando com o BCAV 2867 e BART 2924, até que recebi ordem para regressar a Bissau e juntar-me ao Pelotão de Morteiros 2117, de onde era originário, regressando à Metrópole no Angra do Heroismo, nos princípios de Fevereiro de 1971.

Obs:- Nunca disparei um Obus, apenas conferia os elementros de pontaria no limbo e no tambor que transmitia ao apontador, quando era para bater a zona, e por vezes ainda dava mais duas maniveladas.

Quero ainda deixar aqui o meu grande respeito aos guineenses, vítimas de políticas desumanas e políticos dementes, que lutaram heróicamente em nome de Portugal.

Zé Albino

Bula > Junho de 1969. Com dois meses de Guiné, claro que não era o pai.

Bula > Morteiro 81 > Pel Mort 2117

Tite > Pelotão de obuses 10,5 (190/71)


2. Comentário de CV:

Tenho o prazer de apresentar à Tertúlia mais um amigo, daqueles que, embora não se vendo com frequência, não se esquecem. Nos últimos três anos temo-nos encontrado no almoço dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos. O nosso novo camarada José Albino, Zé Albino para os amigos, é um companheiro dos velhos tempos da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, frequentou o mesmo curso de Formação de Montador Electricista ao mesmo tempo que eu e o António Maria, camarada recentemente entrado para a Tabanca. Temos na Tertúlia ainda mais um ex-aluno da mesma Escola, o António Tavares e um professor, o ex-Cap Mil Ferreira Neto.
Se começasse a enumerar os tertulianos do nosso Blogue residentes no concelho de Matosinhos, arranjava uma longa lista.

Caro Zé Albino, estás apresentado à Tertúlia. A partir de agora tens a responsabilidade de contribuir para o espólio do nosso Blogue. Há sempre algo para contar, resquícios de uma vivência contidos nos confis da memória, que podem e devem ser patilhados por todos.

Deixo-te o habitual abraço de boas-vindas em nome de toda a tertúlia. A partir de hoje tens mais três centenas e meia de amigos que não conheces ainda, mas que tiveram a mesma experiência que tu, viveram e lutaram contra o clima, falta de condições, fome, estado de guerra e outras privações, naquela terra que ainda hoje temos no nosso coração, a Guiné-Bissau.

Para ti, um especial abraço do teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4625: Tabanca Grande (157): Constantino Costa (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/74)

4 comentários:

MANUEL MAIA disse...

CARO ZÉ ALBINO,


NA QUALIDADE DE VIZINHO DE CONCELHO E DE MEMBRO(COM MENOS DE UM ANO DE "CASA",É CERTO...)VENHO SAUDAR A TUA ENTRADA E ESPERAR PELOS TEUS ESCRITOS.

UM ABRAÇO

MANUEL MAIA

JOSÉ BORREGO disse...

Caro José Albino, a BAC 1 é antecessora do GANº7 ao qual pertenci, de 70 a 72, e estive destacado em Bajocunda no 9º PELARTª (SECTOR DE PIRADA)
Bem-vindo ao nosso convívio e recebe um abraço do
JOSÉ BORREGO

Anónimo disse...

Caro José Albino,
Um "post" que dá gosto ler. Directo ao assunto, nada de rodriguinhos, pão-pão, queijo-queijo. Escrevo somente porque estivemos no CISMI na mesma época. Terás terminado a especialidade em 29 de Junho de '68 (pela caderneta militar, vejo que foi nesta data que a terminei - a de atirador de Infantaria). Parece-me que pertenci à 4.ª Companhia, mas não tenho a certeza (41 anos é muito tempo...). A das armas pesadas era a primeira à direita a partir da porta de armas(mas posso estar enganado). A minha era a última à esquerda. Segui para Angola em fins de Abril de '69, depois de ter estado no BII 18, em Ponta Delgada.
Procuro sempre alguém (para além dos que vivem aqui nos Açores) que tenha estado no CISMI nos dois primeiros turnos de 68, mas só agora dei por um camarada, ainda que de Companhia diferente.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Zé Albino

Benvindo à Tabanca.
Fico a aguardar os teus dizeres,especialmente sobre Bula,onde passei uma grande parte da comissão,de 70 a 72

Um braço
Luis Faria