quinta-feira, 11 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4501: Fauna & flora (22): A fobia das cobras (Magalhães Ribeiro)

1. Muita gente tem fobia a cobras...

Não sei se é um problema social, se está inscrito no nosso ADN, fruto de milhões de anos de evolução e de convívio (nada pacífico) entre os primatas e os répteis...

Também há a nossa matriz cultural: para os gregos da Antiguidade Clássica, a serpente era um animal sagrado, associado ao conhecimento e à sabedoria (veja-se o cadaceu, que é o símbolo da farmácia e da medicina)... Já para a nossa cultura judaico-cristã, a serpente é a personificação do diabo, foi ela (e a mulher...) a responsável pelo pecado original, a nossa expulsão do Paraíso, a condenação ao trabalho, o parto com dor, e todas as demais desgraças que se abateram sobre a pobre humanidade...

Se queres saber se tens fobia a cobras, podes fazer aqui um pequeno teste... Entretanto, aqui fica mais um história de fobia a cobras, passada em 1974 na ainda então Guiné Portuguesa... (LG)


2. Quem não pode vê-las nem cheirá-las (nem sequer ouvir falara delas!) é o Eng Agr Jorge Picado, que já ameaçou deixar o blogue... se a gente persistir em contar mais histórias de Cobras & Lagartos... Escreveu ele (*):

Mas que porra é esta? Querem privar-me de ler este Blogue? Vejam lá se acabam com tais escritos.

Oh, Camarigo Mexia, também tu?

É de mais. Já chega. O que me vale é que hoje é pleno dia e está sol. Mas ontem de noite, quando me fui deitar, já via cobras por tudo o que era mais escuro e acabei por ter pesadelos.

Afinal também o Firmino é como eu, oh MR. Posso garantir que o mesmo se passaria comigo, pois ficaria de certeza impossibilitado de entrar na viatura enquanto não tivesse a certeza de que estava 'LIMPA'.

Um Abraço, mas não camarigo, por tal brincadeira de mau gosto...

Jorge Picado



3. Fauna & flora > O Firmino e a fobia das cobras
por E. Magalhães Ribeiro


Das cobras lembro-me de, num belo dia de sol, em que regressava de Bissau, num Unimog, com o Soldado Condutor Firmino, de repente, virmos no meio da estrada duas grandes cobras (não posso precisar o tamanho), que, segundo me pareceu, estavam a acasalar ali, no quentinho do asfalto.

O Firmino em habilidade assassina fez uma travagem busca, hipoteticamente em cima delas, nitidamente com a intenção de as trucidar.

Parou a viatura e saímos para fora, procurando as desgraçadas das bichas. Nada, nem sinal delas.

Foi então que o Firmino entrou em pânico, visto que ele tinha tremenda fobia às cobras, afastou-se uns bons 10 metros, com os pêlos todos eriçados, e começou a dizer:
- Porra, elas devem estar enroladas nos pneus!

Lá fui eu espreitar, por debaixo do Unimog, e não vi cobra nenhuma.
- Ó pá, aqui não está cobra nenhuma.

Diz ele:
- Então estão dentro no habitáculo, eu aí não entro mais!

Não me tinha lembrado dessa remota e pouco provável hipótese, mas estava admirado e surpreendido com o esfumanço dos animais, que nem eram tão pequenos como isso.

Fui então espreitar para o habitáculo e nada.
- Firmino, vamos embora, não está aqui cobra nenhuma, pá!

Ao que ele respondeu:
- Eu aí, nessa viatura, não entro mais.

Tive que entrar eu e ficar ali sentado uns bons minutos até que o raio do homem se convenceu que eu estava a falar verdade, mas sempre com os olhos nos pés, não fosse o diabo tecê-las.

Ainda hoje eu cismo e o Firmino com certeza também:
- Para onde desapareceram o raio das bichas ?

Magalhães Ribeiro

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4491: Fauna & flora (21): Surucucus (Lachesis muta muta) que cantavam nas praias dos Bijagós (Joaquim Mexia Alves)

2 comentários:

Anónimo disse...

Fazer o teste para ver se tenho fobia?
Obrigado Luís, mas não preciso de tal.
Vade retro satanás...mas olha MR que isto não tem nada a ver com a história do Adão e Eva.
Abraços sem répteis
Jorge Picado

Anónimo disse...

Camaradas fóbicos,
E de osgas posso falar? É que só tenho boas recordações.
Eu vou contar... e vocês têm a liberdade de não ler.
Depois da guerra fui trabalhar para um país africano, num local muito interessante, de urbanismo exemplar e segurança total, com belos jardins que todos partilhavam na ausência de muros.
Alguns meses depois casei-me, e mudei da casa de trânsito para uma pequena e acolhedora vivenda.
Casado de fresco.
Nos primeiros dias, imaginem, a jovem esposa deitava-se a meu lado e, inopinadamente, agarrava-se-me com violência e temor da osga que dominava o território do tecto do quarto, branquinha, translúcida, com manchas negras na região ventral, a atestar que já tinha manducado alguns mosquitos, e a indiciar que podia cair a qualquer momento sobre as nossas cabeças.
Imaginem só, eu de sangue quente, a explicar-lhe que a coitadinha, de sangue frio, estava ali para nos poupar das ferroadas dos insectos que vocês sabem, a argumentar, com verbo e doçuras, até quando a minha linda e desejada esposa, finalmente, dava conta da minha presença, já eu quase dormia de exaustão e frustração.
Felizmente, nem a osga alguma vez caíu, nem ela adormecia a pensar na osga.
Abraços
José Dinis