segunda-feira, 25 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o furriel Guimarães da CART 2716, nos quinze dias em que passou no aquartelamento do Xitole. Infelizmente é a única fotografia que temos dele no CTIG.E ele também já nos confessou que só tem mais duas... O resto ficou tudo em Bambadinca, em Maio de 1971, quando foi expulso do BART 2917 e do CTIG...

Foto: © David Guimarães (2005). Direitos reservado

1. Escreveu o nosso camarada Abílio Machado, ex-Alf Mil, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (*)


(...) O Puim. Outro exemplo impressivo. Memória perene. Porque há actos que, por dolorosos, queremos rejeitar, mas pelo exemplo não podemos esquecer. E ficam-nos como um padrão, ou uma tatuagem, ou um ferrete. Recortados no horizonte ou cravados na carne a frio são uma referência ou uma lembrança.

A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar. Já corriam, porventura trazidos pela brisa que vinda de certa Casa ribeirinha [, possível referência a um comerciante português, que morava na tabanca de Bambadinca,] se espalhava às vezes serena, às vezes inquieta, pela parada do quartel, uns ditos de que o padre Puim se desmandava nas homilias.

Os textos, ditos ou escritos, não eram visados pelo lápis azul. O Puim saberia disto? Não vou revelar o que penso, não quero ser inconfidente… E choveram relatórios para Bissau, por certo. Alguém que era regular nas missas.

E chegou o dia 1 de Janeiro – Dia Mundial da Paz. Ainda é ? Era-o em 1971. Ao que me disseram (eu não ia à missa : as minhas missas com o Puim eram grandes conversas, edificantes, pela noite fora), o Puim falou sobre a Paz.



Viseu > 26 de Abril de 2008 > 2º Convívio do pessoal da CCS do BART 2917 e unidades adidas(Bambadinca, 1970/72) > O Jorge Cabral,o David Guimarães, o Dr. Marques Vilar (médico psiquiatra), e o Abílio Machado (**).

Foto: © Jorge Cabral (2008). Direitos reservados


Nessa semana, à socapa – houve um silêncio quase opressivo ou é efabulação minha? - aterrou uma DO. Alguém, discreto, fez-me chegar a nova de que algo se passava com o Puim. Fui ver. Encontro o Puim sentado na cama, nervoso mas determinado, olhando uns sujeitos que impiedosamente lhe desmantelavam o quarto descarnado, de asceta, à cata de … Abriam, fechavam gavetas, apressados … Acabei retirado do quarto.

E levaram-no com eles . Vi-o passar. Parecia mais sereno . Chegou-nos que teria sido mal tratado em Bissau até pela própria Igreja . E que teria sido exilado para a sua terra: haverá coisa pior? Um exílio no próprio chão que o viu nascer?

Ninguém é profeta na sua terra nem fazem milagres os santos que conhecemos. Mais tarde soubemos que estava de facto nos Açores. E que despira o hábito … Mas abraçara outro sacerdócio … A igreja será agora o Hospital de Ponta Delgada" (..
.)


2. Comentário de L.G.:

O nosso camarada Arsénio Pui, é já membro da nossa Tabanca Grande. Tem diversas histórias para nos contar. Com tempo e vagar. Que ele é, ou a continua a ser, a calma em pessoa.

Enquanto passava uns dias por Lisboa e não regressa à sua terra (em voo previsto para 3ª feira, dia 26), em visita aos filhos (um, estudante de Engenharia, no Instituto Superior Técnico; outro, a frequentar a prestigiada Faculdade de Economia da minha Universidade, a Universidade Nova de Lisboa), o Arsénio Puim (foto à esquerda) falou comigo ao telefone, pelo três vezes, e teve oportunidade de me esclarecer esta história, que de facto está mal contada no nosso blogue...

Ontem, domingo, tive o grato prazer e o privilégio de o abraçar, retomando um contacto de há 39 anos... (que, devo dizer, não era íntimo: eu não ia sequer à missa, tal como o Machado, mas o Machado às vezes ainda dar uma ajudinha ao Puim, tocando o órgão: foi o ex-capelão que mo recordou, ontem; ele, de resto, tem uma boa memória, naturalmente selectiva: lembra-se mais de algumas coisas do que outras...).

Na época, em 1970/71, altura em que convivemos em Bambadinca, ele tinha já dez anos a mais do que nós, e portanto, outra maturidade. Antes de vir para a Guiné, enquanto se formava o batalhão, esteve na Serra do Pilar, na RAP2 - Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia. E aí houve uma função de capelania que o marcou: empilhavam-se os caixões, vindos do ultramar, com os restos mortais de militares naturais do Norte.

Nessa altura, ele terá feito mais de 70 cerimónias religiosas, por todo o Norte, acompanhando os nossos camaradas mortos até à sua última morada. 70 cerimónias religiosas, acompanhando o padre local, as famílias, as comunidades locais... Ainda hoje - confessa - não consegue esquecer essas emoções fortíssimas de dor e de luto, o odor característico dos féretros que vinham, teoricamente, chumbados, hermeticamente fechados, mas alguns apresentavam fissuras, rupturas, e exalavam um cheiro enjoativo...

Como é que chegou a capelão ? Diz-me que foi contra a sua vontade, por ordem do seu bispo, como muito provavelmente acontecia em todas as dioceses... Dado o seu nome à Cúria Castrense, veio parar ao Continente. Na Academia Militar, ali à Gomes Freire, em Lisboa, vai frequentar um curso de um mês e picos para capelães... Se bem percebi, esse curso terá sido no 3º ou 4º trimestre de 1969, e contou com a presença do então Major Capelão Gamboa...

Tirado à sorte, coube-lhe o BART 2917 e a Guiné... Esse curso não foi, contudo, pacífico: pela primeira vez, ao que parece, terá havido contestação do sistema por parte de alguns capelães... E essa contestação era liderada pelos açorianos, entre eles o Arsénio Puim, um homem que de resto, enquanto cidadão e como cristão, nunca escondeu que lutava pela liberdade e pela justiça...

Na Guiné, ele vai recusar usar armas... De facto, não nunca teve G3 distribuída. Quando chegaram a Bissau, e houve distribuição do armamento - no quartel de Brá, ao que parece -, antes da partida em LDG para o Xime, ele estave na fila, como toda a gente, mas, chegada a sua vez, disse delicadamente, ao segundo comandante, que dispensava a arma... nem sequer saberia usá-la...

Perante o insólito desta cena, o major ter-lhe-á perguntado, directamente, se ele não era "testemunha de Jeová" (Recorde-se que eram, na época, perseguidos por serem objectores de consciência). Provocação deliberada ? Piada de caserna ? Brincadeira de mau gosto ?

- Não, meu comandante, sou um padre católico...

A presumível antipatia, pelo capelão, alimentada pelo do 2º comandante do BART 2917 - de resto, um professor da Academia Militar, com tiques prussianos, que nos obrigava a bater a pala, em plena parada de Bambadinca, como se fôssemos vulgares instruendos, a nós, operacionais da CCAÇ 12, já com mais de um ano de velhice, muito sangue, suor e lágrimas na Guiné! - já devia vir de longe, "talvez da primeira homilia, em Viana do Castelo, aquando da formação do batalhão"... (***)

Não, no dia 1 de Janeiro de 1971, não aconteceu nada. Isto é: não houve represálias... Mas haveria mais homilias da paz, e sobretudo a da Abril. Terá sido essa famosa homilia que entornou o copo...

Eu já não já estava na Guiné, tinha regressado a casa em meados de Março de 1971... A CCAÇ 12, agora com novos tugas, periquitos a enquadrar os soldados africanos, juntamente com a subunidade de quadrícula do Xime (CART 2715), tinha feito prisioneiros, no região do Xime, possivelmente na zona do Poindon / Ponta do Inglês, como diz explicitamente o Carlos Rebelo, nos seus versos sobre o Romance do Padre Puim (****). Era população civil, incluindo mulheres e crianças, que viviam sob controlo do PAIGC.

Uma das mulheres tinha acabado de dar à luz, três dias antes da operação. Eram balantas, possivelmente oriundos de Samba Silate, destruída e abandonada no início do guerra. Foram levadas para Bambadinca. 

O grupo ficou detido numa espécie de galinheiro que havia perto da escola, que continuava a ser dirigida pela Profª Violete que tinha, lá em casa, a viver consigo, um puto, o Alfredo, de 15 anos, que irá mais tarde ser mencionado na ficha da PIDE/DGS do capelão, por alegadamente ser do PAIGC ou possível informador do PAIGC...

Era nesse galinheiro, na ausência de uma verdadeira prisão, que ficavam os prisioneiros, em trânsito para Bafatá, ou para Bissau (tratando-se e guerrilheiros: quanto aos civis, nem sempre era fácil a solução da integração nas tabancas balantas da região - basicamente, Nhabijões, Mero, anta Helena- , havendo crianças já nascidas no mato, e que nos olhavam aterrorizadas, quando o roncar das nossas GMC...).

Bom, resumindo, parece que a CCS do BART 2917 não fornecia comida aos prisioneiros, maioritariamente mulheres e crianças. Ficaram à mercê da caridade da população local, de Bambadinca e Bambadincazinho, entre a qual havia simpatizantes do PAIGC...

O Puim, inteirado da situação, condoei-se daquela gente e começou a visitá-los. Levava leite às crianças. E protestou contra aquela situação de injustiça. Era, de resto, um homem que não se calava, como não se calou quando o ex-furriel ''cmd' Uloma, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, se deixou fotografar, com um cabeça cortada de um prisioneiro, na parada de Bambadinca... 

Perguntou, já não sabe a quem (possivelmente, ao cap Barbosa Henriques, instrutor, ou ao major Leal de Almeida, supervisor) se aquilo era digno de um exército civilizado... Se bem me lembro, esta cena ter-se-á passado  em outubro de 1970, depois de uma operação a norte do Enxalé...

Através de um intérprete, um polícia administrativo, as mulheres diziam que o Puim era "manga de bom pessoal", mesmos sem saberem qual era a sua função ou o seu papel naquela guerra... Seria, de resto, difícil explicar-lhe o que era um capelão e para que servia... Para elas, era apenas um tuga bom...

Numa das suas homilias, num domingo de Abril, o Puim abordou este tema, doloroso, para ele... O tratamento dos prisioneiros nem sequer estava de acordo com a política, superiormente definida por Spínola, e consubstanciada no slogan Por uma Guiné Melhor...

Terá sido a partir daqui que ele foi denunciado, possivelmente não já pela primeira vez, e que em maio de 1971 surge uma famigerada "ordem de Bissau" (que ele nunca leu, por não lhe ter sido mostrada) para ele se apresentar no "Vaticano" (as instalações dos capelães militares em Bissau)...

O papel de Bissau (não se sabe por quem era assinado...), com a sua ordem de expulsão, estava nas mãos do 2º comandante do BART 2917, acompanhado para o efeito pelo major de informações e operações... A ordem foi lida pelo 2º comandante,  diz-me o Puim...

Nas conversas que tenho tido com ele, ao telefone, o Puim nunca refere a presença de nenhum agente da PIDE/DGS... Afirma categoricamemente que quem passou a revista ao seu quarto (de resto, partilhado pelo Dr. Vilar, o médico, também conhecido pela alcunha O Drácula), quem mexeu nos seus objectos pessoais, na sua mala... e quem confiscou o seu diário, foi o 2º comandante. 

De qualquer, a meticulosa e omnipresente PIDE/DGS averbou esta cena no ficha do Puim... O que sugere alguma promiscuidade (de resto, comnhecidaq)  entre a PIDE/DGS e a hierarquia militar ...

Admito que a PIDE/DGS (de Bafatá) estivesse por detrás de tudo isto, ou pelo menos acompanhasse o processo do polémico capelão de Bambadinca... Mas como o Puim era um oficial do exército  e ainda por cima capelão, graduado em alferes, é natural que Bissau tenha dado ordem para ser a hierarquia militar a encarregar-se do caso... e não armar escândalo. Afinal, os tempos já eram outros... Spínola tinha a PIDE/DGS ao seu serviço, ou pelo menos sobre a sua tutela e protecção.

O Arsénio diz-me que foi sozinho para a aeronave que o esperava, na pista... (Ele queOdetestava andar de Do-27|). Sem escolta. Sem alarido. Sem despedida. Sem lágrimas... Mas com a dor na alma, com revolta, com indignação. Os únicos que assistiram a esta cena, para além dos dois majores do comando do BART 2917, terão sido o Machadinho (o alf mil Abílio Machado) e o sacristão, o 1º cabo Teixeira...

O Puim tinha horror à DO 27... Um dia foi para Mansambo ou Xitole, de DO, com o major Barros e Basto, à frente. Atrás, sentados no chão, ia ele e o sacristão... Vomitou tanto, que ainda hoje se recorda desse horrível dia... Nunca mais quis ir "by air"... Preferia ir nas colunas logísticas, sem arma, protegido discretamente pelos soldados que iam na viatura com ele, como daquela vez em que também foi a Helena e o marido, o alf mil Carlão...

Era pressuposto a Helena fazer uma viagem turística até ao Saltinho (um sítio paradisíaco).. Ficou retida em Mansambo, por que houve uma mina que matou um picador e feriu outro gravemente, numa mina detectada junto à Ponte dos Fulas (e não da ponte de Jaragajá, garante o Puim). Foi uma das vezes em que ele ia passar duas semanas ao Xitole, como costumava fazer periodicamemte, dividindo o seu tempo pelas unidades de quadrícula (além do Xitole, o Xime e Mansambo)... (Prometeu confirmar a data no seu diário, que lhe foi devolvido, mais tarde, já depois do 25 de Abril, com uma única folha rasgada...).

O nosso caplão ainda teve uma semana em Bissau, a aguardar transporte, e outra semana em Lisboa, até ser "recambiado" para os Açores... Em Bissau, foi recebido por uma alta patente militar (que ele não consegue identificar, mas que até teve om ele um comportamento civilizado) bem como pelo seu superior hierárquico, o major capelão Gamboa (se não me engano)... Em contrapartida, os amigos e camaradas de Bambadinca que na altura estavam de passagem em Bissau, fizeram-lhe um jantar de despedida, onde também esteve o 1º sargento Brito, como faz questão de frisar...

Inicialmente, eu não sabia o que se passara depois... Ontem, na casa dos seus filhos, em Lisboa, ali perto da Praça do Chile, ele contou-me o resto... Não falou com o seu bispo, mas voltou a paroquiar na sua Ilha, Santa Maria... 

Mais tarde, quis fazer a experiência de padre operário, que estava na moda... Decidiu ir para São Miguel tirar o curso de enfermeiro na Escola de Enfermagem... Iria perceber, mais tarde, que as duas funções eram incompatíveis, ser enfermeiro e ser padre... Acabou por se enamorar de uma jovem enfermeira, mais nova, com quem viria a casar, e que é hoje a mãe dos seus dois filhos. O casal passou a viver definitivamente em Ponta Delgada, creio que já depois do 25 de Abril.

Hoje o Puim já está reformado, enquanto a esposa ainda trabalha. Na Iha de Santa Maria, tem a casinha dos pais mas já não tem família. Volta lá no verão, de férias.

Pareceu-me um homem sereno, de bem com a vida, orgulhoso dos seus fllhos, um pai extremoso e dedicado, e ainda hoje com sentido de missão e com os meus valores espirituais e éticos. (Disse que já tinha telefonado ao Leones, que está cego, e que iria encontrar-se com ele, ainda antes de voltar aos Açores; o Leones, cego por uma mina que também matou o Quaresma, era do Xitole, e camarada do Guimarães; está reformado da Caixa Geral de Depósitos ou da Segurança Social, no sei ao certo.)

O Puim quer, por fim, fazer as pazes com um certo passado, na Guiné, ou pelo menos partilhar connosco as memórias, boas e más, daquele tempo. Sê-bem vindo, Arsénio! E desculpa a trapalhada de datas em que te metemos... Estávamos a roubar-te cinco meses de vida... na Guiné! (****)

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)


(**) Vd. poste de 16 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P2847: Convívios (57): CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Viseu, 26 de Abril (Jorge Cabral)

(***) Vd. poste de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

(****) Vd. poste de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )

(...) Foi mais ou menos assim
que se passou com o Puim,
padre daquela fornada
do Vaticano Segundo,
e capelão militar:
criticou a hierarquia
por usar e abusar
dos prisioneiros de guerra,
velhos, mulheres e crianças,
que a tropa em suas andanças
trazia ao aquartelamento (...).

Todos os anos, pela época seca, se faziam incursões às zonas com população sob controlo do PAIGC no triângulo Bambadinca- Xitole - Xime... E era fácil fazer prisioneiros, sobretudo mulheres, crianças e velhos, que não podiam fugir à frente da tropa e que depois eram levados para Bambadinca... Vd. por exemplo, poste da I Série > 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado


(*****) Vd. último poste desta série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)

4 comentários:

Luís Graça disse...

Confirmo que o Puim esteve hoje com o Leones, e que foi um encontro cordial e mutuamente reconfortante...

O Leones está completameet cego, trabalhou na Segurança Social, está já reformado, é casado, pai de um filha, avô... Os dois recordaram os tempos do Xitole e de Bambadinca, o Puim teve a delicadeza de não falar do acidente que o vitimou (uma armadiha), até por que a conversa fioi na presença da esposa do Leones...

Reconheceu-o, diz que ele não mudou muito, o rosto, o corpo... Nunca mais o tinha visto... O acidente (que matou o Quaresma) aconteceu uns dias depois do Puim voltar para Bambadinca...

O Puim parte amanhã à tarde, para São Miguel, e prometeu escrever no nosso blogue.

Boa viagem, Arsénio. E que bom saber de ti, camarada Leones.

Luís Graça disse...

É bom que fique claro que o conflito de que é co-protagonista o capelão do BART 2917, não é com a sua Igreja, nem com o seu Evangelho, mas com as autoridades militares do CTIG, a começar pelo comando de Bambadinca...

O Arsénio Puim continuou a ser padre, depois de sair da Guiné, tendo voltado à sua paróquia, na ilha natal de Santa Maria...

Gostaríamos também de ter aqui o testemuho de militares que beneficiaram da sua acção espiritual e religiosa, enquanto ele esteve (e foi muito mais do que um ano) em Bambadinca, no sector L1, sede do Comando e CCS do BART 2917...

Anónimo disse...

Caro Luís
Não tenho a certeza de já ter inserido um comentário do mesmo teor noutro post sobre o ex-capelão Arsénio Puim. Mesmo correndo o risco de me estar a repetir, penso ser interessante por falares na família, transcrever a seguinte passagem do artigo no jornal “A União” sobre o naufrágio do navio “Arnel” em 19 de Setembro de 1958 na ilha de Santa Maria:
- “E a heroicidade de alguns que tentaram salvar várias pessoas, entre elas o seminarista teólogo, Arsénio Chaves Puim, que conseguindo salvar a sua irmã, não conseguiu salvar a sua mãe Maria Encarnação Chaves”.
Abraço Henrique Matos

Luís Graça disse...

O Arsénio, que continua a ser um homem de fé, confirmou-me essa história trágica, em que perdeu a mãe... É "um daqueles acontecimento que nos marcam para o resto da via"...

A irmã, que ele salvou, já morreu. Felizmente que tem mais irmãos, que estão bem, no Canadá... Parte hoje, ao fim da tarde, para casa, depois de ter cumprida mais uma missão: esteve a falar com o Dr. Mário Ferreira, médico reformado, com consultório à Estrela, escritor, romancista, já com dois títulos, e um terceiro no prelo...
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Mário Gonçalves Ferreira
R. Domingos Sequeira 27, 1º - K
1350-119 LISBOA
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O Mário Ferreira era Alf Mil Médico da CCS do BART 2917, antes da vinda do Dr. Marques Vilar. Partilhava o quarto com o Puim, em Bambadinca.

Aqui ficam os dois títulos até agora publicados:

TEMPESTADE EM BISSAU ANO 1970
Mario Goncalves Ferreira
PALLIUM EDITORA
Colecção: EXTRA PALLIUM EDITORA
978-989-95439-0-4 14.00 €

DONA ERMELINDA ZANGOU-SE COM O MAR
Mario Goncalves Ferreira
EUROPRESS
Colecção: EXTRA EUROPRESS
972-559-255-7 10.50 €