quarta-feira, 20 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4387: Memória dos lugares (25): Bafatá (Fernando Gouveia)

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 19 de Maio de 2009:

Porto: 19MAI2009

Caro Luís:

Vou tentar responder ao teu último e-mail e adiantar mais algumas coisas sobre a
nossa zona Leste e sobre a minha (mais minha) Bafatá.

Se os camaradas editores do blog o permitirem, muito do que teria para te contar, irei inclui-lo nas estórias que irei mandando para aí. Por razões muito especiais e pessoais, que em voz-off te poderei contar, a Guiné e especialmente Bafatá, ficaram no meu coração.

Adiantarei apenas que a maioria, senão todos os camaradas que lá estiveram, dizem cobras e lagartos sobre todo o processo, desde a mobilização até ao seu regresso e muitas vezes até à actualidade (traumatizados, etc.).

Como já disse na introdução da 1.ª estória, tive sorte, sorte e mais sorte. Como
exemplo, sabes de algum militar miliciano que tivesse vindo de férias à Metrópole três vezes, como eu vim?

Vou então comentar o teu e-mail com poucas palavras, mas que depois explanarei nas estórias:

1 - Não compreendi quando dizes que o 2.º ataque a Bambadinca pode ter sido provocado pelas NT. Um dia me contarás.

2 - Na 1.ª estória (os três oficiais) inclui duas fotos aéreas de Bafatá. Claro que ainda hás-de ver muitas mais, aéreas e não só.

3 - Sobre o Sr. Teófilo hei-de contar umas coisas, civis e de guerra pois durante quase um ano morei em frente ao seu boteco numa casa onde a minha mulher passou duas temporadas. Uma estorieta sobre a sua filha, a Ritinha, é deliciosa.

4 - No tema comércio poderei contar uma estorieta sobre o Infali, empregado da Transmontana. Mas o mais significativo que tenho será uma série de fotos sobre todas as actividades no Mercado de Bafatá, desde a vendedora de bolinhos de mancarra, passando por um gila a vender peles de cobra, até a um vendedor de cola. Lembras-te do Xame com os dentes de ouro feitos por ele próprio?

5 - Era sócio do Sporting Clube de Bafatá pois ficavam-me mais baratos os bilhetes do cinema. Isso vai dar mais umas estórias. O porteiro Braima, com quem tinha longas conversas, tinha sempre à sua espera, no meu frigorífico, (desculpa esta mordomia) umas Fantas, pois ele era muçulmano.

6 - Como deves compreender, vindo cá três vezes de férias e a minha mulher indo lá duas temporadas, não era frequentador do Bataclâ, que penso que seria uma casa perto da saída para Bambadinca. Sobre isso também haverá umas estorietas.

7 - Quanto à caça, só adianto por agora, que de dia, tanto ia sozinho como acompanhado mas sempre até um máximo de 1 Km da pista, para Norte. À noite ia sempre acompanhado. Como depois estoriarei, nos últimos meses nunca mais fui à noite, em parte por obra do Sr. Teófilo. Um dia ainda hás-de ver a foto de mim mesmo, que aparece no princípio das minhas estórias mas completa, sem ser recortada.

8 - Quando algures referi o Pel Rec Inf estava a reportar-me a Mafra. No Agrupamento estava exclusivamente como oficial de informações.

9 - Vou gostar de perguntar ao Humberto Reis se quando esteve em Madina Xaquili ainda lá estava o forno que eu próprio construí.

10 - O som, (não o filme como dizes), aí há-de chegar e por mim será incluído no último episódio da estória de Madina Xaquili.

Aproveito para lembrar (como é recomendado no blog) que a 4.ª estória, 3.ª parte
da de Madina Xaquili, enviada há 10 dias, ainda não foi postada. Acrescento que
toda a estória, a meu ver, vai melhorando à medida que se aproxima do fim.

Esta estória, por ser muito extensa, foi dividida em partes por sugestão do Carlos Vinhal. Por um lado acho bem, por outro considero que tem mais piada se for lida do princípio ao fim e não cada parte com intervalo de uma semana ou mais.

Tenho-a toda escrita. Se quiseres posso mandar as partes restantes e publicam-nas, seguidas ou não.

Um abraço.
Fernando Gouveia

Vista da parte principal de Bafatá. No quarteirão, em primeiro plano situava-se a sede do Batalhão

Foto e legenda: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4382: Memória dos lugares (24): Ponte João Landim, sobre o Rio Mansoa, (Carlos Silva)

2 comentários:

Anónimo disse...

BAFATÁ, "cidade" aberta, sem muros e sem arame farpado, com um mercado decente,restaurantes (mais ou menos "atascados", mas onde se COMIA),mulheres, bajudas e outros regalos de olho, onde se dormia em cama com colchão - só era GUINÉ para quem durante todo o tempo só passava por lá a caminho de outras actividades mais excitantes... outros ares...
Traumatizante??!!
Alberto Branquinho

Luís Graça disse...

O segundo ataque a Bambadinca, a 13 de Junho de 1969 (estava eu ainda em Contuboel, em plenas férias tropicais, a dar formação aos nossos soldados africanos...), disseram-me que foi uma 'inventona'...

A malta, que andava arrasada dos nervos, depois do ataque de 28 de Maio de 1969, duas semanas antes (passámos lá em dois ou três dias depois...), terá respondido, com fogo de G3, a uns sinais suspeitos, a uns vultos... No meu tempo, brincava-se com o assunto: um básico, que estava de sentinela, terá confessado ter visto elefantes junto ao arame farpado e ter-se assustado!...

Enfim, já ouvi outras versões: fogo de apoio de Mansambo, mal direccionado, que causou pânico em Bambadinca...e provocou uma resposta, em uníssono, de todas as G3 que por lá haviam...

Não juro, nem posso jurar, e mesmo se pudesse não jurava... Enquanto lá estive (de Julho de 69 a Março de 71), o PAIGC não se meteu-se connosco no perímetro de Bambadinca... No mato, a poucos quilómetros dali, já era outra história...

Eles (os do PAIGC) não eram loucos, até por que nós fazíamos a segurança próxima, todas as noites, ao quartel de Bambadinca, para que os nossos comandantes pudessem dormir descansados...