sábado, 18 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4206: Memórias de outros tempos (1): Fur Mil Aguinaldo Pinheiro, o morto-vivo do BART 1913 (Jorge Teixeira - Portojo)


1. Mensagem de Jorge Teixeira - Portojo(*), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054, (Catió, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2009:

Amigo Carlos
Se der para meter no Blogue, gostaria de contar umas estórias sobre Mortos-Vivos.
Esta é uma delas. As datas estão na história do BART 1913.



O Morto Vivo Pinheiro

História do BART 1913
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Feridos
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12JUN68 - Fur Mil Aguinaldo Dias Pinheiro/CCS
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Abates
13JUN68 - Fur Mil Sap Inf Aguinaldo Dias Pinheiro - Evacuado para o HMP

A minha história

Eu pira com uma dúzia de dias de Catió.

Dia de anos da minha mãe. Dia de reabastecimentos a Cufar.

Saí com o meu Pelotão integrado no Grupo que fazia a segurança e a picagem da estrada Catió-Cufar e ficamos a montar a segurança, segundo me disseram, próximo do cruzamento de Camaiupa. Recomendaram-me muito cuidadinho. Os sapadores do Alf Ganhão seguiam já bem lá à frente. De repente rebentamentos. Uma viatura passou bem rápida no sentido do barulho e regressou passado algum tempo.

A voz corrente foi de que o Fur Pinheiro lerpou ao levantar uma mina. Nunca mais soubemos nada do acidente e realmente todos em Catió ficamos convictos que o Pinheiro tinha ido para o outro lado.

Muitos anos depois, encontro o Victor Condeço e logicamente começamos a conversar do passado. E o Pinheiro veio à baila. Disse-me o Victor que ele estava vivo. Tinha-o encontrado num convívio da CCS

20 de Maio de 2007

Dia de festa para a CCS do Bart 1913 na Serra do Pilar. Estive presente e feliz por rever antigos companheiros com quem passei nove meses de Guiné, e muitos deles reconheci-os à primeira. Mas queria ver o Pinheiro. Embora só tivesse convivido com ele cerca de um mês, a marca que deixou em mim foi grande. E o Pinheiro apareceu vindo lá do sul de Portugal. Foi com alegria que o abracei e pude ouvir parte da história do que lhe aconteceu. Sim, porque ele não sabe contar a outra parte. Só se lembra até... depois desapareceu tudo.

Recordando o após, disse-me fez uma dúzia de intervenções cirúrgicas, já não sabe quantas, mas diz muito galhofeiramente, que até foi bom, pois só ficou sem uma parte do cérebro que era a inútil. E assim reencontrei o Pinheiro e fiquei feliz num dia para recordar para toda a vida.

Aqui vai a foto dele, tal como estava há dois anos. Sei que não se chateia de o referir, pois diz nada mais o chatear depois daquele dia 12 de Junho de 1968.

Jorge Teixeira

Aguinaldo Dias Pinheiro, ex-Fur Mil Sap de Inf, felizmente vivo e de boa saúde.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3987: Recortes de Imprensa (14): Soldados mortos na guerra colonial terão memorial no Porto, JN de 5/3/2009 (Jorge Teixeira)

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