sexta-feira, 13 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4025: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (2): "Conta-me como foi" ou há mesmo coincidências

1. Mensagem de Helder Valério Sousa(*) (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 10 de Março de 2009:

Caros camaradas Editor e co-Editores e restantes membros da Tabanca

Em anexo envio-vos um texto que, caso entendam ser merecedor de publicação, podem utilizá-lo quando acharem mais oportuno.

Trata-se de uma situação real, por mim vivida, e que quase vi decalcada num episódio que passou no último domingo na RTP1.

Ele há cada coisa!

Um abraço do tamanho do rio que escolherem, que mais gostarem.
Hélder Sousa


Hélder Sousa, Fur Mil Trms TSF, algures na Guiné no exercício das suas funções


SERÁ QUE HÁ DETERMINISMO? E COINCIDÊNCIAS?

APRENDER A SER TSF


Tem passado na RTP1, aos domingos à noite, uma série que salvo erro se chama “Conta-me como foi”, que em certa medida retrata a evolução histórica da sociedade portuguesa percorrendo os anos 60 e entrando agora nos anos 70 do século passado.

A história centra-se numa família lisboeta e aparenta ser narrada pelo filho mais novo dessa família, o qual à data frequenta a escola primária e está permanentemente, com dois colegas e vizinhos, arranjando sarilhos, problemas e situações caricatas devido à sua grande curiosidade, espírito inventivo e ansiedade de aprender mais.

A família tem um pai que é (era) funcionário público e ainda biscatava numa tipografia, estando agora a trabalhar no ramo imobiliário (está-se a assistir ao começo do desenvolvimento da construção desregrada), uma mãe que tem vindo a evoluir de dona-de-casa para empreendedora no ramo das modistas, uma avó (mãe da mãe) sempre presente e pronta a ajudar em tudo o que for necessário, um irmão que é estudante universitário, agora em vésperas de poder ingressar no serviço militar, que já se envolveu nos movimentos estudantis, uma irmã que também tem vindo a fazer um percurso no sentido da emancipação da mulher, tendo ido em viajem a Inglaterra contrariando as ordens do pai e experimentando agora a vida de teatro que também é alvo de muitas reacções familiares.

Mas vou ficar por aqui na narrativa e enquadramento da série porque isto, em si mesmo, pode exacerbar os ânimos dos bernardos e argumentarem que não tem nada a ver com o Blogue. Não será bem verdade porque a época retratada é a época vivida por nós, o que pode ser contestado é o percurso narrativo, que podia ser qualquer outro, mas ainda assim, para mim, está muito bem.

Sendo assim, a que propósito é que vem isto?

É que por acaso, no episódio de ontem, quando os três rapazes estavam conversando com um jovem do bairro, que vai embarcar para a Guiné, procuraram saber como depois eles se comunicavam e lá veio a indicação de que seria através dos rádios, através das transmissões. Perguntando daqui, pesquisando dali, o senhor do quiosque arranjou-lhes um livro com o alfabeto morse, falou-lhes do telégrafo e eles foram procurar a ajuda do professor para a melhor forma de tratar do assunto e depois, com a ajuda de alguém que lhes disponibilizou equipamento de telegrafia, inclusive uma chave de morse, lá foram montando umas comunicações para funcionar entre a casa de dois deles.

Pois não é que me revi quase totalmente na situação? E sabem porquê?

Porque quando frequentava o 1.º ano do então Curso de Montador Electricista na Escola Comercial e Industrial de Vila Franca de Xira eu e o meu vizinho do andar de baixo (João Cunha) fizemos quase exactamente o mesmo. Ele tinha um primo que trabalhava nos CTT e que nos arranjou uns equipamentos (chaves de morse e ponteiras de escrita em tambor) que nos permitiu fazer uma ligação entre as nossas casas, através de fios lançados exteriormente e passando pelas janelas. As bobinas foram feitas por mim na Oficina de Electricidade e lembro-me de como tínhamos um conjunto de pilhas que permitiam fornecer a energia necessária.

Foi muito engraçado, tínhamos o conhecimento do código morse e obviamente que o utilizávamos para comunicar coisas que só nós entendíamos, pelo menos nas redondezas isso era verdade. E esses pequenos segredos tornavam-nos importantes.

Não sei exactamente a importância que isso possa ter tido no meu enquadramento na vida militar, se foi alguma predestinação, se aquando dos testes psicotécnicos ter referido o conhecimento do código morse teve algum efeito decisivo, ou qualquer outra coisa, a verdade é que no final da recruta, no 1.º Ciclo do CSM, em Santarém, saiu a minha especialidade e lá estava indicado TSF, assim, simplesmente, e fui o único em todos os elementos que compuseram a 3.ª incorporação de 1969.

Acreditem ou não, na ocasião nada me ocorreu, até porque não estava a ver o que é que aquilo queria dizer, nem me souberam (ou quiseram) informar, apenas quando fiquei com a guia de marcha para o BT (Batalhão de Telegrafistas) é que percebi o que poderia significar e só nessa ocasião é que me veio à lembrança que já tinha sido telegrafista. Sempre é bom treinar!....

Portanto, a questão coloca-se. Há predestinação? Há coincidências?

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur Mil
Transmissões TSF
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3981: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (1): Aprender a ser solidário

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro camarada da Guiné
Quer ver que foi por ter andado a brincar com armas de fingir nas actividades de sábado de manhã na Mocidade Portuguesa, que fui parar a atirador ?
Fora brincadeira e sem ofensa, há mesmo acasos
J.C.Branco
(Angola 71/74)

Anónimo disse...

Caro Helder
Cá para mim continuas a ser um puto reguila que nunca ouviu falar de sinergias. Isso mesmo, sinergias.
Afinal, a máquina militar não era assim tão má, com alguma poupança no treino, tiraram de ti o melhor aproveitamento. E acredito piamente no camarada que refere as grandes cowboiadas, como predestino para atiradores. Caraças, se tivesse sabido, em criança havia de ter brincado aos padres!!
Abraços do
José Dinis

Hélder Valério disse...

Caros amigos e camaradas J. Branco e José Dinis, pelos vossos comentários deduzo que, pelo menos, vos provoquei um sorriso. Ainda bem!
Um abraço
HS