quinta-feira, 12 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa



A Estrada Nova
Manuel Traquina(*)

Havia pouco tempo que o General António Spínola, tinha sido nomeado Governador e Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné. Tinha chegado àquela colónia meses antes, acompanhado de alguns militares de sua confiança, entre eles o Major Carlos Fabião, que logo foi nomeado Comandante Operacional da Zona de Buba, designada por COP 4.

Foi nesta época que se começou a idealizar uma nova estrada entre Buba e Aldeia Formosa. A estrada antiga era bastante sinuosa, atravessava uma zona pantanosa e dois cursos de agua, que na época das chuvas se tornavam bastante difíceis de transpor. À partida o traçado da nova estrada trazia algumas vantagens, fugia de zonas pantanosas e era mais em linha recta, no entanto era necessário penetrar na floresta virgem.

No início do ano de 1969 começaram a desembarcar em Buba as Buldozers da Engenharia e muitos trabalhadores. Pouco depois, debaixo de fortes medidas de segurança, dava-se início aos trabalhos. Todos os dias máquinas e trabalhadores regressavam a Buba, para no dia seguinte voltarem ao local de trabalho. Os trabalhadores em número de 1500, cuja missão era capinar uma extensão de 50 metros dos dois lados ao longo da estrada, tinham sido “recrutados à força” na zona de Bissau, não estavam habituados à guerra e tinham que ser vigiados, caso contrario evadiam-se. Ao mais pequeno sinal de perigo, num todo, desatavam a correr e só paravam em Buba…

Certo dia, ao proceder à habitual pesquisa do terreno, os nossos soldados depararam com o desenho de um cemitério no meio da estrada, tinha campas, cruzes, e até flores, uma inscrição em letras grandes dizia “ Este é o vosso destino cães brancos”.

Depois de muito trabalho, muitos sacrifícios, alguns mortos e feridos, a estrada de terra batida foi concluída, porém revelou-se mais insegura que a antiga e, as poucas colunas que por ali se efectuaram, tiveram um resultado desastroso em termos de segurança. As terras movimentadas constituíam bons abrigos para o inimigo montar emboscadas, e também no novo piso era mais fácil montar e disfarçar minas. Assim esta estrada foi considerada inoperacional, voltando-se à antiga estrada (na Foto) que sendo um trajecto mais difícil oferecia mais segurança.

(*) Ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa

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