sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3884: Poemário do José Manuel (26): O regresso a Mampatá, 35 anos depois...

Guiné > Região de Quínara > Buba > A LDG carregada com o material da companhia, a CART 6250 (Mampatá, 1972/74), a sair de Buba, a caminho de Bissau, depois de terminada a comissão.

Guiné > Bissau > 1974 > Cinco Furriéis da Companhia dos Unidos de Mampatá num bar em Bissau, a matar o tempo esperando um avião que demorou dois meses a chegar (29 Agosto de 1974)...

Da esquerda para a direita (segundo o Josema): (i) o José Manuel Lopes (Josema), (ii) o Martins, o alentejano vagomestre ("que só nos dava arroz com arroz") , (iii) o José Manuel Vieira, madeirense (que jogou futebol no Porto, Sporting e Benfica dos 15 aos 19 anoso), (iv) o Camilo, de Portalegre, (v) e o dono da ferrugem, o mecânico auto-rodas, o Nina, da Covilhã ("que namorou a mais linda Mampatense do nosso tempo" e que agora vai regresssar à Guiné, juntamente com o José Manuel e o António Carvalho, quer era o furriel enfermeiro, e que não aparece aqui neste grupo).


Fotos: © José Manuel (2008). Direitos reservados

1. Mensagem do José Manuel Lopes (*), com data de 6/2/09:

Boa noite, Luís:

Finalmente uma promessa com quase trinta e cinco anos vai ser cumprida. Dia 20 parto para a Guiné.

Em Agosto de 1974, 26 meses depois de ter chegado, era tempo de regressar.

Cerca de dois meses antes, em Buba, onde embarquei numa LDG a caminho de Bissau, Amadu a todo o custo queria vir connosco, os seus gritos no Cais de embarque só deixaram de se ouvir, quando a LDG se afastou rio abaixo. Sem qualquer hipótese de valer ao desejo do miúdo que durante dois anos viveu ao nosso lado, foi nosso criado, protegido, amigo e aprendeu a ler na Escola de Mampatá, onde o Furriel Simões e eu às vezes ensinávamos o AEIOU.

Quando o cais de Buba se perdeu de vista, tirei o bloco do bolso lateral das calças camufladas e escrevi (**):


É tempo de regressar
às minhas parras coloridas
e ver a água a gelar.
Esquecer mágoas e feridas
e a todos abraçar.
Olho por cima dos ombros,
vejo a mata, lembro Amadu.
E nem tudo são escombros,
há Susana, há Varela,
as ilhas de Bijagós
e a vida pode ser bela
se nunca estivermos sós.
Houve prazer e amor
em terras de Mampatá,
senti a raiva e a dor,
saudades do lado de lá,
a distância e tanto mar.
Mas não há ódio ou rancor
e um dia...vou voltar...



Graças à Tertúlia de Matosinhos, aos Veteranos de Coimbra e à sua Associação Humanitária Memórias e Gentes, vou realizar um sonho antigo. Os relatos do Velhinho Teixeira que nos precedeu em Mampatá e lá regressou o ano passado, me deixaram ansioso. Como ele foi recebido tanto tempo depois!!! As verdadeiras amizades nunca acabam e um pouco de nós ainda lá está.

Comigo vão o Carvalho e o Nina, furriéis da minha companhia e que sempre tiveram uma empatia muito grande com a população de Mampatá, o Carvalho era o estimado Dotô daquela gente, a quem sempre assistiu com muito carinho (***).

Assim dia 20, aí vamos nós. Na próxima semana irei a Lisboa levar uma encomenda de vinho e azeite para 3 Restaurante e dois amigos (clientes), se tiveres alguma lembrança para lá , com muita honra serei teu portador.

Um abraço
José Manuel

2. Comentário de L.G.:

Querido amigo: Encontramo-nos na próxima segunda-feira, conforme combinado. Tens o meu nº de telemóvel: 931 415 277. Não te esqueças do azeite e do vinho que te encomendei.

Bj e abraços para o teu clã. Luís

_____________

Notas de L.G.:

(*) Sobre o nosso camarada José Manuel Lopes, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

O José Manuel Lopes foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, na CART 6250 (Mampatá, 1972/74). Natural da Régua, é um conceituado vitivinicultor, explorando a Quinta da Senhora da Graça, com sede em Senhora da Graça, 5030-429 Lobrigos (S. J. Baptista), concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, Telef. 254 811 609.

Tem vinhos premiados e partilha o seus néctares com os amigos e os clientes. Tem uma equipa de cinco estrelas: a esposa, Maria Luísa, e uma filha, ainda estudante, e um filho, o Vasco Valente Lopes, promissor énologo, com prémios já ganhos e estágio na Austrália. O nosso camarada faz também turismo rural. É membro da nossa Tabanca Grande desde finais de Fevereiro de 2008 e frequenta, religiosamente, às 4ªs feiras, a Tabanca de Matosinhos.

Vd. ainda o poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)


(**) Vd. último poste da série > 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3787: Poemário do José Manuel (25): A Morte

Vd. também o postes de;:

21 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2868: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (7): Homenagem a um camarada, poeta e viticultor, o José Manuel

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

(**) Vd. alguns dos recentes comentários do António Carvalho, no nosso blogue, mostrando grande entusiasmo em relação à sua viagem de regresso à Guiné e à "sua Mampatá":


8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3853: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (3): Lágrimas no desarmamento dos milícias de Cumbijã, em Agosto de 1974

Caro Manuel Reis:

Estive em Mampatá, Cart 6250, entre 72 e 74. Inaugurámos Colibuía por volta de Maio de 73 e lembro-me de estar lá e ouvir os ataques a Guileje. Colibuía, Cumbidjã e Nhacobá são topónimos da Guiné que nunca esquecerei. Espero rever esses e outros lugares daquela região do Tombali, muito brevemente pois partirei para lá no dia 20 de Fevereiro. Muito gostaria que viesses almoçar com rapaziada da Guiné (ex-combatentes)no próximo dia 11 ou 18 ao restaurante Milho Rei a Matosinhos.

António Carvalho
TLM:919401036
8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3854: Tabanca Grande (112): Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70

Caro camarada Alberto Silva:

Muito grato fico àqueles que, como tu, escrevem sobre os locais da Guiné que também foram e são meus. Estive em Mampatá desde 29 de Julho de 1972 até 23 de Julho de 1974. Se Deus quiser, voltarei a esses locais onde passarei a primeira semana do próximo mês de Março.Se quiseres que leve um abraço para alguém fá-lo-ei por ti. Gostaria muito que viesses almoçar com os tabanqueiros da Guiné, a Matosinhos, numa quarta-feira qualquer. Um abraço. (...)

5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Guiné 1966/68

Caro Amigo José Brás:

Não te conhecia nem como ex-combatente 'tabanqueiro' nem como escritor de muito mérito. Bastou-me saber que também te castigaram aqueles calores e te sangrou a alma, por aquelas matas e capins de Aldeia Formosa, para ganhar um amigo. Bastou-me ler a análise que fazes daquele conflito, com a razão de quem pensa e a sabedoria de quem repensa, para perceber que estou perante alguém com quem me identifico. Eu ainda não li aquele livro do Coutinho Lima, sendo certo que,desde que comecei a aprender a aceder ao nosso blog, tenho lido tanta coisa sobre a guerra da Guiné que não sei se precisarei de ler o livro. ´

Depois, lembro-me muito bem de estar em Colibua e ouvir aqueles desgraçados a embrulhar uma semana seguida.É certo que se fala das nossas vitórias em Gadamael e Guidage mas, se foram vitórias, foram de Pirro. De facto puseste o dedo no ponto e, por outras palavras eu diria:a guerra não é nenhum projecto de engenharia e tem a ver com pessoas e com povos. Aguentar, sofrer, morrer...até ver quem ganha e quem perde! (...).

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