domingo, 8 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa




1. Em mensagem de 17 de Janeiro de 2009, Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, enviou-nos mais este episódido das Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo:



As Colunas Buba – Aldeia Formosa

As colunas militares de reabastecimentos que saíam de Buba, tinham pelo caminho o primeiro ponto de apoio em Nhala e o segundo em Mampatá este último já próximo de Aldeia Formosa.
Os quarenta quilómetros que separam as duas localidades muitas vezes demoravam cerca de dois dias a percorrer. Era preciso contar com muitos tiros, emboscadas, estradas minadas, além dos habituais atascamentos das viaturas na época das chuvas.
Não existiam quaisquer sistemas electrónicos de detecção de minas, assim os militares tinham inventado aquilo a que chamavam a pica, que não era mais que uma pequena verguinha de ferro pontiaguda numa das extremidades, e com ela se ia picando todo o terreno susceptível de ocultar aqueles engenhos explosivos. De salientar que locais havia, em que as estradas com terrenos arenosos ou lamacentos, se tornavam bastante perigosos, por isso os especialistas da matéria tinham que picar palmo a palmo todo o terreno, antes de passagem dos veículos que compunham a coluna. Algumas vezes aconteceu neste percurso, detectar e levantar quatro ou cinco minas anticarro e uma dezena ou mais antipessoal, mas por vezes um pequeno descuido levava a que uma tivesse escapado, e viesse a causar a destruição de uma viatura e as lamentáveis mortes e feridos.

Naquele dia de Junho de 1968, em Mampatá aguardava-se a passagem da coluna e, faziam-se os habituais preparativos para lhe prestar algum apoio. Via rádio sabia-se que tinha sido uma das colunas mais difíceis, era já o fim da tarde do segundo dia de marcha, tinha sido atacada três vezes, algumas minas tinham sido detectadas na estrada e contavam-se já alguns mortos e feridos.
Ao chegar a Mampatá, como era habitual, os primeiros cuidados iam para os feridos, alguém indicou dois soldados estendidos sobre um Unimog dizendo, a estes já não há nada a fazer. Porém, o Furriel Enfermeiro Chambel aproximou-se, verificou a pulsação, e disse:
- Este homem está vivo.

De imediato e com os poucos meios de que se dispunha, tentou-se a reanimação e transportou-se com urgência até Aldeia Formosa, onde um helicóptero aguardava e fez a evaquação para o Hospital Militar de Bissau.

Tal como em muitos outros casos, com os nervos em franjas os especialistas da saúde, faziam o que podiam para resgatar da morte muitos destes jovens vítimas da guerra.

Na foto poderemos ver um helicóptero de apoio à coluna, que se prepara para fazer uma evacuação. Ao centro a Enfermeira Pára-quedista Ivone

Manuel Batista Traquina
__________

Nota de CV:

(*) Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

1 comentário:

Carvalho disse...

Caro Amigo Traquina

Já falámos por Telm.Estou-te muito grato por me teres posto em contacto com o Herculano de Alferrarede, o que me permitiu interromper um silêncio de 35 anos.Quero também dizer-te que, mesmo não te conhecendo, conheço-te como alguém que tem muito a ver comigo pela importantíssima razão de teres pisado os mesmos locais,visionado os mesmos horizontes,cheirado os mesmos odores, experimentado os mesmos sofrimentos...
Se tudo correr bem, regressarei áqueles mesmos locais, na primeira semana de Março.
Se quiseres que leve para alguém de lá,(entre Buba e Aldeia) um
abraço, é só dizeres-me.
Um abraço para ti e muita saúde.
António Carvalho- 72/74-Mampatá
Gondomar
TLM:919401036