quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Missirá > 1971 > Jorge Cabral, comandante do Pel Caç Nat 63. Um exemplar, se não único, pelo menos raro, raríssimo, da fauna dos milicianos que passaram pela Guiné... Encontrei-o, deslocadíssimo, no Museu da Farmácia, com o seu inseparável cachimbo de Sherlock Holmes, 3ª feira passada, na festa do lançamento do livro do nosso camarada Beja Santos...

No final, fomos jantar à Trindade, eu, a Alice, o Humberto Reis, o Carlos Silva, o Humberto Reis, o Vacas de Carvalho, mais três queridos algarvios, o Henrique Matos (o 1º comandante do Pel Caç Nat 52), o João Reis (que passou por esta unidade, como furriel miliciano, antes do Beja Santos), e o José António Viegas (que passou também por Missirá, mas na qualidade de Fur Mil no Pel Caç Nat 54).

À mesa com o Jorge Cabral, ficou assente que o próximo (ou um dos próximos) livro(s) a ser(em) lançado(s), com a chancela do nosso blogue, serão as Estórias Cabralianas. Agora toca a contactar editores, patrocinadores, distribuidores, que leitores já cá temos... E a arranjar um local, adequado, condigno, apropriado, para o lançamento do livro: Maxime, é a minha sugestão; Elefante Branco, é a alternativa apresentada pelo J.L. Vacas de Carvalho... É pena já não haver o Bolero, que era o eleito do Jorge...

Vejo que o Cabral está a levar a sério, pela primeira vez na vida, um desafio, este desafio: só faltam nove estórias (sem h) para a meia centena, a meta do nosso contrato... Aproveitou para comentar comigo a "onda de devaneio" que está a atingir a Tabanca Grande, com o preciocismo de debates como o da história / estória... Receia que o blogue descambe para a pornografia, com mais este debate sobre o sexo dos anjos... Procurei tranquiizá-lo a este respeito (ou falta dele)...

Aproveitou o ensejo para lançar um aviso à cibernavegação, o de que as suas estórias continuarão a ser estórias, sem h... Com h seriam histórias, mas muito pouco ou nada cabralianas... Aqui fica a sua posição, veemente, pública e notória, sobre tão momentoso problema linguístico que, a avaliar pela sondagem em curso, é mais uma questão fracturante para a nossa Tabanca Grande.

Registo as suas pré-ocupações (a nosso respeito). Garanti-lhe que, se for necessário recorrer aos seus serviços jurídicos, não teremos pejo em abrir os cordões à bolsa. Mostrou-se sensibilizado e pronto, em tempo de vacas magras e tetas vazias, a fazer um desconto especial aos amigos e camaradas da Guiné. (LG).

Foto: © Jorge Cabral (2006). Direitos reservados


1. Estórias cabralianas (*) > Pilão: os 10 Quartos (**)
por Jorge Cabral



De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho.

A noite de véspera do meu regresso foi lá passada. Que melhor despedida podia eu, então, ter programado?

Para sempre ficou marcada na memória a cena dessa noite. No chão a ressonar e de pistola à cinta, um grande fuzileiro e, encostado a ele, todo enrolado em panos, um bebé. Na cama, ela, semi-adormecida, ordenando uma actuação silencios...

Esta a minha última imagem da Guerra e da Guiné, a qual merecia, penso, um Postal Ilustrado. Naquele dia comprara para os meus sobrinhos um pijama chinês e uma boneca. Pois não é que lá deixei o respectivo embrulho ?!...

Em Julho de 2004, fui a Bissau e muito estranhou o Senhor Reitor, que eu quisesse visitar o Cupilon. Mas quis. E visitei. E lá permaneci a olhar as mulheres e os homens. Qual delas terá brincado com a boneca? Qual deles terá usado o pijama? Ter-me-ei mesmo esquecido do embrulho? Ou, sem total consciência, ofereci na altura duas prendas ao Futuro?

Jorge Cabral

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Estórias Cabralianas > 4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3399: Estórias cabralianas (40): O meu sonho de empresário (falhado): a construção de uma tabanca-bordel (Jorge Cabral)

(**) Originalmente publicado em 18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

3 comentários:

Anónimo disse...

Elefante Branco...Boa!Bem se o Livro for com estórias de h pode ser uma sala...não digo...isso... de uma Un ou CC..qualquer. Ainda existe o Fontória? 1ª Parte Maxime e 2ª parte no Fontória. Olha mas eu de "Noite de Lisboa" estou uma miséria:- falaram-me no Lux e eu não sabia aonde era...caramba onde vai um jovem, quando velho, parar...miséria...Vou tratar de me actualizar. Agora?! Porque não?
Que o pijama tenha sido bem aproveitado na infância e, na idade adulta, tenha contribuído para corpo de formas...isso.Boas...
Ab do Torcato

Anónimo disse...

Luís
Corrige aí a pontaria pois o João Reis é, salvo erro, de Castelo Branco e reside em Lisboa.
Abração Henrique Matos

joão coelho disse...

Encarecidamente, peço aos responsáveis pelo blogue: deixem J.Cabral depurar-se, tal como ele fez na Guiné...primeiro ainda alinhadinho, com o camuflado à maneira, depois já "fardado" como lhe dava na real gana. Não o amarrem às 50 crónicas, deixem-no bolsar o arroto até ao fim...Assim de cabeça, lembro 3, das ditas, que são, juro, do melhor que já vi, por estas terras e por mais aquelas que quiserem: a da bandeira, com o Spínola, a do retrato do Salazar com as imagens das santinhas e esta última do Pilão..E atrevo-me a pedir mais; quando a prosa engordar, façam romagem até ao Torcato, levem Cabral convosco e vejam - eu acho que sim, que é possível - se conseguem levar esse alentejano exilado no Fundão a entremear as suas letras de insónia com as do sr. advogado.
Vosso leitor, não combatente, ex-militar da FAP, nos idos de 60, com um abraço grande de admiração e respeito por este magnifico espaço de encontros.

João Coelho

ex - Cabo Especialista MMA da FAP 158/63