quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3344: PAIGC - Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: O temível helícóptero (A. Marques Lopes)

Tancos > Base Aérea nº3 > 1967 > 1º Curso de Pilotos de Helicópteros, onde pela 1ª vez também foram incorporados milicianos, segundo informação do Jorge Félix, aqui, junto a um Allouette II, no meio dos seus camaradas, onde se inclui o Duarte Nuno de Bragança.


Os primeiros pilotos milicianos de helicópetros da FAP > 14 de Março de 2008 > "Éramos oito milicianos (Eu, Antolin, Cavadas, Melo, Baeta, Pinto e Duarte) e três da Academia Militar (Braga, Afonso e Costa). O Pinto faleceu em Outubro de 2007, em Lisboa, vítima de doença. O Oliveira faleceu no acidente de aviação em Tancos, em 72 ou 73. Estes dois companheiros estiveram comigo na Guiné. O Melo anda em sítio incerto na Venezuela (vou saber pormenores da 'chatice' que foi a vida dele por lhe terem roubado um Allouette III da FAP). O Baeta faleceu em Gago Coutinho, Angola, Março de 1969, num acidente, voo nocturno, Heli. O Cavadas também já faleceu em acidente de Heli, andava nas pulverizações, no Alentejo. O Antolin está de perfeita saúde, Comandante da TAP reformado, a viver em Lisboa. O Duarte é... Sua Alteza D. Duarte Nuno de Bragança, esteve em Moçambique e vive em Lisboa. O Pinto, também reformado da TAP, faleceu há quatro meses. Do Braga, Afonso e Costa, sei muito pouco (...). Jorge Félix".

Foto (e legenda) de Jorge Félix, ex- Alf Mil Pil Av Heli Allouette III (BA 12, Bissalanca, 1968/70) > Cortesia de:
Blogue do Victor Barata > Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74.




PAIGC > Figura 1 > O helicóptero > "Helicóptero quer dizer: uma coisa que tem asas (ptero) em forma de hélice ou ventoinha (héli). Na verdade o helicóptero não tem asas como o avião, tem três partes principais: O corpo – com a carlinga onde está o piloto; o rabo – que também tem uma hélice (hélice propulsora); as hélices – grandes, acima do corpo e que se consideram como sendo as asas do helicóptero (ver desenho)"


Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma.

O Marques Lopes foi Alf Mil na CART 1690 (Geba ) e CCAÇ 3 (Barro) entre 1967 e 1969.

PAIGC: Instrução, táctica e logística (18) > INSTRUÇÕES SOBRE A ACTUAÇÃO CONTRA HELICÓPTEROS [Transcrição de documento, interno, do PAIGC] (1)

Revisão e fixação de texto: AML/LG

INTRODUÇÃO

Desesperados diante do progresso da nossa luta, do aumento crescente das nossas forças armadas, os colonialistas portugueses tentam usar contra nós todos os meios modernos de que podem dispor, para ver se conseguem parar a marcha vitoriosa do nosso Partido. Nos devemos estar prontos para responder com coragem a todos os crimes dos colonialistas. Os combatentes das nossas forças armadas, principalmente os responsáveis do nosso Partido, devem enfrentar com calma e coragem todas as iniciativas criminosas dos colonialistas portugueses, devem estudar bem as suas manobras e os meios que usam contra nós, para poder manter bem alto o espírito combativo dos nossos militares armados, reforçar cada vez mais o apoio do nosso povo à luta armada e infligir novas e mais pesadas derrotas às tropas colonialistas.

Desde meados de 1966 que os colonialistas têm vindo a usar contra nós os helicópteros. Já usavam antes os helicópteros, mas apenas para abastecimento dos soldados isolados, para retirar mortos e feridos dos campos de batalha e para abastecimento.

Agora os colonialistas estão a usar helicópteros armados nas operações contra nós, principalmente contra as tabancas das regiões libertadas, para fazer mal ao nosso povo mas também em operações combinadas e para acções de surpresa contra certos sectores da nossa luta. Já nos fizeram algum mal e poderão fazer muito mais, se não tomarmos as medidas necessárias para responder com coragem e força a esta nova tentativa criminosa dos colonialistas.

Para conseguirmos votar ao fracasso esta nova iniciativa desesperada dos tugas, todos devem saber bem o que é o helicóptero, para que serve e como se usa, quais são as suas forças e as suas fraquezas, como combater contra os helicópteros e contra as armas transportadas por helicópteros. Os responsáveis do Partido devem saber isso, todos os combatentes devem saber isso, mas também as nossas populações, homens, mulheres e jovens devem saber isso. Os helicópteros nada podem contra um povo unido e pronto a lutar corajosamente para a sua liberdade. Assim como temos derrotado as forças colonialistas com as suas armas modernas e aviões, assim também derrotaremos os helicópteros que agora estão a usar.

Para fazer este documento, tomou-se como base, fundamentalmente, a grande experiência do povo heróico do Vietname na luta contra os helicópteros, tendo em conta as condições próprias da nossa terra.


I - RAZÕES, OBJECTIVOS E CONDIÇÕES DE USO DOS HELICÓPTEROS NA GUERRA COLONIAL


1. Porque é que os tugas usam os helicópteros contra nós



Os colonialistas portugueses já usaram contra o nosso povo muitos meios, quase todos os meios de que podem dispor para nos fazer mal. Manhas e intrigas, escravatura, armas de fogo antigas para conquistar a nossa terra; chicote, pontapé, bofetadas, palmatória e trabalho forçado no tempo do colonialismo; prisões, torturas, assassinatos, armas de fogo modernas, aviões com bombas de todas as espécies, carros blindados, etc., para destruir o nosso Partido, meter medo ao nosso povo e parar a nossa luta de libertação. Agora usam os helicópteros, convencidos de que assim poderão realizar os seus objectivos criminosos. No princípio da luta armada, os tugas vinham de carro. Nós destruímos os carros e passaram a tentar vir a pé. Nós matámo-los nas estradas e no mato em grande número, não conseguiram avançar de surpresa, porque eram descobertos pelas nossas patrulhas. Agora resolveram vir de helicóptero, para chegarem mais depressa, com surpresa, para também poderem fugir mais depressa, e para tentar retomar a iniciativa da luta.

Os tugas usam os hlicópteros para tentarem realizar combates e retirarem-se rapidamente, antes de os liquidarmos. Usam os helicópteros porque já sabem que não podem entrar a pé profundamente nos nossos matos, porque só com helicópteros poderão entrar nas nossas tabancas situadas junto das bolanhas e das matas onde é perigosa para eles andar a pé. Usam helicópteros, porque querem causar surpresa nos seus ataques contra as nossas populações e combatentes, querem ter iniciativa. Porque querem tentar liquidar-nos com ataques rápidos e seguros, para se retirarem rapidamente depois. Usam os helicópteros, porque também estão convencidos de que, como não conhecemos bem os helicópteros, ficamos com medo e não podemos agir.

Mas a razão principal porque os tugas usam agora os helicópteros, é porque todas as táticas e técnicas usadas contra nós até agora não deram resultado para eles. Estão desesperados e usam agora os helicópteros na esperança de que assim poderão mudar a situação. Por isso mesmo, nós devemos fazer frente aos helicópteros, atacá-los, botá-los abaixo, atacar e liquidar as tropas que transportam. Fazendo isso, votando ao fracasso essa nova tentativa desesperada dos tugas, vamos matar uma das suas últimas esperanças na nossa terra e, portanto, conseguir uma vitória decisiva para a expulsão dos tugas da nossa terra.


2. O que os tugas fazem e querem fazer com os helicópteros


Como se disse, os tugas usaram antes os helicópteros só para retirar os feridos e mortos dos campos de batalha e para abastecer ou apoiar as suas tropas tanto nas casernas como nos postos do mato.

Agora, os tugas, além disso, transportam tropas nos helicópteros para fazerem ataques terrorristas contra as nossas populações, para tentar atacar as nossas bases guerrilheiras, para tentarem estabelecer pontos de apoio em certas zonas. Portanto, para tentar destruir as nossas forças. Os helicópteros armados atacam as nossas aldeias e lançam chamas para queimar as nossas culturas.

Os tugas querem, com os helicópteros, com helicópteros que esperam receber dos seus aliados americanos, alemães, ingleses e franceses, desejam fazer grandes ataques contra nós, em operações combinadas com a infantaria, a aviação e a marinha; pensam poder lançar as suas tropas em várias direcções com muitos ataques rápidos, para tentar destruir as nossas forças e tomar o nosso material; esperam poder atacar cada vez mais as populações das regiões libertadas para matá-las ou forçá-las a fugir, para assim nos retirar o apoio do povo, indipensável para a marcha vitoriosa da nossa luta.

Para tentar fazer tudo isto contra nós, os tugas têm de vencer grandes dificuldades. Por isso, procuram aplicar na nossa terra os conhecimentos dos imperialistas americanos e outros, nomeadamente as tácticas e técnicas do uso dos helicópteros pelos americanos, contra o povo do Vietname.


3. Casos em que o tuga usa ou pode vir a usar os helicópteros contra nós


a - Assaltos de surpresa em terreno plano

A Guiné é em geral plana, pelo que não é difícil usar os helicópteros, salvo nas áreas de floresta com muitas árvores. Já em Cabo Verde, onde o terreno é montanhoso, será mais difícil de usar os helicópteros para ataques deste tipo.

Neste caso, o helicóptero é usado apenas como transporte de tropas, não sendo apoiado por fogo de armas pesadas ou por aviões. O objectivo desses assaltos é de prender pequenos grupos guerrilheiros ou gente do Partido. O inimigo procura tirar o maior efeito da surpresa, procura chegar ao local do ataques sem ser esperado. Mas só usa este tipo de ataque, quando sabe que as nossas forças são fracas. Por isso mesmo, na fase actual da nossa luta, em que temos em grande forças em todos os lados, o inimigo não pode usar muito este tipo de ataque dos helicópteros.


b – Assaltos a bases de guerrilha

Para fazer este tipo de assalto em helicópteros, o inimigo precisa de informações dadas pelo serviço de espionagem, pelos traidores ou por prisioneiros que lhes dizem onde estão exactamente as nossas bases, a força que temos nelas as armas que temos, o nosso sistema de defesa, etc. Por isso é preciso muito cuidado om os espiões e com os traidores, e, quando uma pessoa (da população ou combatente) que conhece bem uma base é presa pelos tugas, devemos sempre mudar a base.

Este tipo de assalto tem de ter um apoio aéreo (de aviões), para nos obrigar à defensiva, de maneira a sermos apanhados de surpresa pelas tropas transportadas por helicópteros.

Os helicópteros têm de partir de longe (por exemplo de Bolama para atacar no Cubisseco ou no Como) a fim de não sabermos antes que os tugas vão vir de helicóptero.


c - Desembarque de tropas para ocupar um lugar ou para fazer ataques de envergadura

Este é uso principal dos helicópteros que o IN [Esta abreviatura deve ser vício profissional do tuga que passou o texto à máquina. Não acho que usassem a mesma expressão que nós, o que, aliás, se vê em todo o SUPINTREP - A. Marques Lopes] pode querer fazer na fase actual da nossa luta. Exige bastante preparação, boas informações sobre as nossas forças, apoio de aviões e de fogo de armas pesadas, e, em alguns casos, apoio de tropas vindas por mar e por rio.

Vamos ver mais adiante o caso de desembarque de tropas transportadas por helicópteros.


4. Como é que o inimigo usa os helicópteros

No uso do helicóptero, o inimigo usa o seguinte método de trabalho:


A) – Faz o plano de combate

O plano é traçado de acordo com os métodos de combate da infantaria (as tropas só têm armas ligeiras). Para isso, o inimigo toma em conta o tipo de terreno, o método de desembarque e o número de helicópteros necessários para a peração. O chefe dos helicópteros e o chefe da infantaria reconhecem a situação e traçam o plano.


B) – Faz o plano para o transporte

Para isso toma em consideração:

- o número de soldados

- a quantidade de helicópteros

- a distância até ao lugar do desembarque

O chefe de infantaria indica a direcção do voo, e o chefe dos helicópteros indica como os helicópteros devem formar-se em voo.


C) – Faz o plano de fogo de apoio

Durante o voo dos helicópteros, são combinados três tipos de fogo: Artilharia, bombardeamento e metralhagem por aviões e fogo dos helicópteros que têm canhões e voam separados dos helicópteros que transportam tropas.

Antes de começar o voo e durante o voo, a artilharia e os aviões bombardeiam a posição a atacar, para enfraquecer as nossas forças. Durante o combate continua o fogo de apoio com artilharia e aviões, mas também com morteiros para permitir a saída dos soldados e a retirada dos helicópteros.


D) – Realização do desembarque

O desembarque é feito por fases, porque, em geral, os helicópteros não podem descer (aterrar) todos ao mesmo tempo no mesmo terreno. O primeiro grupo que desembarca é o grupo de protecção. Logo que o helicóptero toca a terra, os soldados saltam ou descem dele. A disposição do inimigo é a mesma que a das tropas de infantaria. Devem estar prontos para combater logo que tocam a terra.


5. Como é que o inimigo prepara um ataque com helicópteros


a - Faz reconhecimentos com aviação

Isto é para conhecer bem: a posição das nossas forças, o número de homens, as condições do terreno, as condições do tempo, etc. Este tipo de reconhecimento toma em geral bastente tempo, mas é muito fácil nas regiões planas como a nossa terra.


b - Faz ensaios de desembarque

Isto é para conhecer as dificuldades que pode encontrar no combate. Faz isso porque não é fácil aterrar e necessita de boas condições.


c – Escolhe o ponto de partida

É preciso para isso que a unidade da infantaria não esteja muito longe do desembarque, e que a caserna ou o posto em que se encontra seja uma base segura. A distância de voo deve ser em geral de cerca de 40 a 50 Km. Quando há muitos aeroportos, eles servem de ponto de partida (Bolama, Catió, Farim, Bafatá, etc).


d – Concentra (junta) os helicópteros e as tropas no ponto de partida

Quando é preciso mudar as tropas do quartel para o aeroporto, faz isso rapidamente, no máximo de uma hora, porque tudo deve estar pronto para partir, uma ou duas horas antes do desembarque.

e – Faz manhas para desviar a nossa atenção, para nos enganar

Pode fingir que está a reconhecer outro lugar em vez daquele que vai atacar, fingir que vai desembarcar noutro lado, lança boatos (notícias falsas) dizendo que vai atacar noutro lado, lança panfletos (cartas com propaganda) para nos desmoralizar e no fim atacam o lugar que sempre tinham em vista atacar.


6. Como é que o inimigo faz o desembarque


a) Fogo de apoio

Quando começa o fogo de apoio, os helicópteros saem do local de partida. O fogo de apoio dura todo o tempo de voo, de modo que quando chegam os helicópteros para o desembarque pára o fogo de apoio. No momento do desembarque o fogo de apoio recomeça, mas muda para as zonas próximas do local de aterrisagem, com o fim de cobrir o desembarque. Antes do desembarque o inimigo pode lançar paraquedistas falsos para, conforme a nossa reacção, conhecer melhor as nossas posições no terreno. Para o fogo de apoio, usam, como se disse, artilharia e aviões de combate. Os aviões fazem voos razantes (baixos) para fazer muito barulho com o fim de cobrir o ruído dos motores dos helicópteros.

Em geral as tropas que desembarcam e os aviadores de helicópteros pedem fogo de apoio. Mas isso faz com que nós podemos desconfiar do ataque, a surpresa fica diminuída ou sem efeito. Isto acontece porque as tropas colonialistas têm baixo espírito de combate, querem agir com maior segurança.


b) Tipos de desembarque

O inimigo desembarca grupo por grupo, mas se o primeiro grupo é atacado, volta a fazer fogo de apoio. Há três tipos de desembarque:

1º tipo – O helicóptero aterra e os soldados saem. Fazem assim em terrenos planos.

2º tipo – O helicóptero não aterra, fica suspenso no ar a pequena altura, lança uma escada e os soldados saem. Fazem assim nas zonas montanhosas principalmente.

3º tipo – O helicóptero não aterra, fica no ar a uma altura muito baixa, e os soldados saltam dele. Fazem assim nas zonas pantanosas (bolanhas, lalas com água, lama).


c) Tempo que dura o desembarque

O desembarque dos soldados de um helicóptero dura em geral 3 minutos; o desembarque de uma companhia (20 helicópteros) [Não me parece que na Guiné tivéssemos tantos helicópteros. Há-de ser uma ideia colhida junto dos vietnamitas - A. Marques Lopes] dura 10 a 15 minutos.


d) Como ataca o inimigo depois do desembarque

O inimigo age exactamente como fazem as tropas de infantaria, que estamos habituados a enfrentar.


II – BASES PARA A LUTA CONTRA OS HELICÓPTEROS


A nossa luta é uma guerra popular (de todo o povo). Por isso, a luta contra os helicópteros deve ser uma luta de todo o povo. Na luta contra os helicópteros, o trabalho principal é: mobilizar todas as forças armadas (exército e guerrilha), mobilizar todo o povo (população e milícia popular) par combater conra os helicópteros.

Para realizar este trabalho é preciso ensinar às massas populares e a todos os combatentes o que é um helicóptero, quais são as vantagens (forças) desvantagens (fraqueza) dos helicópteros; mostrar que temos capacidade para atacar e botar abaixo os helicópteros, criar e reforçar a confiança do povo e dos combatentes na sua capacidade diante dos helicópteros; aproveitar as nossas próprias experiência e as experiências dos outros, levá-las aos combatentes e às massas para poderem ser aplicadas em grande escala.

Conhecer o helicóptero, estar sempre pronto para lutar contra os helicópteros esta é a condição principal para derrotarmos os helicópteros na nossa terra.

1. O que é um helicóptero

Um avião é um meio de transporte que anda no ar, em geral com grande velocidade, mais epressa que os barcos e os carros. Mas o avião, para levantar voo (descolar) ou assentar na terra (aterrar) precisa de um grande espaço, duma pista (terreno plano, seco e firme) que tem várias centenas de metros e às vezes atá alguns quilómetros (avião a jacto). Por exemplo: um avião não pode descolar nem aterrar num quintal, num terraço, numa lala com água, num monte ou na lama. O avião não pode também parar no ar, nem perto da terra nem a grande altura: tem de estar sempre a andar.

O helicóptero é também um meio de transporte aéreo (que anda no ar), tem emgeral uma velocidade mais pequena do que a do avião, mas pode levantar voo ou aterrar numa porção pequena de terreno (um quintal, um campo de futebol, um terraço, etc.). Isso é possível porque o helicóptero não precisa de correr para levantar voo e porque pode parar no ar, mantendo o motor a trabalhar. O helicóptero levanta voo ou aterra muito devagar, e na vertical, quer dizer no sentido de um tronco de palmeira como quem sobe ou desce uma palmeira. Além disso, porque o helicóptero pode parar no ar, mesmo muito perto da terra, ele pode transportar pessoas e até carga para qualquer terreno: com pedras, com água, com lama, sem ser plano (monte) etc. Basta para isso que ponha uma escada ou um guindaste, e as pessoas ou as cargas descem ou sobem. Esta é a diferença principal entre o helicóptero e o avião: o helicóptero serve para qualquer terreno e até para trabalhos por cima da água, enquanto que o avião precisa de terreno especial para ser utilizado.

Helicóptero quer dizer: uma coisa que tem asas (ptero) em forma de hélice ou ventoinha (héli). Na verdade o helicóptero não tem asas como o avião, tem três partes principais [Vd. Fig 1, acima]:

O corpo – com a carlinga onde está o piloto

O rabo – que também tem uma hélice (hélice propulsora)

As hélices – grandes, acima do corpo e que se consideram como sendo as asas do helicóptero (ver desenho [, no cimo deste texto] )

Como os aviões, os helicópteros são feitos de metal ligeiro (alumínio) e de outros materiais leves, para diminuir ao máximo o seu peso. Como tudo o que voa, o helicóptero se é atingido seriamente ou se fica muito avariado não tem outro caminho senão cair no chão.

2. Quais são as vantagens (forças) dos helicópteros


São as seguintes:

a) – Dão uma grande mobilidade (movimentos rápidos) às tropas que podem assim deslocar-se mais depressa do que a pé ou de carro ou de barco, para qualquer terreno. Tem um raio de acção de 150 Km e uma velocidade de 160 Km/hora.

b) – Raio de acção – capacidade de voar sem receber mais gasolina. Por exemplo: pode ir de Bissau a Bissorã e voltar sem meter mais gasolina (em linha recta).

c) – Levam as tropas e abastecimento (material de guerra, comida, etc) para qualquer terreno e pode retirar tudo isso, assim como feridos e mortos de qualquer terreno.

d) – Causam surpresa tanto na ofensiva como na defensiva, porque chegam rapidamente, muitas vezes sem nós esperarmos e sobre qualquer terreno.

e) – Podem mudar de direcção de ataque rapidamente, dentro dum limite (distância máxima de 20 a 30 Km).

f) – A infantaria não precisa de muito treino para saber desembarcar dos helicópteros. Bastam em geral 5 a 6 minutos de treino para aprender a subis a descer do helicóptero. Logo a seguir ao desembarque podem começar o combate.

g) – Podem ter um grande apoio de fogo de armas pesadas.

h) – Podem ser armados para atirar contra os combatentes e contra a população.


3. Quais são as desvantagens (fraquezas) dos helicópteros


Os helicópteros têm muitas desvantagens (fraquezas).

São as seguintes:

a) – A cobertura de fora dos helicópteros é muito fina. Balas de calibre maior de 7 milímetros poem furar o casco dos helicópteros.

b) – A velocidade dos helicópteros não é grande. Por isso não é difícil fazer fogo contra os helicópteros quando estão em movimento, no ar, ao levantar-se ou a descer.

c) – Os helicópteros têm muita dificuldade em voar com mau tempo. Por isso só podem agir no tempo seco, os seus movimento são muito prejudicados (dificultados) pelo vento e pelas chuvas.

d) – Os helicópteros exigem muita conservação (tratamento). Assim, por cada hora de voo devem ser revistos e tratados durante cerca de três horas. Além disso, o motor dos helicópteros só tem uso em condições durante cerca de 300 a 500 horas.

e) – Os helicópteros gastam muita gasolina. Por exemplo, um helicóptero qie trabalha durante um dia gasta em médi mais de uma tonelada de gasolina.

f) – Quando os helicópteros se juntam num lugar de desembarque de tropas, formam um bom alvo para tiro fácil.

g) – O som do motor é muito forte, e por isso torna difícil ao IN [certamente mais um deslize do tuga escriturário...] de dar ordens de comando e também diminui ou impede a surpresa no momento do desembarque se nós estamos vigilantes.

h) – As tropas que vigiam os helicópteros não podem levar armas pesadas, e precisam de apoio de fogo de outras forças de apoio, o que nem sempre é fácil.

i) – Para usar os helicópteros, o inimigo deve sempre fazer primeiro um reconhecimento e usar fogo de apoio para desembarque, o que tira a surpresa à operação, desde que estejamos com atenção.

j) – O IN [novamente...] pode ter muitos helicópteros, mas não pode usar muitos num mesmo lugar ao mesmo tempo. É obrigado a repetir [é capaz de ser repartir...] os helicópteros por diversos lugares ou então fazer o desembarque por partes, o que torna mais fracas as suas forças.


4. Quais são os pontos mais fracos dos helicópteros

Os pontos mais fracos dos helicópteros são a carlinga, onde se enconta o piloto, e as hélices que fazem voar o helicóptero.

É, portanto, principalmente contra esses pontos que devemos fazer o tiro com a arma que temos. O tiro contra a carlinga tem a vantagem de poder atingir o piloto, deixando o helicóptero sem comando; além disso pode detruir aparelhos importantes sem os quais o helicóptero não poderá continuar a andar. O tiro nas hélices é o mesmo que umtiro nas asas de um pássaro: não poderá voar mais e cai, desde que o tiro seja bem dado.

- Alturas e distâncias

A altura em que está o helicóptero (distância entre o atirador e o helicóptero) pode ser avaliada com a vista. Assim:

Quando o helicóptero está a 100 metros mais ou menos, podemos ver claramento o helicóptero, a cara do piloto, a antena de rádio, e a boca da arma do helicóptero (canhão).

Quando está a 200 metros, vemos apenas a porta, as letras escritas no corpo ou no rabo, a carlinga, a cabeça do piloto.

Já quando está a 300 metros, só vemos o corpo do helicóptero a sua cauda ou rabo.

Para atirar contra um corpo em movimento é preciso mandar a bala para a frente desse corpo. Por isso é preciso conhecer a distância adiantada a que se deve mandar o tiro.


- A distância adiantada é calculada por fórmula:

DTA (distância) – TP (tempo que leva a bala a chegar ao alvo) x (vezes) VA (velocidade do corpo em movimento)

Suponhamos que o helicóptero está a 200 metros. A bala, para correr 200 metros, leva 0,31 segundos, portanto TP=0,31. O helicóptero anda a 50 m/segundo, portanto VA=50 m/segundo donde DTA=TpxVA=0,31s.x50=15m

Devemos portanto mandar o tiro para 15 metros à frente do helicóptero quando ele está a uma distância de 200 metros do ponto onde nos encontramos.

Fazendo cálculos parecidos com este, vemos que a distâncias adiantadas são as seguintes, para as distâncias do helicóptero a seguir indicadas conforme as armas (em metros).

Distâncias adiantadas (em metros)




Estes números indicam aproximadamente distâncias de tiro adiantadas, tiro isolado (um só atirador). Conforme o resultado do primeiro tiro, regulamos a distância para melhor acertar.

Devemos ter em atenção o seguinte:

Quando disparas várias armas ao mesmo tempo, devemos dobrar a distância de tiro adiantado, para formar à frente do helicóptero uma cortina de fogo com maior possibilidade de acertar.

Devemos ter em atenção o seguinte:

Quando usamos armas automáticas, de rajadas, devemos também dobrar a distância do tiro adiantado.

Antes de disparar, devemos sempre considerar uma distância adiantada maior do que a boa para podermos regular bem a distância que queremos, enquanto o helicóptero avança (em geral toma-se o dobro da distâcia necessária).






6. Como fazer tiro?


Pode-se dar tiros nos helicópteros com espingardas (Mauser), carabina russa ou outra espingarda semi-automática, espingarda metralhadora (G3 ou outra), com sub-metralhadoras como a AK10 (chinesa ou soviética) ou qualquer metralhadora ligeira.

a) – Graduar a alça da arma (regular a distância)

Isso depende da distância a que está o helicóptero sobre o qual se atira. Mas para agir rapidamente, convém ter a alça regulada antes do momento de ataque. Em geral escolhe-se a alça 3, quer dizer 300 metros de distância.

b) – O ângulo de tiro (posição da arma em relação ao solo)

Deve ser de 40º, o que permite um alcance de tiro de 1.200 metros em linha recta (trajectória rasante). Deve-se disparar quando o helicóptero está a uma altura do alto abaixo de cerca de 500 metros.

c) – Escolher o ponto de tiro

Quando o helicóptero está a uma altura igual ao do ponto em que nos encontramos (por exemplo, se estamos em cima de uma árvore, duma casa ou dum muro), atiramos contra ele directamente (tiro directo, ver figura 2).

Quando está no ar parado ou quando está muito perto e avança lentamente atiramos directamente (ver figura 3).

Quando está em voo, em linha recta, artiramos sobre o seu eixo (linha de voo) com tiro adiantado (tiro indirectyo), (ver figura 4).


5. Preparação e organização de combate contra os helicópteros



a) – Apreciar bem a situação do inimigo

Como se sabe, isto deve fazer-se para todos os casos de combate. Combater sem conhecer a situação do inimigo é o mesmo que entrar num quarto escuro cheio de obstáculos, é o mesmo que andar às cegas num caminho perigoso (ver palavras de ordens gerais, no que respeita à necessidade de fazer reconhecimentos antes dos combates).

Para conhecer a situação do inimigo devemos organizar uma rede de informação na zona do inimigo, para obter quaisquer indicações dos movimentos dos colonialistas, que mostram que se preparam para nos atacar em helicópteros.

Devemos saber a quantidade aproximada dos helicópteros que o inimigo vai empregar e apreciar a sua capacidade de combate. O inimigo pode desembarcar desde pequenos grupos de soldados até um ou mais batalhões. Em geral é difícil transportar mais e um batalhão, sobretudo para os tugas que não têm muitos helicópteros.

Devemos apesar disso estar preparados para combater contra o máximo de forças do inimigo, pois assim temos a segurança de poder derrotar essas forças.

Devemos também estudar quais são as forças de apoio que agem em coordenação com os helicópteros (fuzileiros, paraquedistas, etc.) e também qual o fogo de apoio que podem receber.

b) – Estudar o terreno

Com uma boa apreciação (conhecimento e atenção) podemos determinar o lugar onde é possível o desembarque, antes da chegada dos helicópteros. Apesar de que na nossa terra, que é em geral plana, haja muitos lugares para os helicópteros aterrarem, devemos conhecer bem os terrenos à volta das bases, das arrecadações e das tabancas, para fixar aqueles em que é mais fácil poisarem os helicópteros, que são melhores para o desembarque do inimigo.

Em cada Sector de luta e em cada base, devemos marcar esses terrenos. Isso permite-nos pôr obstáculos nesses terrenos (pedras, troncos de árvores, fogo, paus fincados na terra, minas, etc.) para evitar que os helicópteros aterrem, mas também para obrigá-los a aterrar lá onde nos convém melhor para o combate.

Para isso devemos ter em conta:

- O que queremos com o combate, o seu objectivo, quer dizer, se é para dar um golpe no inimigo, para evitar que desembarque ou para o aniquilar (detruir totalmente).

- A forma de combate que vamos utilizar, quer dizer, se combatemos em emboscada (esperando o inimigo no local de desembarque) ou se atacamos em movimento (avançar para o local do desembarque, e atacar o in imigo depois de desembarcar).

- A capacidade (as forças) do inimigo. Conforme essa capacidade, assim organizamos as nossas forças.

- As posições que devemos tomar no terreno.

- A sincronização (quer dizer: acção ao mesmo tempo) com outras forças nossas (guerrilhas, povo armado).

- A distribuição das tarefas (repartição dos tabalhos) durante o combate, o que deve ser feito claramente sem confusões.

- A organização dum sistema de vigilância e de comunicação (vigias, uso de bombolons ou de rádio para comunicar o movimento dos helicópteros), a fim de evitarmos a surpresa.

Quando estamos acampados, devemos prever um possível assalto com helicópteros. Por isso devemos ter um plano de defesa, cavar trincheiras e fossos, tomano posições favoráveis. Isso deve ser feito tanto nos pontos de apoio (acampamentos) como nas bases de guerrilha e também junto das tabancas.


8. Tipos de combate

O tipo de combate contra os helicópteros depende principalmente das forças de que dispomos e das armas que temos. Na fase actual da nossa luta se mobilizarmos e instruirmos (ensinarmos) bem as massas populares e os combatentes para a luta contra os helicópteros, podemos fazer qualquer tipo de combate contra eles. Temos todas as armas n ecessárias.


a) – Combate disperso

É a forma do combate popular, pois pode fazer-se em todos os lugares, os casos e a qualquer momento. Para poder fazer o combate disperso devemos:

- Criar grupos de caçadores de helicópteros formados de guerrilheiros e povo armado. Escolher para isso os bons atiradores.

- Convencer a população e os combatentes (nas horas vagas) a preparar cibes para fincar nos lugares bons para desembarque.

- Semear ou plantar plantas nos lugares em que não há, para nos servir de esconderijo donde faremos fogo contra os helicópteros e o inimigo.

- Nos grandes campos, combinar estacas fincadas no chão com minas anti-pessoais e anti-aéreas que devemos preparar.

- Não arrancar as árvores para fazer lenha, mas cortar apenas a parte dos ramos deixando os troncos no chão (como nos terrenos de queimada).

- Manter grupos de atiradores, devigilância, para darem tiros contra os helicópteros ainda quando estão a voar. Estes grupos devem estar em lugares situados na trajectória (linha de voo) que os helicópteros podem fazer e são a base para as nossas posições.

- Organizar comandos (grupos fortes) para atacar os aeroportos e bases inimigas com o fim de destruir os helicópteros.


b) – Combate concentrado

Este tipo de combate deve ser feito em geral com as forças principais (unidades do Exército e guerrilheiros bem armados). Podemos usar neste tipo de combate as tácticas seguintes:

- Combate de emboscada – Concentramos as nossas forças no lugar ou nos lugares previstos para o desembarque, e esperamos que cheguem os helicópteros. Neste caso, é em geral necessário atrair (chamar) o inimigo ao local da emboscada. Por exemplo: pôr obstáculos em todos os sítios bons para desembarque, menos naqueles que nos convém para combate; atacar um posto de uma caserna inimiga, para provocá-lo, e ficar depois à sua espera no lugar ou lugares bons para desembarque e situados próximos das nossas posições; dispor de forças em todos os lugares.» (2).
_________________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último poste da série > 8 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3284: Instrução, táctica e logística (17): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A formação do soldado das FARP (A. Marques Lopes)

(2) Para saber mais sobre o helicóptero, vd. por exemplo os seguintes sítios:

Wikipédia > Helicóptero

Wikipédia > Portal: Aviação

Blogue do Victor Barata > Especialistas da BA 12, Guiné 65/7

Aproveito para saudar o Victor, que é também membro da nossa Tabanca Grande e tem ido aos nossos encontros nacionais, e desejar-lhe boa sorte e perseverança neste combate, que nem sempre é fácil, de reunir as antigas tropas, agora tresmalhadas, e que no caso dele não eram de terra nem do mar, mas do ar... No seu sempre activo blogue, têm aparecido além dos Melec (técnicos de manutenção aeronáutica, como ele), outros camaradas, como os pilotos e os pára-quedistas... Boa saúdede e bom trabalho para o Victor e os camaradas da FAP que a Guiné juntou e uniu. O Victor está, além disso, a organizar uma viagem de saudade à Guiné, a realizar em Fevereiro do próximo ano.

2 comentários:

Luís Graça disse...

Uma das coisas que me intriga e que eu gostaria de perguntar ao Jorge Félix, é: Por que é que as esquadrilhas de helicópteros tiveram tão poucas baixas em toda a guerra ? Refiro-me ao TO da Guiné... E nas baixas não estou a incluir apenas aparelhos abatidos, mas também atingidos e danificados pelo fogo dos guerrilheiros do PAIGC...

Tres ordens de explicação possível: (i) a configuração do terreno: a Guiné era completamente plana (com a excepção, ao que parece, das colinas do Boé, onde nunca estive); (ii) a perícia, a competência e a coragem dos nossos pilotos; (iii) os tipos do PAIGC não só estavam mal preparados, para combater com armas modernas, como eram maus combatentes...

Jorge, tu que foste do 1º curso de pilotos milicianos de heli, diz-se: conheces algum caso, no teu tempo, em que um heli tenha sido abatido ou simplesmente atingido por fogo de armas ligeiras ?

Um Alfa Bravo. Luís Graça

JC Abreu dos Santos disse...

... citação, (do que acima está) «Sua Alteza D. Duarte Nuno de Bragança, esteve em Moçambique e vive em Lisboa»: Dom Duarte prestou serviço militar na 2RA-Angola, onde não foi permitido que voasse; e reside em São Pedro de Penaferrim (Sintra).