quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3240: Recortes de imprensa (8): 35 anos de independência da pátria de Amílcar Cabral

Eis a uma amostra do que os jornais digitais disseram dos 35 anos da Guiné-Bissau, que se comemoraram ontem, 24 de Setembro. A amostra é parca, e de certo modo é reveladora do escasso, escassíssimo interesse que a nossa querida Guiné-Bissau (ainda) tem no (des)concerto das Nações.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Recortes de imprensa (com a devida vénia...)


(i) Guiné-Bissau: País espera há 35 anos por desenvolvimento e estabilidade política

24 de Setembro de 2008, 14:38

por Isabel Marisa Serafim, da Agência Lusa

Bissau, 24 Set (Lusa) - A independência da Guiné-Bissau faz hoje 35 anos, mas as autoridades guineenses continuam a tentar consolidar a democracia, as instituições do Estado, o desenvolvimento humano e económico, enquanto tentam combater o narcotráfico que se instalou no país.

O próximo grande passo para a consolidação da democracia e das instituições de Estado no país, que num espaço de ano e meio viu o governo ser liderado por três primeiros-ministros, depois do executivo eleito nas últimas legislativas ter sido dissolvido, serão as próximas eleições marcadas para 16 de Novembro.

Cerca de 700 mil eleitores, entre 1,3 milhões de habitantes, vão escolher os próximos líderes governamentais da Guiné-Bissau entre 21 partidos e duas coligações, com destaque para o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Partido da Renovação Social (PRS) e Partido Republicano da Independência para o Desenvolvimento (PRID), formado por muitos apoiantes e militantes que deixaram o PAIGC.

Enquanto a comunidade internacional reúne esforços e dinheiro para financiar o escrutínio, orçado em cerca de seis milhões de euros pelo governo, os guineenses, à margem da classe política, parecem alheios às eleições, concentrando os seus esforços na sobrevivência diária.

Às péssimas condições de saneamento básico existentes no país, principal responsável pela epidemia de cólera que já provocou a morte a 133 pessoas e afectou mais de sete mil, e à falta de electricidade, juntam-se o desemprego, principalmente para os mais jovens, e a escalada dos preços dos bens alimentares, que desperta em muitos a vontade de emigrar para a Europa.

Um saco de 50 quilogramas de arroz, base alimentar dos guineenses, custa actualmente cerca de 30 euros, um pouco mais que o ordenado mínimo que se pratica no país, porque tem de ser importado, à semelhança da maior parte dos bens alimentares.

Apesar de já ter sido um dos maiores exportadores de arroz do mundo, hoje a Guiné-Bissau simplesmente não produz alimentos, limitando-se a uma pequena agricultura de subsistência. Excepção para o caju, que continua a exportar, mas que não serve para equilibrar as balanças comerciais guineenses.

O Estado guineense não consegue ter dinheiro e apenas tem como receitas as taxas das alfândegas do país, insuficientes para pagar os salários dos funcionários públicos, que não recebem há vários meses.

Os guineenses só voltaram este ano a pagar impostos ao Estado, cerca de três euros por ano. Há 20 anos que não pagavam.

Para piorar o quadro da Guiné-Bissau, redes de narcotraficantes da América Latina começaram a utilizar o território como placa giratória para fazer entrar cocaína na Europa.

A falta de meios, de controlo nas fronteiras e autoridades de segurança pouco preparadas para fazer face a este novo fenómeno, são o cenário ideal para os narcotraficantes estabelecerem as suas pontes rumos aos clientes europeus.

O presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, eleito em 2005, depois de regressar ao país, após uma estadia forçada em Portugal, tenta manter o optimismo do povo.

"Todos e cada um temos que olhar para o futuro com ambição, coragem e vontade de vencer", afirmou "Nino" Vieira, no discurso comemorativo dos 35º aniversário da independência do país, por si proclamada na qualidade de primeiro presidente da Assembelia Nacional Popular guineense.

O chefe de Estado reconhece, contudo, que o "sonho da independência (da Guiné-Bissau e do seu povo) continua por realizar", principalmente em matéria de desenvolvimento socio-económico, consolidação da democracia, estabilidade política e de paz social.

(ii) Guiné celebra 35 anos de independência

Salvador Gomes
Correspondente da BBC, em Bissau


O PAIGC proclamou a independência da Guiné-Bissau em 1973

A Guiné-Bissau assinala hoje mais um aniversário da sua independência proclamada pelo PAIGC a 24 de Setembro de 1973, um ano antes do seu reconhecimento oficial pelas autoridades portuguesas.

De um modo geral os guineenses fazem um balanço negativo destes anos de independência, que custaram sangue e sacrifícios na esperança de uma vida melhor.

Volvidos 35 anos de independência, o cidadão comum está cada vez mais indignado com a forma como o país tem sido dirigido.

“O balanço é negativo. Há aspectos positivos - temos a independência, um hino, uma bandeira - mas depois houve períodos cíclicos de instabilidade. O país não consegue erguer-se, é indigno, imoral e impróprio”, disse indignado Lalau Robalo.



Dor e mágoa

A indignação de Lalau é também da grande maioria dos servidores de um Estado que não se sente como tal. Ainda não é este ano que comemora com alegria a festa nacional.

“Vamos comemorá-la com tristeza, dor e mágoa. Três meses sem salário, como é que este homem pode sobreviver com a família e o custo de vida que aumenta cada vez mais”, pergunta o sindicalista Sabana Embaló.

Avanços e muitos recuos no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau têm fustigado tudo e todos, mas alguns actores da vida nacional ainda alimentam alguma esperança quanto a um futuro melhor.

É o caso do empresário João de Barros. “Costuma-se dizer que enquanto há vida há esperança. As condições do empresariado guineense não são boas mas estamos cá a lutar na esperança de um dia haver indicações para o desenvolvimento” , disse o empresário do sector da Comunicação Social.

Reformar mentalidades

Hoje mais do que nunca impera entre guineenses a convicção de que as estratégias caducaram e há quem peça mesmo uma reforma de mentalidades.

“Quer queiramos quer não, a Guiné-Bissau terá que optar pelo mercado. É preciso renovar estratégias e não ficar dependente de relatórios do Banco Mundial, do FMI e da Comunidade Internacional.”, considera João de Barros.

Lalau Robalo defende mudança de mentalidade: “é preciso que os guineenses sejam patriotas e tenham o sentido de Estado”, disse.

Não se pode, contudo, considerar a Guiné-Bissau um país inviável. “Felizmente a economia real é positiva. Produzimos mais do que consumimos".

"Por exemplo, produzimos anualmente 150 mil toneladas de caju, representam 200 milhões de dólares, um valor superior à nossa balança de pagamentos, isso para não falar da pesca e de outros recursos” sublinha João de Barros.


(iii) A independência da Guiné

No passado 24 de Setembro de 1973

24.09.2008

Público


Depois de pertencer ao reino do Gabu, do grande império do Mali, a Guiné-Bissau passou para mãos portuguesas em 1446 e no dia 24 de Setembro de 1973 para as dos próprios guineenses. Portugal só começou a ligar alguma coisa à Guiné em meados de século XVI, semeando feitorias e entrepostos negreiros. Bissau só aparece no mapa em 1697.

Tudo ali chegou tarde, excepto a rebelião de Amílcar Cabral, lançada em 1956, depois a guerra e por fim a independência, proclamada nas colinas de Medina do Boé pelo então presidente da Assembleia Nacional Popular do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGCV), João Bernardo Nino Vieira, e actual chefe de Estado.

O país foi sempre uma convulsão. Primeiro foram os 11 anos de guerra contra a colonização portuguesa. Depois foi o golpe contra o Presidente Luís Cabral, derrubado por Nino Vieira, em 1980, e o afastamento dos cabo-verdianos. A seguir um regime centralista e autoritário que só se abriu ao sector privado, e timidamente, em 1986, e ao pluripartidarismo em 1991, antes de realizar as suas primeiras eleições democráticas em 1994, ganhas pelo PAIGC e por Nino. E por fim uma série de conflitos, militares, como a guerra civil de 1998, que levou ao afastamento do Presidente, e políticos, no meio dos quais ele voltou como promessas de estabilidade de que as eleições legislativas de 16 de Novembro poderão ser ou não expressão.



2. Indicadores demográficos, geográficos, sanitários, económicos e sociais da Guiné-Bissau:

CIA - Central Intelligence Agency > The World Factbook > Guinea-Bissau (sempre actualizados: já lá têm o nome do actual 1º Ministro, Carlos Correia).

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