sábado, 9 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3123: Ser solidário (17): ONG AD - Relatório de actividades de 2007 - Parte IV (Final): Parcerias e apoios




Cópia da capa de três publicaçõe recentes da AD, em colaboração com o Instituto Marquês Valle Flor e com o apoio da Comissão Europeia: (i) Estudo de Mercado sobre a Comercialização de Produtos Locais no Sector de S.Domingos; (ii) Observatório da Educação no Sector de S.Domingos; (iii) Estudo das Potencialidades e dos Constrangimentos do Ecoturismo na Região de Tombali. O Instituto Marquês Valle Flor é o principal parceiro português da AD.




Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 3 de Fevereiro de 2008 > O Professor, belga, Hubert Lelotte "continua, com a sua competência e entusiasmo, a formar os primeiros guias ecoturisticos de Cantanhez, após vários anos de colaboração na criação das Escolas de Verificação Ambiental no país"... Na foto, um grupo de jovens "guias prepara-se para identificar um itinerário turístico, recolhendo todas as informações de carácter ambiental, fluvial e logístico, que irão permitir aos nacionais e estrangeiros que demandam esta zona sul, poder escolher o que pretendem conhecer e visitar".

Fotos: Cortesia de: © AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados.


Quarta (e última) parte do relatório de actividades de 2007, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, que temos vindo a reproduzir no nosso blogue. Com esta ONG guineense, que tem sede em Bissau, antemos desde finais de 2005 uma relação, franca, aberta, privilegiada, de cooperação, tendo como pretexto inicial o Projecto Guileje que deu origem, entre outras iniciativas que tiveram o nosso apoio, à realização do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), e que abriu portas a outras iniciativas mais recentes, como por exemplo a recolha de sementes.


AD -Acção para o Desenvolvimento: Relatório de actividades de 2007 > Parte IV

Revisão e fixação de texto: L.G. (Não se reproduzem, por razões técnicas e de economia de meios, as fotos do relatório original, divulgado em formato pdf, no sítio da AD).

D. PARCEIROS DA AD

Embora o ano de 2007 tenha registado um aumento do volume financeiro de apoio aos projectos da AD, interessa lançar para discussão alguns sinais de mudança que se poderão vir a reflectir com muita preocupação a médio prazo no relacionamento entre a nossa organização e alguns dos nossos parceiros.

A primeira e mais importante refere-se à mudança gradual de atitude de algumas ONG parceiras da AD desde a primeira hora e que parecem abandonar a antiga cumplicidade existente entre nós na defesa de políticas progressistas de luta das populações mais excluídas, no combate político por uma sociedade mais justa, progressiva e solidária, para se deslumbrarem e deixar seduzir pelos modelos de organização e prioridades administrativo-financeiras de tipo neo-liberal.

Se anteriormente o acompanhamento da execução dos projectos tinha obrigatoriamente por pano de fundo as opções políticas, os métodos de responsabilização das comunidades e a criação de dinâmicas inovadoras, agora, esta reflexão deu lugar a exigências mais ou menos explícitas para o funcionamento burocrático das nossas ONG serem feitas à imagem e semelhança das deles, sempre consideradas como modelos exemplares e de reprodução local necessária.

Tem-se a ideia de que certas ONG do norte se perderam no caminho, deixaram de crer nas suas vocações e docilizaram-se perante as suas fontes de financiamento, assumindo um mero papel de executores, bons e baratos, das suas políticas governamentais. Para digerir o purgante, algumas passam anos a reestruturam-se em termos de finalidades e formas organizativas,
alimentando o espírito com supostos desafios novos em que os seus funcionários não se revêem e até por vezes nem percebem.

Acabamos por ter a sensação que, para essas ONG, o que é preciso é que as nossas organizações funcionem administrativamente bem, produzam relatórios atempados que eles acabam por não ler (várias vezes o pudemos constatar), cumpram os preceitos internacionais da boa contabilidade, em vez de privilegiar as acções nas tabancas e a obtenção de resultados mobilizadores para outras comunidades. O voluntarismo e a entrega ao trabalho não devem ser confundidas com amadorismo, falta de rigor e irresponsabilidade.

Fica-se sem saber quem afinal está a ver o filme ao contrário. Eles ou nós?

Outra das preocupações a ter em conta e assinaladas em relatórios anteriores, é o do perigo de concentrar as nossas parcerias num só ou num número muito reduzido de organizações financiadoras. As múltiplas parcerias embora tenham o inconveniente de exigirem muito mais trabalho da AD (relatórios, notas verbais, respostas a questões) garantem uma autonomia de discussão e decisão em relação às nossas opções e escolhas.

Não é independente quem quer, mas sim quem pode. Por isso impõe-se que a AD procure noutros azimutes novas parcerias que a façam conservar a capacidade de execução dos programas que ela própria definiu e não as que outros julgam, pela lei do dinheiro, deverem ser as nossas.

Finalmente, interessa à AD empenhar-se mais na vida da PLACON-GB, a atravessar um dos períodos mais delicados da sua existência a necessitar de rever funções, formas de representatividade, procedimentos e compromissos políticos.

A PLACON-GB deve promover a cooperação e solidariedade entre as ONG e não comportar-se também ela como uma ONG, apoiando umas e penalizando outras. Deve ser o rosto das posições de luta pela unidade nacional e desenvolvimento, combatendo de forma firme e intransigente a corrupção, o narcotráfico e o tribalismo, pautando as suas posições pelos interesses exclusivos das comunidades locais e não das dos partidos políticos e promovendo a democracia, justiça social e desenvolvimento solidário, nunca se esquecendo que quem reclama a democracia aos outros deve praticá-la primeiramente em casa.

Segundo os países, a situação das parcerias da AD em 2007 apresentaram-se da seguinte forma:

a) HOLANDA

A ICCO iniciou um processo de descentralização, devendo criar uma delegação na África Ocidental que ninguém sabe como funcionará na prática e que será ela no futuro a aprovar os projectos. Custa-nos a compreender como é que uma comissão constituída por 9 elementos provenientes de outros tantos países que dominam o francês e o inglês e só 1 o português, poderão avaliar a pertinência e interesse de projectos apresentados por ONG guineenses. Parece ser a fórmula mais inteligente de excluir a Guiné-Bissau de futuras parcerias, isto para quem já tanto tentou por outras formas sair do nosso país.

O projecto de 3 anos, no valor de 360.000 euros concluir-se-á no final de 2008 não se sabendo quais os mecanismos a accionar para a sua continuidade.

Com a NOVIB Iniciou-se em Abril deste ano um projecto que se prolongará até Dezembro de 2009, no valor de 277.000 euros. Trata-se de desenvolver o processo de implantação de rádios comunitárias em todo o país, a criação das primeiras televisões comunitárias e o funcionamento de uma Rede de órgãos de comunicação comunitária que promova a cooperação entre eles e a sua afirmação nacional.

b) PORTUGAL

Com o Instituto Marquês Valle Flor (IMVF) prosseguiu a parceria materializada nos seguintes projectos:

- o Projecto Kasumai no valor global de 775.000 euros, concluiu-se em Abril de 2007, depois de 4 anos de excelentes resultados, o que levou o Ministro dos Recursos Naturais a solicitar à Comissão Europeia, cofinanciadora desta iniciativa, a continuação do apoio a este tipo de actividades. Contou com a parceria da ACEP.

- o Projecto Uanam, financiado pela União Europeia por 4 anos, atingiu o seu meio-percurso no final deste ano. Orçado no valor de 748.618 euros, o seu final será em Dezembro de 2009. As acções centram-se à volta do ecoturismo e da infraestruturação de apoio a este programa que está a ter muito impacto nas comunidades locais e inclui iniciativas nas áreas da agricultura, comercialização, saúde e ensino ambiental.

- o Projecto Konkobai cofinanciado pela União Europeia no quadro dos programas de segurança alimentar, no valor de 496.918 euros, vai entrar no seu último ano de intervenção (Dezembro de 2008). O maior sucesso foi o da recuperação de bolanhas salgadas na zona de Barro, a distribuição de sementes e pequeno material agrícola, a introdução de carroças de burro, descascadoras de arroz, prensas de óleo e construção de poços.

- o Projecto Woncame cofinanciado pela União Europeia no quadro dos programas de segurança alimentar para Cubucaré e Quitafine, no valor de 547.439 euros, tem a duração de 3 anos e começou em Janeiro de 2007.

O reaproveitamento das bolanhas salgadas, o uso dos bas-fonds para a produção alimentar diversificada e a introdução de unidades de produção de farinha de mandioca foram os aspectos mais marcantes.

- a nossa ONG vai colaborar em 2008 com os projectos apoiados à COAJOQ em Cacheu e à capacitação de ONG nacionais, geridos pelo IMVF.

O Ministério do Trabalho e Segurança Social (MTSS) prosseguiu o apoio à Escola de Artes e Ofícios de Quelele, no domínio da criação de um Curso de Artes Domésticas e Hotelaria (63.000 euros), concluiu-se em 2007 o programa de formação de auxiliares de educadoras de infância (17.000 euros) e do observatório de emprego e apoio à inserção socioprofissional (12.500 euros). A Mutualidade de Crédito de Quelele foi apoiada com um financiamento de 9.876 euros desbloqueados em finais de 2007.

A Escola Superior de Educação de Leiria apoiou a realização de um curso de energia solar em S. Domingos, contribuiu para a reflexão sobre os objectivos e funcionamento do futuro Centro de Aprendizagem Rural de Guiledje e apoiou o site da AD e criação do site do Simpósio de Guiledje.

Com o CIATE (Centro Integral de Adestramento Tecno-Electrónico), prosseguiu o apoio conceptual e de formulação dos currículos dos cursos de electricidade e electrónica, em particular a reformulação do programa e das instalações das aulas práticas do curso de electricidade.

Com a Câmara Municipal do Montijo decorreu uma breve cooperação através de 4 jovens que estiveram na sede do PAN durante 6 meses colaborando com o Cenfor, a Ludoteca, o jornal comunitário e a animação cultural. Este tipo de colaboração, para ter sucesso, exige que sejam atempadamente definidas os termos de referência de cada voluntário, as regras e modalidades da sua integração nas estruturas da AD, a produção de relatórios e propostas de actividades e as responsabilidades hierárquicas a observar.

A parceria iniciada com a TESE através do projecto ambiental de “Promoção do acesso a fontes de energia moderna na Guiné-Bissau” que visava o uso do gás em substituição da lenha e carvão, aprovado pela Comissão Europeia no valor de 1.678.974 euros acabou por ser anulado pela AD pelas fundadas divergências com a GALP, um dos parceiros do projecto, associadas a uma falta de confiança profissional.

c) ESPANHA

O Ayuntamiento de Elx continuou pelo oitavo ano a sua colaboração a nível de S. Domingos, tendo em 2007 sido recebidos 6.200 euros para a realização de cursos no CENFOR, para o funcionamento da Ludoteca e para o inicio do programa de alfabetização.

Com o IEPALA concluiu-se em Fevereiro o projecto de 3 anos, no valor de 58.974 Euros, que se saldou por resultados muito positivos na diversificação agrícola no sector de S.Domingos. Iniciou-se com esta ONG a formulação de um projecto de criação de uma Rede das Escolas de Verificação Ambiental que poderá eventualmente ser aprovado ainda em 2008.

d) BÉLGICA

Com a Solidarité Socialiste, o projecto de Reforço do Movimento Associativo Rural do Norte, entrou no seu quinto e último ano (conclusão em Abril de 2008) com um financiamento para 2007 de 38.940 Euros. A fileira óleo de palma está lançada e a metodologia para a legalização da Rádio Kasumai poderá servir de referência para as outras Rádios Comunitárias.

Iniciou-se a reflexão para a elaboração de um novo projecto de 3 anos no sul do país de apoio às associações de base, em colaboração com 3 outras ONG guineenses (AIFA, ADIM e NIMBA) e integrada numa rede subregional de parcerias com outras ONG dos países vizinhos.

e) ITÁLIA

Com a ONG AIN (Associazione Interpreti Naturalistici) iniciou-se em 2007 a execução do projecto “ECO-GUINÉ”, no valor de 4.455 Euros, que tem uma componente de formação de guias de ecoturismo e gestores de unidades locais de prestação de serviços, assim como a identificação de percursos naturais. A zona de intervenção é Cantanhez e Dulombi, esta última com a ONG guineense APRODEL.

f) Organizações estrangeiras sedeadas em Bissau

A parceria com o Fundo Canadiano de Iniciativas Locais (FCIL) traduziu-se no financiamento da construção das novas instalações da Rádio Balafon em Ingoré, com uma contribuição de 20.837 euros.

g) Organizações Internacionais

A União Europeia é o maior parceiro da AD, cofinanciando grande parte dos nossos projectos e dispondo de há 2 anos a esta parte interlocutores que acompanham os projectos e que mostram uma grande disponibilidade na prestação de informações e serviços às ONG. Este ano a União Europeia cofinanciou cinco projectos: Kasumai, PISAC, Uanam, Konkobai e a Doação Global com o IEPALA.

A UICN tem continuado a desempenhar um papel notável nas pontes que proporciona com outras instituições nacionais e estrangeiras, governo, ONG, institutos, financiadores e agencias ambientais, o que facilita e desbloqueia grande número de casos que ocorrem nas nossas zonas de intervenção e propícia à AD uma melhor procura de financiamentos para projectos de desenvolvimento-ambiente.

O PAM foi um parceiro activo e pontual no apoio aos projectos de “comida contra trabalho” em especial no aproveitamento dos pequenos vales interiores do sector de Cubucaré para a produção de batata-doce, mandioca e feijão mancanha e na recuperação de bolanhas para a orizicultura.

h) Individualidades

Para a nossa ONG a colaboração voluntária de pessoas que o fazem a título individual, tem um profundo significado solidário que inculca em todos quantos trabalham na AD valores de referência e comportamento.

Este ano gostaríamos de destacar:

- o sociólogo Luís Graça, coordenador do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, que tem trazido para o seio da AD muitos camaradas que para além de se interessarem pela recuperação da memória histórica antes da independência, se propõem colaborar com as iniciativas de hoje. O seu envolvimento na promoção do Simpósio de Guiledje é decisivo para o seu êxito.

- O professor belga Hubert Lelotte, grande entusiasta do ensino ambiental e que está na origem das Escolas de Verificação Ambiental e das Reservas Educativas prosseguiu o seu apoio à AD numa segunda formação dos guias ecoturísticos de Cantanhez e produzindo o jornal mensal de ligação entre ele e os guias, intitulado “Partilha” e do qual foram publicados até Dezembro de 2007, 39 números.

- Os médicos cubanos sedeados em S. Domingos, Doutores Alexandro e José, deram uma contribuição notável no Centro Materno- Infantil de Djufunco, consultando para além das mulheres grávidas cerca de 350 doentes por mês, emprestando a sua competência e dedicação para a melhoria das condições de saúde numa zona do país que nunca tinha tido acesso a um médico.

- o realizador Adrezej Kowalski, pioneiro das televisões comunitárias na Guiné-Bissau (TVK e TVB), formou jovens do sul do país para dominarem as técnicas de filmagem e montagem dos programas da primeira televisão comunitária africana que começou a emitir através de ondas hertzianas em Novembro de 2007.

- o jornalista Assimo Baldé contribuiu igualmente para que a TV Massar de Iemberém fosse uma realidade, formando os jovens jornalistas nas técnicas de preparação de notícias, condução de entrevistas e direcção de debates.

- o historiador Leopoldo Amado colaborou de forma marcante na concepção temática do Simpósio Internacional de Guiledje, contribuindo para a sua qualidade e impacto académico.

- como sempre o professor Filipe Santos, da Escola Superior de Leiria, mantém uma colaboração no site da AD e na criação do site de Guiledje.

Para todos eles, a certeza que a AD os tem como referência moral e bebe no seu exemplo para encontrar a coragem e capacidade de ir em frente.

Bissau, Junho de 2008
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

7 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3118: Ser solidário (14): ONG AD: Relatório de actividades de 2007 - Parte I: A segurança alimentar

8 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3121: Ser solidário (15): ONG AD - Relatório de actividades de 2007 - Parte II: Luta contra a fome, ecoturismo e TV comunitárias

8 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3122: Ser solidário (16): ONG AD - Parte III: Trabalho feito, com destaque para a realização do Simpósio Internacional de Guileje

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom dia
Acabei de fazer um comentário á Guiné do meu tempo, a terra que conheci. Já ontem tinha lido os quatro escritos do Relatório da AD,conhecia a publicação do Ecoturismo na região de Tombali e leio o blogue da responsável. As outras não. Como fiquei com poucos elementos de analise, apesar de ainda não ter passado ao papel, nada digo, por essa e outras razões que, por direito que me assiste e dele não abdico, a não ser que se a Guiné fosse uma grande AD como seria? Não tem o direito a...vês??!! Manda-os ler o texto de João Cutileiro em publicidade a um banco ontem saído na Única do Expresso...um dia ...agora penso hibernar(como animal de sangue quente?) mas lá pelo outono..."deshiberno" se aguentar...não assino a rogo por não saber ler como na piblicidade citada mas c/ um Abraço do Torcato