quinta-feira, 3 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3016: Em busca de... (32): Margarida Dahaba, professora, filha do 2º Sargento Fodé Dahaba (M. Ribeiro de Almeida / J.M. Gonçalves Dias)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > Pessoal da CART 3492 posando juntamente com um grupo de bajudas e crianças. Da direita para a esquerda: Alf Gonçalves Dias (4º Pelotão), Furriel Duarte (4º Pelotão), Alf Mexia Alves (1º Pelotão), Alf Barroso (3º Pelotão), Furriel Pires (1º Pelotão), "homem da minha confiança" (JMA)

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados


1. Mensagem de Miguel Ribeiro de Almeida


Exmo. Sr.
Luís Graça (e co-editores e tertulianos do blog),

Tomei há pouco tempo conhecimento do vosso magnífico blog. Queria dar-vos os meus sinceros parabéns pela qualidade do mesmo, pelo contributo que presta à história contemporânea do nosso país, pela mensagem de amizade e confraternização que veicula, e por não deixar morrer a memória de uma guerra para a qual foram mobilizados tantos jovens portugueses.

Devo dizer-vos que me emociono ao ver fotos e ao ler textos do vosso blog, que tão bem descrevem e documentam os anos de guerra na Guiné.

Eu tinha 9 anos quando se deu o 25 de Abril, e da guerra guardo ainda na memória as imagens de entrevistas a soldados, na TV (creio que em épocas festivas, enviando mensagens para as famílias, estarei certo?), as conversas que ia ouvindo e os telegramas de papel amarelo [, os aerogramas,] que chegavam da Guiné, onde o meu tio - José Maria Gonçalves Dias, Alferes Miliciano - combateu, entre 1971 e 1973.

Pertenceu, primeiro, à CART 3492 [, unidade de quadrícula do Xitole,] e depois ao CCS do BART 3873. Esteve em Bambadinca.

Lisboa > Hospital Militar Princiapal > 1969 > Fotografia do 2º sargento Fodé Dahaba, "com um sorriso muito triste, tirada nos jardins do Hospital Militar Principal em Lisboa"... Pertencia ao Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Missirá ). Foi gravemente ferido em 22 de Fevereiro de 1969, na Op Anda Cá, na região do Cuor, a norte do Rio Geba. Foto : © Beja Santos (2006). Direitos reservados

O meu tio vai regularmente aos convívios de confraternização com os seus antigos camaradas da Guiné, por isso creio não ter perdido o contacto com nenhum. No entanto, como não domina estas coisas cibernáuticas, pediu-me para eu fazer uma pesquisa relativamente a um antigo camarada, o 2º Sargento Fodé Dahaba, de uma Companhia de Comandos Africanos (peço desculpa se a denominação não for exactamente esta), de quem ficou muito amigo, bem como da sua filha Margarida Dahaba, a quem viu nascer.

O meu tio sabe que a Margarida é professora primária em Portugal, e gostava muito de a contactar. Será que alguém do vosso blog o poderia ajudar a localizá-la?

Pelas pesquisas que fiz no vosso blog, parece-me que o 2º Sargento Fodé Dahaba vive em Lisboa, pois encontrei uma foto dele, seguida de um texto do Dr. Beja Santos, embora este texto seja de 2006. Podem confirmar-se se assim é, ou se neste momento se encontra a residir na Guiné-Bissau?

Desde já vos agradeço, em nome do meu tio, toda a ajuda que me puderem prestar. E, mais uma vez, as minhas sinceras felicitações pelo vosso magnífico trabalho.

Saudações cordiais a todos,

Miguel Ribeiro de Almeida

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, em meu nome e dos demais amigos e camaradas da Guiné, pelas suas referências elogiosas que fez ao nosso blogue e ao nosso trabalho de preservação e divulgação das memórias da guerra colonial na Guiné.

Do seu tio encontrámos uma foto, tirada em Bolama, e que nos foi enviada pelo Joaquim Mexias Alves, seu camarada da CART 3492 (estiveram juntos no Xitole, pelo menos alguns meses, em 1972; e deve-se ter encontrado várias vezes em Bambadinca, depois da transferência do Joaquim para o Pel Caç Nat 52).

O Fodé Dahaba pertencia a esta mesma subunidade, o Peltão de Caçadores Nativos, nº 52, comandado então pelo Alf Mil Beja Santos (1968/70). O Fodé foi gravemente ferido em combate em 22 de Fevereiro de 1969. Foi evacuado posteriomente para o Hospital Militar Principal, em Lisboa, na Estrela. Deve ter regressado à Guiné posteriormente, e terá sido nessa altura, circa 1972/73, que o seu tio o conheceu. Imagino que tenha voltado de novo a Portugal, por razões médicas ou outras. Talvez o nosso camarada Beja Santos o possa ajudar, com informação mais detalhada, sobre o seu paradeiro actual bem como o da sua filha Margarida Dahaba, que hoije deverá ter cerca de 35 anos. Diz você que é professora do 1º ciclo do ensino básico. Espero que, com a nossa ajuda, a possa localizar e contactar. Vou fazer um apelo a todos os nossos amigos e camaradas. Poderá também contactar o seu camarada Beja Santos, actualmente assessor principal do Instituto do Consumidor (antiga Direcção-Geral do Consumidor), ao Saldanho. Boa sorte nas tuas diligências. E dá um Alfa Bravo (abraço) ao teu tio. Luís.

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel

(...) "Uma das cenas mais horríveis que presenciei em toda a minha vida

"De imediato, fui comunicar o sucedido aos dois capitães propondo que assim que houvesse luz eu avançaria para Madina sem perda de tempo. Ainda insisti na separação dos dois destacamentos, sem qualquer sucesso. Cerca das 5h da manhã avançámos fora de um trilho batido. Logo a seguir, Fodé Dahaba detecta uma mina antipessoal, pedi-lhe para ficar ali com a missão de afastar as tropas deste local. Relata-se que havia um segundo engenho, os meus soldados disseram-me mais tarde que não.

"Toda a tropa de Missirá avançava para o acampamento de Madina, ouvia-se distintamente os pilões a funcionar e cânticos de mulheres quando uma explosão ensurdecedora encheu os ares, e após um angustiante silêncio ouviram-se os urros de dois homens. Retrocedo e vou ver uma das cenas mais horríveis que me foi dado presenciar em toda a minha vida: era uma fossa imensa, polvilhada de pedaços de metal, lá dentro agonizava um soldado e na berma gemia o Fodé sem
uma perna e um pedaço de uma mão.

"Seguiu-se uma conversação duríssima em que eu pedia compreensão para avançar imediatamente sobre o objectivo, ao qual me foi respondido que os feridos graves tinham prioridade, que era melhor retirar para perto e pedir uma evacuação. De uma retirada para transportar feridos fomo-nos progressivamente afastando de Medina e pelas 8h da manhã eu sabia que a operação estava completamente perdida. Os rádios que não funcionaram na véspera passaram agora a funcionar, o desânimo aumenta, aqueles gritos de um soldado que vai morrer e de outro que vai ficar estropiado contagiam o moral das tropas. Já não estamos a evacuar feridos, estamos a recuar em direcção a Missirá enquanto se passa por rádio a batata quente para o PCV" (...).

3 comentários:

Anónimo disse...

E Miguel, peço-te que dês por mim um abraço ao teu tio que já não vejo há muito tempo.
Ainda nos encontrámos umas vezes aqui em Monte Real, mas depois deixamos de nos encontrar.
Penso que vive em Viseu, não é?

Já agora Luis amigo, tira-me lá o "s" do Mexia, que tu tanto gostas de me colocar...Estou a brincar claro.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Meu caro Joaquim Mexia Alves,

Peço-lhe imensa desculpa por esta resposta atrasada ao seu comentário, que muito lhe agradeço.

Quando eu disse ao meu tio que esta foto tinha sido publicada aqui no blogue, cortesia de Joaquim Mexia Alves, ele pediu-me de imediato para enviar um Alfa Bravo ao seu "camarada e amigo" Mexia Alves. Aqui fica, então, o devido Alfa Bravo.

Se o Joaquim não se importa, enviar-lhe-ei o contacto telefónico do meu tio, que vive em Viseu, para o seu endereço de email.

Um grande abraço de agradecimento.

Miguel

Unknown disse...

O meu pai é o Fodé Dahaba e a minha irmã é a Margarida Dahaba!! Se ainda quiserem entrar em contato com um deles é só responder:)) feliz dia da liberdade (25 de abril 🌹)