quarta-feira, 14 de maio de 2008

Guiné 73/74 - P2843: Ainda os Comandos fuzilados após a independência (III): Alguns dados de 1965/66: Abdulai Queta Jamanca (Virgínio Briote)

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula



o 1º Cabo Abdulai Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra pelo Coronel Kruz Abecasis (Cmdt da BA 12) em 10 de Junho de 1967 (?).

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula, nasceu em Farim, em 5 de Janeiro de 1937.
Foi incorporado em 12 de Janeiro de 1956.

Foi um dos militares que em Outubro de 1963 se deslocaram a Angola para receber instrução "comando". Fez parte do grupo que actuou na Ilha do Como na op. Tridente.

Em Brá colaborou na instrução do 1º curso e, em data não determinada, foi evacuado, por acidente em serviço, para o HMP  Lisboa onde foi tratado durante alguns meses e regressou à Guiné já o curso tinha terminado, ficando a pertencer ao grupo "Panteras".

Em Setembro de 1965, ingressou nos Comandos do CTIG, tendo feito parte dos Grs Vampiros e Diabólicos.

Mais tarde, fez parte da 1ª CC/BCmds, tendo participado no ataque a Conakry, a operação Mar Verde, que levou à libertação dos nossos prisioneiros de Guerra.

Em Junho de 1973 foi nomeado para a CCaç 21, extinta em Agosto de 1974, e regressou à CC a que pertencia (documento em arquivo no ex-Regimento de Comandos) (1). Foi fuzilado em Bambadinca, em dia não apurado de Março de 1975.

Texto do louvor que lhe foi atribuído pelo Brigadeiro Reymão Nogueira, então Comandante Militar do CTIG, publicado na O.S. nº 27 de 07Jul66.

“O 1º Cabo nº 143/Rd, Abdulai Queta Jamanca, do Gr Cmds 'Vampiros' e posteriormente do Gr 'Diabólicos', pelo alto rendimento operacional dado em todas as operações em que tomou parte.

Tendo sido ferido em combate, depois de curado salientam-se as suas actuações nas operações Martingil, Narceja e Naja.

Na primeira abateu frente a frente um elemento IN armado de pistola-metralhadora, tendo pelo seu esforço permitido a captura desse material.

Na segunda, quando da batida feita pelo seu grupo na periferia da zona onde fora atingido um helicóptero e em que se encontrava instalado o IN, voltou a abater outro elemento IN.

Na terceira operação foi destacado com mais dois elementos do seu grupo para o interior da mata a fim de tentar localizar o acampamento IN. Missão de extrema dificuldade já que detectados perder-se-iam todas as hipóteses de êxito da operação. Mais uma vez se houve com êxito e tendo estado perto de um elemento IN, este não o conseguiu detectar.

(…).

Elemento muito disciplinado, com apurada técnica de progressão no mato, conhecedor de algumas línguas nativas, foi em grande parte das operações, o 1º homem do seu grupo, a ele se devendo, portanto, muitos êxitos conseguidos.


Militar muito dedicado ao Exército que serve há nove anos, já anteriormente condecorado com a Cruz de Guerra, com uma vida familiar irrepreensível, é em todos os aspectos do seu procedimento um exemplo de bem servir a Pátria pelo que merece o reconhecimento do Exército.”

_________

Notas de vb:


(1) Dados obtidos pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo e publicados em Guerra, Paz e Fuzilamentos. Ed. Prefácio, 2007.

Artigos relacionados publicados em:




(...) "Eu (com os meus quase 11 anos) e muitos outros, em 1974, vimos os militares do PAIGC em dois camiões de fabrico russo, um deles completamente tapado de toldo. Passaram por Xime, de manhã, para Madina Cudjido (Colhido, como vocês dizem).

"Passados uns 30 minutos ouvimos muitos tiros. Só que por volta da hora do almoço ouvimos [dizer] que foram lá fuzilados 8 pessoas. E das pessoas que nós ouvimos que tinham sido fuzilados - não sei se corresponde a verdade ou não - um deles era o tal Abibo Jau (2) que esteve na CCAÇ 12 em Xime. A outra pessoa seria o Tenente Jamanca, da CCAÇ 21 que estava em Bambadinca.

"Mas tudo isso não me espanta porque os meus irmãos e primos que cumpriram o serviço militar no exército português, em Farim e depois em Bissau e Bambanbadinca, também foram presos, mas felizmente não lhes aconteceu o pior" (...).

2 comentários:

Rui Moio disse...

Os nossos melhores heróis que foram tão miseravelmente traídos!... E, ainda não têm sequer um nome de rua ou praça!...
Mas, há ruas, avenidas, praças com os nomes dos cabecilhas dos movimentos que nos combateram e iniciaram a guerra. Até quando esta vergonha!...

Anónimo disse...

Em viagem pelo blogue vim dar às referências do Abdulai Queta Jamanca. Conheci o 1º Cabo Jamanca no início de 1969 em Tavira, quando veio tirar o Curso de Sargentos ao CISMI. Ficou enquadrado na 1ª Companhia de Atiradores. Entretanto fui mobilizado para a Guiné, de modo a constituir a C.Caç. 14. No início do ano de 1970 voltei a contactar o Jamanca,desta vez em Cuntima, durante uma sua visita aquele aquartelamento, acompanhando o Gen. Spínola. Já estava nessa altura graduado em Alferes. Em conversa com o mesmo e quando lhe perguntei a razão da sua presença, disse-me ter vindo visitar a familia, já que era natural de Cuntima.
Saudações fraternas a todos os companheiros e camaradas.

Eduardo Estrela ( Ex. Fur. Mil. da C.Caç 14)