quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Mansambo > 1969 > A árvore dos 17 passarinhos que servia de mira para os ataques do IN (1).

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006). Direitos reservados

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > A árvore dos 17 passarinhos ... ou será que eu troquei as fotografias ? É um pormenor a esclarecer com o fotógrafo... (LG).

Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Albano Gomes, com data de hoje:

Caro Luís Graça:

Foi Cripto da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), acompanho, para além de outros, os escritos do Torcato Mendonça e do Marques do Santos e, como tal, recordo tudo aquilo que se vai contando sobre a operacionalidade da CART 2339, OS VIRITOS, pois como deve calcular, passou-me tudo pelas mãos, codificando e/ou descodificando.

Mas quando se fala de Mansambo e da Árvore dos 17 passarinhos, há qualquer coisa que me toca e faço questão de contar.

Quando um certo dia me dirigi à cozinha, estava eu e o cozinheiro a quem a malta chamava de Ferragudo, por ser natural dessa terra algarvia, olhavámos então para os milhares de passarinhos que com os seus ninhos ocupavam a árvore na sua totalidade.

Foi então que perguntei:
- Ferragudo, quantos passarinhos terá esta árvore? - Respondeu o amigo Ferragudo:
- Não sei, mas deve ter p'ra aí uns 17.

Claro que aquilo provocou uma enorme risada a todos quantos por ali estavam e foi então que eu baptizei a árvore com o nome de Árvore dos 17 passarinhos e assim ficou conhecida por toda a malta.

Um muito obrigado pelo criação do blogue.

Albano Gomes

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Albano. Obrigado pela tua estória. Já houve aqui alguma controvérsia sobre a famosa árvore, que ficamos agora a saber que foste tu que baptizaste, e que eu cheguei a conhecer, já que fui várias vezes a Mansambo, ainda no tempo da vossa comissão (2ª metade de 1969), integrado em colunas logísticas ou no âmbito da actividade opercaional do Sector L1... Como sabes, eu pertencia à CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Ficas automaticamente convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, da qual já fazem parte vários camaradas teus da CART 2339. Manda-nos as duas fotos da praxe, uma do tempo de Guiné e outra actual. E, claro, conta-nos mais coisas de Mansambo e da tua vida (secreta) de cripto... Vocês sabiam coisas que escapavam ao comum dos mortais... Não queres partilhar connosco alguns dos teus segredos que, claro, já não segredos de Estado ? Um Bom Ano para ti.

__________

Notas de L.G.:

(1) 24 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVII: Mansambo e a árvore dos 17 passarinhos (Carlos Marques dos Santos)


(...) Quanto à foto de Mansambo, a vista aérea – que é espectacular e que pessoalmente agradeço - gostava de saber de que ano é, se o Humberto tiver esses dados.

A zona está totalmente nua, só com uma grande árvore ao fundo que se encontra à entrada do aquartelamento, pois vê-se a bifurcação para a estrada Bambadinca-Xitole (esquerda-direita).

Falta ali uma árvore, a tal de referência para o IN, e que os nossos soldados chamavam a árvore dos 17 passarinhos, tal era a quantidade deles, que se situava na parte mais afastada da entrada.

A mancha branca de maior dimensão seria o heliporto. Faltam os obuses, um de cada lado, à esquerda e à direita. Ao lado dessa árvore ficava o depósito, que era uma palhota, de géneros e munições, e que ardeu a 20 de Janeiro de 1969 (nesse dia chegaram os 2 Obuses 105 mm). Era véspera do aniversário da CART 2339. Ao fundo vê-se uma mancha, à esquerda do trilho de entrada que era a tabanca dos picadores. À direita, no triângulo de trilhos, ficava a nossa horta.

A fonte ficava à direita da foto onde se vêem 3 trilhos, na mancha mais negra em baixo. Se confrontares com um mapa da zona vê-se aí uma linha de água. (...)


24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1694: Fotos Falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Paisagens: a árvore dos dezassete passarinhos

Comentário de L.G.:

(...)O que ainda hoje me intriga é por que razão a deixaram de pé, quando os valentes soldados da CART 2339 construiram o campo fortificado de Mansambo, como lhe chamava o PAIGC... Sempre me intrigou este detalhe, quando por lá passava em colunas logísticas ou operações... Hoje arrisco uma explicação: para aquelas toupeiras humanas, que foram simultaneamente arquitectos, engenheiros, trolhas, carpinteiros, caboqueiros, etc., a árvores dos 17 passarinhos era um traço de distinção no meio daquela paisagem quase lunar, angustiante, de floresta recém desmatada, um buraco no meio do inferno verde, na fronteira com as zonas libertadas do PAIGC, no Sector L1, Zona Leste, ao longo da margem direita do Rio Corubal... Um pouco à semelhança dos grafittis com que os artistas plásticos underground marcam as paredes e os muros da nossas desoladas cidades de cimento armado...

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