domingo, 16 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

Guiné >Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Uma bela bajuda local, numa das 150 fotos de Guileje que nos deixou o saudoso Cap Zé Neto (1927-2007)... Enquanto que as feministas da Europa, do oós-Maio de 1968, queimavam os seus soutiens, símbolo da opressão sexista, na Guiné, o supremo luxo, para as bajudas, era ostentar um corpinho (soutien), como este que se vê na foto... O Jorge Cabral foi o primeiro dos régulos da Guiné a dar-se conta desta tendência comportamental da mulher guineense...

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Abril de 2005 > O Zé Teixeira, que voltou lá em 2005, escreveu no verso desta foto: "Em 2005, tal como em 1968"... Muitos de nós, na casa dos vinte, vinte e poucos anos, oriundos de uma cultura antifeminista, patriarcal, machista, misógina, de matriz judaico-cristã, deixaram-se impressionar (ou até seduzir) pela beleza da mulher guineense e pelo orgulho com que esta assumia (e cuidava de) o seu corpo...

Foto (editada por L.G.), tirada pelo Zé Teixeira (ex-1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, actualmente residente em Matosinhos, bancário, reformado, um homem bem disposto que tem por alcunha, entre os escuteiros de que é dirigente, o Esquilo Sorridente...

Foto: © Zé Teixeira / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Guiné >Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Bajuda local. Foto do Cap Zé Neto (1927-2007).

Foto: © Zé Teixeira / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Guiné > Fá Mandinga > c. 1970 > Jorge Cabral, um felizardo tuga, bendito entre as bajudas mandingas...

Foto: © Jorge Cabral (2005). Direitos reservados.

1. Mensagem do Jorge Cabral, advogado e professor universitário, datada de Dezembro de 2005, na altura em que formalizou a sua entrada para a nossa Tabanca Grande (1):

Luís,

Muito obrigado! Através do blogue, recordo. E sinto. Vejo os rostos dos camaradas, oiço os sorrisos das crianças, e até, calcula, consigo admirar de novo os belos seios das bajudas.

Peço permissão para pertencer à Tertúlia,, oferecendo o pícaro de alguns episódios que vivi.


2. Estórias cabralianas (29) > A festa do corpinho...

Porque estamos no Natal, recordas o teu de 1969 e um ataque a Bissaque (2). Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho (3).
Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50.

Embora existisse uma estrada para Bissaque [, a norte de Fá Mandinga, na margem esquerda do Geba Estreito], o Marinho conduziu-nos por uma interminável bolanha, após a qual lá chegámos, obviamente muito depois do inimigo ter retirado. O ataque, referido nos documentos oficiais, não passou de uma breve flagelação. Fui eu que relatei a ocorrência, e porque quem conta um conto... acrescentei-lhe alguns pormenores, (essa da intervenção de brancos deve ter sido ficção cabraliana), para assustar o Comandante de Bambadinca[, sede do BCAÇ 2852, 1968/70].

Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa esfregação mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 corpinhos (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses.

Coincidência? Premonição? Lembro a perplexidade do empregado do armazém, quando lhe pedi os 35 soutiens de todos os tamanhos e cores.

Regressado à Guiné, em plena Tabanca de Fá Mandinga, organizei a festa do corpinho, para a alegria das bajudas, que envergaram o seu primeiro soutien.

Tivesse esta história acontecido nos dias de hoje, e certamente sentiria dificuldades no aeroporto, até porque os soutiens constituíam a minha única bagagem. Armas secretas? Indícios de terrorismo? Não sei mesmo, se não teria ido parar a... Guantanamo.

Jorge Cabral
(ex-alferes miliciano,
comandante do Pel Caç Nat 53,
Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) (4)
2. Comentário de L.G.:
Só tu, meu querido Jorge, consegues pôr a malta e o resto a tropa a fazer... o pino!...Tu és a subversão total, o iconoclasta, o bombista-suicida, o terrorista intelectual, o humorista-mor e outras figuras que tais, que em muito contribuiram para o fim do nosso longo, vasto e glorioso Império... O teu humor é(era) subversivo, corrosivo, demolidor... Depois de te ler, um homem, um tuga, já não é mais o mesmo... Tu devias ir a tribunal militar, porque tu tiras a tusa... a qualquer combatente... Depois de te ler, quem é o combatente (até mesmo o de Alá!) que se sentirá para combater na guerra, na próxima guerra...
_______

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 21 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIII: Bendito Cabral, entre as mandingas de Fá e as balantas de Bissaque

(2) Vd. post de 18 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXVII: O meu Natal de 1969 em Bambadincazinha (Luís Graça)

(...) Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos que retirou para a região de Bucol, cambando o RGeba [atravesando o Rio Geba de canoa, para norte]" (Excertos da História da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71] (...).

(3) Sobre o Marinho, vd. post de 15 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2353: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Devolvam o bode ao dono... e às cabras de Fá Mandinga, terra de Cabrais

(...) Íamos abandonar um óptimo aquartelamento, [Fá]. Tinha sido uma antiga Estação Agronómica de Amílcar Cabral. Hoje restavam os edifícios, o guarda Marinho (um mandinga dependente da Administração), a recordação, nos mais velhos, do Engenheiro Cabral e os restos de alguma agricultura. Deixávamos Fá com desgosto. Chegara a nossa hora de partida. Éramos o terceiro grupo a ir para a construção do novo aquartelamento e as ordens cumprem-se (...).

(4) Vd. post anterior desta série:

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