domingo, 4 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

Transcrevemos sem comentários, Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, ou como os Serviços de Informação da 2ª Rep /CTIG viram a evolução dos acontecimentos.

Documento datado de 31 de Outubro de 1967.

Fixação de texto: vb
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CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967)

1946

Entre 19 e 21 de Outubro, reuniu-se em Bamako (Mali, então Sudão Francês) o Congresso da fundação da Reunião Democrática Africana (RDA), um movimento que, surgido na costa do Marfim, viria a constituir o principal instrumento de infiltração comunista na África Ocidental Francesa (AOF) e na África Equatorial Francesa (AEF).

Criado por Felix Houthouet-Baigny, deputado à Assembleia Nacional Francesa pela Costa do Marfim, o RDA contava entre os seus dirigentes mais destacados Gabriel Darbousier, um africano galardoado com o Prémio Estaline da Paz, e Raymond Barbet, membro influente do Partido Comunista Francês e Chefe do Gabinete do Governador da Costa do Marfim.

O programa da RDA baseava-se em três princípios: igualdade política e social dos indígenas e brancos, organizações locais democráticas e união livremente consentida com a França.


1947

Em Maio, Sekou Touré, actual presidente da Guiné e a principal figura da penetração comunista na Guiné Francesa, funda a secção guineense da RDA – o Partido Democrático da Guiné (PDG).

Até 1945, Sekou Turé havia desenvolvido as seguintes actividades pró-comunistas:

(i) Criação da União de Sindicatos da Guiné (USG), ligada à organização internacional comunista Federação Sindical Mundial (FSM);

(ii) Exercício da vice-presidência da FSM;

(iii) Ocupação do cargo de Secretário do Comité de Coordenação dos Sindicatos da Confederação Geral do Trabalhador (CGT) para toda a AOF.


1952

O Eng.º agrónomo Amílcar Cabral, nascido em Bafatá, filho de pais cabo-verdianos, ao tempo funcionário dos Serviços de Agricultura da Província da Guiné, sugere a criação de um “clube desportivo” reservado aos naturais da Guiné.

A não admissão de europeus e de cabo-verdianos deixava adivinhar a verdadeira finalidade do “clube”, que se pretendia fundar – “lançar as bases de uma organização de nativos, irmanando-os na mesma fé e nos mesmos destinos”.

O “clube” não chegou a ser autorizado pelo Governo da Província, mas a ideia de “uma união de nativos” estava lançada. Com o apoio de guineenses radicais, Amílcar Cabral organiza na clandestinidade o Movimento para a Independência da Guiné (MIG).

1956

Em meados deste ano são detectados, no sul da Província, nas tabancas das áreas de Cacine e Bedanda, “clubes de trabalho”, accionados por agitadores e propagandistas da RDA. A actividade destes “clubes” cessou com a prisão dos responsáveis.

O MIG, agora com o apoio das “organizações operárias e populacionais”, dá lugar a um partido que vem mais tarde a chamar-se Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

1957

No Outono deste ano, coincidindo com o II Congresso dos Partido Comunista Português (PCP), reuniram-se em Paris, os principais dirigentes do MPLA (Angola) e alguns revolucionários de Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe com a finalidade de criarem uma organização susceptível de pôr em execução a nova táctica ordenada por Moscovo ao PCP, relativamente às províncias ultramarinas portuguesas. Desta reunião, resultou o Movimento Anti-colonialista (MAC) com os seguintes objectivos:

(i) "Estudar os problemas registados na luta travada pelas organizações patrióticas.

(ii) "Contribuir para uma orientação mais lúcida desta luta, tendo em conta a concreta evolução da política internacional.

(iii) "Trabalhar a favor de uma unidade de acção dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.

(iv) "Formar as forças que actuam no interior dos territórios, reservas revolucionárias inesgotáveis, com o fim de subtrair ao colonialismo português qualquer possibilidade de abafar a luta libertadora dos povos”.

Era assim, fomentada a criação de organizações comunistas “autónomas” nas províncias portuguesas do ultramar, que já não dependiam do PCP, mas que estavam a ter a possibilidade de contactar directamente com a máquina comunista internacional.

Em 18 de Setembro, em Thiés (Senegal), é fundado o Partido Africano de Independência (PAI). A sua criação foi precedida de uma série de conferências realizadas naquela cidade sob a égide da RJDA (Juventude da RDA) e por uma intensa propaganda desenvolvida, em especial, no meio ferroviário.

O manifesto do novo partido declarava que o PAI lutaria “pela conquista do poder político, no âmbito da independência nacional, e pela entrega dos bens sociais àqueles que os produzem, no âmbito do socialismo”. O seu objectivo fundamental era a “eliminação da dominação imperialista e a construção da futura sociedade socialista africana.

Mais tarde, em data que não se pode precisar, são acrescentadas as palavras da “Guiné e Cabo Verde” formando a actual sigla PAIGC que virá a ser do mais importante e único partido que desenvolverá a actividade armada na Província. No entanto, em 1967, o PAIGC comemorou o seu 11º aniversário indicando o dia 19 de Setembro de 1956 como o da sua fundação.

1958

Em 28 de Setembro, a população da Guiné Francesa, sob a influência do PDG, recusa por esmagadora maioria a integração da Guiné na Comunidade Francesa.

Em 2 de Outubro é proclamada a independência da República da Guiné. O Senegal, por seu turno, surge como “república autónoma” a partir de 25 de Novembro. Desde então, foram surgindo nestes dois territórios limítrofes da Guiné Portuguesa diversos “movimentos emancipalistas” desta nossa Província.

Enquanto em Conakry eram concedidas ao PAIGC todas as facilidades exigidas pela estruturação de um agrupamento subversivo, no Senegal, em especial em Dakar, iam surgindo “movimentos” que, fiéis ao princípio “A Guiné para os Guineenses”, se revelaram, na sua quase totalidade, como acérrimos adversários do PAIGC, a quem atribuíam o objectivo de querer manter na Guiné “a secular preponderância dos cabo-verdianos sobre os guineenses”.

Entre os movimentos com sede em território senegalês, contavam-se os seguintes:

- Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde (MLGC), dominado por cabo-verdianos que pretendiam a independência conjunta da Guiné e Cabo Verde. Este era um dos poucos movimentos que no Senegal tinham adoptado, na sua generalidade, a linha de acção do PAIGC;

- Movimento de Libertação da Guiné (MLG), a que aderiram a maior parte dos manjacos guineenses residentes no Senegal, que não aceitavam qualquer associação com os cabo-verdianos. Com sede em Dakar, chegou a ter filiais em Dakar e Bissau. Era seu chefe François Mendy, um estudante de Direito de ascendência manjaca nascido no Senegal;

- União Popular para a Libertação da Guiné (UPLG), que enquadrava alguns fulas residentes no Senegal;

- União das Populações da Guiné (UPG), à qual estava filiada uma minoria de guineenses residentes em Koldá (Senegal);

- União dos Naturais da Guiné Portuguesa (UNGP), movimento chefiado por Benjamim Pinto Bull que reclamava a autonomia da Guiné Portuguesa através do diálogo com o Governo Português;

- Reunião Democrática Africana da Guiné (RDAG), accionado por elementos da RDA e que integrava a colónia mandinga do Senegal.

1959

Em 3 de Agosto, perante uma reivindicação de salários dos trabalhadores do cais do Pindjiguiti (Bissau) seguida de greve, ocorre grave incidente de que resulta a morte de nove estivadores manjacos (1). Este acontecimento que não teve qualquer relação com os “movimentos nacionalistas”, passou a ser explorado por eles como sendo a primeira reacção contra a autoridade portuguesa e assim o PAIGC e o MLG disputam entre si a “responsabilidade” por este incidente.

Em Setembro, Amílcar Cabral, sob o pretexto de uma visita a familiares seus, permanece na Província da Guiné apenas sete dias. Contudo, este curto período de tempo foi suficiente para insuflar, entre os seus amigos e entre os companheiros das reuniões para a formação do “clube desportivo” já referido atrás, a ideia da necessidade da “luta emancipalista”, desenvolvendo a organização clandestina e iniciando o recrutamento de “quadros”.

Em 19 de Setembro, o PAIGC decide, no decorrer de uma reunião clandestina em Bissau, “passar da luta política à acção directa”.

No final do ano Amílcar Cabral fixa residência em Conakry.


1960

Em Janeiro, Amílcar Cabral, na qualidade de membro do MAC, assiste à Conferência de Tunes (a 2ª Conferência dos Povos Africanos). Foi por esta ocasião que o MAC foi extinto, sendo criada em sua substituição a Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (FRAIN ou FRAINCP), órgão que visava principalmente a acção directa e que pretendia alargar o campo de acção comunista a “todas as organizações que lutam pela liquidação do colonialismo português”.

Em Março, Amílcar Cabral, sob o pseudónimo de Abel Djassi, divulga em Londres a acção da FRAIN, através de um comunicado à imprensa.

Em Maio passa à clandestinidade e no segundo semestre visita Pequim, onde garante a instrução revolucionária de um grupo de elementos do seu partido.

Por esta altura, começam a ser detectadas na Guiné Portuguesa actividades subversivas reveladoras de uma organização com uma amplitude que não seria de prever, apesar do incidente do Pindjiguiti e das emissões rádio difundidas de Conakry tendentes a agitar a população guineense.

Em Outubro, o PAIGC, já com escritório em Dakar, faz publicar uma carta aberta dirigida ao Governo Português, propondo-lhe “uma solução pacífica do problema colonial da Guiné e de Cabo Verde” e em Dezembro, envia o seu primeiro memorando à ONU.

(Continua)

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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

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