sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2196: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (3): Para a petite histoire do filme (Diana Andringa)

Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967/69) > Croqui do monumento erigido, em Geba, aos "mortos que tombaram pela pátria"... Em 1995, a jornalista Diana Andringa visitou Geba, na região de Bafatá, e escreveu, a propósito deste monumento, semi-destruído, uma peça, belíssima mas pungente, no Público,de 10 de Junho de 1995, e reproduzida depois no nosso blogue (1)... Foi a partir daqui que começou a amadurecer a ideia do filme, As Duas Faces da Guerra, que acabou por realizar, em 2007, com o guineense Flora Gomes (2).

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.


1. Mensagem da Diana Andringa, com data de 2 de Abril de 2007. Na altura, considerei que era uma mensagem pessoal, não devendo ser divulgada no blogue. Hoje, penso que já faz parte da petite histoire deste filme que se estreia hoje, em Lisboa, com a presença de um pequeno núcleo de representantes da nossa Tabanca Grande, a convite da equipa de produção e realização (2).

Luís Graça,

o meu nome é Diana Andringa, sou jornalista e estou a fazer um documentário, com o realizador guineense Flora Gomes, sobre a guerra colonial/luta de libertação na Guiné Bissau: "As Duas faces da Guerra".

A razão deste documentário é simples: a primeira vez que fui à Guiné impressionou-me o facto de todos aqueles com quem falava me repetirem que nunca tinham combatido os portugueses, mas apenas o colonialismo de Salazar. E a ideia - muito estranha para um(a) civil - de que da guerra tinha nascido um maior conhecimento e uma maior amizade entre os dois povos, havendo até como que uma "fraternidade de armas" entre combatentes de ambos os lados. (Reforçou a vontade de fazer o filme encontrar em Geba uma pedra com nomes de militares, certamente jovens, mortos no dia em que, em Lisboa - opondo-me a essa guerra e defendendo o direito dos povos das colónias à independência - eu fazia 20 anos.)

Regresso agora da Guiné e de Cabo Verde, onde estivemos a entrevistar antigos combatentes do lado do PAIGC - e também algumas pessoas que estavam em contacto com os militares portugueses. Interessou-me sempre perceber se, alguma vez, um desses combatentes se tinha defrontado com alguém que conhecesse, ou de quem fosse amigo. Não consegui encontrar essa história.


Li agora, no seu blogue, a história do encontro de Mário Dias
com o Domingos Ramos (3). Não creio que saber que o Domingos Ramos, como o Mário Dias, preferiu não disparar sobre um amigo, o ponha em causa junto do PAIGC. Um dos organizadores do ataque a Guileje disse-me, sobre o abandono do quartel:
- Ainda bem que saíram, se não teríamos de os aniquilar.

E mesmo pessoas torturadas pela PIDE me explicaram que tinham visto, durante a prisão, cenas de humanidade por parte de portugueses.

Queria, por isso, ver se conseguia que o Mário Dias nos contasse esse encontro com o Domingos Ramos no documentário. Vou filmar nas próximas 2 semanas e, se ele aceitasse este pedido, haveríamos de encontrar uma data que lhe conviesse.

Já lhe enviei um mail, sem êxito. Será que o Luís Graça pode interceder por mim? Ficar-lhe-ia muito grata.

Pode contactar-me por este mail ou pelo meu telemóvel (...).

Melhores cumprimentos,

Diana Andringa
Jornalista
(carteira profissional nº 80)

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)

(2) Vd. posts de:

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)

19 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)

(3) Vd. posts de:

1 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2148: Blogoterapia (34): Da minha proverbial preguiça ao carro de granadeiros e ao Domingos Ramos que eu conheci (Mário Dias)

1 comentário:

Anónimo disse...

... que, desde o passado dia 16 de Outubro, o aparente surto mediático de uma "febre de guerra" (subscrevendo sintética e feliz expressão, há poucos dias publicada neste weblog) alastra. Ora sucede que naquele mesmo dia, eram «também decorridos exactos 40 anos sobre a morte em combate de um militar, cujo corpo não foi recuperado».
O que abaixo segue (amavelmente aceite (às 11:18 do dia 12) pelos responsáveis editoriais deste "foranada"), publicado como comentário (nota-de-rodapé) ao post2170, é uma vez mais aqui deixado à reflexão desta Tabanca dos Camaradas da Guiné e demais convivas/visitantes; (tanto mais que os dois primeiros nomes abaixo citados, foram, entre demais outros, oportunamente lembrados – em 10Jun95! – pela jornalista Diana Andringa). E nesta ocasião uma vez mais, justamente, acima relembrados por Luís Graça. Assim sendo, transcreve-se:
«Para vergonha de todos nós, camaradas-de-armas directos e indirectos, continua o seu nome a não constar em listas oficiais –
sejam elas lapidares ou electrónicas –, dos nossos mortos-em-campanha. Não sendo infelizmente caso único, nesta circunstância são aqui nominalmente referidos os demais, EM FALTA, mas relativos tão somente à CArt1690, subunidade já por diversas ocasiões referida neste weblog»:
– AGOSTINHO FRANCISCO DA CÂMARA; nat. Madeira; Soldado ApLGF; mortalmente atingido por fogo IN cerca das 17:00 de 16Out67 (2º dia da Op.Imparável), perto de Sinchã-Jobel.
– FERNANDO DA COSTA FERNANDES; nat. Santo Tirso; Alferes Miliciano comandante do 2ºGrComb; mortalmente atingido por fogo IN em 18Dez67 (Op.Invisível), perto de Sinchã-Jobel.
– VITOR DA SILVA GONÇALVES; nat. (???); Soldado; atingido por fogo IN em 18Dez67 (Op.Invisível), perto de Sinchã-Jobel.
– ARMINDO MARQUES PAULINO; nat. distrito Braga; Soldado; capturado no destacamento de Cantacunda no início da madrugada de 11Abr68 e (com outros 11 militares) levado para a Conakcry e encarcerado na prisão de La Montaigne, onde veio a falecer vítima de cólera, em data não conhecida; (nas mesmas circunstâncias foi capturado o
Soldado Cozinheiro LUÍS DOS SANTOS MARQUES (nat freg. Pena Verde, conc.Aguiar da Beira), também mortalmente vitimado pela cólera em 16Mar69 (salvo melhor informação), permanecendo no entanto o seu óbito como ocorrido em «20Dez70»...!, quase um mês após os demais militares portugueses haverem sido resgatados àquele cativeiro).