quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2190: PAIGC: Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)

Morreu em Setembro de 2004 o responsável pelo tiro que deu início à luta armada (a informação oficial é do PAIGC, embora existam relatos de acções armadas antes da data )(*).

Embora a notícia já tenha mais de três anos, não resisto a divulgá-la, pela importância simbólica que representou o primeiro de milhões de tiros que foram dados durante os 12 anos que durou a luta (VB).
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Segundo notícia do portal Bissau.com, de 12 de Setembro de 2004, o coronel Arafan Mané, vulgarmente conhecido por Ndajamba, um dos mais destacados combatentes da Luta Armada de Libertação Nacional, morreu nos princípios do mês de Setembro de 2004, em Espanha, vitima de doença prolongada.

Ndajamba deu o primeiro tiro contra o aquartelamento de Tite, em 1963 . Com 18 anos apenas era o comandante local do PAIGC.
Em 1998, tinha sido alvo de selváticos espancamentos, na sequência do conflito político-militar de 7 de Junho.
(Em cima: Foto de Arafan Mané, dos finais dos anos 60. Do arquivo da Fundação Mário Soares. Com a vénia devida).

Nas cerimonias fúnebres que ocorreram no dia 11 de Setembro de 2004, no Cemitério Municipal de Bissau, diversas figuras políticas consideraram a morte de Arafan Mané como uma grande perda para o país.

Malam Bacai Sanha, ex-presidente da República, considerou irreparável a perda de Arafan Mané e aproveitou a oportunidade para apelar aos governantes para não se esquecerem dos que se sacrificaram pela independência. Mané, concluiu Malam Sanhá, morreu sem que os ideais a que dedicou a sua juventude, fossem alcançados.

Umaro Djaló (em frente, numa foto do Arquivo da Fundação Mário Soares), ex-combatente que esteve ausente do país mais de 20 anos devido aos acontecimentos de 14 de Novembro, também falou para se despedir do seu antigo camarada de luta.

Reforçando as palavras de Malam Sanhá, Umaru Djaló disse que os combatentes pela liberdade da Pátria estão ao abandono e que Ndjamba morreu sem que nada daquilo que soube fosse bem aproveitado.

Arafam Mané que foi responsável político do país, como Secretário de Estado dos Ex-combatentes, Ministro da Defesa Nacional e deputado, duas vezes eleito pelo PAIGC, abandonou a política activa depois da dissolução do parlamento em Novembro de 2002.

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Arafan Mané Djamba (1944-2004)

1944 - Nasce Arafan Mané.

1961 - Entra para o PAIGC, em Conacri, com 17 anos.

1962 - Na qualidade de chefe de grupo, dirige a mobilização das massas populares em São João, Bocana e Tite.

1963 - (i) É considerado o responsável pelo primeiro tiro ao aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro, dando assim início à luta Armada de Libertação Nacional; (ii) Em Abril de 1963 frequenta um estágio de formação sobre a guerra de guerrilha, na República Popular da China.

1964 - (i) É nomeado comandante da Zona-8, sendo posteriomente transferido nas mesmas funções para Zona 2; (ii) Tem a honra de conduzir Amílcar Cabral até Cassacá onde o PAIGC vai realizar o I Congresso; (iii) É escolhido por Cabral para levar missivas a todos os comandantes, à excepção de Nino Vieira, para se dirigirem para Cassacá.

1967 - Desempenhou as funções de comandante geral das operações do comando Sul.

1968 - Frequenta (até 1969) o curso de comando da Marinha de Guerra na ex-URSS.

1969 - É nomeado comandante-chefe da Marinha de Guerra.

1972 - Desempenha também as funções de comandante da região de Tombali.

1973/74 - É o director do “Centro de Instrução Madina Boé”. Após a independência, Arafan Mané é nomeado chefe da Casa Militar da Presidência da República.

1977 - (i) Eleito membro do Conselho Superior de Luta do PAIGC; (ii) segue para Cuba onde frequenta o curso militar na academia Máximo Gorki.

1980 - (i) Promovido a coronel, em Fevereiro; (ii) nomeado chefe do pessoal e quadros e membro do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

1982 e anos seguintes - Sucessivamente director da Central Farmedi, do Projecto de Pesca Artesanal em Bubaque e governador da região de Gabú e Bafatá.

1998 - Ex-ministro dos Combatentes da Liberdade da Pátria, considerado um elemento próximo do ex-primeiro ministro Saturnino da Costa, é hospitalizado em Dacar em Outubro de 1998.

2000 - Em entrevista que deu ao DB [Diário de Bissau ?] , conta que “durante a Luta Armada de Libertação, os momentos mais difíceis para ele, para além das mortes de Amílcar Cabral e de Vitorino Costa, foi a Batalha de Komo e o período da mobilização.”

2001 - Noutra entrevista, diz: “Quando recordo a luta, recordo muitos camaradas que perderam a vida e outros que hoje se encontram em situação miserável, por terem dedicado a juventude na luta e depois de guerra ficaram sem forças para trabalhar e não foram prestados atenção e foram simplesmente segregados”.

2004 - Morre em Espanha, vítima de uma doença prolongada.
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Fontes consultadas:

Portal Guiné-Bissau.com > Guiné-Bissau perde um dos seus mais destacados ex-combatentes. Texto de Sabino Santos Lopes, 12/09/2004

Portal Guiné-Bissau.com > Percurso do autor do disparo que deu início à luta armada na Guiné-Bissau. Texto de Tomás Athizar Mendes Pereira. 17/0

Senegâmbia, Boletim Cultural da Guiné-Bissau e regiões vizinhas - Senegal, Casamansa, Gâmbia, Guiné-Conakri e Cabo Verde. Do descobrimento aos dias de hoje. Domingo, Setembro 12, 2004 > A morte do guerrilheiro Djamba

Imagens do notável espólio do Arquivo Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares. Com a devida vénia.

Fixação do texto :vb

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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)
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(*)O Coronel Marques Lopes na continuação do trabalho que tem vindo a desenvolver para a reconstituição histórica da guerra da Guiné, enviou-nos a relação das unidades militares que passaram por Barro.
A certa altura, o Coronel escreve:

Batalhão de Caçadores n.° 23

"Embarque em 28Jun61; desembarque em 06Jul61. Embarque de regresso em 24Jul63.

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente constituiu apenas um comando reduzido, sendo-lhe atribuída a responsabilidade da zona Oeste, desde Varela ao meridiano de Cuntima e ate aos rios Mansoa e Geba.
Em 08Mai63, passou a comando completo, com a chegada dos respectivos elementos de recompletamento: 2.° comandante, CCS, Pelotão de Reconhecimento e Pelotão de Sapadores.
Desde logo instalado em Bula, assumiu a responsabilidade da referida zona de acção, comandando e coordenando a actividade das companhias estacionadas em Teixeira Pinto, Mansoa e Bula (esta a partir de 16Ago61, depois colocada em S Domingos em 12Jan63) e dos pelotões atribuídos em reforço, cujos efectivos se encontravam disseminados por Ingoré, Bissorã, Mansabá, S Domingos, Cuntima, Farim, Bigene, Barro, Cacheu, e sucessivamente, a partir de finais de Out63, por Suzana, Jumbembém, Varela e Caio.
Em meados de Jun63, foi, entretanto, instalada outra companhia, em Farim, com a consequente reformulação das respectivas zonas de acção.
Inicialmente, desenvolveu intensa actividade de patrulhamento, de reconhecimento e de contactos com as populações com vista à sua segurança e protecção, tendo coordenado ainda a acção das suas forças na reacção a primeira acção armada na Guiné, efectuada na noite 20/21 Jul61 em S. Domingos.
A partir de Jan63, a sua actividade incidiu na contra-penetração contra actos de terrorismo."

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