sábado, 7 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1932: Relembrando o 1º cabo Pires, morto em Missirá (1967), e o Alf Mil Luís Zagalo, herói e ferrabrás do Enxalé (Beja Santos)

Mensagem de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), comentando, por sua vez, o Henrique Matos, que foi o 1º Cmdt do 52


Meu querido 1º Comandante, obrigado pela tua epístola (1). O comboio de afectos está em andamento. Convém que não te esqueças de nada, todos ganharemos com a tua memória avivada e a riqueza de pormenores. Por exemplo, falares da composição do Pel Caç Nat 52 e da Companhia de Polícia Móvel.

A seu tempo entrarás em contacto com o Queta e o Cherno (são hoje portugueses, temos gente falecida, desaparecida, perderam-se endereços, com o tempo o blogue operará milagres). Duas informações por ora:

A primeira, relaciona-se com o 1º Cabo Pires, que morreu numa emboscada, creio em 1967, à saída de Missirá, perto de Mato Madeira. No monumento que dedicámos aos nossos mortos, o seu nome constava, prestamos-lhe essa homenagem;

A segunda, refere-se ao temível Luis Zagalo Matos. Mantive com ele correspondência enquanto estive em Missirá (2), onde o seu nome era adorado como herói e ferrabrás.

É hoje actor de teatro (3), quando veio da Guiné trabalhou com a família num armazém ali para a zona de Santos, creio que não chegou a acabar o seu curso de Letras. Ele estava ligado, como sabes, à Companhia do Enxalé que precedeu a chegada do 52 a Missirá. Temos obrigação de trazer o Zagalo para dentro do blogue.
Sem mais por ora, recebe um abraço do Mário.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 30 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1901: O Pel Caç Nat 52 que eu comandei em 1966 (Bolama, Enxalé, Porto Gole) (Henrique Matos)

(2) Vd. posts de:

30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1637: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (40): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (2)
Carta para Luís Zagalo Matos

(...) "Estimado Luís Zagalo:

"Obrigado pela sua carta. Li-a aos homens de Missirá, riam e batiam as palmas de contentamento por saber que não esqueceu este povo. Vou tirar fotografias e mandar-lhe. Tenho aqui um soldado que insistiu em contar-me as suas façanhas, ele estava de sentinela e durante horas ouvi falar de si, arrumando ideias sobre o princípio da guerra e o seu desenvolvimento até hoje.

"Os meus soldados estavam em Enxalé ao tempo em que aqui havia uma companhia, a que V. pertencia. O pelotão 54 estava em Porto Gole, o 52 acabava de chegar a Enxalé. V. estava destacado em Missirá e fazia frequentemente o percurso com dois Unimogs e um jipe, reabastecia-se no Enxalé. Até ao dia em que uma mina anticarro mudou tudo, na curva de Canturé em ligação com a estrada ao pé de Gambana.
"Este meu soldado, de nome Queta, contou-me que um furriel ficou tão despedaçado que foram buscar as pernas a uma árvore. Para este povo V. é um herói porque conhecia toda esta região, era destemido e amigo de ajudar. O Queta não é para intrigas, baixou a voz e disse-me "Nosso alfero, Zagalo ia a toda a parte mas tinha medo de ir ao Gambiel, pois naquela altura as tropas portuguesas abandonaram os quartéis em Mansomine e Joladu, só ficou Geba". Como não lhe quero tirar os méritos, estou inteiramente à sua disposição para o levar ao Gambiel, se este episódio for importante para que o seu nome se torne numa lenda.

"Por aqui, chegou a minha vez de ter o quartel incendiado e de estar a viver as maiores dificuldades. Mas não vou incomodá-lo mais com esta guerra, fico feliz por saber que V. foi colega da Cristina. Como não irei a Portugal tão cedo, e se for possível ajudar-me peço-lhe que lhe telefone e lhe fale desta guerra, desdramatizando o que é possível desdramatizar.

"Prometo mandar-lhe as fotografias em breve, não espero ir ao Enxalé mas vou mandar fotografias do Geba e dos palmeirais à hora do pôr do Sol. Se lhe for possível, na resposta mande-em uma fotografia sua para eu entregar ao régulo. Só fiquei triste em saber que V. nunca mais teve um sono completo e que tem pesadelos quando se lembra dos momentos trágicos que passou. Desejo que recupere e peço-lhe por tudo que me dê companhia, pois os amigos de Missirá meus amigos são. Até breve" (...).


(3) Não sei se é o mesmo que, numa feita na Net, através do Google, aparece associado a produções teatrais do Tozé Martinho (n. 1947). Segundo a Wikipédia, Luís Zagalo é um actor português com uma carreira no teatro, na televisão e no cinema. Em 1993 participou na telenovela "A Banqueira do Povo", em 2001 em "Olhos de Água", em 2003 em "Morangos com Açúcar" e em 2006 em "Floribella". Também fez parte do elenco das peças de teatro cómicas: "Pijama para 6" e "Uma cama para 7".

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